Cadernos de psicanálise (Rio de Janeiro)
ISSN 1413-6295
ARTIGOS
"... lá onde o amor é tecido de desejo ...": lalangue e a irrupção do equívoco na língua
"...there where love is woven with desire...": lalangue and the irruption of misconception in language
Leda Verdiani TfouniI*; Marcella Marjory Massolini Laureano ProttisII**; Juliana BartijottoI***
IUniversidade de São Paulo - USP - Brasil
IIInstituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - Brasil
RESUMO
Este artigo aborda o equívoco como a irrupção do real que se materializa na cadeia de significantes, isto é, no discurso. Observamos que lalangue, aquilo que da língua marca um sem sentido, está articulada ao equívoco. Para realizar essa investigação, recorremos às contribuições da psicanálise lacaniana e da análise do discurso pêcheutiana (AD). Ambas são ciências indiciárias, que admitem a língua e o discurso como estruturas incompletas, faltantes. A fim de delimitar a lalangue na sua relação com o equívoco, propomos que o equívoco irrompa sustentado pela pulsão e pela incompletude da língua e procuramos estabelecer uma conexão entre o objeto (a) causa do desejo e a pulsão, que sustenta e demarca a falta.
Palavras-chave: Equívoco, Objeto (a), Lalangue, Sujeito.
ABSTRACT
This article approaches misconception as the irruption of real as it materializes itself in the chain of significants, that is, in the discourse. We note that lalangue, that part of language that marks the nonsense, is articulated with misconception. To undertake this investigation, we took the contributions of lacanian psychoanalysis as well as the pêcheutian discourse analysis (DA). Both are indiciary sciences that admit language and discourse as incomplete, lacking structures. In order to delimit lalangue in its relationship to misconception, we propose that the latter irrupts sustained by the drive and the incompleteness of language, and we try to make a connection between the object (a) cause of desire and the drive, which sustains and demarcates the lack.
Keywords: Misconception, Object (a), Lalangue, Subject.
Introdução
Falar que existe o equívoco é atestar que algo escapa à língua, é vê-la como incompleta e com isso, ver também o sujeito que faz uso dessa língua como incompleto. A relação entre o discurso (dizer do sujeito, efeito de sentido entre interlocutores) e a incompletude desse mesmo sujeito coloca lado a lado a análise do discurso pêcheutiana (AD) e a psicanálise, pois a primeira tem como objeto de estudo o discurso e a segunda tem, como um de seus conceitos-chave, a incompletude do dizer permeada pelo desejo. Diversos trabalhos se propõem, atualmente, a articular a análise do discurso pêcheutiana e a psicanálise lacaniana (TFOUNI, 2001, 2003, 2003a; TFOUNI ; CARREIRA, 1996, 2000; TFOUNI; LAUREANO, 2004, 2005; TFOUNI, 2003; ZIZEK, 1992, 1996). Nosso propósito aqui não será diferente.
O equívoco é a irrupção do real, ou seja, o lugar da cadeia metonímica onde se instala a possibilidade de um outro sentido. Melhor dizendo: o equívoco não é o Real, mas sim aquilo que, no Simbólico, indicia algo do Real. A Figura 2 ilustra bem nossa posição: o equívoco se mostra no simbólico (na cadeia metonímica), mas se deve a um tropeço do sentido que esburaca o dizer (irrupção do real). Mariani (2008) comenta, com bastante clareza, essa questão:
[...] na falha da cadeia significante encontramos o real articulado no simbólico, inscrito nessa cadeia: o real promove a escrita da falta de um significante e, paradoxalmente, é inapreensível, não se dá a ver, a escutar, não se apreende, escapa sempre. O real só é apreensível pela via do imaginário, pelas tentativas de produção de sentidos que dêem conta dessa falta (de um significante) que nos funda como sujeitos.
Em 1964, com o Seminário 11, Lacan pontua e formaliza os conceitos fundamentais da psicanálise: inconsciente, objeto a, pulsão e transferência. É neste seminário que ele afirma que "só há causa para o que manca" (p. 27), indicando aí uma formulação para o inconsciente como algo que se articula naquilo que escapa no encadeameto significante e não no articulado. (Entenda-se aí 'manca' como falha, ou equívoco).
Pêcheux (1997) chama de "o próprio da língua" esse jogo ao qual a língua está submetida o tempo todo em função dos equívocos, das elipses, das alterações inerentes ao funcionamento da cadeia significante. Para Pêcheux, o objeto da Linguística não existe sem o fato estrutural do equívoco, algo que se
marca no "ordinário cotidiano" da produção de sentidos, mas a Linguística furta-se a lidar com isso.
