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Boletim - Academia Paulista de Psicologia

 ISSN 1415-711X

     

 

TEORIAS, PESQUISAS E RELATOS DE EXPERIÊNCIA

 

Transtorno de adaptação

 

Adjustment Disorder

 

 

Marilda Emmanuel Novaes Lipp1

Laboratório de Estudos Profissionais do Stress - PUC/Campinas

 

 


RESUMO

Este trabalho apresenta dados sobre o transtorno de adaptação, comumente conhecido como stress emocional, discorre sobre sua conceituação atual, as várias modalidades de classificação utilizadas e fornece informações sobre a sua epidemiologia no Brasil. Discorre também sobre suas conseqüências não só para o indivíduo, mas também para a sociedade, no geral.

Palavras-chave: Transtorno de adaptação; Transtorno de ajustamento; Stress; Conseqüências.


ABSTRACT

This work presents data about the adjustment disorder often referred to as emotional stress, it presents the modern concepts about stress, discusses the classifications most used, and offers information on its epidemiology in Brazil. It also discusses the consequences of stress not only to the individual, but to society, as well.

Keywords: Adjustment disorder; Stress; Consequences.


 

 

Transtorno de adaptação ou stress emocional pode ser definido como um estado de desequilíbrio do funcionamento psíquico e orgânico que ocorre quando o organismo necessita utilizar seus recursos psicobiológicos para lidar com eventos que exijam uma ação defensiva. O transtorno de adaptação é desencadeado pela necessidade da pessoa de lidar com algo que ameaça sua homeostase ou equilíbrio interno. Quando os recursos do momento são insuficientes devido à vulnerabilidade pessoal ou à ausência de estratégia de enfrentamento ou, ainda, pela gravidade ou intensidade do estressor presente, o organismo pode ser afetado em sua plenitude com conseqüências graves para sua saúde física ou mental (Lipp, & Rocha, 1996; Magalhães, 2003; Steiner, & Perfeito, 2004; Andrade, & Lotufo Neto; 2004; Savoia, 2003; Yehuda, & McEwen, 2004; Steptoe, 2005).

Devido ao fato de que a terminologia “transtorno de adaptação” ou “transtorno de ajustamento” é, em geral, mais usada com o objetivo da formular um diagnóstico clínico, com base na Classificação Internacional de Doenças (CID-10) com a classificação F43.xx ou no DSM2 com a classificação 309.xxx e, considerando que  o termo “stress emocional“ aparece com maior freqüência na literatura, o presente trabalho utiliza ambas as terminologias, mas prioriza a palavra stress.  Ele é um processo complexo, com componentes psicobioquímicos já geneticamente programados no ser humano desde o seu nascimento a fim de ajudá-lo a preservar sua vida. Foi o stress, através de sua ação adrenérgica, que capacitou o Homem a ficar vivo e adaptar-se às mudanças pelas quais tem passado. É ele que permite a luta contra os estressores de cada época. O stress sempre existiu. Em doses moderadas, a adrenalina produzida aumenta a motivação, fornece energia, vigor e pode resultar em alta produtividade. Em doses excessivas, ela tem a capacidade de destruir e desequilibrar (Ebrecht, Hextall, Kirtley, Taylor, Dyson, & Weinman, 2004).

Além da saúde, existe evidência de que a qualidade de vida e a sensação de bem-estar e de plenitude também podem ser afetadas pelo stress excessivo (Levi, Sauter, & Shiomitsu, 2000). O ser humano estressado mostra irritação, impaciência, dificuldade de concentrar-se e de pensar de modo racional e lógico. Irritado, sem paciência e sem concentração ele não se relaciona bem com as outras pessoas, fica mais agressivo e menos interessado em assuntos que não o afetam diretamente. Estando em condições emocionais tão  precárias,  sua  qualidade de vida deixa de atingir o nível ideal. Muitas podem ser as conseqüências do stress crônico que podem-se manifestar nas áreas física, psicológica e social, entre outras.

Quando prolongado, ele pode afetar o sistema imunológico, reduzindo a resistência da pessoa e tornando-a vulnerável ao desenvolvimento de infecções e doenças contagiosas. Ao mesmo tempo que o organismo acha-se enfraquecido, doenças que permaneciam latentes podem ser desencadeadas. Úlceras, hipertensão arterial, diabetes, problemas dermatológicos, alergias, impotência sexual e obesidade podem surgir (Steptoe, Owen, Kunz-Ebrecht, & Brydon, 2004).

