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Cadernos de psicanálise (Rio de Janeiro)

 ISSN 1413-6295

     

 

ARTIGOS

 

Neurose obsessiva na infância? Instância paterna e função do analista

 

Obsessive neurosis in childhood? Paternal instance and the analyst's function

 

 

Fernanda Arioli HeckI, II*; Liliane Seide FroemmingII, III**

IUniversidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ - Brasil
IIUniversidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS - Brasil
IIIAssociação Psicanalítica de Porto Alegre - APPOA - Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O artigo investiga de que forma o processo de estruturação da neurose obsessiva já está em curso na infância. Aborda a etiologia da neurose obsessiva, o mecanismo de formação dos sintomas e especificidades da clínica com crianças. Parte da interrogação acerca da viabilidade de formular uma hipótese sobre a estrutura do sujeito na infância. Outra questão aventada é a possibilidade de o analista restituir algo relativo à função do pai no ponto em que esta claudica para o sujeito. Nossa aposta é que a potência do ato em transferência possa engendrar algo da ordem da operação de castração e abrir caminhos para a sustentação do desejo.

Palavras-chave: Clínica psicanalítica, Infância, Neurose obsessiva, Função paterna.


ABSTRACT

The paper investigates how the structuring process of obsessive neurosis is already underway in childhood. It addresses the etiology of obsessive neurosis, the mechanism of symptom formation and specific characteristics of the clinical work with children. It questions the feasibility of formulating a hypothesis about the structure of the subject in childhood. Another question is raised as to the possibility of the analyst restoring something about the function of the father at the point where it fails towards the subject. Our betting is that the act of power transfer may create something of a castration operation order and open ways to sustain the desire.

Keywords: Psychoanalytic clinic, Childhood, Obsessive neurosis, Paternal function.


 

 

Introdução

A proposta deste artigo foi delineada no sentido de buscar, nas formulações psicanalíticas, incidências determinantes da constituição do sujeito. Inicialmente, interrogamos aquilo que da experiência infantil - ou seja, das relações que o sujeito estabelece com o Outro primordial - é determinante para a estruturação das neuroses. Nossa investigação se dedica, ainda, a pensar na posição do analista e nos efeitos das intervenções na análise de sujeitos em constituição.

Partimos da suposição de que a função do analista na clínica com crianças não é a mesma daquela desempenhada na análise de adultos, posto que, na infância, o sujeito está se estruturando e disso dependem as relações que estabelece com os semelhantes. Diante de uma criança em processo de estruturação de uma neurose seria o caso de acompanhá-la em seu caminho constitutivo ou a aposta estaria em uma intervenção que, por seu caráter Simbólico, tivesse a potência de apontar para um lugar terceiro que possa vir a fornecer sustentação ao Nome-do-Pai?

Dado que as estruturas não estão decididas na infância, uma interrogação que orienta nossas elaborações concerne à possibilidade de o analista, por seu ato, inscrever algo atinente à função paterna. É tácito que a função do analista não será a mesma com cada analisando. Mas a título de exercício de teorização, supomos que uma criança possa apresentar sintomas de ordem fóbica e realizar cotidianamente rituais obsessivos, como comumente observamos na clínica.

É sabido que, sob o prisma psicanalítico, sujeito e sintoma são indissociáveis, tanto do ponto de vista da articulação teórica, quanto desde a sua aparição na relação com a alteridade. O sintoma, portanto, diz do sujeito. A transferência vai permitir a colocação em cena do sintoma e seu endereçamento para o analista; é, pois, a transferência que autoriza o analista a intervir.

Sabemos, com Freud, na belíssima elaboração teórica a propósito do "pequeno Hans", que manifestações fóbicas na infância estão atreladas a uma insuficiência da intervenção paterna. Com Lacan, temos que ali onde o pai Real falha no agenciamento da castração Simbólica se presentifica para a criança o pai Imaginário, terrorífico e agente da privação. Desenvolveremos esses pontos quando aludirmos aos três tempos do complexo de Édipo.

Como intervir na transferência de modo a promover uma restituição desse ponto onde a função do pai denota uma falha? A ética da psicanálise traz no horizonte o desejo; a possibilidade de advento de um sujeito que possa seguir as trilhas de um desejo que é, em si mesmo, intransitivo (posto que não coincide com nenhum objeto particular), é tributária da efetivação de operações que já estão em curso na infância. A clínica com crianças traz a possibilidade para o analista de, por seu ato, ir forjando tais operações.

O fato de a estrutura do sujeito não estar decidida na infância justifica a relevância de pesquisar como a psicanálise pode contribuir nesse processo. Que uma criança possa abdicar de alguns sintomas e encontrar vias alternativas de lidar com a angústia que a relação com o outro suscita, já oferece ao sujeito recursos para posicionar-se na vida. Ademais, a crescente demanda de crianças que são encaminhadas para análise já é indicador de que pesquisas precisam ser realizadas para que a teoria psicanalítica avance em suas formulações.

Teceremos considerações acerca do processo de estruturação da neurose obsessiva, enfocando especialmente a função paterna. Iremos discorrer a propósito de sintomas fóbicos na infância por considerarmos que expressões fóbicas são constitutivas do infantil. Para tanto, retomaremos o estatuto de placa giratória atribuído por Lacan à fobia. Abordaremos, ainda, como vai ocorrendo a construção da montagem fantasmática. Se, em um primeiro momento, a criança está situada em posição de objeto em relação ao fantasma dos pais, que daí possa descolar-se para edificar a soldadura de seu próprio fantasma parece-nos fundamental. Para que esse distanciamento subjetivo da criança em relação aos pais seja possível, o percurso da análise deve ter em conta as fantasias, de modo a possibilitar o deslizamento significante. Já na infância, por vezes, logramos situar uma frase Simbólica, que alude ao objeto pulsional privilegiado.

É possível formular indagações acerca do processo de estruturação de uma neurose na infância, com a formação de sintomas obsessivos e fóbicos. O sintoma, enquanto solução de compromisso, atende às exigências do ego e fornece uma satisfação dissimulada/substituta às manifestações pulsionais. Qual a direção do tratamento quando os sintomas surgem na infância? Como o fantasma dos pais e a trama edípica aparecem na gênese da formação dos sintomas na infância? E ainda, como Lacan elabora a noção de estrutura neurótica e quais as implicações na direção da cura? Poderia o analista, por seu ato, restituir algo relativo à função paterna?

Investigar o processo pelo qual uma neurose vai se estruturando na infância parece-nos de grande valia à clínica psicanalítica. Freud já enunciara que a etiologia das neuroses fornece-nos indicadores clínicos e anunciou, ainda, o problema da escolha da neurose, mostrando-nos que existem determinantes patogênicos constitucionais e acidentais que operam de forma combinada:

O problema de saber por que e como uma pessoa pode ficar doente de uma neurose acha-se certamente entre aqueles aos quais a psicanálise deveria oferecer uma solução, mas provavelmente será preciso encontrar primeiro solução para outro problema, mais restrito - a saber, por que é que esta ou aquela pessoa tem de cair enferma de uma neurose específica e de nenhuma outra. Este é o problema da "escolha da neurose" (FREUD, 1913/1996, p. 341).

