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Reverso

 ISSN 0102-7395

     

 

AUTOR CONVIDADO

 

Não há senão isto: o laço social

 

There is nothing but this: the social bond

 

 

Joseph Rouzel
Tradução:
Bernardo Maranhão
Revisão da tradução:
Carlos Antônio Andrade Mello

I Centres d'Entraînement aux Méthodes d'Education Active (CEMEA)
II Institut Régional du Travail Social (IRTS)

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este artigo discute o laço social a partir da teoria lacaniana dos discursos e reflete sobre as possíveis formas de resistência dos sujeitos aos efeitos nocivos do discurso do capitalista na sociedade contemporânea.

Palavras-chave: Laço social, Gozo, Discurso.


ABSTRACT

This article discusses the social bond under the light of Lacan’s theory of the discourses and reflects on how can subjects in contemporary society resist the noxious effects of capitalist’s discourse.

Keywords: Social bond, Enjoyment, Discourse.


 

Eu o designo com o termo discurso,
porque não há outro meio de designá-lo,
uma vez que se percebeu
que o liame social só se instaura
por ancorar-se na maneira
pela qual a linguagem se situa
e se imprime sobre aquilo que formiga,
isto é, o ser falante.

LACAN, (1972-1973) 1985, p. 74.

 

I

Foi em 1986. Colegas educadores haviam criado recentemente uma revista semanal, intitulada Lien social [Laço social]. A ideia inaugural era abrir, no n.º 0, uma plataforma de pequenos anúncios voltados para os trabalhadores sociais. Eu me juntei a eles a partir do n.º 1, para assegurar que se apresentaria na revista uma verdadeira tribuna de expressão e propus prover a revista de artigos de circunstância. Montou-se um comitê de redação.

Algum tempo depois, fui encontrar François Tosquelles,1 que eu via vez ou outra naquela época. Tosquelles, para aqueles que não o conhecem, é o pai da psicoterapia institucional, com a qual, no passo da experiência psiquiátrica durante a Guerra da Espanha e com muitos aportes de Jacques Lacan, operou-se uma verdadeira revolução nos cuidados com doentes mentais. A ideia de que é preciso antes de tudo cuidar dos cuidadores e da instituição fez história e encontra seus prolongamentos na experiência da clínica de Laborde, sob a batuta do arrependido Jean Oury, entre outros.

Tosquelles, a quem chamávamos familiarmente de Tosq’, me acolheu amigavelmente como de costume. Eu estava muito contente de lhe apresentar a revista e, na ocasião, pedir-lhe uma entrevista.

– Como se chama essa revista?

Lien social.

Após um momento de hesitação, sussurrou, com seu sotaque à la Dali, numa voz suave:

– Com o laço social é possível se unir, se vincular, criar coletivos, mas é possível também… se enforcar.

Esse era o Tosq’. Espirituoso e insolente, mas nunca deixando de pôr em jogo o equívoco do significante. O vínculo social: duplo vínculo.

 

II

É bem essa a dificuldade do laço social, seu uso duplo e seu paradoxo. Ele pode ligar o viver juntos, pode manter unido um coletivo humano, mas pode também aprisionar seus membros. É preciso, então, pensar o laço social como situado no centro de uma aporia,2 uma forma de tensionamento da qual não é possível separar nenhum de seus termos extremos. De um lado, o sujeito, isto é, aquilo que no homem fala, recebe da linguagem comum sua estrutura. Como fazer, então, para que os sujeitos não desapareçam na ordem do discurso? De outro lado, a linguagem, ou seja, o social, o coletivo só permanecem vivos graças ao aporte de cada sujeito, em suas invenções singulares, ao tesouro comum. Mas como fazer, então, para que o coletivo não exploda sob a carga das expressões individuais solipsistas?

 

III

Uma teoria do laço social resulta de levar em conta essa forma de produção da linguagem que se denomina sujeito e que dela recebe sua estrutura, isto é, seu habitáculo, sua dita-menção.3 O sujeito habita uma das três estruturas definidas por Freud: neurose, perversão ou psicose. Seu modo de habitação – seu habitus, se poderia dizer – faz sintoma.

 

IV

Mas uma teoria do laço social não poderia deixar de lado a matriz mesma da estrutura, a saber, a linguagem, que faz do laço social uma trama de discursos, um texto. Tanto é assim que as palavras da tessitura e da escrita têm uma origem comum (texto, textura, etc., extraídos de textum, texere, tecer).