Aventamos aqui a possibilidade de que o equívoco, como constituinte da cadeia significante inconsciente, é sustentando pela pulsão, revelando a fala do desejo, sendo, portanto, uma fala marcada pela incompletude.
Nesse sentido, um único significante não pode representar a si mesmo; é necessário outro para que algum efeito de sentido emerja. Assim, entendemos que a oferta de significantes ao sujeito demarca uma borda, distinguindo o real do simbólico, sendo nesta borda que se instala o equívoco da língua. Com efeito, "... é unicamente pelo equívoco que a interpretação opera. É preciso que haja alguma coisa no significante que ressoe" (LACAN, 1975-76/2007, p. 18).
Escolhemos como base conceitos que dizem respeito tanto à psicanálise quanto à análise do discurso: começaremos pelo conceito de real; depois, abordaremos a questão do equívoco e, por fim, a pulsão e a lalangue. A partir de uma breve exposição de cada um desses conceitos, tentaremos ver quais as possíveis relações entre eles, buscando, desse modo, uma articulação entre a AD e a psicanálise lacaniana.
O real e o equívoco
Ao marcar a falta, o equívoco traz em seu seio os indícios de um real inatingível. Encontramos, tanto em Pêcheux (PÊCHEUX, 1997; PÊCHEUX e GADET, 2004) quanto em Lacan (1974-75), definições do conceito de real. O que nos interessa aqui, como já dito anteriormente, é ver no equívoco uma forma de o real se manifestar e transitar na língua, marcando a incompletude dessa e também a incompletude do sujeito.
Começando pela AD, Pêcheux entende o real da seguinte maneira:
[...] no interior do que se apresenta como universo físico-humano (coisas, seres vivos, pessoas, acontecimentos, processos...), 'há real', isto é, pontos de impossível, determinando aquilo que não pode não ser assim. (o real é o impossível... que seja de outro modo). Não descobrimos pois o real, a gente se depara com ele, dá de encontro com ele, o encontra (PÊCHEUX, 1997, p. 29).
O autor, concordando com Milner (1987) - que diz que a língua nunca pode ser pensada sem se levar em conta sua poesia - afirma que a linguística deve ser capaz de abordar o equívoco "... como fato estrutural implicado pela ordem do simbólico. Isto é, a necessidade de trabalhar no ponto em que cessa a consistência de representação lógica inscrita no espaço dos 'mundos normais' " (PÊCHEUX, 1997, p. 51). Nesse mesmo trabalho, o autor traz à cena a questão dos universos logicamente estabilizados em contraposição aos universos não logicamente estabilizados, sendo que estes últimos representam lugares de resistência à ordem simbólica, atravessada pela ideologia (registro imaginário). O equívoco surge como indício de rompimento da consistência desses espaços estabilizados logicamente, testemunhando a sua não completude (é o deparar-se com o real a que Pêcheux referiu-se na citação acima).
Sabe-se que se busca o sentido naquilo que escapa; no que está fora da língua. É na lalangue que o sujeito vai enlaçar seu desejo, ou seja, no excesso que escapa à língua, na fratura que a lalangue proporciona. Como afirmam Pêcheux e Gadet (2004), o real da língua está atravessado por fissuras, e, segundo os autores, Saussure (1916/2006) não resolve a contradição que une língua e lalangue; ele apenas a torna visível, pois traz à tona o real e o impossível da língua. Tais fissuras da lalangue trazem, aos fatos linguísticos, o equívoco; afinal, sempre se diz alguma coisa através da palavra que falta. É preciso destacar que partimos do pressuposto de que existe apenas um real e não diversos reais, não há real da língua, do sujeito, do discurso; o que existe são modos de o real se manifestar e transitar de diferentes formas: na língua, no sujeito e no discurso.
No campo da psicanálise, no Seminário 22 - RSI (1974-75), Lacan se dedica à questão dos três registros que compõem o funcionamento da cadeia significante. Referimo-nos, aqui, aos registros do real, do simbólico e do imaginário (na notação lacaniana, RSI). A teoria lacaniana do RSI sustenta-se na notação do nó borromeano, um nó feito de três círculos, onde os três registros entrelaçam-se e coexistem, em relação de dependência direta entre si, ou seja, um não pode existir sem o outro, como se observa no esquema abaixo:
O nó borromeano será nossa base para a discussão de como as marcas do real estão presentes no equívoco, ou seja, nas marcas indiciárias de uma falta marcadas na materialidade linguística. O real, o simbólico e o imaginário não são homogêneos nem equivalentes. Explicamos melhor: Não são homogêneos porque não possuem a mesma função, não têm a mesma constituição e, por essa razão, não se equivalem. Não são equivalentes porque um não substitui o outro; cada um tem sua especificidade e os três têm que ser trabalhados sempre em conjunto, daí a não preponderância. Acrescente-se que cada registro tem sua marca peculiar (o real é o impossível de dizer; o imaginário, aquilo que é do campo da fantasia/fantôme, e o simbólico é o que marca o campo da linguagem).