A clínica psicanalítica, na qual as nuances do processo de estruturação do sujeito aparecem na transferência, parece-nos um campo privilegiado para desdobrar esse problema enunciado por Freud. A princípio, faremos considerações acerca da estruturação da neurose obsessiva; em seguida, destacaremos a problemática do lugar privilegiado que o pai ocupa para a criança que demonstra estar se estruturando por essa via. Por fim, abordaremos a função do analista.

 

Considerações sobre a neurose obsessiva

Na infância, o que aparece com maior nitidez é a formação dos sintomas. Estes acompanham o sujeito nas diferentes esferas da vida: em casa, no ambiente familiar, na escola, no setting analítico. Em relação à formação dos sintomas obsessivos, Freud (1894/ 1996) aponta que o que cai sob a barra do recalque são as conexões entre as ideias. Esclarece que, na neurose obsessiva, há a "separação entre a representação [incompatível] e seu afeto e falsa ligação deste último [a outra representação]" (FREUD, 1894/1996, p. 60).

Seria impróprio afirmarmos que a representação original seria submetida à amnésia; esta apenas é desvinculada do afeto correspondente. As conexões associativas são recalcadas; no entanto, a experiência vivenciada não é esquecida. O objeto fóbico também resulta de uma operação semelhante: no caso de Hans, o temor ao pai se transmuta em medo dos cavalos. Como remontar os deslocamentos da representação que já ocorrem na infância?

Freud (1907/1996) observa que as pessoas que têm por hábito a prática reiterada de atos cerimoniais comumente também sofrem de pensamentos, ideias e impulsos obsessivos. Freud (1908/ 1996) interpreta a necessidade de limpeza e a repugnância com relação à imundice como formações reativas contra a atração que a sujeira do corpo provoca. Tanto essas formações reativas, quanto a sublimação dos instintos, surgiriam como destinos possíveis do erotismo anal na infância, privilegiados em pessoas que, posteriormente, apresentarão aqueles traços de caráter que Freud (1908/1996) designa como tipicamente obsessivos, a saber: a ordem, a parcimônia, a obstinação. Acrescenta que é no período de latência que as formações reativas desenvolvem-se, às expensas das excitações provenientes das zonas erógenas.

O desenvolvimento da libido alcançaria seu estágio de maturação após o período de latência, atingida a maturidade genital. Assim, parece-nos plausível ressaltar a inviabilidade de estabelecer uma hipótese conclusiva sobre a estrutura do sujeito na infância, dado que a estruturação depende, ainda, da ocorrência de operações e do desenvolvimento de funções do ego e da função sexual. No entanto, ocorre, por vezes, de o sujeito permanecer apegado a um estágio anterior do desenvolvimento libidinal, configurando o que Freud (1913/1996) chamou de "ponto de fixação", para o qual pode haver uma regressão diante de alguma perturbação.

Na neurose obsessiva, as pulsões que dominam essa organização pré-genital da vida sexual, a qual o sujeito permanece fixado, incluem os componentes anal-eróticos e sádicos. A disposição à determinada neurose estaria atrelada, então, a certas inibições no desenvolvimento, configurando pontos aos quais o sujeito sentiria necessidade de retornar. Em relação à neurose obsessiva, temos que esta "geralmente apresenta seus primeiros sintomas no segundo período da infância (entre as idades de seis e oito anos)" (FREUD, 1913/1996, p. 342).

Inicialmente, há um conflito, um esforço para impedir que essa regressão a estágios anteriores do desenvolvimento libidinal ocorra. Desse esforço surgem "formações reativas contra ela [regressão], bem como sintomas produzidos por conciliações entre os dois lados opostos, assim como divisão das atividades psíquicas entre as que são admissíveis à consciência e outras que são inconscientes" (FREUD, 1913/1996, p. 348). Freud sugere, ainda, "a possibilidade que uma ultrapassagem cronológica do desenvolvimento libidinal pelo desenvolvimento do ego deve ser incluída na disposição à neurose obsessiva" (1913/1996, p. 348).

Um dos destinos possíveis para os impulsos, aos quais o sujeito permaneceu fixado no erotismo anal e no sadismo, é a sublimação. Assim, a pulsão epistemofílica pode assumir o lugar do sadismo no mecanismo da neurose obsessiva. Essa forma da pulsão estaria, originalmente, atrelada ao "instinto" sádico de domínio, o qual, mediante o efeito da sublimação resta exaltado sob forma intelectual, que não é isenta de conflito: "seu repúdio, sob forma de dúvida desempenha grande papel no quadro da neurose obsessiva" (FREUD, 1913/1996, p, 348).

Dois aspectos em especial despertam nossa atenção pela frequência com que aparecem na clínica com pacientes que fornecem indícios de estarem estruturando uma neurose: a disposição explícita em "colaborar com o tratamento", que nos remete à oblatividade; e algumas palavras e ações que são consideradas proibidas pelo sujeito. Iniciaremos buscando uma compreensão para essa segunda ocorrência. Em relação à neurose obsessiva, Freud afirma:

[(...)] o conteúdo do distúrbio abrange proibições e impedimentos (abulias), que na realidade apenas levam adiante o trabalho dos atos obsessivos, portanto algumas coisas são completamente vedadas ao paciente e outras só permitidas após a realização de um determinado cerimonial (FREUD, 1907/1996, p. 110).

Uma hipótese que construímos é se esses objetos proibidos funcionariam tal como um objeto fóbico, que delimita espaços seguros, onde a criança pode estar salva de se sentir ameaçada. Os rituais, que o sujeito vê-se impelido a fazer quando se depara com algo "proibido", são frequentemente descritos como desprovidos de sentido.

No decurso dessa investigação [a saber, psicanalítica], dilui-se completamente o aspecto tolo e absurdo de que se revestem os atos obsessivos, sendo explicada a razão de tal aspecto. Descobre-se que todos os detalhes dos atos decisivos possuem um sentido, que servem a importantes interesses da personalidade, e que expressam experiências ainda atuantes e pensamentos catexizados com afeto. [(...)] o que está sendo representado em atos obsessivos e cerimoniais deriva das experiências mais íntimas do paciente, principalmente das sexuais (FREUD, 1907/1996, p. 111).