Também na área psicológica encontram-se as conseqüências do stress excessivo. O ser humano, cronicamente estressado, apresenta cansaço mental, dificuldade de concentração, perda de memória imediata, apatia e indiferença emocional. Sua produtividade sofre quedas e a criatividade fica prejudicada. Auto-dúvidas começam a surgir devido à percepção do desempenho insatisfatório. Crises de ansiedade e humor depressivo seguem-se. A libido fica reduzida e os problemas de ordem física fazem-se presentes. Nessas condições, a qualidade de vida sofre um dano bastante pronunciado e o ser humano se questiona se algum dia será de novo feliz.

É possível, adicionalmente, verificar-se os efeitos do stress na área social. Uma sociedade saudável e desenvolvida requer a somatória das habilidades dos seus cidadãos. Se o nível de stress está muito alto no país ou na comunidade, os adultos podem-se tornar frágeis, sem resistência aos embates e dificuldades da vida. A pessoa estressada lida mal com as mudanças porque sua habilidade de adaptação está envolvida inteiramente no combate ao stress. Em um país em desenvolvimento como o nosso, onde as mudanças ocorrem em todas as áreas com uma rapidez surpreendente, aqueles que estiverem incapacitados para lidar com elas, certamente não poderão fazer uma contribuição para o sucesso do país e o bem-estar de sua população. Adultos resistentes, capazes de pronta adaptação, que possam pensar de modo lógico e não estressante nos momentos mais difíceis de modificações sociais, econômicas, éticas, políticas e filosóficas são de importância ímpar no âmbito da sociedade no geral. Devido às conseqüências sociais, a importância que o combate ao stress assume é de grande relevância em nível de campanhas educativas e preventivas no âmbito nacional.

A reação do stress é muitas vezes classificada de acordo com  o evento que lhe deu origem, pois  pode ter sua ontogênese em uma série de estímulos, eventos ou situações de natureza muito diferenciada, designadas de estressores. Um modo de classificar os estressores é o de externos e internos. Os primeiros são eventos ou condições externas que afetam o organismo.  Eles independem, muitas vezes, das características ou comportamento da pessoa, como, por exemplo,  mudança de chefia, mudanças políticas no país, acidentes e qualquer outra situação que ocorra fora do corpo e da mente da pessoa. Já os estressores internos são determinados completamente pelo próprio indivíduo. Eles constituem-se do modo de ser da pessoa, se ela é ansiosa, se ela é tímida ou depressiva ou se tem distúrbios psicológicos. Outros exemplos de estressores internos são: crenças irracionais (Ellis,1973), Padrão Tipo A de Comportamento (Hilton, & Rotheiler,1991), falta de assertividade e dificuldade de expressar sentimentos (Lipp, & Rocha,1996). Assim, a reação do stress pode ocorrer frente aos estressores inerentemente negativos, como no caso de dor, fome, frio ou calor excessivo ou devido à interpretação que se dá ao evento desafiador. Desse modo, o mesmo evento pode desencadear ou não uma reação de stress em pessoas diferentes, dependendo da interpretação que cada uma dá ao evento, como vem sendo postulado por Lazarus desde 1966.  De acordo com Lazarus e Folkman (1984), as atividades cognitivas usadas pelo indivíduo para interpretar eventos ambientais são fundamentais no processo do stress.

Dependendo do que o gera, ele adquire nomenclatura específica, por exemplo, a tensão excessiva ligada à atividade profissional de uma pessoa é designada de “stress ocupacional”, enquanto que a reação de stress eliciada pelos contatos com outras pessoas é chamada de “stress interpessoal” e o ligado a aspectos da infância é conhecido como “stress infantil”. Considerando que cada uma dessas áreas tem suas demandas e seus estímulos particulares, pode-se supor que a forma com que o indivíduo reage frente aos desafios é o resultado da somatória das múltiplas fontes de stress presentes em sua vida, mediadas pelas estratégias de enfrentamento existentes em seu repertório comportamental e pelos recursos oriundos de sua resistência biológica.