Figura 1 : Nó borromeano (adaptado de LACAN, 1974-75, p. 19).
Além disso, funcionam de modo borromeano, ou seja, entre eles há uma medida comum, a saber o objeto (a)1, isto é, o ponto em que as três superfícies se cruzam. Trata-se de um ponto que enoda - e não unifica - os três registros. Lacan (1974-75), parte do princípio de que o real é o impensável, o simbólico tem como parte de sua estrutura o equívoco, ao passo que o imaginário faz o sujeito "atolar". Para o autor, "o equívoco não é o sentido. O sentido é aquilo por que alguma coisa responde, é diferente do simbólico, e esta alguma coisa, não há meios de suportá-la senão a partir do imaginário" (aula de 10 de dezembro de 1974, p. 08).
Lacan (1974-75) também mostra que a figura do nó não é estática; ao contrário, o nó funciona de modo dinâmico. Será o objeto (a), localizado no centro do nó que fará interagir os três registros? Para o autor, o nó é uma escritura que suporta a ideia do real. Trata-se da ex-sistencia2 que se define por suportar que cada um dos registros faz buraco; há em cada um algo pelo qual é do círculo que se define aquilo que se deve nomear. Ele se questiona: Quais são os furos que constituem, por um lado, o real, e por outro, o simbólico? Há o furo do lado da pulsão de vida e o furo da pulsão de morte - retomando o dito de Freud: a palavra mata a coisa. Será do lado da pulsão de morte que se encontra a função do simbólico? Trataremos da pulsão mais adiante.
Apesar de a proposta deste trabalho centrar-se no real, acreditamos que não é possível falar do real puro, pois, como bem se nota no nó borromeano, os registros se interpenetram. É interessante observar que o objeto (a), enquanto elemento comum dos três registros, desempenhará distintos papéis de acordo com o registro que toca. Ao tocar o real, o objeto (a) marca a falta; inscrito no registro imaginário, ele tem função de tamponar essa mesma falta e no simbólico há um significante (o falo) que representa tal falta. Nosso trabalho, como veremos adiante, centrará sua discussão na parte do nó onde o objeto (a) toca o real.
Para dar nome a esse real (anti sentido, ou ante (antes do) sentido, impossível como tal), Lacan faz um jogo de palavras com "la version" e "l´aversion" e faz notar que o real é a aversão (l'aversion) ao sentido e ao mesmo tempo a versão (la version) do sentido que se manifesta na língua.
O real, deve-se concebê-lo como aquilo que é expulso do sentido. É o impossível como tal. É a aversão do sentido, (l-apóstrofo). É, também, quiserem, a versão do sentido no anti-sentido e no ante-sentido. É o recuo do Verbo, visto que o Verbo só está lá para isso (LACAN, 1974-75, p. 106, tradução nossa).3
Lacan (1971-72) cria o termo lalangue em seu Seminário "O saber do psicanalista" ao fazer um lapso: queria dizer Laplanche, autor do vocabulário de psicanálise, mas mistura Laplanche com Lalande (dicionário de francês), formando, assim, a palavra lalangue (alíngua). Desse modo, afirma que passará a falar la junto com langue e ressalta que lalangue nada tem a ver com o dicionário, mas, sim, com o inconsciente, que, por sua vez, tem relação com a gramática, com o desejo do Outro e com a repetição. Lacan define lalangue como:
Eu faço lalangue porque isso quer dizer lalala, a lalação, ou seja, é um feito muito precoce do ser humano fazer lalalações, assim, basta apenas ver um bebê, escutá-lo, e verificar pouco a pouco que há uma pessoa, a mãe, que é exatamente a mesma coisa que lalangue, exceto que se trata de alguém encarnado que lhe transmite lalangue (LACAN, 1974, s/p, tradução nossa).4
Como afirma Arrivé, (1998), Lacan opera "uma solda ortográfica entre o artigo e o nome" fazendo com que, conseqüentemente, "la langue" (a língua) se torne uma única palavra: "lalangue" (alíngua, ou lalíngua). Tal fato marca a não pertinência dos cortes da análise linguística tradicional. Em "Conferência de Genebra sobre o sintoma", ele acrescenta "[...] el lenguaje, ese lenguaje que no tiene absolutamente ninguna existência teórica, interviene siempre bajo la forma de una palabra que quise fuese lo más cercana posible a la palabra francesa 'lallation' - laleo en castellano - , lalangue" (LACAN, 1975/2001, p. 125).