Freud já nos alertara que a problemática da neurose estava atrelada ao temor de castração a que o menino se vê confrontado no desfecho do complexo de Édipo. Quanto às palavras eleitas para neutralizar o efeito de angústia, suscitado por ações, dizeres e objetos proibidos, parece-nos interessante tomá-las em seu valor significante, tal como Freud operou ao analisar o Homem dos Ratos. Ernst Lanzer - conhecido como o Homem dos Ratos por seu pavor à tortura que lhe fora contada em seu regimento militar pelo capitão Nemeczec1 - confidenciara a Freud que havia uma palavra que, ao ser empregada por ele, o fazia sentir-se protegido de suas tentações sexuais.

Freud, em respeito ao sigilo com seu analisando, não nos revela precisamente a palavra, mas observa que se tratava de um anagrama que conjugava o nome da mulher amada terminado com a letra "s". Após sua pronuncia, Ernest acrescentava, tal como se faz nas orações, a palavra "amém". A junção do "s" com esse desfecho formava a palavra Samen, que podia ler-se como "sêmen". Assim, a palavra destinada a protegê-lo das tentações sexuais revelava, paradoxalmente, algo daquilo que ele se esforçava por evitar: a união de seu sêmen ao nome da namorada.

O obsessivo acredita na força e no poder da palavra, o que o leva a crer que os rituais e determinados dizeres possuem "poderes mágicos" de neutralizar ações. Observamos, por vezes, na análise de sujeitos que estão estruturando uma neurose, uma disposição explícita em colaborar com aquilo que supõe constituírem os objetivos da análise. Lacan situa a oblatividade como uma fantasia obsessiva associada ao reconhecimento do desejo do outro. Mas, como o obsessivo reduz o desejo à demanda, essa saída oblativa resulta em uma submissão às demandas do outro.

"Poupar o outro é exatamente o que está no fundo de toda uma série de cerimoniais, de precauções, de desvios, em suma, de todas as manobras do obsessivo" (LACAN, 1957-58/ 1999, p. 429). Outra possibilidade de interpretação é aquela que nos apresenta Ribeiro ao aludir à estratégia obsessiva de fazer calar o desejo do outro reduzindo-o aos pedidos: "[(...)] um obsessivo pode ser muito solícito, muito gentil, atendendo da melhor maneira a tudo que lhe pedem para não deixar espaço para o desejo, que está oculto para além do que se pede explicitamente" (2003, p. 25). Ademais, o obsessivo é hábil em postergar, protelar a finalização de uma atividade para manter-se ocupado e não deixar espaço para confrontar-se com o desejo.

Segundo Freud, na gênese da neurose encontramos uma estimulação sexual precoce que se configura traumática em um segundo tempo, quando o sujeito vivencia uma segunda experiência, capaz de fornecer o sentido sexual à primeira. Para Freud, "dois componentes são encontrados em toda obsessão: (1) uma representação que se impõe ao paciente; (2) um estado emocional associado" (1895 [1894]/1996, p. 79). Assim, temos que, na neurose obsessiva, o estado emocional permanece inalterado, enquanto a representação, a ele associada, varia. Acerca da representação original, relacionada com a etiologia da obsessão, Freud esclarece que:

Todas as representações substituídas têm atributos comuns; elas correspondem a experiências realmente penosas na vida sexual do sujeito, que ele se esforça por esquecer. Consegue meramente substituir a representação incompatível por uma outra, mal adaptada para se associar com o estado emocional, o qual, por sua vez, permanece inalterado. É essa falsa ligação entre o estado emocional e a representação associada que explica os disparates tão característicos das obsessões (FREUD, 1895 [1894]/1996, p. 80).

Podemos postular a angústia como relacionada à libido transformada, desviada de sua finalidade sexual; o afeto não é recalcado, mas apenas desvinculado da representação intolerável. Na neurose obsessiva, o nexo associativo entre as ideias é submetido ao recalque, e o afeto, livre no psiquismo, pode ligar-se a outra representação mais tolerável para o sujeito. É o que Freud (1894/ 1996) vai chamar de "falsa conexão". Nessa trama, o sintoma parece ilógico, posto que se forma desvinculado da ideia original geradora de angústia.

Pode acontecer, ainda, de a representação original ser substituída não por outra representação, mas por atos ou impulsos que proporcionam alívio e funcionam como medidas de proteção para o sujeito. Esses atos ficam ligados a um estado emocional que não lhes era originalmente atribuível, o que faz com que a emoção associada pareça injustificada e/ou incoerente. De acordo com a natureza do objeto temido, Freud diferencia dois grupos entre as fobias, a saber: "as fobias comuns - medo exagerado de coisas que todos detestam ou temem em alguma medida - [(...)] e as fobias contingentes - medo de condições especiais que não inspiram medo ao homem normal" (FREUD, 1895 [1894]/1996, p. 85).

Freud sugere que "é possível coexistirem combinações de uma fobia com uma obsessão propriamente dita, e essa é de fato uma ocorrência muito frequente" (1895 [1894]/1996, p. 86). Com o ato obsessivo, o sujeito expressa motivos e ideias inconscientes. Isso indica que esses atos são passíveis de interpretação. Ocorre que, cada nova irrupção do afeto, gerada pelo confronto com aquilo que assumiu o lugar de representação substituta, é vivida pelo sujeito como uma provocação e acarreta o que Freud denominou "ansiedade expectante" (1907/ 1996, p. 114).

Tal ansiedade está atrelada à culpa por um desejo proibido, associada ao temor de punição. Por que motivo o sujeito imagina que mereceria ser punido? Temos que o encontro com aquilo que é da ordem do sexual é sempre traumático. Ora, é justamente nesse ponto que o mecanismo do deslocamento incide na formação dos sintomas e das ideias obsessivas: o recalque incide sobre a representação do trauma e o afeto é deslocado para uma ideia substitutiva. A autorrecriminação passa, então, a recair sobre fatos aparentemente fúteis e irrelevantes.

Essa ideia obsessiva recalcada está também atrelada à fantasia inconsciente de que o pai pode puni-lo por ter desejado a mãe, de modo que o deslocamento do afeto para outra ideia substitutiva é também uma estratégia para desviar a vingança paterna. O obsessivo se identifica a traços do pai (identificação Simbólica), mas também rivaliza com ele ao querer ocupar seu lugar (identificação Imaginária). Essa segunda identificação inclui o desejo da morte do pai, que é correlato do desejo proibido pela mãe, trazendo em seu cerne o sentimento de culpa. Nessa trama o desejo constitui-se problemático para o obsessivo: é contra a lei (paterna) e incestuoso. Furtar-se dele não deixa de ser, pois, uma maneira de preservar a posição paterna.

 

O lugar do pai e sua função estruturante

Na neurose obsessiva há a tentativa do sujeito de recobrir a castração e sanar qualquer falha mediante um controle racional, valendo-se da lógica do pensamento deliberado. Se a histérica vai buscar sublinhar a falha do outro, para assim fundar um lugar no desejo do outro, o obsessivo trabalharia incessantemente no sentido de erradicar qualquer falha e sustentar um pai incastrado. Essa suposição, em relação à existência de Um Pai - ao menos um que diga não à castração - remete-nos à posição masculina relativa às fórmulas da sexuação de Lacan.