 

V

Um discurso, é essa espécie de laço social, é o que chamaremos, de comum acordo, se quiserem, o ser falante, o que é um pleonasmo, não é mesmo? É como porque é falante que ele é ser, pois não há ser senão dentro da linguagem. Então o falante – o falante, todos vocês o são, pelo menos eu o suponho, o falante que todos vocês creem ser em muitos dos casos, em todo caso, neste; basta se crer para ser de algum modo esse ser falante, geralmente classificado como animal, é, a justo título, esse ser falante classificado como animal, e é plenamente sensível que ele tem laços sociais; em outros termos, não é sua condição comum viver de modo solitário (LACAN, 13/10/1972).

 

VI

A fabricação do filhote do homem, sua entrada no discurso coletivo como sujeito, exige uma aparelhagem muito específica à espécie humana. A linguagem humana, com efeito, oferece essa particularidade, única entre os animais, de poder representar a ausência. Ausência das coisas, ausência dos seres. A linguagem, engastada em uma língua, atualizada e posta em ação pelos sujeitos na fala, apresenta-se do seguinte modo, segundo o matema que Lacan (1961-1962) extrai de sua elaboração ao final do Seminário 9: A identificação: “Um significante representa um sujeito para um outro significante”.

Tomemos o seguinte matema:

 

 

Ele constitui o embrião do Discurso do Mestre (DM) que Lacan só formulará anos mais tarde, em 1969, no Seminário 17: O avesso da psicanálise ([1969-1970] 1992).

Essa especificidade do humano não cai do céu. Ela se produz em uma operação: a castração que inscreve “os sesumanos”4 sob a rubrica do corte e do equívoco e, portanto, do mal-entendido. Se a linguagem faz laço social, ela, ao mesmo tempo, nos divide. Nós, os humanos, não nos compreendemos. Eis por que a entrada do infans na linguagem se apresenta de partida como traumatismo.

O que são todos vocês, senão mal-entendidos? O denominado Otto Rank o abordou ao falar do traumatismo do nascimento. Traumatismo, não há senão este: o homem nasce mal-entendido… Não hã outro traumatismo do nascimento senão o de nascer como desejado. Desejado ou não, dá no mesmo, pois é pelo ser de fala (LACAN, 10 jun. 1980).

É a língua do Outro e, inicialmente, do Outro presentificado pela mãe, que entra no corpo do pequeno homem por efração. Essa língua primeira, pesadamente carregada dos afetos desse vínculo social primário, reveste a consistência de uma matéria sonora. Entramos na linguagem não pelo sentido, mas pelo real do som, do qual o dizer materno produz um eco no corpo do filhote5 do homem.6 Essa matéria sonora que Lacan, por ocasião de um gracejo na fala, denominará “la lalangue” (a lalíngua), constitui-se como mediação simbólica nas idas e vindas do Outro maternal. Esses primeiros sons retidos pela criança em seu próprio corpo, ali onde vieram se depositar, produzem os embriões literais, matriz do simbólico, permitindo re-presentar (tornar presente) a ausência da mãe e subjetivá-la, fazer dela um assunto seu. “Fala anterior às palavras”,7 precisa Antonin Artaud em Sobre o teatro balinês. A perda de gozo da mãe (nos dois sentidos do termo, pois a separação é vivida de parte a parte), introduz o filhote do homem nas leis na linguagem. Isso que se apresenta de início como um não radical ao “gozo da vida” (LACAN, 1975, p. 190), eis por que os psicanalistas usam o termo de castração, constitui o preço a pagar pela humanização. Esse “não”, ao inscrever o homenzinho sob a rubrica, ao mesmo tempo, da perda e do vínculo, constrói o alicerce de um “sim”. O impossível autoriza o possível. Uma parte da mãe cai assim como das Ding, a Coisa, o irrepresentável; e o outro é preservado como Nebenmensch, próximo, e entra no domínio dos significantes, para retomar a partição proposta por Freud ([1895] 1977) no Projeto.8

Não há corte, portanto: a humanização, isto é, a entrada no laço social se faz por meio da imposição ao filhote do homem de uma perda de gozo. Lacan emprega dois termos para designá-la: extração ou subtração de gozo, colocando em evidência o objeto a, essa invenção que ele dizia ser sua única contribuição notável à psicanálise (LACAN [1957-1958], 1998, p. 560, nota 16).9