A lalangue é a manifestação do real na língua, ou seja, na língua o real transita em forma de lalangue, porém ele se revela no que escapa à língua, naquilo que lhe faz furo. É a irrupção do equívoco na língua que faz com que nos deparemos com sua incompletude, atestando assim a presença de um real que é impossível de ser dito ou recoberto em sua totalidade.
As formas de manifestação do real (formações do inconsicente) que rompem o fio discursivo mostram que a língua é lugar do jogo significante (metáfora e metonímia), onde um enunciado pode ser ao mesmo tempo ele e um outro. A AD postula assim que o equívoco situa-se numa área de tensão entre a materialidade linguística e a materialidade histórica, onde o impossível da língua encontra-se com a contradição da história (GADET; PÊCHEUX, 2004).
Milner (1987) observa que a língua é tocada pelo real, e Lacan (1974-75) diz que a linguagem "come" um pedaço do real, pois não se pode atribuí-la totalmente ao imaginário. Milner (1987) chega a questionar os princípios da leitura científica de Saussure (1916/9006) (refere-se, sobretudo, à gramática, aos puristas) que tentam "dar conta" do real numa tentativa de anulá-lo, suturá-lo e por fim ignorá-lo, colocando-o num lugar de menor importância, de exceção (ele dá como exemplo o conceito de agramatical de Chomsky). Para ele, há uma leitura alternativa da linguística saussuriana que aborda o real, ao contrário da hermenêutica, que se interessa pelas condições de observação. Ele conclui que a linguística, interessada pelas propriedades do real da língua e o reconhecimento disso, dá ao sujeito falante um estatuto, na língua e em toda locução, de não dominante, ou seja, ele não é o mestre responsável por aquilo que diz. Esse também é o interesse e a zona de trabalho da AD e da psicanálise.
De acordo com Pêcheux e Gadet (2004), temos ainda que o real na língua reside entre a noção de uma ordem própria da língua e de uma ordem exterior. Dentro de tal ordem, o real na língua está no fato de que ela é Um (relação com o nada, apreensão do impossível); e em relação a seu exterior, esse real reside no impossível. Um impossível de ser dito, nem mesmo atingido, portador de um saber que não se sabe. A isso, acrescenta-se Lacan (1972-73/1996), que afirma o fato de que o Um, encarnado na lalangue, não é outra coisa senão o significante-mestre (S1), que fica suspenso entre a palavra, o fonema e o pensamento. Segundo Lacan (1969-70/1992), o significante-mestre é a marca da entrada do sujeito no simbólico e, consequentemente, opera na constituição deste sujeito enquanto faltante/desejante. Como explica o autor sobre o significante-mestre:
De início, seguramente, ele não está. Todos os significantes se equivalem de algum modo, pois jogam apenas com a diferença de cada um com todos os outros, não sendo, cada um os outros significantes. Mas é por isso que cada um é capaz de vir em posição de significante-mestre, precisamente por sua função eventual ser a de representar um sujeito para outro significante. É assim que o defini desde sempre. Só que o sujeito que ele representa não é unívoco. Está representado, é claro, mas também não está representado. Nesse nível, alguma coisa fica oculta em relação a esse mesmo significante (LACAN, 1969-70/1992, p. 38).
Gadet e Pêcheux (2004) afirmam, também, que o real na língua é cortado/ marcado por falhas e que essas falhas revelam-se nos lapsos e no Witz, por exemplo. É a presença da lalangue que fundamenta o espaço do repetível e do equívoco que afeta esse espaço. Cabe apontar a diferença entre as falhas da língua (ato falho, por exemplo) e a falta, que é constitutiva. Para Pêcheux (1988), só há causa daquilo que falha, ou seja, a língua fracassa em representar o real todo, momento em que o fio discursivo se rompe, trazendo à tona o sem sentido. Nessa perspectiva, é possível pensar que a falha é necessária para o funcionamento do sujeito falante, sendo nessa mesma falha que a falta constitutiva se manifesta, possibilitando a movimentação discursiva. Assim, afirma o autor que há uma "divisão entre sujeito e eu na problemática da interpelação ideológica" (p. 306) com relação ao sentido:
[...] o fato de que o non-sense do insconsciente, em que a interpelação encontra onde se agarrar, nunca é inteiramente recoberto nem obstruído pela evidência do sujeito-centro-sentido que é seu produto, porque o tempo da produção e o do produto não são sucessivos como para o mito platônico, mas estão insritos na simultaneidade de um batimento, de uma pulsação pela qual o non-sense inconsciente não pára de voltar no sujeito e no sentido que nele pretende se instalar (PÊCHEUX 1988, p. 300).