Várias profissões já foram pesquisadas e foi identificado que diferentes ocupações geram níveis de stress diferenciados, chegando até a 70% de pessoas estressadas em amostras, por exemplo, de juízes do trabalho (Lipp, & Tanganelli, 2002).  Verificou-se também que o índice de stress entre pessoas que ocupam cargo de chefia em São Paulo subiu de 40%, em 1996, para 49%, em 2004, dentre os 95 indivíduos que foram avaliados (69 homens e 26 mulheres). Analisando por gênero, verificou-se que 32% dos homens e 46% das mulheres da amostra possuía sintomas de stress.  No que se refere a estudantes, na época do vestibular o índice de stress chega a 45% entre mulheres e 38% nos homens (Calais, Andrade, & Lipp, 2003) e (Lipp, Arantes, Buriti, & Witzig, 2003) verificaram que dentre 255 escolares avaliados, com idades variando de  7 a 14  anos, 23% das crianças da primeira série tinham sintomas graves de stress.   Com relação a  professores, Rossa (2004) relata que em uma amostra de 62 professores, 58% apresentavam stress. Uma pesquisa com 13 modelos profissionais (Lipp, & Allegretti, 2004) revelou que 85% delas tinham sintomas da fase intermediária do stress. Várias outras pesquisas tem sido publicadas sobre stress ocupacional, mostrando a preocupação atual com a influência das contingências de trabalho na saúde e bem-estar das pessoas.

Além de se levar em consideração o tipo do estressor, outros critérios necessitam ser considerados no diagnóstico do stress, como, por exemplo, se ele é agudo, pós-traumático, crônico ou recorrente.

A terminologia stress agudo refere-se à reação com sintomas específicos, que ocorre logo após um evento traumático, por um período limitado de tempo. Evento traumático é aquele que seria considerado altamente perturbador pela maioria das pessoas.  É necessário levar em consideração o modo especifico de cada pessoa interpretar cada evento, pois as cognições baseadas em experiências passadas, em muito determinam a classificação dos acontecimentos como traumáticos ou não. Além, disto eventos de valor positivo para a maioria das pessoas podem, pela sua carga emocional, atuar no desencadeamento do estresse agudo, como o choque de uma festa surpresa, discussão acalorada ou um jogo de futebol (Carrol, et al. 2002).

O Transtorno de Stress Agudo (TEA) está relacionado a sintomas físicos e psicológicos que podem surgir devido à intensidade do evento crítico experienciado que leva a alterações disfuncionais nos sistemas neurológico, endócrino e imunológico.  O estressor, nestes casos, quebra a ordem do mundo presumido, rompe com as crenças de controlabilidade, invulverabilidade e imortalidade que em geral o ser humano mantém a fim de viver o seu dia a dia com tranqüilidade (Gregio, 2005).

Quanto às possíveis conseqüências do stress agudo, elas podem ser desencadeadas tanto no âmbito psicológico/psiquiátrico, como no físico. Loures, Sant'Anna e Baldatto (2002) apontam a associação entre  stress mental e o aparecimento e curso de muitas doenças, desde simples infecções virais até úlceras gástricas e neoplasias. Por exemplo, no stress agudo, os hormônios podem atuar sobre os tecidos do coração e impedir a contração natural. Arritmias graves podem ocorrer com conseqüente morte súbita. O stress agudo também pode desencadear a ruptura de placas de gordura nas artérias e levar ao enfarte e a outros problemas cardíacos (Strike, & Steptoe, 2005).

O aspecto do transtorno de stress agudo mais discutido na literatura refere-se à busca de uma relação entre ele e o transtorno de stress pós-traumático. Inúmeros trabalhos mostram que na ausência de tratamento, o TEA é um preditor de subseqüente do Transtorno de Stress Pós- Traumático (TEPT) e estudos epidemiológicos sugerem que de 15 a 24% das pessoas que passam por experiências traumáticas, desenvolvem o TEPT (Breslau, 2001). Malagris (2003) menciona um estudo de Gálea et al. (2002) com 988 pessoas que residiam em Manhattan no bombardeio de 11 de setembro de 2001, o qual detectou a presença de pelo menos um sintoma de TEPT em 57,8% dos entrevistados.

O stress pós-traumático pode gerar conseqüências graves para o ser humano, tanto física como psicologicamente. Kessler (2000), em um estudo epidemiológico, relata que 88,3% dos homens e 79% das mulheres desenvolvem alguma comorbidade psiquiátrica juntamente com o desenvolvimento do TEPT.