Por exemplo, quando a mãe vai cuidar de seus afazeres, a criança é reduzida a representar sua ausência por diversos movimentos sonoros: balbucia, produz lalações. Françoise Dolto inventa esta bela impressão: a criança mamaniza.10 O enigma da ausência da mãe se organiza, então, em um dispositivo simbólico que Lacan ([1955-1956] 1985) designa, no Seminário 3, como Nome-do-Pai. Bem mais tarde, ele indicará que se trata exatamente de uma das modalidades de entrada no laço social. O Nome-do-Pai deve ser entendido não como patronímico, mas como capacidade de nomear a ausência da mãe e, a fortiori, toda ausência. A matéria sonora amalgamada a essa construção simbólica abre a primeira via de entrada do pequeno do homem nisso que Freud ([1891] 2014) designa como spracheapparat, ou seja, o aparelho de fala. A aparelhagem do sujeito à linguagem, seu assujeitamento à normatividade da linguagem, inaugura sua entrada no vínculo social.

 

VII

Eis aqui um pequeno quadro, já desenvolvido em um trabalho anterior, em que eu reúno o essencial desta abordagem:

 

 

Os diferentes enlaçamentos do vínculo social – humano, social, familiar e subjetivo – são determinados por um não radical a isso que Lacan (1975) designa como “gozo da vida”.11 É essa mutilação primeira, esse primeiro “troumatisme” no corpo do pequeno homem, que condiciona o conjunto da cadeia e constitui a armadura do vínculo social. As leis, as regras de sociabilidade, a interdição do incesto e a castração são as declinações dessa aparelhagem primeira. Os “motivos” primeiros, no sentido que explorei mais acima, fundam os traços, os trilhos a partir dos quais o sujeito franqueará sua via no mundo e em meio aos outros.

 

VIII

A partir dessas premissas, podemos entrar mais profundamente na exploração do laço social. Freud ([1921] 1977), em Psicologia das massas e análise do eu, nos dá uma primeira matriz de sua constituição. Ele precisa, de partida, que “A oposição entre a psicologia individual e a psicologia coletiva, que pode, à primeira vista, parecer muito profunda, perde muito de sua acuidade quando a examinamos mais de perto”. Seja na vida social, seja na subjetividade, a presença do outro é sempre traduzida ora em termos de amor, ora em termos de ódio. O que dá coesão a um grupo é a projeção de uma ideia sobre um chefe ou um princípio organizador: aqueles que compartilham a mesma referência se sentem irmãos e se amam, mas ao preço de recalcar – nas fronteiras do país e da psique – o objeto de ódio (FREUD, [1915] 1997). Essas premissas permitem a Freud ([1925] 1996), designar três profissões impossíveis: governar, educar e curar. Impossíveis porque se trata, nessas profissões, de inscrever e articular no vínculo social justamente aquilo que lhe resiste. Articular o impossível, não recalcá-lo. Isso eleva o impossível ao nível de um conceito fundamental da teoria freudiana. Com efeito, precisa o pai da psicanálise em 1937, se ele classifica essas profissões da relação humana – profissões, por excelência, da aprendizagem do vínculo social – na categoria do impossível, é porque nessas práticas sociais “pode-se, de partida, ter certeza de um resultado insuficiente” (FREUD, [1937] 1977). Essa é a própria raiz do que Freud designa sob o termo “mal-estar na civilização”, a saber, que as histórias humanas não são do domínio da perfeição nem do controle absoluto. Há um resto. A palavra, em todas as suas dimensões, como colocação em ato das leis da fala e da linguagem (LÉGAULT, 2003), permanece como a única tentativa de sustentar, na relação a outrem, esse resto. Um resto que reveste os adereços do fracasso e desposa os avatares dessa falha constitutiva da condição humana. Notemos que a palavra deve ser aqui entendida além de sua expressão verbal, pois, como o sublinha com justeza Martin Heidegger (1976, p. 13):

O ser humano fala. Falamos despertos; falamos em sonho. Falamos incessantemente, mesmo quando não proferimos nenhuma fala...