Retomando o equívoco, propomos, desse modo, que ele se localizaria na intersecção entre o real e o simbólico, pois não há equívoco sem significante. Ou seja, é necessário uma cadeia de significantes para que haja uma manifestação do real, e, também, do simbólico para que o real se instaure. Então, parte do equívoco é do registro do real e parte do registro simbólico; nesse momento, é exatamente o imaginário que fica coadjuvante, pois não é possível excluir algum dos registros; os três são parte da estrutura do sujeito, logo do dircurso.
Figura 2 : O lugar do equívoco no nó borromeano
O objeto (a), como elemento unificador e, ao mesmo tempo, esburacador, é ponto comum médio entre RSI, "aparece" apenas no discurso do sujeito, ou seja, quando esse objeto é recoberto pelo imaginário e dito pelo simbólico. Por isso Lacan vai localizar o objeto (a) no centro do nó borromeano, tendo tripla função, funcionando como elemento unificador no discurso, ao mesmo tempo que o marca como não-UM, ou seja, como falta, e essa vai se manifestar no discurso, nos chamados atos falhos. É preciso lembrar que o objeto (a) circula nos três registros, a partir do contorno que lhe é dado pela pulsão (LACAN, 1964-65/1998), contorno entendido, aqui, no sentido duplo do termo, qual seja, no sentido de envolver o objeto e de lhe dar contorno, forma. Assunto de nosso próximo item.
A pulsão
O conceito de pulsão, criado por Freud (1915/1996), deriva da palavra alemã Trieb e constitui-se enquanto um conceito fundamental da teoria psicanalítica. Segundo o autor, a pulsão é o conceito limite para descrever a fronteira entre o psíquico e o somático. A pulsão é um estímulo que não vem do exterior, vem de dentro do próprio organismo, uma fonte de excitação interna da qual o sujeito jamais poderá fugir, não é momentânea, é uma constante. A teoria freudiana das pulsões parte do conceito de narcisismo e se apresenta dividida em dois momentos bem marcados.
Inicialmente, Freud (1915/1996, 1920/1996, 1923/1996) postula a questão das pulsões parciais (onde se incluem as pulsões sexuais e de autoconservação) e, num segundo momento, traz à cena as pulsões de morte e de vida (Tânatos e Eros, respectivamente), cuja função é manter o equilíbrio de tensão da vida psíquica e somática do sujeito. O primeiro momento se remete ao funcionamento da pulsão na primeira tópica, em que Freud postula as três instâncias psíquicas (inconsciente, pré-consciente e consciente), reguladas pelos dois princípios (prazer e realidade). Nessa tópica, o inconsciente tinha um aspecto descritivo e dinâmico. O segundo momento corresponde à segunda tópica, em que se formaliza o aspecto econômico e as três instâncias (isso, eu e supereu) regidas por três princípios (prazer, realidade e além do prazer).
Na primeira tópica, Freud (1915/1996) descreve quatro características da pulsão:
1. Pressão: quantidade de força e exigência de trabalho que ela representa;
2. Finalidade: trata-se da satisfação sempre parcial da pulsão;
3. Objeto: representante da "coisa" em relação à qual a pulsão é capaz de atingir sua finalidade;
4. Fonte: processo somático que ocorre num órgão ou parte do corpo e cujo estímulo é representado por uma pulsão, sendo químico ou mecânico e que está fora do domínio da psicologia.
A pulsão obtém os seguintes destinos: a reversão a seu oposto, o retorno em direção ao próprio eu, o recalque ou a sublimação. A pulsão possui destinos tortuosos, que são modalidades de defesa contra a satisfação plena das pulsões (FREUD, 1915/1996).
A formulação de que o princípio do prazer serve para manter baixa a tensão ou excitação no corpo, tendendo à estabilidade, não se sustenta. Pois, não é o que diz a experiência psicanalítica, forçando Freud (1920/1996, 1923/1996) a postular uma tendência (baixa tensão) no sentido do princípio do prazer, mas, também, uma outra tendência que, aparentemente, contraria o prazer. No entanto, a conjectura da oposição entre as pulsões não é satisfatória para explicar as operações inconscientes, pois o autor se depara com a compulsão à repetição, uma problemática no que se refere ao princípio do prazer e da realidade, deduzindo, portanto, a pulsão de morte e a de vida como associadas e não como forças contrárias.
Em Lacan (1965-65/1998), o conceito de pulsão é abordado sobretudo no seminário 11: Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise, onde o autor coloca a pulsão como um desses conceitos e, portanto, essencial à experiência analítica. O primeiro ponto destacado é que não se deve jamais confundir a pulsão com o impulso, pois são conceitos distintos. O impulso faz parte da pulsão e essa última comporta ainda outros três elementos: a fonte, o objeto e o alvo, como já explicado acima.