Se mais frequentemente a neurose obsessiva é o que predomina, enquanto estruturação, nos homens talvez seja em função da pergunta por essa condição paterna que vem a oferecer indícios possíveis do que é ser homem, fornecendo elementos para a assunção de uma posição viril. Na neurose obsessiva, o sujeito encontra-se às voltas com a busca de solução às perguntas relativas às origens e ao lugar do pai, questões eminentemente inconscientes, que poderíamos articular aproximativamente da seguinte forma: de onde eu vim? A quem eu devo a minha vida?

Freud observa que "o erotismo anal encontra uma aplicação narcísica na realização do desafio, que constitui uma importante reação por parte do ego contra as exigências feitas por outras pessoas" (1917/1996, p. 140). Parece-nos plausível presumir o estabelecimento de uma identificação imaginária entre a criança e aquela outra, de mesma idade, que realiza atividades semelhantes. Ocorre que nesse tipo de identificação o sujeito se confunde com o outro. Ademais, "a identificação imaginária se estabelece a partir do eixo especular e, portanto, se baseia tanto no amor como na agressividade" (RIBEIRO, 2003, p. 24).

Vamos analisar agora aquilo que é atinente à posição do pai e sua influência na estruturação de uma neurose obsessiva. Muitas vezes, vemos a criança endereçar suas conquistas e aquisições de habilidades aos pais. Lacan já destacara a importante função que cumpre um terceiro que testemunhe a vitória e a convalide: é preciso que haja alguém que registre a proeza.

Há na proeza do obsessivo algo que sempre permanece irremediavelmente fictício, em razão de que a morte, ou seja, o lugar onde fica o verdadeiro perigo, não reside no adversário que ele dá a impressão de desafiar, mas num lugar completamente diferente. Está, justamente, do lado da testemunha invisível, do Outro que está ali como expectador, daquele que contabiliza os golpes e que dirá sobre o sujeito: Decididamente [(...)] ele é um durão! Encontramos essa exclamação, essa maneira de demonstrar que se foi afetado, como implícita, latente, desejada em toda a dialética da proeza (LACAN, 1957-58/ 1999, p. 431).

Esse lugar terceiro, suposto no Outro, é por vezes ocupado pelo pai. Conseguir fazer algo pode ser, assim, uma e outra vez endereçado ao pai. A satisfação que a criança experimenta não deriva exatamente de seu merecimento outorgado por seu desempenho, mas do reconhecimento auferido pelo outro nessa posição terceira. O desejo estaria, pois, deslocado: situá-lo, simplesmente, no terreno onde o sujeito demonstra, brilhantemente, todas as suas aptidões e enfrenta os mais árduos desafios, seria desviar o olhar do ponto onde esse desejo busca realizar-se, a saber, no retorno que obtém daquele que testemunha essa vitória. O principal não está, pois, no risco corrido, mas sim no Outro diante de quem o desafio é realizado.

O que faz marca na história do sujeito é o registro da façanha nesse lugar Simbólico, que implica em como o sujeito é visto pelo outro, como se vê em relação ao desejo do Outro. Imaginariamente, a sequência de conquistas da criança é o que sustenta o olhar do pai sobre ela, bem como sua presença Real. Lacan ressalta, em relação à conduta do obsessivo, que "o objetivo essencial é, com certeza, a manutenção do Outro. Essa é a visada primária, preliminar, a única em cujo interior pode efetivar-se a validação tão difícil de seu desejo" (1957-58/1999, p. 432).

O semelhante é o outro especular da dialética imaginária, com o qual o sujeito rivaliza e diante do qual se instaura o que Kojève qualificou de "luta de morte por puro prestígio" (2002, p. 14). O autor explica que, caso os seres humanos se comportassem de maneira idêntica, "a luta levaria necessariamente à morte de um dos adversários, ou dos dois" (KOJÈVE, 2002, p. 14). Mas o essencial aí não é a disputa em si, mas aquele que assume a condição de expectador.

Quando um sujeito constitui-se no Édipo, ele supõe o pai como quem deteria um saber sobre (...) o gozo materno, como quem poderia defendê-lo cuidando desta demanda apavorante. A partir desta suposição, o sujeito vai apostar na necessidade, para se manter, de sustentar um saber (com o seu depositário) que o defende. Então, a sua verdade aparece ao sujeito como sendo possivelmente um saber suposto, só a medida na qual o sujeito está tomado numa perspectiva propriamente neurótica (CALLIGARIS, 1991, p. 172).

Se a questão da sustentação da posição do pai é crucial para a neurose obsessiva, podemos situar como concernente ao trabalho analítico a possibilidade de prescindir do pai, enquanto garantidor da lei, à condição de servir-se dele. Seria o que Lacan vai propor ao final de seu ensino como a construção de um sinthoma, que, em se tratando de uma neurose, implica na criação de um nome próprio, de um lugar que designe a condição de sujeito. Calligaris vai referir que o trabalho da análise apontaria no sentido de "levar a uma experiência da verdade na qual a função paterna se revele nua, não precisando do manto de um saber" (1991, p. 172).

Na infância, o sujeito precisa sustentar esse pai, para garantir a inscrição da função paterna, eminentemente Simbólica e fundamental na neurose. A fragilidade dessa função do pai para a criança pode ser o que esteja atrelado à necessidade de encontrar um ponto de ancoragem em algo que se constitui como um objeto fobogênico. A fobia é, em certa medida, constitutiva do infantil. É até mesmo esperado que, em algum momento da infância, o sujeito desenvolva sintomas fóbicos como solução a um momento de passagem, de transição.

Lacan, ao analisar a fobia a cavalos do pequeno Hans, já apontava para a relação existente entre a ameaça oferecida pelos cavalos e aquela proporcionada pelo medo do pai imaginário, do segundo tempo do Complexo de Édipo.

O pai imaginário é aquele com quem lidamos o tempo todo. É a ele que se refere, mais comumente, toda a dialética, a da agressividade, a da identificação, a da idealização pela qual o sujeito tem acesso à identificação ao pai. [...] É o pai assustador que conhecemos no fundo de tantas experiências neuróticas, e que não tem de forma alguma, obrigatoriamente, relação com o pai real da criança (LACAN, 1956-57/1995, p. 225).

Se, no primeiro tempo, "o sujeito se identifica especularmente com aquilo que é objeto do desejo de sua mãe" (LACAN, 1957-58/1999, p. 198), de modo a ser equivalente ao falo que supostamente falta à mãe, permanecendo num estado de alienação dual, no segundo tempo o pai intervém como privador. No mesmo ato, que pressupõe a intervenção da palavra do pai, a mãe é privada do objeto de seu desejo e a criança é privada do acesso irrestrito à mãe. No terceiro tempo, o pai intervém como aquele que tem o falo (e não que o é). Essa ação possibilita a saída do Complexo de Édipo e conduz o sujeito a uma identificação com o pai, que vai forjar o Ideal do Eu. Assim, o lugar do pai e a operatividade da função paterna adquirem papel central tanto na formação dos sintomas, quanto na estruturação da neurose obsessiva.

Lacan vai afirmar, ainda, que "o tema da devoração é sempre encontrado, por qualquer lado, na estrutura da fobia" (1956-57/1995, p. 233). Podemos supor que, nessas situações, houve uma falha na intervenção paterna. Embora o pai Real tenha sido o agente da castração no terceiro tempo, lá no primeiro tempo, onde podemos supor o pai Simbólico, atrás da mãe Simbólica, como frustrando a criança em relação ao acesso ao seio real da mãe, essa função do pai Simbólico é operada de forma débil, o que traz consequências até o desfecho do Complexo de Édipo.

À medida que o pai possa ser aquele que sanciona, sustentado pela palavra materna, o lugar da lei; à medida, pois, que a metáfora paterna tenha sua eficácia de sustentação do sujeito pela inscrição do significante fálico na ordem Simbólica, a fobia vai então poder ceder. Ao analisar o caso do "Homem dos Lobos", Freud já apontava para manifestações fóbicas surgidas na infância como precedentes de uma posterior estruturação de uma neurose obsessiva. Analisar teoricamente as especificidades do objeto da fobia vai permitir-nos, posteriormente, compreender as transformações que este vai sofrendo no curso do processo de análise.

 

Manifestações fóbicas na infância: a placa giratória

Se pensarmos desde a perspectiva do que está em questão quando da vivência do Complexo de Édipo, algo da ordem da fobia começa a aparecer em função do que acontece na passagem da relação Imaginária da criança com a mãe, em torno do falo, à colocação em cena da castração proveniente da intervenção paterna. O objeto da fobia tem a função de esconder, da melhor forma possível, a representação a que o afeto estava originariamente referido. Esse objeto, ao mesmo tempo em que marca o lugar da falta, mascara a angústia fundamental do sujeito - a saber, a angústia de castração. A angústia surge como sinal de um perigo que é em sua origem relacionado à desaparição do sujeito e à irrupção daquilo que é da ordem do pulsional, mas que fica deslocado para o exterior, possibilitando a fuga e a delimitação de espaços seguros.

O objeto fóbico aparece com todo o seu valor significante. Trata-se, pois, de um significante privilegiado para o sujeito, na medida em que se liga a múltiplas significações. O valor significante leva-nos a intuir o caráter Simbólico que assume, de modo que é provável que um apelo ao Nome-do-Pai esteja aí implicado. De acordo com Lerude-Flechet, "o objeto fobogênico marca um limiar, paralisa o olhar, provoca a evitação, sinaliza para o sujeito, [...] viria a designar [...] o lugar da falta" (1992, p. 9). Podemos supor ainda que o objeto da fobia marca o aparecimento de algo da ordem do Real, impossível de simbolizar.

A fobia constitui-se como enigma que o sujeito não consegue explicar. Teria esse enigma relação com o desejo do Outro? Se for assim, talvez a fobia na infância seja precursora da constituição do fantasma e da estruturação da neurose, dado que condensa algo relativo à pergunta: "o que o Outro quer de mim?". Se, como vimos, na neurose obsessiva está em jogo a substituição da ligação do afeto de uma representação intolerável por outra, na fobia o mecanismo da substituição também está em jogo. Bergès vai dizer que a fobia "é diretamente ligada à acumulação da tensão sexual" (1992, p. 18). "A fobia funciona num segundo tempo ‘escolhendo' uma representação onde fixar-se: eleição ou soldadura" (BERGÈS, 1992, p. 19).

A representação substitutiva, ao mesmo tempo em que está ligada à representação original geradora de angústia (recalcada), guarda um distanciamento, que a torna admissível à consciência. Desde então, essa segunda representação vai estar vinculada à irrupção da angústia. "A fobia não deve ser vista como entidade clínica, mas sim como uma placa giratória. (...) Ela gira mais comumente para as duas grandes ordens da neurose, a histeria e a neurose obsessiva, e também realiza a junção com a estrutura da perversão" (LACAN, 1969/2008, p. 298).

Eidelsztein (2008) esclarece que, na montagem fantasmática da fobia, o sujeito ocupa o lugar designado pelo losango na fórmula $ <> a. Isso implica um deslocamento da posição do sujeito no momento da armação do fantasma. Simultaneamente é realizada uma manobra em relação ao objeto a. Ora, se o sujeito está situado nessa posição intermediária, o giro diz respeito a uma mudança na posição que ocupa em relação ao outro: ou passa a situar-se no lugar de objeto a e estrutura uma perversão, ou assume a condição de sujeito barrado $ culminando na estruturação de uma neurose de transferência - que pode ser a histeria ou a neurose obsessiva.

 

A construção da montagem fantasmática

É importante desdobrar a constituição do fantasma enquanto resposta que o sujeito formula à pergunta pelo desejo do Outro (Che vuoi?). Trabalhar as nuances da fórmula do fantasma permite postular como o sujeito se posiciona em relação ao objeto causa do desejo na neurose obsessiva e como essa conformação vai se processando desde a infância. O obsessivo, em seu fantasma, tem que arcar com a posição degradada - insuficiente - do pai, que não pôde barrar satisfatoriamente a demanda materna. Haveria, pois, uma ambivalência afetiva dirigida ao pai: ao mesmo tempo em que é o destinatário de amor e de ódio.

Essa posição do sujeito em relação ao pai está em causa na gênese do processo de estruturação da neurose obsessiva. Ter que assumir uma postura viril apareceria como uma exigência superegóica para o sujeito. A impossibilidade de cumprimento dessa demanda em sua plenitude e o esforço empreendido para manter afastado da consciência um desejo incestuoso explicam a emergência do sentimento de culpa.

No seio da experiência analítica existe alguma coisa que se chama [(...)] um mito. O mito é o que dá uma fórmula discursiva a esse algo que não pode ser transmitido na definição da verdade. [...] É nesse sentido que se pode dizer que o Complexo de Édipo (...) possui um valor de mito (LACAN, 1979, p. 12). A constelação que presidiu o nascimento do sujeito, [...] as relações familiares fundamentais que estruturam a união dos pais, têm uma relação muito precisa [...] com o que aparece como o mais contingente, o mais fantasmático, o mais paradoxalmente mórbido de seu caso (LACAN, 1979, p.15).