 

IX

Lacan retomará a questão do vínculo social, na mesma trilha aberta por Freud, ao evocar os modos sociais de tratamento da alteridade, modos de tratamento que implicam justamente essa dimensão do impossível, como falha, como escorregada, para dizê-lo à maneira de Beckett (1991), que acrescenta, em Worstward Ho, que se trata, no fim das contas, de “falhar melhor”. É desse ponto de tratamento do impossível, engastado no objeto a, que Lacan infere os quatro discursos em 1969, em seu seminário O avesso da psicanálise. Para começar, é preciso entender que o mais singular do sujeito, expresso na fala ou no sintoma, é o produto da confrontação com o discurso comum (S2). Se o é barrado (castrado, não-todo) – e às vezes mal barrado! –, é por meio da operação da linguagem que se torna dividido em dois, de um lado, um significante (S1) e, de outro, essa parte de sombra, o enigma do sujeito falante (). Mas ele se encontra também, sob o golpe da operação da fala, separado de outrem (S2). Divisão, portanto, em si e entre-si. Toda a dificuldade reside então no fato de que o sujeito não se dissolva nos discursos de massa: novilínguas,12 discursos vazios, pensamentos únicos, ideologias dominantes. Mas trata-se igualmente de evitar que os modos de expressão subjetiva venham a corroer o coletivo por meio das descargas massivas de ódio, de violência, de exclusão, de segregação. Lacan inventa uma teoria do vínculo social par remediar esses dois riscos permanentes: dissolução do sujeito ou estilhaçamento do coletivo.

 

X

O sujeito sempre aparece representado. Ele falta a ser, o que Lacan anota: a. Esse objeto indicativo da falta que impulsiona o desejo: “objeto causa do desejo”, precisa Lacan em um primeiro tempo, depois, na esteira da mais-valia de Marx, “objeto mais-de-gozar”. Trata-se, no discurso, de produzir um modo de tratamento. Em outras palavras, para Lacan, o único modo de tratamento do gozo reside no discurso que mantém unidos os coletivos humanos. Ele retira daí quatro modos de tratamento: de início, o Discurso do Mestre (DM), do qual evoquei o primeiro estágio de elaboração, no final do seminário A identificação. Depois, por um jogo de rotação, giram os três outros discursos: o da histérica (DH), o universitário (DU) e o do analista (DA).

Primeiramente, contudo, Lacan estabelece um tetrápode: quatro lugares imutáveis:

 

 

O lugar do agente dá seu nome a cada discurso em função do elemento que o ocupa: Discurso do Mestre (DM) quando o S1 aí está alojado; discurso da histérica (DH) quando é o ; discurso universitário para o S2; discurso do analista com o objeto @ no lugar de agente. O lugar do agente é o lugar de onde ele fala, sabendo-se que a verdade permanece sob a barra, à sombra daquilo que causa a fala, daquilo que a provoca.13 O outro é aquele a quem me dirijo e o que isso produz constitui o resultado da operação discursiva.

Nesses quatro lugares fixos, Lacan faz com se desloquem esses quatro termos: (sujeito do inconsciente), S1 (significante-mestre), S2 (o saber), a (o objeto causa do desejo, que mais tarde Lacan apreenderá mais de perto como objeto mais-de-gozar). Os quatro giram sobre o tetrápode, para a direita ou para a esquerda, mas numa ordem invariável.

Ora, nem todo gozo poderia ser absorvido pelo significante, pois, contrariamente ao que Françoise Dolto (2002) chegou a anunciar no título de um de seus célebres livros, nem tudo é linguagem. Existe, sob a categoria do Real, alguma coisa que não cessa de escapar à nomeação. Em Freud, das Ding.

Donde um jogo de flechas, que Lacan introduz nos quatro discursos para localizar o impossível e a impotência.

Por exemplo, no DM, a flecha () indica uma impossibilidade estrutural de que o significante possa desposar o todo do saber. Além disso, o produto nunca é equivalente à verdade (//):

 

 

No DA, a razão desse fracasso está ligada à irredutibilidade do real à ordem da linguagem: o ser falante pode falar e falar, mas jamais se reunirá ao seu ser, faltante por excelência. é disjunto de @.14 Assim, os quatro discursos, como matriz do laço social, se apresentam como modo de tratamento do gozo, de seu excesso incessante, engastado no objeto @.