Como a pulsão tem uma força constante é, exatamente, o circuito pulsional que dará contorno ao objeto (a), contorno no sentido duplo do termo. A ligação entre a pulsão e o desejo nos é revelada, assim, a partir da sinalização de Lacan (1964-65/1998), que nos mostra como o circuito pulsional circunda tal objeto. Isso fica bem demonstrado no esquema proposto pelo autor:
Figura 3: Circuito pulsional (LACAN, 1964-65/1998, p. 169).
Pela figura, Lacan explica que o alvo da pulsão é o retorno no circuito, por isso sua circularidade; aim é o trajeto, ou seja, o caminho pelo qual a pulsão deve caminhar; goal não é o alvo, mas sim a satisfação, é o acertar o alvo e; (a) é o objeto, não importando qual objeto seja, pois este comporta um vazio que nunca poderá ser preenchido. No circuito, o que se contorna é, exatamente, um vazio que, ao ser contornado, cria uma borda, isto é, o vazio primordial é contornado pelo circuito pulsional, por isso o autor insiste em dizer que o objeto do desejo não existe, só há o objeto da pulsão: o seio, a voz, o olhar, as fezes.
Como destaca Lacan (1962-63/2005), os objetos pulsionais nada mais são que manifestações do objeto (a), lembrando que o falo não é um objeto pulsional, mas também entra na série das manifestações do (a). O autor, assim, concebe, o objeto (a) como suplente do sujeito e, ao mesmo tempo, na posição de precedente. Desse modo, esse objeto juntamente com o significante inaugura e legitima o campo da realização do sujeito.
Como bem destaca Juranville (2003), o objeto (a) é o objeto próprio da pulsão (e da fantasia). Tendo em vista isso, o autor vai dizer que o objeto (a), enquanto objeto que falta, não é objeto do desejo (pois sabemos que tal objeto não existe, é um engodo do sujeito), mas que o objeto (a) é um objeto causa do desejo, na medida em que está ligado a ele, constituindo-se assim como objeto da pulsão. O que temos é uma articulação inevitável entre desejo e pulsão; afinal, será a partir da pulsão que o sujeito terá, pela primeira vez, uma relação efetiva com o objeto que se tornará, mais tarde, objeto causa do desejo.
Lacan vai definir, então, a pulsão da seguinte maneira:
Direi que, se há algo com que se parece a pulsão, é com uma montagem. Não é uma montagem concebida numa perspectiva referida à finalidade. [...] A montagem da pulsão é uma montagem que, de saída, se apresenta como não tendo nem pé nem cabeça - no sentido em que se fala de montagem numa colagem surrealista (LACAN, 1964-65/1998, pp. 160-161).
No próximo item, trataremos da relação entre a pulsão, a lalangue e o equívoco.
A pulsão, a lalangue e o equívoco
Podemos dizer que a pulsão teria papel modulador pois, ao sustentar o equívoco, ela vai marcar aquilo que faz furo na língua: toca-se aqui na localização da pulsão e sua relação com os três registros. Ao circular o objeto (a), a pulsão articula-se no plano dos três registros, mas de que modo?
Para Lacan (1974-75), a língua suporta o real da lalangue e esta última, como já dissemos, é entendida como não-toda e marcada pela falta. É esse não-todo da língua que sustenta a lalangue e que concerne esta à verdade e ao real. Como afirma Milner (1987), a lalangue é aquilo que torna possível um ser dito falante, pois, segundo ele, amor e língua se enraízam na lalangue, enquanto lugar do impossível, daquilo que excede à língua e marca sua presença no desejo do ser falante. A esse respeito, o autor sintetiza:
[...] lá onde o amor é tecido de desejo, e nega a necessidade da lalangue, é o desejo que a língua faz como se não existisse, e é da lalangue que ela constrói seu material. [...]. Que a lalangue existia de fato equivale a dizer, como vimos, que o amor é possível, que o signo de um sujeito pode causar um desejo, que um sujeito de desejo pode fazer o signo numa cadeia; é por aí que a lalangue excede a língua e imprime nela a marca pela qual se faz conhecer (MILNER, 1987, p. 64).
Há algo, então, que excede a língua, e é nesse ponto que Lacan (1972- 73/1996) nos chama a atenção para o lugar do trabalho do analista e a construção de sentidos que se dá no discurso analítico:
Seguir o fio do discurso analítico não tende para nada menos do que refraturar, encurvar, marcar com uma curvatura própria, e por uma curvatura que não poderia nem mesmo ser mantida como sendo uma das linhas de força, aquilo que produz como tal a falha, a descontinuidade. Nosso recurso é, na lalangue, o que a fratura (LACAN, 1972-73/1996, p. 61).