O DSM-IV (1994) acrescentou o diagnóstico de Transtorno do Estresse Agudo, na secção de ansiedade, conceituando-o como uma forma aguda de stress pós-traumático. Há de se enfatizar que existem diferenças conceituais e diagnósticas entre os dois transtornos. Por exemplo, no TEA a ênfase é colocada nos sintomas dissociativos, em que pelo menos três sintomas de dissociação devem estar presentes a fim de que o TEA possa ser diagnosticado. Já no transtorno de stress pós-traumático, revisto por Caminha (2005), não há tanta ênfase em sintomas de dissociação. Além disto, se os sintomas persistirem mais de um mês, então, o diagnóstico seria de stress pós-traumático.

Existe ainda uma distinção importante entre stress crônico e stress recorrente, sendo que o crônico refere-se a um estado de tensão prolongado que pode levar ao desenvolvimento de varias doenças e prejuízos para a qualidade de vida do ser humano. Em geral, o stress crônico evolui para fases mais graves do processo do stress (Lipp, 2005). Ele pode ocorrer devido à permanência de um estressor na história e vida da pessoa, devido ao acúmulo de estressores ou ainda devido ao stress recorrente. Este diferencia-se das crises de stress que podem ocorrer em qualquer pessoa devido a diferentes tipos de estressores, pois ele ocorre no contexto de repetições de ocorrências semelhantes, como se fossem temas de vida (Lipp, 2006). Temas esses que se repetem inúmeras vezes na vida dessas pessoas, sempre gerando um nível de stress excessivo e contribuindo para uma sensação crônica de fragilidade frente ao mundo.

O Stress no Brasil:

O Brasil, como todo país em desenvolvimento, está no centro de um processo de mudanças intensas: mudanças de valores, de princípios, de hábitos, de tecnologia, do pensar e do fazer. Esse processo, necessário e benéfico em longo prazo, é também a fonte mais importante de stress para o Homem que, de repente, precisa aprender uma nova maneira de pensar, sentir e agir!  E tudo isso, dentro de um tempo muito limitado. Os estudos sobre o stress emocional no Brasil têm-se multiplicado com grande rapidez. Dentre eles encontram-se principalmente:

a) pesquisas realizadas dentro de instituições de ensino, como as oriundas do Laboratório de Estudos Psicofisiológicos do Stress (LEPS) da PUC-Campinas, as teses, dissertações e a produção intelectual de docentes dos programas de pós-graduação e, até certo ponto, até mesmo da graduação;

b) pesquisas implementadas por organizações não universitárias;

c) ações empresariais que envolvem levantamento do índice de stress entre funcionários;

d) pesquisas de populações não-clinicas;

e) pesquisas com populações clínicas; e

f) atendimentos clínicos do Centro Psicológico de Controle do Stress e de outras clínicas especializadas.

Essas fontes principais de informações podem ser acessadas através de publicações em anais de congresso, artigos publicados em revistas cientificas, livros, comunicações em congressos e trabalhos de meta-análise como os publicados por Witter (2003); Cusatis Neto e Andrade (2004) e  Benzoni, Carneiro, Ribeiro, Peres, Marchi e Milaré (2004).

Além das 55 dissertações e teses sobre stress produzidas na PUC-Campinas, várias outras universidades têm dado origem a trabalhos de Mestrado e Doutorado, como os de: Schimidt (1990) intitulado Stress ocupacional no ambiente acadêmico universitário, orientado no IPUSP por Juan Pérez-Ramos; Figueredo (2000) da Universidade Gama Filho sobre os efeitos do stress e da ansiedade na qualidade de vida; Leal (2001), de João Pessoa, sobre o stress do adolescente; Souza (2002), da USP-SP sobre fibromialgia; Almeida (2002), da Universidade São Francisco sobre stress na puberdade; Magalhães Neto (2002), da Universidade Católica de Brasília, sobre stress mental em estudantes do ensino médio; Cardoso (2002), da USP-SP, sobre stress no tratamento odontopediátrico; Camelo (2002), da USP-Ribeirão Preto, com trabalhadores de núcleos de saúde da família; Páfaro (2002), da Unicamp, com enfermeiros com dupla jornada de trabalho e Pereira (2004), da PUC-SP, com professores disfônicos, dentre várias outras. Esses e outros trabalhos têm possibilitado entender de modo mais profundo as conseqüências do stress emocional no povo brasileiro.