Nessa passagem, Lacan aponta a princípio para a correspondência existente entre traços da trama familiar e a posterior construção do fantasma. Isso não implica que o sujeito reproduza essas marcas tal e qual: ele as modifica a partir de suas vivências e da intervenção de certas criações imaginárias. Há, pois, elementos ficcionais que intervém na conformação do fantasma que têm por si mesmos a potência de revelarem algo atinente à trama inconsciente. A realidade psíquica é determinada pelas fantasias e não pela realidade objetiva. É por isso que, a nível inconsciente, não temos como diferenciar verdade e ficção; a verdade a que visamos em análise é sempre ficcional, dado que não pode ser expressa senão a meias palavras.

Lacan define a fantasia como "imaginário aprisionado num certo uso do significante" (1957-58/ 1999, p. 421), sendo que, na neurose obsessiva, observamos, com frequência, fantasias sádicas compondo o fantasma. O sujeito é personagem principal nesse enredo ficcional, embora o semelhante esteja presente na cena, mostrando toda a dialética imaginário-especular implicada. Lacan refere: "[(...)] há sempre uma cena em que o sujeito é apresentado no roteiro sob formas diferentemente mascaradas, na qual ele é implicado em imagens diversificadas, na qual um outro como semelhante e também como reflexo do sujeito é presentificado" (1957-58/ 1999, p. 422).

Há particularidades na forma como o sujeito obsessivo concatena sua possibilidade de desejar, configurando uma impossibilidade subjacente. Lacan observa no que diz respeito à "a mecânica da relação do sujeito obsessivo com o desejo - à medida que ele tenta aproximar-se do objeto [...] seu desejo se amortece, a ponto de chegar à extinção, ao desaparecimento" (1957-58/ 1999, p. 424). Daí a sequência de objetos que ele busca, formando uma série, sendo que nenhum é para ele capaz de funcionar como objeto causa do desejo: uma vez que encontra uma mulher, por exemplo, não é mais esta, o desejo vai apontar para outro lugar.

"O obsessivo resolve a questão do esvaecimento de seu desejo fazendo dele um desejo proibido. Faz com que ele seja sustentado pelo Outro, precisamente pela proibição do Outro" (LACAN, 1957-58/1999, p. 427). Por ser um desejo imaginariamente proibido, o sujeito procura uma forma de desimplicar-se, seja projetando-o no outro (não sou eu que desejo, e sim o outro), seja pelo medo de retaliação. Essa suposta ameaça de punição condensa um gozo, cuja modalidade aparece na configuração do fantasma. A possibilidade, no fantasma do neurótico, da existência de uma disjunção entre sujeito e objeto a, imprime ao gozo seu caráter contingente.

 

As intervenções do analista na clínica com crianças

Finalmente, buscaremos pontuar especificidades e desafios da clínica com crianças. Como vimos, na neurose obsessiva, o sujeito está então empreendendo uma tentativa de restaurar esse lugar do pai, posto que de sua sustentação depende, imaginariamente, a existência mesma do sujeito. Teria como o analista, valendo-se da potência do ato em transferência, posicionar-se de modo a restaurar esse lugar do pai, que aparece ameaçado para o sujeito? Seria essa a direção do tratamento? Acreditamos que aí reside um ponto que marca uma diferença radical da clínica com crianças, em relação ao que se desdobra no processo de análise de um paciente adulto.

A criança ainda precisa garantir a sustentação desse pai para fazer frente à demanda materna, ao passo que a análise do adulto aponta na direção de prescindir dessa garantia sustentada pela posição paterna, deparar-se com a inexistência de Outro do Outro diria Lacan. Isso não implica desfazer-se da referência a uma instância Simbólica - o Nome-do-Pai inscrito seguirá balizando a posição subjetiva do sujeito - mas deparar-se com a condição de que não há um outro personificado, que coincida com esse lugar ocupado pelo Outro na ordem Simbólica.

Tem algo que aparece na transferência e que é frequente na neurose obsessiva: o sujeito apresenta-se, por vezes, como se estivesse pedindo permissão. Não é que ele não tenha entendido a lógica do dispositivo analítico; entretanto, insiste em pedir permissão. Lacan vai articular esse pedido com a relação que o obsessivo estabelece com o desejo do Outro: ele confunde demanda com desejo; ele sabe ser possível responder à demanda do outro, satisfazer uma solicitação expressa. O difícil é posicionar-se na dialética do desejo, que está além e aquém da demanda2.

O desejo do Outro constitui enigma para o sujeito e o corolário disso é que o obsessivo não pode situar-se em relação a seu próprio desejo. Daí a necessidade de refazer, a todo tempo, o Outro, cuidar para sustentar a posição paterna no que ela aponta para esse "ao menos Um" que possa fazer frente à castração.

Pedir permissão é justamente ter como sujeito uma certa relação com a própria demanda. Pedir permissão na medida mesma em que a dialética com o Outro - o Outro como falante - é posta em causa, posta em questão, ou até posta em perigo, é dedicar-se, afinal de contas, a restaurar esse Outro, é colocar-se na mais extrema dependência dele (LACAN, 1957-58/1999, p. 425).

Se, na clínica com adultos, seguindo as proposições freudianas em "Recordar, repetir e elaborar" (1914/1996), trata-se de substituir a neurose comum do sujeito por uma neurose de transferência, acessível, pois, às intervenções do analista, na clínica com crianças temos que a neurose ainda não terminou de ser estruturada.

Esses estados neuróticos por que passam muitas crianças são neuroses de transferência, e não substitutos de uma neurose comum. A relação com as doenças neuróticas (as neuroses de transferência, segundo a equivocação que Freud usa) seria então o contrário daquilo que se passa na análise: na criança, a neurose comum substituiria uma neurose de transferência não resolvida (PORGE, 1998, p. 5).

O analista precisa mostrar-se apto a suportar as manifestações de ambivalência afetiva inerentes aos conflitos com os quais a criança está se confrontando. É possível observar sintomas obsessivos em crianças pequenas, ou seja, estes podem aparecer em fases anteriores a do enfrentamento do complexo edípico. Como consequência dos impulsos agressivos, podem surgir fantasias de destruição do corpo materno, sentimento de culpa e a realização de um ato reparador. As ações feitas para neutralizar outras, na neurose obsessiva, obedecem à lógica análoga a de um ato reparador. Auxiliar a criança a discriminar a realidade (do ato) da fantasia (de destruição) vai permitir que ela possa pensar em seus desejos agressivos ou hostis em relação àqueles que são também objetos de seu amor de forma menos angustiante.

A criança reproduz situações vividas cotidianamente no seu brincar, na forma como vai armando as posições dos personagens na brincadeira. Poder falar sobre e trazer para a cena da análise o objeto fobogênico, assim como os pensamentos e atos obsessivos, possibilita que a criança, paulatinamente, possa formular uma pergunta, armar um enigma a respeito do que se passa com ela. Interrogar o porquê de tal ação, tal objeto ou tal palavra adquirir a força de significante e não outra pode indicar uma direção para o tratamento. É preciso ainda interrogar a função que as expressões sintomáticas cumprem no processo de estruturação de um sujeito.

Freud considera o sintoma como uma formação do inconsciente, o que implica a incidência de mecanismos de condensação e de deslocamento e derivação de conteúdos recalcados. Até certa época da infância, todavia, o recalcamento não terminou de operar (embora façamos a ressalva de não podermos falar de um recalque completo, pois sempre há retorno do recalcado), de modo que uma das especificidades do tratamento de crianças é que o analista, por vezes, acompanha o sujeito no sentido de engendrar o recalque. Na análise de adultos, o trabalho operaria supostamente no sentido contrário.

Trabalhamos com hipóteses acerca de como a criança está se estruturando, valendo-nos da transferência e do funcionamento da linguagem. O sintoma seria, então, uma resposta da criança resultante da posição que ocupa em relação ao desejo dos pais ou cuidadores. Posicionar-se em relação a um Outro capaz de situar-se relativamente à metonímia do desejo já nos indica um Outro barrado, marcado pela falta que a operatividade do significante fálico institui. Importante observar a dupla vertente implicada na formação dos sintomas: se, por um lado, estes podem ser pensados em sua dimensão de pathos, na medida em que conjugam paixão e sofrimento, desde outra perspectiva podem indicar que a operação do recalcamento está em curso, de modo que a criança está em vias de estruturação de uma neurose.

Uma hipótese que formulamos é que alguns sintomas podem ter para a criança valor de sinthoma. Lacan apresenta esse invento teórico, com função de suplência.

[...] o que pela primeira vez defini como o sinthoma. Trata-se de alguma coisa que permite ao simbólico, ao imaginário e ao real continuarem juntos, ainda que, devido a dois erros, nenhum mais segure o outro. Na última vez me permiti definir como sinthoma o que permite ao nó de três [ ...] se manter nó de três. [...] Centrei a coisa em torno do nome próprio e pensei que [...] ao se pretender um nome, Joyce fez a compensação da carência paterna (LACAN, 1976/ 2007, p. 91).

O sinthoma seria, pois, o quarto círculo suplementar, que permitiria a reparação de uma falha na amarração do nó borromeano, no caso da neurose, provocada por um déficit na intervenção paterna. Vimos que uma das funções do pai seria romper com a díade mãe-criança, apontando para um lugar terceiro, necessário à instauração da lei simbólica. O sinthoma como suplência vem dar conta de algo que estruturalmente pede uma resposta. A referência ao significante Nome-do-Pai permitiria engendrar uma das formas de suplência à falta inaugural. O sinthoma pressupõe a (re) invenção do sujeito.

Se pensarmos, com Lacan, que essa criação singular do sujeito viria em suplência aos Nomes-do-Pai, veremos como, na neurose, o sujeito terá essa tarefa a realizar, devido a eventuais falhas da função paterna. Se as intervenções do analista apontam para algo, podemos supor que se dirigem àquilo que assume valor de S1 (significante-mestre) para o ser falante. Seria tarefa do analista acompanhar o sujeito nesse percurso de invenção, ocupando o lugar vazio do objeto a (o que implica não esperar determinado comportamento a priori da criança). Não podemos equivaler o que cumpre função de sinthoma na infância ao engendramento de um nome próprio, tal como sucede com alguns sujeitos que já tem definido os rumos de sua estruturação.

Embora não possamos afirmar a existência de uma cronologia atinente às operações psíquicas que se processam na infância, há uma sequência lógica. É pertinente falarmos, pois, em prescrição - tomando de empréstimo o termo da esfera jurídica -, que indicaria que transcorrido determinado tempo (ao cabo da passagem adolescente), tanto o recalcamento quanto a inscrição do significante Nome-do-Pai já devem ter ocorrido. No período infantil, o recalque não terminou de efetivar-se, visto que deve sua consolidação à eficácia da metáfora paterna.

Endereçar a fala para o analista coloca em cena o que o sujeito supõe na relação com o outro e a função que aquilo que é lido como uma demanda do Outro cumpre na manutenção da neurose. Instaurar diferenças, interrogar certezas e buscar reenviar algumas dessas conexões falsas à representação, que originou o afeto, pode indicar-nos um caminho na clínica com crianças que mostram estar estruturando algo atinente à neurose obsessiva. Em relação ao trabalho clínico com pacientes obsessivos, Froemming (2003) aponta para a via do humor como uma possibilidade de fazer frente ao caráter absurdo de alguns atos e ideias, bem como à severidade do supereu do obsessivo, que faz com que o sujeito leve a si mesmo e aos outros muito a sério.

Se, na clínica, o analista faz semblante do objeto a, causa do desejo, o que permite criar as condições para o jogo de associações da criança é que o desejo do analista em relação a ela resulte em um lugar vazio, ao mesmo tempo em que aposte no advento do sujeito. Talvez, diante de uma criança que mostra sintomas obsessivos, seja tarefa do analista restituir de alguma forma a função do pai, apostando que a eficácia simbólica abra caminhos para a sustentação do desejo.

 

Considerações finais

À guisa de conclusão, teceremos algumas últimas considerações a propósito da função paterna nos primórdios da estruturação de uma neurose obsessiva. No cerne dessa neurose, temos, então, a dúvida sobre a origem, que remete à sexualidade, e também o enigma da morte, questões que permanecem emblemáticas para o sujeito. A criança formula tentativas de respostas a essas indagações, seja através das teorias sexuais infantis - quando buscam desvendar de onde vêm os bebês -, seja construindo, imaginariamente, uma dívida Simbólica com o pai. Essa dívida decorre da interdição mesma do incesto e constitui a possibilidade para a criança de saída do Complexo de Édipo com os "títulos no bolso", ou seja, com os requisitos ou referências Simbólicas necessárias para posicionar-se na sexuação.

Ora, vimos que esse desfecho do complexo implica não só o confronto da criança com a castração, mas também a inscrição do significante fálico, balizador da ordem Simbólica e resultante da metáfora paterna. Se essas operações estão em curso, apostamos que a criança esteja estruturando uma neurose e que o recalcamento esteja se efetivando. E, ainda, se aliado a esse processo já observamos sintomas fóbicos (que terminam mais frequentemente desembocando em uma histeria ou em uma neurose obsessiva) e sintomas obsessivos, isso pode indicar-nos que a criança tem chances de estar estruturando uma neurose obsessiva.

Ocorre que esses sintomas configuram-se como tentativas empreendidas pela criança de fazer frente a eventuais falhas da função do pai, o que acarreta um desdobramento da figura paterna: ora enquanto pai terrorífico, do segundo tempo do complexo de Édipo, ora enquanto pai idealizado, que possibilitou ao sujeito os requisitos necessários para posicionar-se na sexuação e na ordem Simbólica. Há decorrências lógicas dessa ambivalência: a culpa pelo desejo (de morte) dirigido ao pai na dinâmica do Édipo, e a impossibilidade tanto de atender ao pedido do pai (a saber, não desejar a mãe) quanto de recusá-lo. Isso culmina na dúvida que aparece na neurose obsessiva, bem como no sentimento de culpa que recai sobre o desejo.

Na tentativa de produzir uma simbolização, o sujeito mascara aquilo que foi num primeiro tempo objeto do trauma, deslocando-o para outra representação. Em um segundo momento, o sujeito, então, se autoacusa de não conseguir oferecer o que supõe que deveria ao outro, pois confunde o desejo com a demanda do outro, e ambos nunca coincidem. A ritualização e as ações para neutralizar outras podem configurar uma redução da lei Simbólica a regras e procedimentos, que visam controlar a fragilidade da inscrição da lei, bem como garantir a sua eficácia. O obsessivo vai tentar, então, sustentar o Outro como não barrado, não afetado pela castração. Isso a fim de sustentar o pai, que mostra para o sujeito sua involuntária claudicação como garantidor da lei, cujo cumprimento, paradoxalmente, ele reivindica. Há, pois, uma correlata falha na eficácia da castração para o pai, que é percebida pela criança.

Jerusalinski dirá que "um neurótico obsessivo é alguém cujo barramento de sua posição como sujeito ficou em questão, precisamente porque o fantasma paterno não quer saber nada da castração" (2003, p. 24). No entanto, para estruturar a neurose, o sujeito não escapa da castração, fazendo com que haja uma duplicação imaginária: o lugar do castrado (que equivale à morte) e a tentativa de elidir a castração, através da sustentação de um pai incastrado, que acaba revelando-se impossível. Daí o retorno reiterado de um Outro ameaçante, o medo do pai, e a subserviência e a oblatividade do obsessivo. Se o desejo é a metonímia da falta a ser, a tentativa do obsessivo de ser o falo para o outro erradica a possibilidade mesma de desejar. Para Melman, "a defesa contra aquilo que chamamos castração tem sempre consequências patológicas" (2004, p. 15).

A criança constitui o eu em relação à imagem do eu-ideal que ela vê no espelho. O sujeito que está estruturando uma neurose obsessiva vai colocar o pai no lugar do ideal (para garantir sua sustentação) e situar-se numa posição inferior a ele. "É como se fosse o seu sacrifício que permite a seu pai ser viril; ele sempre toma cuidado em não ultrapassar o pai, porque, se ele ultrapassasse o pai, isso seria sua própria queda, sua própria perda" (MELMAN, 2004, p. 118). Depende, pois, imaginariamente, da morte do pai, a possibilidade de desejar do obsessivo, bem como a assunção de seu lugar. Só que desejar a morte do pai parece algo insuportável e é nessa dialética que o sujeito fica preso, configurando a impossibilidade mesma de desejar.

Nossa aposta é que o analista, por seu ato em transferência, possa restituir algo relativo à função paterna. Para tanto, é preciso reenviar a tentativa de resposta do sujeito à demanda do outro à sustentação do desejo, que implica o reconhecimento da falta, da castração. É por isso que o analista tem, precisamente, a função de não satisfazer a demanda de seu paciente. Por sua sexualidade, o pai Real não pode ser o ideal; a posição de um pai ideal é aquela do pai Simbólico, morto. O sujeito fantasia que o pai morreu porque ele pôde desejar. Ora, o processo de análise iria no sentido de desfazer a culpa imaginária do sujeito pela morte/queda desse pai. Que o sujeito possa sustentar seu desejo, suportar a falha, a falta de garantias, sem que isso implique a destituição da posição paterna, eis uma das direções do trabalho de análise.

A clínica com crianças traz consigo a potência, a vantagem, arriscaríamos supor, de colocar-nos diante de um sujeito em processo de estruturação. Isso nos oferece a chance de intervir ou posicionarmo-nos, dependendo da situação clínica que nos é apresentada na transferência, de modo a facilitar para a criança o encontro com a castração do outro torná-la menos ameaçadora - uma vez que, como vimos, a falha do outro faz com que o pequeno se depare com a falta de garantias e com as suas próprias impossibilidades. Ademais, permitir que a criança deixe que algumas coisas caiam sob a barra do recalque, semelhante a um esquecimento involuntário, mas, ao mesmo tempo, necessário à estruturação da neurose, também compõe aquilo a que chamamos função do analista, nessa clínica particular da infância.

 

 

Referências

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Artigo recebido em: 31/07/2015
Aprovado para publicação em: 01/12/2015

Endereço para correspondência
Fernanda Arioli Heck
E-mail: ariolifer@gmail.com
Liliane Seide Froemming
E-mail: lilianefroemming@gmail.com

 

 

*Psicóloga/Universidade do Vale do Rio dos Sinos-UNISINOS (São Leopoldo-RS-Brasil), mestrado Psicologia Social e Institucional/Universidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRGS (Porto Alegre-RS-Brasil), doutoranda Teoria Psicanalítica/Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ, especialista Atendimento Clínico: Ênfase em Psicanálise/UFRGS, membro da equipe técnica da Clínica de Atendimento Psicológico/UFRGS, integrante dos projetos de pesquisa "A pesquisa clínica em transferência-UFRGS e Novas tecnologias, subjetividade e corpo-UFRJ".
**Psicóloga/Universidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRGS (Porto Alegre-RS-Brasil), psicanalista membro/Associação Psicanalítica de Porto Alegre-APPOA, mestrado Psicologia Clínica/Universidade de Brasília-UNB, doutorado Psicologia/Universidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRGS, profa. Programa de Pós-graduação Mestrado em Psicanálise: Clínica e Cultura/UFRGS, profa. associada Departamento de Psicanálise e Psicopatologia/Instituto de Psicologia-UFRGS, membro da equipe técnica da Clínica de Atendimento Psicológico-UFRGS, membro do Núcleo de Pesquisa e Extensão em Psicanálise e Cinema-NUPPCINE/UFRGS, integrante do projeto de pesquisa A pesquisa clínica em transferência-UFRGS.
1A tortura consistia em colocar ratos famintos dentro de um tonel com uma única abertura, sobre a qual se sentava nu o homem submetido ao suplício, de modo que o ânus fosse, em seu corpo, a única saída possível para os ratos.
2Embora esse não seja o foco principal de nosso trabalho esclarecemos a que estamos aludindo quando situamos o desejo em relação à demanda. Lacan explica que "É no espaço virtual entre o apelo da satisfação e a demanda de amor que o desejo ocupa seu lugar e se organiza. Por isso é que só podemos situá-lo numa posição sempre dupla em relação à demanda, ao mesmo tempo além e aquém, conforme o aspecto pelo qual consideremos a demanda - demanda em relação a uma necessidade ou demanda estruturada em termos de significante" (1957-58/ 1999, p. 418).

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