Haveria, decerto, muito a dizer sobre a teoria dos quatro discursos, tal como desenvolvida por Lacan. Retenhamos que é a inscrição na linguagem que permite ao sujeito tratar a questão de sua unicidade e, portanto, de sua profunda solidão, ao fabricar permanentemente o laço social. O sujeito somente se sustenta pela existência de um aparelho discursivo ao qual ele não cessa de reverter sua quota-parte. Assim, uma paciente acaba de me dizer que fabricamos Deus para que, em seguida, ele nos fabrique! Essa circularidade do social e do subjetivo poder ser ilustrada pela banda de Moebius, em que o avesso e o direito se distinguem, mas em um continuum unilateral. Essa proposição desemboca, para Lacan, notadamente no final de seu ensino, em fórmulas aparentemente aporéticas, tais como “o inconsciente é o social” ou “o inconsciente é a política” ou ainda “o coletivo não é senão o tema do individual.15

Desse enunciado, Jacques-Alain Miller, em 2002, extrairá algumas consequências:

• a experiência analítica é uma experiência coletiva a dois;

• as funções e os fenômenos postos em evidência no nível do coletivo são os mesmos que as funções que se revelam e os fenômenos que se desdobram no tratamento analítico;

• disso decorre uma nova definição do coletivo: ele é feito de uma multiplicidade de indivíduos que tomam o mesmo objeto como Ideal do eu;

• o coletivo, as formações coletivas, as associações e os agrupamentos diversos e variados se analisam como uma multiplicidade de relações individuais ao Um do Ideal do eu;

• mas o individual não é o subjetivo. O que é individual é um corpo, é um eu. O efeito-sujeito que se produz nesse eu e que lhe perturba as funções é articulado ao Outro. É isso que se denomina o coletivo ou o social.16

 

XI

Quatro discursos, mais um:

 

 

XII

Nota-se que Lacan introduz um quinto discurso, o discurso do Capitalista (DC), que se produz a partir da inversão do primeiro membro do DM:

 

 

[...] uma mínima inversão, simplesmente entre o S1 e o S barrado (), que é isso sujeito… isso basta para que a coisa ande como sobre rodinhas, isso não pode andar melhor, mas justamente isso anda depressa demais, isso se consome, isso se consome tão bem que isso se consuma (LACAN, 12 maio 1972).

Essa inversão evidentemente não é sem consequência sobre a natureza do laço social, tanto sobre a maneira de cada sujeito a ele se articular, quanto sobre a maneira de os sujeitos se manterem juntos em coletivos, em grupos, em nações...

Posicionar o em lugar de agente tira o sujeito do lado da histerização, mas de um modo no qual tende a se apagar a marca, portada pelo objeto a, da falta significada pelo impossível. Pierre Bruno define o discurso capitalista como “um discurso sem perda” que exerce seu comando sobre o sujeito consumidor, que termina por ser… consumido (BRUNO, 2010). Um sujeito cujo efeito de barra marcado pela castração tenderia a se atenuar. As sociedades modernas, ou pós-modernas, como as designam certos autores, tendem a transformar tudo o que há na terra em mercadoria. Essa mercantilização generalizada arrasta em suas ondas tudo do humano, seu corpo, suas relações sociais, seus objetos, que, em lugar de serem marcados pela incompletude, sobem ao zênite da modernidade como promessas de um mundo pleno, sem falha. Um mundo de onde a incompletude estrutural, marca de fabricação do humano, seria expulsa para sempre. Lacan o diz bem: “[...] isso anda como sobre rodinhas”, mas o drama é que isso anda bem demais; isso gira e termina por desandar. Essa estreita colagem entre sujeitos e objetos da indústria, de feição incestuosa, transforma de fato o sujeito em consumidor que consome tão bem que “ele se consuma”. E eis o homem reduzido, ele também, ao estado de objeto, de coisa, daquilo que Marx já havia entrevisto sob o conceito de “reificação” (do latim res, rei, uma coisa). O laço social se estilhaça, de um lado, em indivíduos, como a etimologia o indica, em sujeitos não divididos pela palavra, uma espécie de “tudo para o ego”; do outro, em pequenas comunidades holísticas (do grego holos, inteiro) voltadas para si mesmas, encerradas nas dobras de um comunitarismo beato, que faz com que seus membros se furtem a suportar, cada um, o fardo da divisão subjetiva, recalcando-a seja no interior, com a designação de bodes expiatórios, seja exteriormente, geralmente sob os aspectos do ódio. Individualismo e comunitarismo se perfilam, assim, como as duas mamas do capitalismo.

 

XIII

Donde o mal-estar no capitalismo.17 A expressão evidentemente deriva do grande texto de Freud Mal-estar na civilização (ou “na cultura”, a depender da tradução), publicado em 1929 e que permanece atualíssimo. Dito de outro modo, ele resulta radicalmente contemporâneo nestes tempos de crise. O título proposto por Freud era, com efeito, “Infelicidade [Unglück] na cultura”, logo suavizado por seu editor, devido a razões comerciais, para “mal-estar” [Unbehagen].18 A infelicidade se vende mal! Mas o termo “mal-estar” é bem fraco. Freud propõe nesse livro uma questão radical: que quer o homem? Desafio qualquer um a responder outra coisa, sob qualquer formulação, que seja diferente de: eu quero ser feliz! Mas, em vista dessa vigorosa vontade de Felicidade, Freud precisa que três obstáculos se apresentam: o corpo, o mundo e os outros, que obrigam cada sujeito a dar um desconto a suas pretensões de Felicidade, para, conforme ele indica a uma paciente ao final de uma sessão, aprender a se contentar com sua infelicidade banal. Até aqui, as civilizações têm inventado processos simbólicos para sustentar essa amarga decepção e mesmo para transmitir sua estrutura de uma geração a outra. Podemos reagrupar sob a rubrica do laço social o conjunto desses dispositivos. A educação, primeira modalidade de laço social, “sacrifício da pulsão”, como enunciado por Freud ([1915-1917] 1977) na Conferência I - Parapraxias - Introdução, ensina bem cedo o filhote do homem a reduzir suas pretensões ao gozo. É imperativo abrir mão do gozo para tomar lugar entre os outros.

Ora, nossa sociedade neoliberal, ponta de lança do capitalismo, tenta subverter essa ordem imposta à humana condição. Que é feito do viver juntos, numa sociedade irradiada pelo sem limite, profundamente solipsista, devotada de corpo e bens ao consumo sem fim de objetos produzidos pela tecnologia, essas “latusas”,19 das quais Lacan inventa o paradigma?

O mundo está cada vez mais povoado de latusas. [...] pequenos objetos a que vão encontrar ao sair, no pavimento de todas as esquinas, atrás de todas as vitrines, na proliferação desses objetos feitos para causar o desejo de vocês, na medida em que agora é a ciência que o governa, pensem neles como latusas (LACAN, [1969-1970] 1992, p. 171-172).

Em “latusa” se aninha léthé, o esquecimento. Mas se a verdade o afeta, a-léthéia, se o esquecimento é levantado, se o oculto reaparece, se o real expulso pela porta retorna pela janela, então surge a angústia. Donde a inquietação incessante e a voracidade insaciável de que somos presas, diante do objeto de consumo, que, tão logo é capturado, se faz monstruoso (LACAN, [1969-1970] 1992). Retorno do real escamoteado. Lacan, a partir de 1972, propõe que o capitalismo forclui a castração (O saber do psicanalista).

Para alcançar todas as consequências dessa virada no laço social, convém retomar mais una vez a reflexão freudiana, desta vez com apoio em Marx, para abrir perspectivas:

Não me parece que se possa levar o homem, através de algum tipo de influência, a transformar a sua natureza na de um cupim; é provável que ele sempre defenda sua pretensão à liberdade individual contra a vontade da massa. Uma boa parte da luta da humanidade se concentra em torno da tarefa encontrar um equilíbrio conveniente, ou seja, capaz de proporcionar felicidade entre essas exigências individuais e as reivindicações culturais das massas, e é um dos problemas cruciais da humanidade saber se esse equilíbrio é alcançável através de uma determinada conformação da cultura ou se tal conflito é irreconciliável (FREUD, ([1930] 2010, p. 99).

É assim que, a partir dessa reflexão, seria possível apreciar quais são hoje os modos de resistência dos sujeitos, o que os sujeitos põem em ação para não serem reduzidos ao estado de produtos consumíveis.

Isso implica distinguir as vias de uma verdadeira política do sintoma (SAURET, 2008).
A função do sintoma se manifesta por um eu não quero ser gozado pelo Outro (BRUNO, 2010).

A sociedade que vemos proliferar sob nossos olhos, com suas repercussões em termos de mercado, de consumo, de tecnociência e de ideologia cientificista, exige dos sujeitos e dos coletivos que se organiza um verdadeiro salto para não sucumbir, de corpo e bens, num inframundo, ou num imundo, dos quais os primeiros estragos já nos afetam. A espécie dita humana, da qual o húmus se constitui pelo aparelhamento às leis da linguagem, está ameaçada de desaparição. O laço social, não importa o que se diga, é relativamente frágil e não poderia de forma alguma ser substituído por esse sucedâneo (sucesso-dano!)20 de vínculo organizado pelo Divino mercado (DUFOUR, 2009), novo Moloch21 novo deus terrível. Bem que Tosquelles tinha razão ao me advertir que esse tipo de laço social pode nos estrangular. Saberemos, nos anos por vir, estabelecer barreiras de resistência suficientemente sólidas? Tal é a questão que se delineia no início, que já vai bem avançado, de um século decisivo na história da humanidade.

Sair do discurso capitalista é, portanto, retornar ao vínculo social instaurado pelos quatro discursos e reintroduzir, de uma maneira ou de outra, o humano, medida de todas as coisas, segundo a célebre forma do sofista Protágoras, como essencialmente faltante. Esse retorno passa necessariamente por uma reativação dos avanços produzidos pelas Luzes no século XVIII na Europa. Trata-se de convocar de modo renovado o poder das transcendências para erigir pirâmides agora respiráveis. E, talvez, com um passo suplementar até o ponto em que o poeta Hölderlin acrescenta: “até que a falta de Deus venha em nosso auxílio” [Bis Gottes Fehl hilft].

 

XIV

Cormac McCarthy, em um romance sombrio, La route,22 que narra a destruição do mundo pelos homens, põe em cena um pai e um filho vivendo à deriva na estrada para sobreviver. O pai, apesar do desaparecimento geral dos bens de subsistência, dos recursos naturais, apesar da derrocada da moral social e da ética, tenta desesperadamente transmitir a seu filho a essência mesma dos processos de humanização (a estrada do humano) para que isso não se perca. E ele profere o seguinte enunciado: “Deus não existe e nós somos seus profetas!”. Essa frase terrível condensa toda a potência de evocação da palavra e da linguagem: produção de um real que, ao mesmo tempo, é assumido pelo simbólico. Somente o recurso ao semblante (ao sangue branco!)23 nos salvará. Um laço social encontrando seu ponto de amarração numa pura vacuidade, eis o que está em jogo. O Anjo?24

 

Referências

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Recebido em: 22/08/2019
Aprovado em: 28/08/2019

 

Sobre o autor

Joseph Rouzel
Após haver trabalhado por muitos anos como educador junto a diversos públicos (psicóticos, toxicômanos, casos sociais), Joseph Rouzel é hoje psicanalista em consultório particular e formador como profissional liberal. Lecionou nos Centres d’Entraînement aux Méthodes d’Education Active (CEMEA) de Toulouse e no Institut Régional du Travail Social (IRTS) de Montpellier.

 

 

1 Nascido em 2 de agosto de 1912, em Reus, François Tosquelles é um psiquiatra catalão antifranquista, refugiado da revolução republicana da Espanha. Tendo sido detido no campo de Septfonds, assim como cinquenta mil de seus camaradas, Tosquelles revoluciona a psiquiatria francesa ao inaugurar uma prática de desalienação, que dará origem ao que Georges Daumezon denominou “psicoterapia institucional”. (Cf. DROGOUL, F. Le travail thérapeutique en psychiatrie. Paris: Érès, 2009; TOSQUELLES, F. L’enseignement de la folie. Paris: Dunod, 2014).
2 Do grego a-poria, im-passe. Dela só se sai por um salto dialético. Por exemplo, Banesh Hoffmann, um físico inglês, conta a seguinte anedota em seu livro L’étrange histoire des quanta (Points-Seuil, 1981). O aluno questiona: “A luz é uma onda ou uma partícula?” O professor responde: “Sim!”. (Ver também DERRIDA, J. Apories: mourir, s’attendre aux limites de la vérité. Galilée, 1996).
3 O termo “dit-mension” é uma invenção de Lacan, que põe o dito em relação com o termo inglês “mansion”, que significa “casa”. O dito é formado de significantes que têm sua sede no lugar do Outro, o “tesouro dos significantes”.
4 No original, “les trumains”. LACAN, J. Le moment de conclure, seminário inédito. (NT).
5 No original, “petit d’homme”. A tradução dessa expressão varia, ao longo do texto, entre “filhote do homem”, “homenzinho” e “infans”, conforme nos terá parecido mais conveniente em cada passagem. (NT).
6 Donde a definição de Lacan para a pulsão: “A pulsão é o eco no corpo do fato de que há um dizer… esse dizer, para que ele ressoe, para que ele consoe… é preciso que o corpo lhe seja sensível”. LACAN, J. O seminário 23: O sinthoma, sessão de 18 nov. 1975.
7 No original, “parole d’avant les mots”. (NT).
8 O título “barafunda” seria mais judicioso...
9 “[O campo da realidade] só se sustenta pela extração do objeto a que, no entanto, lhe fornece seu enquadre”. O objeto designado aqui como @ (objeto a em Lacan), que é também a marca da associação l’@psychanalyse, é para ser pensado mais como um signo que como uma letra. O @ faz signo do furo do real no lugar do significante. Ele se situa no ponto de enodamento do nó borromeano, no coração de RSI.
10 No original, "l'enfant mammaïse". (NT).
11 Ver também MILLER, J.-A. Les six paradigmes de la jouissance. La cause freudienne, n. 46, 1999.
12 Sobre a novilíngua, cf. ORWELL, G. 1984, Folio Gallimard, 1972. Ler também Charlotte Herfray, que acaba de falecer no momento em que escrevo este texto, Ces novlangues qui colonisent nos esprits. Disponível em: <http://www.psychasoc.com/Textes/Ces-novlangues-qui-colonisent-nos-esprits>.
13 Evidentemente, o discurso do analista não é específico ao psicanalista. Sucede a cada um endossá-lo, cada vez que o lugar do agente é marcado por um furo, uma falta, um não saber (@). Como nesta anedota: Um homem vai visitar um jesuíta: Eu os admiro muito, os jesuítas sabem um monte de coisas, mas o que mais me irrita é que cada vez que alguém lhes faz uma questão, vocês respondem por uma questão. Ah é?, responde o jesuíta, e o que o leva a dizer isso?
14 Sobre isso ver LAPEYRE, M.; SAURET, M.-J. Lacan, le retour à Freud. Milan, 2000.
15 “Que o leitor que prosseguir nesta coletânea volte à referência ao coletivo que constitui o final deste artigo, para situar o que Freud produziu sob o registro da psicologia coletiva (Massen Psychologie und Ichanalyse): o coletivo não é nada senão um sujeito do individual” (LACAN, [1945] 1998, p. 213, nota 6).
16 MILLER, J.-A. Théorie de Turin. Intervenção no I Congresso Científico da Scuola Lacaniana di Psicoanalisi, em 21 maio 2000.
17 Tema do seminário conduzido por Joseph Rouzel em 2010-2011, em Montpellier, no âmbito da Association Psychanalyse sans Frontière (PSF). (Ver também SAURET, M.-J. Malaise dans le capitalisme. Paris: PUM, 2009).
18 Das Unglück [acidente, infelicidade, azar] in der Kultur tornou-se, assim, Das Unbehagen [mal-estar, preocupação, descontentamento] in der Kultur. Por uma vez, Freud cede quanto às palavras e, logo, quanto ao sentido!
19 “Latusa”, achado de Jacques Lacan, que ele introduz em duas lições de seu Seminário 17: 20 maio e 18 jun. 1970. Ver também a conferência de meu amigo Guy Massat, em janeiro de 2015, L’objet petit a. Disponível em: <http://cerclepsychanalytique-paris.fr/conferences/linterpretation-desir-lobjet-petit>.
20 No original: “ce succédané, (succès damné!)” (NT).
21 Moloch ou Molech é uma divindade cujo culto era praticado na região de Canaã, segundo a tradição bíblica. Esse culto é ligado ao sacrifício de crianças no fogo.
22 MCCARTHY, Cormac. La route. Points-Seuil, 2009. Ver também o apaixonante desenvolvimento sobre a negatividade, do arrependido Jean-Daniel Causse, em Lacan et le christianisme. Campagne Première, 2018, a partir do “Deus está morto”. Algo que um poeta como Paul Celan apreende finamente em um de seus últimos escritos: “Eu, se ele está liberado de Deus, não está liberado da rosa! Ao se fazer verbo, a carne do Eu que fala não está liberada da rosa do fruir!” (Renverse du souffle, Seuil, 2006). No original: Je, s’il est quitte de Dieu, n’est pas quitte de la rose! À se faire verbe, la chair du Je qui parle n’est pas quitte de la rose du joui!
23 No original: Seul le recours au semblant, (au sang blanc!), nous sauvera. (NT).
24 No original: “...tel est l’enjeu. L’Ange?”. (NT).

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