Pêcheux (1997), por sua vez, afirma que todo enunciado está exposto ao equívoco da língua. A partir daí, ele torna explícito o trabalho do analista do discurso:
[...] todo enunciado é intrinsecamente suscetível de tornar-se outro, diferente de si mesmo, se deslocar discursivamente de seu sentido para derivar para um outro. [...] Todo enunciado, toda seqüência de enunciados é, pois, linguisticamente descritível como uma série [...] de pontos de deriva possíveis, oferecendo lugar a interpretação. É nesse espaço que se pretende trabalhar a análise de discurso (PÊCHEUX, 1997, p.53).
Podemos dizer que o equívoco, entendido como manifestação da lalangue (o que o fratura), irá revelar aquilo que do real escapa à língua, fazendo-lhe excesso. Ou seja, tais falhas, equívocos da língua (manifestações da lalangue), são estruturantes da língua e não podem ser concebidas como problemas de interpretação, pois todo equívoco que incide na língua será para o sujeito a evidência de que a lalangue sabe.
O real se manifesta no equívoco e revela ao sujeito sua incompletude constitutiva, interditando a esse sujeito o fazer-UM com a língua; esse não fazer-UM relaciona-se diretamente com duas máximas lacanianas: "não há relação sexual" (pois o desejo nunca pode ser satisfeito, afinal o objeto do desejo é uma ilusão) e "não existe metalinguagem" (nada pode ser dito fora da linguagem e, tudo não se diz). Incompleto e sem conseguir fazer-UM, o sujeito continua a desejar um objeto ilusoriamente perdido e que é trazido a todo o momento no discurso. Lacan "acerta o alvo" quando diz que "[...] o inconsciente estruturado como uma linguagem, quer dizer que lalangue o habita, é assujeitado ao equívoco onde cada um se distingue5" (LACAN, 1972/2001, p. 409, tradução nossa).
Temos, assim, um sujeito que se move aparecendo entre significantes (pressuposto lacaniano) no discurso; um discurso marcado pela falta, na presença/ausência de um objeto que não existe senão por ilusão, por criação discursiva. Uma criação discursiva que está a todo momento pronta a se desfazer, revelar-se incompleta, eis o equívoco e os atos falhos da língua, como lugares privilegiados de análise, de onde podemos observar a língua incompleta que funciona a partir de uma fala desejante, e portanto, também marcada pela falta.
Ao reconhecer tais equívocos, aquilo que da língua faz furo no real, é que se reconhecerá a própria mola de funcionamento do inconsciente, e, em última instância, a dinâmica de produção dos sentidos. Ter em mente que há uma língua afetada pelo real e que este real lhe escapa, faz-lhe excesso, permite-nos, a partir do que foi exposto, conjecturar uma relação próxima entre a lalangue da psicanálise e o equívoco da AD. O equívoco revela marcas de um real impossível de ser apreendido, senão por trabalho da lalangue, em sua articulação nos três registros: real, simbólico e imaginário.
Considerações finais
O equívoco é uma marca do real que se manifesta na cadeia de signigicantes, sendo no intervalo desta mesma cadeia que o sujeito emerge na estrutura discursiva. A lalangue é aquilo que da língua marca um sem sentido, não faz laço, mas é nela que se sustenta a própria fala, concomitante com a falta. Assinalamos que amor e língua se enraizam na lalangue e, portanto, na impossibilidade de fazer Um que é a origem do equívoco.
De acordo com Ritvo (2010)
[...] voy a decir que llamo equívoco a um fragmento de discurso perfectamente localizado em el cual se manifesta y se condensa, se desplaza y se encubre, un nudo de pérdida de sentido perfectamente deslocalizado, causa, a su vez, de proliferación y de disrupción, que es el estatuto de lo que Lacan ha llamado lalangue.6
Complementando a discussão aqui elaborada, acrescentamos a observação de Polydoro (2014, pp. 57-58), sobre o equívoco e a irrupção do real:
O real lacaniano não pode ser apreendido, nem visto, nem falado; muito menos medido e calculado. Mas nos assombra e, de certa forma, produz efeitos, pois, na primeira infância, ao entrarmos na ordem simbólica, perdemos para todo o sempre a capacidade de contatarmos tal dimensão. Trata-se de uma perda original cujo vazio consequente responde pela própria constituição do sujeito (compreendido numa chave estruturalista). Sendo assim, o real só pode ser definido no negativo: o impossível, na medida que não é possível atualizá-lo na rede significante. Este núcleo duro inapreensível - ambíguo porque sua ausência da ordem simbólica gera a expectativa por preenchimento, mas, ao mesmo tempo, é aquilo que dá sustentação ao simbólico e ao imaginário - eventualmente irrompe e abala o equilíbrio do sujeito. A irrupção do real dá-se em um instante imprevisível, na forma de uma ruptura e um choque. E encontra-se fora da ordem simbólica do sujeito e da ordem imaginária do eu; fora do consciente e do inconsciente; em resumo: emerge de um espaço ausente e acaba domesticado e dominado graças à intervenção da bateria significante, cuja vontade também não tem nada da noção de liberdade individual - na verdade, não há vontade, pois a articulação significante é contingente. O fenômeno da irrupção do real pode ser pensado na dimensão individual, mas também na coletiva.
Nessa perspectiva, o real pode ser tratado como aquilo que promove a escrita da falta de um significante e, paradoxalmente, o inapreensível. Pode-se ter a ilusão de que o real é apreensível, na medida em que é confundido com o imaginário. A língua está submetida aos equívocos, elipses e alterações que são inerentes ao funcionamento da cadeia significante. Não há real sem simbólico e sem imaginário; trata-se de um funcionamento trinário.
Um, conotado O, é o lugar do tesouro do significante, o que não quer dizer do código, pois não se conserva nele a correspondência unívoca entre um signo e alguma coisa, mas que o significante só se constitui por uma reunião sincrônica e enumerável, na qual qualquer um só se sustenta apenas pelo princípio de sua oposição a cada um dos demais (LACAN, 1960/1998, p. 820).
Na ocorrência do equívoco, o sujeito se sustenta nos três registros do nó borromeano: na articulação entre o real que nada falta, o simbólico, enquanto o lugar da cadeia de significantes (considerando que a falta de um significante é primordial para o movimento do discurso) e o imaginário como lugar da forma vazia e onde se supõe a possibilidade de a falta ser recoberta.
Concluímos, provisoriamente, que o circuito da pulsão corre pelos três registros, sustentando e demarcando a falta. Esse furo central nos registros é o próprio objeto (a), um conceito topológico que ratifica a falta estrutural, permitindo, assim, o circuito da pulsão, a articulação da cadeia de significantes - lugar onde emerge o equívoco - e a emergência do sujeito do inconsciente - lugar habitado pela lalangue.
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Artigo recebido em: 13/10/2016
Aprovado para publicação em: 13/10/2016
Endereço para correspondência
Leda Verdiani Tfouni
E-mail: lvtfouni@usp.br
Marcella Marjory Massolini Laureano Prottis
E-mail: mammlaureano@gmail.com
marcella.laureano@inep.gov.br
Juliana Bartijotto
E-mail: jubartijotto@gmail.com
*Master of Arts in Language Acquisition (MA)/University of California, doutorado Ciências (Linguística)/Universidade Estadual de Campinas (UEC), livre-docente e profa. associada/Universidade de São Paulo (USP), profa. titular sênior/Universidade de São Paulo (USP), filiada ao programa de Psicologia/Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP- USP).
**Doutorado em Ciências (Psicologia)/ Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP), pesquisadora/Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP).
***Doutoranda Programa de Psicologia/Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP- USP).
1Lacan (1962-63/2005) define o objeto (a) como objeto causa do desejo.
2Ex-sistencia é um termo criado por Lacan a fim de sustentar a ideia de um real que está fora do simbólico, mas no interior de uma dada estrutura.
3Le Réel, faut concevoir que c'est l'expulsé du sens. C'est l'impossible comme tel. C'est l'aversion du sens, (l-apostrophe). C'est aussi, si vous voulez, la version du sens dans l'anti-sens et l'ante-sens. C'est le choc en retour du Verbe, en tant que le Verbe n'est pas là que pour ça. 146 147
4Je fais lalangue parce que ça veut dire lalala, la lallation, à savoir que c'est un fait que très tôt l'être humain fait des lallations, comme ça, il n'y a qu'à voir un bébé, l'entendre, et que peu à peu il y a une personne, la mère, qui est exactement la même chose que lalangue, à part que c'est quelqu'un d'incarné, qui lui transmet lalangue.
5"[...] l'inconscient, d'être 'structuré comme un langage', c'est-à-dire lalangue qu'il habite, est assujeti à l'equivoque dont chacune se distingue."
6Vou dizer que chamo o equívoco de um fragmento de discurso perfeitamente localizado no qual se manifesta e se condensa, se desliza e se encobre, um nó de perda de sentido perfeitamente deslocalizado, causa, por sua vez, proliferação e ruptura, que é o estatuto daquilo que Lacan chamou de lalangue.