O índice de stress em São Paulo era, em 1996, de 32% conforme demonstrado em  uma pesquisa com 1818 pessoas que transitavam pelo aeroporto de Cumbica e no Conjunto Nacional, e que se prontificaram a responder ao Inventário de Sintomas informatizado (Lipp, Pereira,  Floksztrumpf, Muniz & Ismael, 1996). Da amostra com stress encontrada (32% dos entrevistados), 13% eram homens e 19 % mulheres. Essa pesquisa foi a primeira em nosso meio a indicar que mulheres apresentam mais stress do que homens. Este índice foi encontrado também, no mesmo ano, no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraíba e Campo Grande.  

Em 2001, pesquisas também não-clinicas com 619 pessoas, na cidade de São Paulo, demonstram um índice de 21% de stress entre os homens e 41% dentre as mulheres, mais uma vez mostrando maior índice para o sexo feminino. Este índice de stress sofreu um acréscimo comparado com os índices dos anos anteriores conforme mostrou uma pesquisa realizada pelo Centro Psicológico de Controle do Stress, em janeiro de 2004, com 917 adultos (601 homens e 314 mulheres), funcionários de escritório de várias empresas da cidade de São Paulo, que não ocupavam cargos de chefia e que aceitaram passar por uma avaliação. Verificou-se que 40% do total dos entrevistados tinham sintomas de stress, sendo 228 homens (38%) e 145 mulheres (46%).

A área em que o stress emocional tem sido mais estudado no Brasil é a que tenta averiguar a contribuição do fator stress para o adoecer, buscando alternativas para o tratamento e prevenção do stress excessivo como uma estratégia para redução do risco envolvido em uma série de doenças (Lipp,2004). Novaes Malagris (2004), pesquisando stress e hipertensão, verificou que  ao introduzir o fator stress em seu estudo, produziu-se uma redução no transporte de L-arginina através dos sistemas y+ e y+L em pacientes hipertensas estressadas quando comparadas com normotensas estressadas. Esses achados sugerem que a associação de stress com hipertensão afeta mecanismos celulares e abre novos rumos para os estudos do stress emocional.

Os efeitos do TCS nas manifestações clínicas do stress e das doenças, no contexto das quais foi testado, já eram bastante encorajadores até o presente, mas o estudo de Novaes Malagris (2004) deu nova dimensão a esta área de pesquisa. No contexto de sua tese de doutorado, verificou-se que  quando o TCS foi testado em pacientes hipertensas, não só houve uma redução do stress em 71,4% da amostra após o TCS, mas observou-se  também que a diminuição do stress, pelo treinamento do seu controle em pacientes hipertensas estressadas, restaurou os níveis de transporte de L-arginina através do sistema y+ a níveis observados em pacientes hipertensas não-estressadas. Assim, o estudo mostrou que o transporte de L-arginina é alterado tanto pela hipertensão como pelo stress. Como a L-arginina é um aminoácido precursor do óxido nítrico, é possível que a redução do stress aumente  a produção do óxido nítrico, trazendo benefícios para o hipertenso devido aos seus efeitos vasodilatores.

 

Considerações Finais

O interesse pela área do stress emocional não se restringe somente ao âmbito da pesquisa ou da clinica. Há um grande interesse atualmente com a prevenção e medidas educativas que possam contribuir para a existência de um ser humano menos estressado, e, conseqüentemente, uma sociedade mais ajustada e com melhor qualidade de vida. Embora o estudo do stress esteja recebendo em nosso meio uma atenção marcante, ainda muito há a se estudar e pesquisar para compreender-se exatamente o mecanismo de ação e de tratamento do stress emocional. A sociedade atual está cada vez mais estressante, assaltos, mudanças de valores, tecnologia avançada, aumento de desestruturação familiar, excesso de competição e muitos outros fatores externos e internos contribuem para que o ser humano viva constantemente em um alto nível de stress. A teoria da evolução mostra que, em momentos de grandes mudanças, só sobrevivem os melhores, os mais equipados para lidarem com o que é novo, aqueles que desenvolvem mecanismos de enfrentamento, aqueles que aprendem a viver com a mudança e adaptam-se. Os que não conseguem uma adaptação ao que está ocorrendo ao seu redor não sobrevivem no mundo em mutação constante. Por isso é que se torna tão importante estudar e descobrir métodos de prevenção do transtorno de adaptação.

 

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2 Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders