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Boletim - Academia Paulista de Psicologia

 ISSN 1415-711X

     

 

TEORIAS, PESQUISA E ESTUDOS DE CASO

 

Consistência interna e estrutura fatorial da escala de expectativa de futuro em brasileiros

 

Internal consistency and factorial structure of the future expectation scale in Brazilians

 

Consistencia interna y análisis factorial de la Escala de Expectativa de Futuro en brasileños

 

 

Marcos Aguiar de Souza1,I Paulo Rodrigues Fernandes Pereira2,I; André Luiz Funck3,I; Nilton S. Formiga4,II

IUniversidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ
II
Universidade Mauricio de Nassau - PB

 

 


RESUMO

O presente estudo tem como objetivo o desenvolvimento e análise das propriedades psicométricas de um instrumento destinado a mensurar a expectativa de futuro em adolescentes e em adultos brasileiros. O estudo é realizado em duas etapas. Na primeira é aplicada a versão inicial da escala, composta por 33 itens em formato Likert, sendo respondida por 308 indivíduos moradores da Cidade do Rio de Janeiro, sendo 180 homens e 128 mulheres, com idade média de 31,41 anos (17 a 56 anos). A análise fatorial dos principais componentes, com rotação oblíqua, revela uma estrutura mais adequada de 3 fatores, cada um com 06 itens que apresentam carga fatorial igual ou superior a 0,30 por fator. O fator 1 (Condições da Sociedade) se refere a crença do indivíduo sobre como será a sociedade em um futuro próximo. O fator 2 (Sucesso Profissional e Financeiro) reúne itens relacionados à crença do indivíduo sobre como será seu futuro em relação à profissão e sua condição financeira. O fator 3, (Realização Pessoal), é composto por itens destinados a mensurar a crença que o indivíduo tem sobre sua vida em geral, em função do que foi por ele conquistado. Na segunda etapa, participam 421 estudantes do ensino superior, sendo 196 homens e 225 mulheres, com idade média de 29,41 anos (19 a 56 anos), de diferentes universidades do Estado do Rio de Janeiro, que preenchem a forma já validada da escala. Na análise confirmatória realizada, os indicadores de qualidade de ajuste do modelo se mostram próximos aos apresentados na literatura.. São sugeridos estudos futuros buscando identificar como a expectativa de futuro se relaciona com outras variáveis, obtendo, assim, maiores evidências sobre a validade externa do instrumento.

Palavras-chave: expectativa de futuro, adolescentes, adultos, validação de escala.


ABSTRACT

The aim of this study is the development and analysis of the psychometric properties of an instrument to measure the future expectation of Brazilian adolescents and adults. The study is realized in two stages. At first, the initial version of the scale is applied, composed by 33 items in Likert format, being answered by 308 individuals living in the City of Rio de Janeiro, with 180 men and 128 women, average age of 31.41 years old (17 to 56 years old). Factor analysis of principal components with oblique rotation revealed a more appropriate structure for three factors, each with 06 items, with factor loadings less than .30 in only one factor. Factor 1 was named Conditions of Society, gathering items to identify how the individual believes that the society will be in the near future. The second factor related items met the individual's belief about his future lies over the profession and its financial condition, thus being named Professional and Financial Success. The third factor, named Personal Achievement was composed of items designed to measure the belief that the individual has on his life in general, based on what he has already achieved. The second study involved 421 students, 196 men and 225 women, mean age 29.41 years (19-56 years) from different universities in the state of Rio de Janeiro, who filled the form previously validated of the scale. In the confirmatory analysis performed, the indicators of quality of fit of the model are next to those recommended in the literature. We suggest future studies seeking to identify how the expectation of the future relates to other variables, thus getting more evidence about the external validity of the instrument.

Keywords: future expectation, adolescents, adults, scale validation.


RESUMEN

El presente estudio tiene como objetivo el desarrollo y análisis de las propiedades psicométricas de un instrumento para medir la expectativa de futuro en adolescentes y en adultos brasileños. El estudio se realiza en dos etapas. La primera se aplica la versión inicial de la escala, la cual consta de 33 ítems en tipo Likert, a los 308 participantes residentes de la Ciudad de Rio de Janeiro, distribuidos entre 180 hombres y 128 mujeres, con una edad media de 31,41 años (17-56 años). El análisis factorial de los componentes principales con rotación oblicua revela una estructura adecuada de tres factores, cada uno con 06 ítems que presentan una carga factorial superior o igual a 0,30 por factor. El factor 1 (Condiciones de la Sociedad)se refiere a la creencia del individuo acerca de cómo será la sociedad en un futuro próximo. El factor 2 (Éxito profesional y financiero) reúne los ítems relacionados a la creencia del individuo sobre cómo su futuro en relación con su profesión y su situación financiera. El factor 3, (Realización Personal), está conformado de ítems diseñados para medir la creencia de que el individuo tiene en su vida en general, en términos de lo que logró por el mismo. En el segundo estudio participan 421 estudiantes de la enseñanza superior, siendo 196 hombres y 225 mujeres, con una edad media de 29,41 años (19-56 años) provenientes de diferentes universidades del Estado de Rio de Janeiro, que completan el formulario previamente validado. En el análisis confirmatorio realizado, los indicadores de calidad de ajuste del modelo se muestran cerca a los presentados en la literatura. Se sugieren futuros estudios que traten de identificar cómo las expectativas de futuro se relacionan con otras variables, obteniendo, así, más evidencia sobre la validez externa del instrumento

Palabras claves: expectativa de futuro, adolescentes, adultos, validación de escala.


 

 

Introdução

O esforço do ser humano para se antecipar aos acontecimentos, tem sido fortemente documentado na história. As estratégias na busca de regularidades nesses fatos, de maneira geral, são bastante variadas, desde investigações científicas à consulta com oráculos dos mais variados tipos. A lógica para essa busca é que, quanto maior o conhecimento (ou a crença) do futuro maior a chance de tomar decisões mais acertadas no presente. De fato, aquilo que é visto como possibilidade no futuro termina por influenciar as decisões que são tomadas no presente, seja pelo cidadão comum, por empresas e até mesmo por nações. É nesse sentido que podemos falar que existem expectativas de como será o futuro, que são desenvolvidas, muitas vezes, com base no que percebemos no presente.

De acordo com Seginer (2009) expectativas em relação ao futuro consistem em planos, aspirações e medos em relação a vários domínios da vida, num futuro próximo ou distante, razão pela qual discute a questão principalmente em relação a adolescentes. Entretanto, tais expectativas provavelmente acompanham os indivíduos durante toda a vida, mesmo no caso de idosos. Para Nurmi (2005) os adolescentes estão mais voltados para diversas atividades e expectativas típicas da idade provavelmente, impostas por seus pais, pares e professores. Além disso, existem importantes decisões que serão tomadas em relação a escolha profissional, educação e futuro familiar. Juntos, tais aspectos justificam a adolescência como um período importante para o estudo das expectativas sobre o futuro.

Se a mudança é a principal característica da sociedade contemporânea, adolescente, não só ele, mas principalmente ele, se vê diante de uma série de incertezas. Certamente o mundo que tal como se conhece não mais existirá em um futuro breve. Suas escolhas atuais são acertadas? Existem escolhas mais ou menos acertadas a serem feitas. Tudo isso ocorre em um momento que sua própria identidade ainda se apresenta como algo a ser definido.

A expectativa de futuro tem sido considerada em diversos estudos, de forma direta ou indireta. Mesmo no senso comum, considera-se que as pessoas agem com base em algum grau de previsão daquilo que está por acontecer e esperam que suas ações tenham algum efeito futuro. De maneira geral, os estudos têm defendido a idéia de que a imagem que se faz do futuro termina por influenciar o comportamento de indivíduos e grupos no presente. Isso vale para diferentes aspectos de nossas vidas, desde o estudante que acredita que será bem sucedido em seus estudos, até o atleta que acredita em seu sucesso (Günther & Günther, 1998; Robbins & Bryan, 2004; Aspinwall, 2006; Sulimani-Aidan & Benbenishty, 2011).

Apesar da ampla gama de estudos realizados, ainda não existe um referencial teórico claramente definido em relação ao tema. Essa dificuldade, que também existente em diversos constructos no contexto das ciências humanas e sociais, é aqui bastante justificada. Quando se fala de expectativa de futuro, existem diversos aspectos na vida de um indivíduo que podem ser considerados, como sucesso profissional e financeiro e satisfação pessoal e familiar, entre outros. Além disso, a expectativa de futuro vai estar relacionada não somente a indivíduos na sociedade, mas também a instituições, áreas do conhecimento e ao próprio mundo (Ribeiro, 2002; Catalano Berglund, Ryan, Lonczak, & Hawkins, 2004; Castello, 2005; Gifford, 2005; Thibaud, 2005; Braile, 2006; Cunha,2006; Boschetti, 2007).

Considerando, especificamente, a expectativa de futuro desenvolvida por indivíduos e grupos na sociedade, Omar, Delgado, Souza e Formiga, (2005) apresentaram diversas definições, sendo de particular interesse aquelas relacionadas às atitudes e as expectativas individuais sobre a ocorrência de eventos futuros (Nuttin, 1985) ou às habilidades de se conectar a educação que é recebida com os objetos e ambições futuros (Nurmi, 1991). Para Locatelli, Bzuneck e Guimarães (2007), a perspectiva de futuro pode ser conceituada como uma antecipação no presente de metas futuras. De acordo com Catalano e outros (2004) a crença ou expectativa de futuro é a internalização da esperança e do otimismo sobre possíveis resultados.

Mas não só esperança e otimismo são internalizados. Isso implica que nem sempre o indivíduo tem uma expectativa de futuro favorável. É possível que expectativas menos favoráveis sejam desenvolvidas, fazendo com que o indivíduo termine optando por não se dedicar em campos nos quais acredita que não será bem sucedido, como na educação. É nesse sentido que é abundante na literatura a investigação da expectativa de futuro e de temas correlatos de crianças e adolescentes em contextos menos privilegiados (Nurmi, 1991;Günther & Günther, 1998).

O conceito de expectativa de futuro, apesar da proximidade com a noção de orientação para o futuro, deve deste ser diferenciado. Enquanto a orientação para o futuro está relacionada a dimensões como realismo, planejamento e controle, indicando que o indivíduo se comporta no presente com vistas a atingir determinada meta no futuro, a expectativa de futuro diz respeito à crença de que existe um futuro que já está anunciado para o indivíduo, sem necessariamente depender de ações a serem desenvolvidas no presente. É nesse sentido que para Nurmi (2005) a expectativa de futuro se refere à avaliação que se faz sobre o futuro, não havendo, portanto, relação com escolhas e desejos de como queremos que o futuro seja. Seguindo o mesmo raciocínio, Bruiniks e Malle (2006) propõem uma distinção entre otimismo e esperança, argumentando que quando os indivíduos relatam aspectos relacionados ao otimismo, não têm aparecido respostas relacionadas à vontade, desejo ou estado de espera, termos que têm sido relacionados à esperança. Acrescentam ainda que quando as pessoas têm alto grau de controle pessoal, elas não mais precisam estar esperançosas sobre o futuro, mas sim otimistas, uma vez que os resultados buscados passam a ser considerados como atingíveis.

A distinção proposta entre otimismo e esperança é crucial para o entendimento da expectativa de futuro na forma que está sendo proposta no presente estudo e pretendida de mensuração no instrumento apresentado. Podese dizer então que a orientação para o futuro envolve um maior grau de internalidade por parte do indivíduo, o que não necessariamente está presente quando falamos de expectativa de futuro de um indivíduo. Ao direcionar suas ações para as consequências que as mesmas terão no futuro, o indivíduo acredita que, em algum grau, tem a capacidade de influenciar os acontecimentos que estão por vir. Além disso, como defendem Lavi e Solomon (2005) a expectativa de futuro, diferentemente da orientação para o futuro, engloba não somente o aspecto pessoal, mas também a percepção de futuro do contexto em que está inserido, desde o âmbito local até o nacional.

De acordo com Nurmi (1991), as esperanças e expectativas do sujeito sobre o seu futuro influenciam em seu comportamento presente e influenciam as suas decisões sobre família, educação e carreira. A expectativa de futuro também está relacionada a metas de longo prazo, crença no ensino superior e crenças que suportam valores relacionados ao campo profissional (Catalano e outros, 2004; McWhirter & McWhiter, 2008).

Os estudos relacionados à expectativa de futuro têm sido caracterizados por duas linhas de trabalho. A primeira linha se desenvolveu na década de noventa e se caracterizou pela associação da perspectiva de futuro com levantamentos de dados sócio-demográficos. Omar e outros (2005) afirmam que esta linha de explorações pioneiras permite concluir que, enquanto a expectativa para o presente está associada com a capacidade de identificar possíveis recompensas mais imediatas, a expectativa para o futuro se vincula com o desenvolvimento na confiança nos outros e com as crenças sobre a predição e controle das pessoas e da natureza.

Ainda segundo Omar e outros (2005), a segunda linha de estudo desenvolvida nesta década, e de maior interesse para a reflexão aqui proposta, procura associar a compreensão da expectativa de futuro com traços de personalidade e comportamentos associados observáveis. Os autores concluem afirmando que a perspectiva de futuro se associa a uma ampla gama de aspectos positivos.

A associação de uma expectativa de futuro negativa a comportamentos também negativos parece estar diretamente relacionada a pessoas em situação socialmente desprivilegiada, podendo ser moradores de rua ou desempregados. Tal associação tem representado um problema crucial para diversos autores interessados no tema. Nos termos de Amâncio-Filho (1994), o Brasil enfrenta uma crise que vem agravando e fazendo aflorar uma série de contradições, grande parte delas produto de uma sociedade que se caracteriza pelo modo perverso com que estimula e favorece o crescimento de um largo contingente populacional de despossuídos. Despossuídos de educação, de saúde, de moradia, de alimentação, de mínimas condições de sobrevivência (p. 505). Em tal contexto, parece adequado afirmar que a crença em um futuro melhor terá que se basear em aspectos que não incluem as condições sociais atualmente vivenciadas pelo indivíduo.

A expectativa de futuro, assim, passa a ser investigada com o objetivo de desenvolver estratégias de intervenção que estejam direcionadas para políticas públicas que tenham como objetivo a redução desse contingente de despossuídos. É nesse sentido que a educação tem sido vista como fator essencial para a elevação de índices de expectativa de futuro.

A associação entre educação e expectativa de futuro merece maior reflexão diante da constatação de que a evasão escolar no Brasil assume índices alarmantes, não por que a crença na educação como possibilitadora de ascensão social tenha declinado, mas sim pela necessidade do indivíduo de entrar para o mercado de trabalho. Em geral em tal situação, o indivíduo tende a se ver em desvantagem diante daqueles que prosseguem em seus estudos, fator que pode ter forte impacto sobre a expectativa de futuro.

Para Digiácomo (2011) as causas da evasão escolar vão desde a necessidade de trabalho do aluno, como forma de complementar a renda da família, até a baixa qualidade do ensino, que desestimula o interesse pelas aulas. De acordo com Arpini (2003) os adolescentes ratificam essa informação, ao afirmarem que a repetência e a evasão escolar ocorrem diatne da necessidade que eles têm de buscar trabalho para auxílio nas despesas de casa e pos se sentirem desmotivados pelo ensino. Tal fato é agravado quando o adolescente se encontra em situação de vulnerabilidade social, diante da tendência de se sentirem incapazes em atender as exigências feitas pela escola. O trabalho, assim, se mostra a porta para um futuro menos improvável.

A análise da expectativa de futuro em jovens e adultos em situação adversas deve ser considerada com cautela. Não há uma relação direta entre situação adversa e expectativa negativa de futuro. Andrade, Ribeiro e Ohara (2009) por exemplo, constaram em estudo realizado com mães adolescentes da cidade de São Paulo constataram que após a maternidade é que passou a haver uma maior preocupação com o futuro e o desenvolvimento de expectativas mais favoráveis, buscando tais mães criar as condições necessárias visando proporcionar um futuro melhor para o filho.

Em estudo realizado por Monteiro, Cabral e Jodelet (1999) com 90 adolescentes de ambos os sexos, com idade variando de 12 a 18 anos, todos com histórico de violência doméstica, apenas 33,3% dos participantes demonstraram sentimentos de esperança em um futuro melhor.

Oliveira, Sa, Fisher, Martins e Teixeira (2001) realizaram um estudo com 778 jovens de duas cidades de médio porte do Estado de São Paulo (BR), e constataram que a perspectiva de futuro foi fortemente associada ao esforço pessoal caracterizado pelo estudo e pelo trabalho. A escolarização, sobretudo a posse de um curso superior, foi apontada como um requisito para a empregabilidade, ao mesmo tempo em que a escola pública foi indicada como um obstáculo a ser vencido, devido à má qualidade do ensino. Assim, concluem que o trabalho cumpre uma função associada à sobrevivência, a escola funciona como instância de saber e de criatividade; ambos estarão estreitamente ligados às possibilidades ou impossibilidade de futuro de crianças e adolescentes até das camadas mais pobres da população (p. 257).

Apesar da importância que determinados grupos podem dar à educação e ao trabalho, outros aspectos, estes devem ser considerados na expectativa de futuro. Por exemplo, no estudo realizado por Günther e Günther (1998) com 335 jovens da cidade de Brasília, de ambos os sexos, com idade variando de 11 a 19 anos, os resultados indicaram que na visão de jovens carentes e/ou em situação de rua, as oportunidades são fornecidas principalmente pelas condições sociais da família e que melhores condições socioeconômicas estão associadas a melhores oportunidades na vida.

Em estudo realizado por Costa e Koslinski (2006), com alunos da sétima e da oitava séries de três escolas públicas e duas privadas na cidade do Rio de Janeiro, os dados indicaram que a origem socioeconômica explicou as diferenças entre alunos de escolas públicas e privadas no que se refere à expectativa de futuro profissional e escolar. Enquanto estudantes de melhores condições socioeconômicas relatavam as condições sociais de origem como responsável pelo futuro, os estudantes com condições sociais mais privilegiadas davam destaque ao valor da educação na garantia de um futuro promissor.

De maneira geral, os estudos têm demonstrado tanto o valor da escola para a obtenção de melhores condições no futuro, por parte de alguns grupos, como a percepção de que o futuro será uma continuidade do passado e, portanto, estarão em melhores condições aqueles oriundos de classes sociais mais privilegiadas.

A expectativa de futuro também pode ser explicada por processos relacionados a educação familiar. É nesse sentido que Cárdenas, Loving e Lagunes (2001) consideram que, conforme a educação que recebem, alguns indivíduos podem interiorizar dúvidas sobre o quanto são valorizados por seus entes queridos e gradualmente incorporar mensagens degradantes que podem leva-lo a tratar a si mesmo com desaprovação e desdém. Nesse sentido, parece adequado considerar o desenvolvimento da expectativa de futuro em associação com o tipo de educação recebida pelo indivíduo.

Ao citar a Psicologia Positiva, Schmidt (2008) considera que um estado de ânimo positivo aumenta a tendência e realizar - se avaliações positivas, que por sua vez reforça a vivência de emoções positivas, produzindo uma retroalimentação. Assim, ao experimentar emoções positivas, o indivíduo teria a seu dispor um disparador de recursos que poderiam ser cognitivos. O indivíduo que tem em sua educação fortes recursos associados com o desenvolvimento de vivências positivas, tem, assim, uma chance maior de desenvolver expectativas mais otimistas acerca de seu futuro.

Com base na discussão acima, o objetivo do presente estudo se caracterizou pela construção de um instrumento para mensuração da expectativa de futuro. A motivação inicial para sua construção foi o fato de que a expectativa de futuro, de maneira geral, tem sido investigada em diferentes contextos. Entretanto, principalmente em contextos brasileiros, não se encontrou um instrumento capaz de permitir uma investigação mais sistematizada do fenômeno, principalmente quando o objetivo era comparar indivíduos e grupos.

A expectativa de futuro foi então considerada inicialmente na busca de três principais aspectos a serem avaliados em um futuro próximo: a profissão que será seguida pelo indivíduo e o aspecto financeiro a ela relacionado, as condições da sociedade em que o indivíduo vive ou pretende viver e a realização do indivíduo de maneira geral.

A escolha de uma profissão se refere a um aspecto amplamente valorizado na sociedade, sendo preocupação natural tanto por parte da família como por parte do adolescente e do jovem adulto. De acordo com Boholavsky (1977), a escolha profissional está relacionada não só ao que fazer, mas também a quem ser e a que lugar ocupar no mundo. O trabalho assim, é forte fator de identificação do próprio indivíduo. Tal argumento permanece atual, já que a atuação em uma profissão capaz é de contribuir positivamente para a identidade do indivíduo, além de estar associada a outro aspecto altamente valorizado, principalmente, em sociedades capitalistas, que é o sucesso financeiro.

Para Neiva (2002), vários fatores estão envolvidos na escolha de uma profissão, já parecendo indicar os aspectos relacionados a tal escolha. Assim, podem ser identificados aspectos políticos, econômicos, sociais, educacionais, familiares e psicológicos. Algumas profissões gozam de prestigio mais que outras. O índice de procura por algumas carreiras pode ser um forte indicador de tal aspecto. Em geral existe uma idéia sobre a remuneração indicada para o profissional de determinada área, fato que pode ser fator decisivo no processo de escolha. É nesse sentido que ser médico, dentista, professor ou bancário, nitidamente leva a uma expectativa sobre a futura remuneração que se espera da profissão.

A despeito dos diversos fatores envolvidos na escolha de uma profissão, para Bartalloti e Menezes-Filho (2007), os fatores que merecem destaque são a renda, a perspectiva de empregabilidade, a taxa de retorno, o status associado à carreira ou vocação no processo de decisão individual. Assim, o indivíduo escolhe a profissão que melhor retorno pode oferecer considerando seus objetivos e potencialidades.

As condições da sociedade, outro aspecto considerado para a elaboração do instrumento de mensuração da expectativa de futuro, se refere à crença de como será a vida do indivíduo em determinado local. É nesse sentido que atualmente se faz uma descrição de uma localidade em função das condições ali oferecidas para se viver. Saúde, transporte, educação, enfim, diversos aspectos podem ser considerados na avaliação do local em que vivemos.

Assim, é comum observar-se uma comparação das condições sociais oferecidas por cidades (Romero & Fortes, 2007) ou mesmo por diferentes países (Noronha & Andrade, 2005).

Dentre as características de um bairro, cidade ou mesmo estado, o que mais chama a atenção da população é, sem dúvidas, a violência. Para Costa (1999) a violência urbana é um grave problema social, tornando-se uma dura realidade para diversas cidades brasileiras. Assim, é comum observarmos casos de abandono de cidades violentas na busca de locais mais adequados para se viver. A condição da sociedade é então fator importante a ser considerado dentro da expectativa de futuro de um indivíduo.

De acordo com Sant'Anna e Souza (2002), diversos estudos vêm evidenciando a percepção da sociedade como um verdadeiro caos, situação em que são identificados diversos aspectos negativos, a começar pelas normas que orientam a conduta de indivíduos e grupos. Em tal contexto, estão entram em um estado tal de debilidade que fazem com que as pessoais ou grupos específicos tomem maior força. Para muitos, a lógica de agir dentro daquilo que se considera contribuir para o bem comum, com respeito ao próximo e garantia da manutenção de um clima social harmônico, deixa de existir.

A realização pessoal é o terceiro e último aspecto considerado no instrumento de mensuração da expectativa de futuro. Ainda que possa ser avaliada em função do sucesso profissional e financeiro e das condições da sociedade, a realização pessoal se refere a uma avaliação subjetiva que o indivíduo faz de sua vida.

A realização pessoal está então associada à satisfação com a vida de modo geral. Assim, ao vivenciar um alto índice de realização pessoal, o indivíduo estará mais propenso a ser menos afetado por fatores estressantes, tendendo a lidar de forma positiva com os diversos eventos de sua vida (McKinight, Huebner & Suldo, 2002).

É importante considerar que os três aspectos considerados para a elaboração dos itens do instrumento proposto no presente estudo não excluía possibilidade de se pensar em novos pontos de avaliação em estudos futuros e em instrumentos que, porventura, venham a ser propostos.

 

Método

Participantes

O estudo contou com um total de 729 participantes, que foram considerados em dois momentos distintos: o primeiro desenvolvido visando a Análise Fatorial Exploratória dos itens da Escala de Expectativa de Futuro. O segundo estudo foi desenvolvido visando os procedimentos de Análise Fatorial Confirmatória dos itens da Escala.

Primeiramente, então, participaram 308 estudantes universitários de ambos os sexos (180 homens e 128 mulheres), com idade média de 31,41 anos (19 a 56 anos), de diferentes universidades do estado do Rio de Janeiro, sendo 202 solteiros, 89 casados e 17 de estado civil não identificado (outros).

Para o segundo estudo, foram coletados dados em outros 421 estudantes universitários, sendo 196 homens e 225 mulheres, com idade média de 29,41 anos (variando de 19 a 56 anos), de diferentes universidades do estado do Rio de Janeiro, sendo 302 solteiros, 108 casados e 11 de estado civil não identificado (outros).

Instrumentos

Em ambos os estudos, os participantes responderam um instrumento composto de um questionário para caracterização sócio-demográfica, contendo perguntas que contribuíram para caracterizar os participantes deste estudo em função do sexo, idade e estado civil; e a escala de expectativa de futuro, que em sua forma inicial possuía 33 itens. Para o segundo estudo, entretanto, os participantes preencheram o instrumento já validado (Análise fatorial exploratória), sendo então composto por 18 itens.

Procedimento

Todos os procedimentos adotados nesta pesquisa seguiram as orientações previstas na Resolução 196/96 do CNS (Brasil, 1996), na Resolução 016/2000 do Conselho Federal de Psicologia para as pesquisas com seres humanos e no Relatório do Fórum de Ética da ANPEPP, de 2012.

Administração

Para a aplicação do instrumento, inicialmente, o responsável pela coleta dos dados visitou a coordenação ou diretoria das instituições de ensino, falando diretamente com os diretores e/ou coordenadores para depois tentar a permissão junto aos professores de cada disciplina, procurando obter sua autorização para ocupar uma aula e aplicar os questionários.

Uma vez com tal licença, os estudantes foram contatados; foram-lhes expostos os objetivos da pesquisa, solicitando sua participação voluntária e preenchimento do termo de participação. Aplicadores, previamente treinados, estiveram presentes em sala de aula. Sua tarefa consistiu em apresentar os instrumentos, solucionar as dúvidas eventuais. Para finalizar a aplicação e assegurou-se a todos o anonimato de suas respostas.

Tabulação e Análise dos Dados

Para o primeiro estudo, os dados foram analisados através do SPSS (versão 15). Além de estatísticas descritivas (média, desvio padrão, freqüência), realizou-se uma análise de Componentes principais (CP), com rotação oblimin e saturação de ± 0,30; foi, também, calculada a consistência interna (Alfa de Cronbach) dos fatores resultantes. Contudo, previamente, considerou-se a própria possibilidade de se realizar a análise CP, tomando como critérios o KMO igual ou superior a 0,60 e o Teste de Esfericidade de Bartlett (qui-quadrado, X²) significativo (p < 0,05) (Bisquerra, 1989; Tabachnick & Fidell, 2001; Dancey & Reidy, 2006). Além de considerar que os critérios de Kaiser (valor próprio igual ou superior a 1) e Cattell (distribuição gráfica dos valores próprios, visando distinguir aqueles sobressalentes) tendem a maximizar o número de fatores a extrair decidiu-se, para isso, efetuar uma análise paralela (Bisquerra, 1989; Hayton, Allen & Scarpello, 2004; Dancey & Reidy, 2006; Ledesma & Valero-Mora, 2007). Neste caso, tevese em conta a sintaxe do SPSS desenvolvida por O'Connor (2000) a fim de realizar a análise paralela proposta.

Para o segundo estudo, foi aplicado o mesmo instrumento, na análise dos dados foi à versão 19.0 do pacote estatístico SPSS para as análises descritivas; para a análise fatorial confirmatória, utilizou-se o programa AMOS 16.0, destinados aos cálculos de modelagem de equações estruturais (SEM). Esse programa estatístico tem a função de apresentar, de forma mais robusta, indicadores psicométricos que corrobore uma melhor construção para adaptação e acurácia da escala desenvolvida, bem como, permita desenhar um modelo teórico pretendido no estudo.

Com o programa AMOS, pretendeu-se testar a adequação do modelo considerando-se como entrada a matriz de covariâncias, tendo sido adotado o estimador ML (Maximum Likelihood). Este tipo de análise estatística é mais criteriosa e rigorosa do que aquela do primeiro estudo. Isto permite testar diretamente uma estrutura teórica, como é o caso da que se propõem no presente estudo. Esta análise apresenta alguns índices que permitem avaliar a qualidade de ajuste do modelo proposto (Byrne, 1989; Tabachnick & Fidell, 1996; van de Vijver & Leung, 1997; Kelloway,1998; Hair, Anderson, Tatham & Black, 2005), por exemplo:

- O qui-quadrado (Χ2) testa a probabilidade de o modelo teórico se ajustar aos dados; quanto maior este valor pior o ajustamento. Este tem sido pouco empregado na literatura, sendo mais comum considerar sua razão em relação aos graus de liberdade (Χ2/g.l). Neste caso, valores até 5 indicam um ajustamento adequado.

- Raiz Quadrada Média Residual (RMR), que indica o ajustamento do modelo teórico aos dados, na medida em que a diferença entre os dois se aproxima de zero (Joreskög & Sörbom, 1989).

- O Goodness-of-Fit Index (GFI) e o Adjusted Goodness-of-Fit Index (AGFI) são análogos ao R² em regressão múltipla. Portanto, indicam a proporção de variância–covariância nos dados explicada pelo modelo. Estes variam de 0 a 1, com valores na casa dos 0,80 e 0,90, ou superior, indicando um ajustamento satisfatório.

- A Root-Mean-Square Error of Approximation (RMSEA), com seu intervalo de confiança de 90% (IC90%), é considerado um indicador de "maldade" de ajuste, isto é, valores altos indicam um modelo não ajustado. Assume-se como ideal que o RMSEA se situe entre 0,05 e 0,08, aceitando-se valores de até 0,10 (Kelloway, 1998).

- O Expected Cross-Validation Index (ECVI) e o Consistent Akaike Information Criterion (CAIC) são indicadores geralmente empregados para avaliar a adequação de um modelo determinado em relação a outro. Valores baixos do ECVI e CAIC expressam o modelo com melhor ajuste (Hair, Anderson, Tatham & Black, 2005; Bilich, Silva & Ramos, 2006).

 

Resultados e discussão

No primeiro estudo, buscou-se avaliar de forma exploratória a escala da expectativa de futuro; para isso, inicialmente, decidiu-se efetuar uma análise de Componentes Principais (PC), sem fixar o número de fatores a extrair, sem rotação e assumido uma saturação de ± 0,30. Com o objetivo de assegurar uma melhor consistência na tomada de decisão na escolha dos fatores, três critérios foram levados em conta: (1) quantidade de valores próprios (eigenvalues) iguais ou superiores a 1 (Critério de Kaiser), (2) distribuição gráfica dos valores próprios, tomando como referência o ponto a partir do qual nenhum outro fator aporta consideravelmente para a estrutura (Critério de Cattell) e (3) análise paralela (Bisquerra,1989; Fabrigar, Wegerer, MacCallum & Strahan, 1999; O'Connor, 2000; Hayton e outros, 2004; Dancey & Reidy, 2006; Ledesman & Valero-Mora, 2007).

Os resultados das análises permitiram identificar a adequação da matriz de correlação: KMO = 0,85 e do Teste de Esfericidade de Bartlett, Χ2/gl = 2001,35/ 153, p < 0,001 para a realização dessa análise. Na distribuição gráfica os valores próprios (critério de Cattell) foram identificados a existência de quatro fatores para a escala da expectativa de futuro (ver Figura 1).

 

 

De acordo com o critério de Kaiser, identificou-se quatro fatores (Tabela 1) com valores próprios maiores que 1, explicando conjuntamente 59,53% da variância total; alternativamente, procurando não deixar dúvidas, realizou-se uma análise paralela, assumindo os mesmos parâmetros do banco de dados original; isto é, 308 participantes e dezoito variáveis, tendo seus valores próprios gerados em 1.000 simulações aleatórias com os itens (ver também, tabela 2).

 

 

 

Contrastando estes valores com aqueles observados empiricamente aos valores próprios, isto é, entre os critérios de Kaiser e Análise paralela, o critério de Kaiser apresentou valores superiores aos simulados permitindo identificar a existência de apenas três fatores conglomerados para expectativa de futuro. Atento a interpretação do item-fator, juízes especializados nas análises efetuadas, contribuíram com seu julgamento, corroborando para a decisão que se esperava: fixou-se a multifatorialidade da presente escala, considerando sua organização item-fator em três fatores.

A partir desses critérios estabelecidos procedeu-se a realização de uma análise dos Componentes Principais (PC) com rotação obliqua; considerou-se um eigenvalue (valor próprio) >= 1,00 para definir o fator e saturação de ±0,50 para retenção dos itens. A utilização desta técnica se mostrou bastante adequada, com o KMO e do Teste de Esfericidade de Bartlett, semelhantes aos da primeira análise exploratória, a saber, respectivamente: 0,85 e Χ2/gl = 1386,44/28, p < 0,001.

Os resultados da extração revelaram a presença de três fatores principais, de acordo com o encontrado nas análises para tomada de decisão - valores próprios (eigenvalues) iguais ou superiores a 1 (Critério de Kaiser), distribuição gráfica dos valores próprios (Critério de Cattell) e a análise paralela; este fator explicou conjuntamente 53,68% da variância total (ver tabela 2). A título de apresentação os resultados estão descritos na tabela 2. Para facilitar a compreensão do leitor, apresentou-se o conteúdo de cada item, sua saturação (carga fatorial) e comunalidade, bem como, os indicadores de consistência interna (Alfa de Cronbach) e variância explicada por cada fator.

O fator 1 foi nomeado "Condições da sociedade", uma vez que seus itens se referem a forma como o indivíduo acredita que a sociedade estará no futuro. O fator 2 foi nomeado "Sucesso profissional e financeiro, estando seus itens relacionados a forma como o indivíduo acredita que estará no futuro em relação a sua profissão e aos seus ganhos financeiros. Finalmente, o fator 3 foi nomeado "realização pessoal", sendo composto por itens que dizem respeito ao futuro do indivíduo em termos de realização na vida.

Considerando esses resultados, pode-se destacar que, na análise exploratória da escala, a sua multifatorialidade pode ser considerada como adaptada e validada. Porém, como na análise exploratória, a sua aleatoriedade não permite teorizar sobre as variáveis destacadas neste estudo. Assim, buscouse em um segundo estudo realizar uma análise fatorial confirmatória para o mesmo instrumento.

Para a análise dos dados utilizou-se o programa AMOS (Analysis of Moments Structures) (16.0), destinado ao cálculo de modelagem de equações estruturais (MEE). Esse programa estatístico tem a função de apresentar, de forma mais robusta, indicadores psicométricos que vise uma melhor construção da adaptação e acurácia da escala avaliada anteriormente, bem como, permite desenhar um modelo teórico a que se pretende de forma mais robusta.

Neste segundo estudo, optou-se por deixar livre a covariância (phi, φ) entre os fatores. Os indicadores de qualidade de ajuste do modelo se mostraram próximos aos recomendados apresentados na literatura (Byrne, 1989; Tabachnick & Fidell, 1996; van de Vijver & Leung, 1987); os resultados desta análise podem ser observados, a partir da seguinte razão: Χ2/gl = 1,84, RMR = 0,03, GFI = 0,97, AGFI = 0,95, RMSEA (90%IC) = 0,00 (0,00-0,02), CAIC = 612,16 e ECVI = 0,73 (0,68-0,80). Ao comparar esses indicadores com um modelo unifatorial [Χ2/gl (537,40/108) = 4,97, RMR = 0,12, GFI = 0,82, AGFI = 0,71, RMSEA (90%IC) = 0,11 (0,10-0,12), CAIC = 964,19 e ECVI = 2,07 (1,85-2,30)], a fim de não deixar dúvidas quanto a hipótese levantada para o modelo trifatorial, observou-se que os indicadores do pretenso modelo foram melhores do que o modelo comparativo (unifatorial). A seguir, na Figura 2 é apresentada a estrutura fatorial resultante (solução padronizada) da análise que testou a hipótese em questão.

 

 

Como é possível observar nesta figura, todas as saturações (Lambdas, λ) estão dentro do intervalo esperado |0 - 1|, denotando não haver problemas de estimação proposta. Além disso, todas são estatisticamente diferentes de zero (t > 1,96, p < 0,05), corroborando a existência trifatorial da escala testada no primeiro estudo realizado a partir da análise exploratória, reconhecendo os fatores e respectivos itens do presente instrumento.

Atendido o objetivo principal do estudo, o qual se procurou avaliar, tanto em sua forma exploratória visando consistência interna quanto, a partir do modelo de equação estrutural, a validade estrutural da escala de expectativa de futuro – EEF - observou-se que para ambas as análises os dezoito itens da escala apresentaram segurança em sua mensuração.

Os diversos critérios empregados para definição do número dos fatores a serem extraídos, por exemplo, o de Kaiser, Cattell, análise paralela (Hayton e outros, 2004) indicam a solução trifatorial representada de acordo com o que se esperava teoricamente. A referida estrutura fatorial encontrada revelou-se adequada considerando os indicadores comumente tidos em conta para provar o modelo proposto, Χ2/gl, RMR, GFI, AGFI, RMSEA, CAIC e ECVI. Estes indicadores foram satisfatórios estando em intervalos que têm sido considerados como aceitáveis na literatura vigente (Byrne,1989; Kelloway, 1998).

Considerando a amostra total do estudo, foi realizada uma comparação entre os escores obtidos por homens e mulheres em cada um dos fatores da escala e na escala total, como pode ser observado na Tabela 3.

 

 

Na comparação da expectativa de futuro de homens e mulheres no que se refere às condições da sociedade, não foram observadas diferenças significativas. Entretanto, tanto em relação a expectativa de sucesso profissional e financeiro, como na expectativa de realização pessoal e na expectativa de futuro geral, as mulheres apresentaram escores significativamente superiores aos homens. Apesar dos objetivos do presente estudo serem direcionados para a construção e validação da escala, os resultados obtidos podem ser explicados em função das ações que vêm sendo desenvolvidas visando o empoderamento das mulheres (Steil, 1997; Souza & Ferreira, 2003), as quais têm obtido crescente êxito na diminuição da distância social entre os sexos.

Para Shiinyashiki (2006) a participação da mulher em cargos de maior destaque vem passo a passo se tornando uma realidade em muitas empresas. Assim, as mulheres estão cada vez mais assumindo cargos estratégicos, tendo maior acesso ao ensino superior e adotando em muitos casos a estratégia de postergar a maternidade em função do objetivo de ascenção profissional. Tais fatores podem explicar os resultados aqui obtidos.

Outra comparação realizada foi em função do estado civil, considerandose apenas o grupo de solteiros e casados, uma vez que os demais casos foram classificados no estudo como outros.

 

 

Em todos os casos, indivíduos solteiros apresentaram escores significativamente superiores aos casados em relação ao sucesso profissional e financeiro. Tal resultado pode ser explicado por pelo menos dois aspectos, que valem à pena serem discutidos. O primeiro diz respeito à menor idade dos participantes solteiros em comparação com os casados. De fato, em termos de mercado de trabalho, as grandes chances são ainda disponibilizadas àqueles indivíduos que ainda estão buscando seu lugar no mercado. Outro fator relevante é que após constituir família o indivíduo inclui outros elementos em suas decisões profissionais. Assim, menos riscos passam a ser seguidos. Nesse sentido, justificase pensar a expectativa de futuro diferenciada para adolescentes e jovens adultos, apesar da existência de expectativas por toda a vida (Nurmi, 2005; Seginer, 2009).

Em relação às condições da sociedade, observou-se um fenômeno inverso. Indivíduos casados apresentaram escores significativamente superiores quando comprados aos solteiros. A expectativa de uma sociedade melhor no futuro também vem sendo evidenciada pelos indivíduos com maior idade. A idade também tem sido utilizada para explicar uma maior conformidade social (Merton, 1968) e um menor índice de anomia social, desconfiança, pessimismo e descontentamento (Li, Atteslander, Tanur e Wang, 1999) por parte de pessoas com maior idade. Tal resultado se justifica uma vez que as possibilidades de identificar mudanças na sociedade vão naturalmente diminuindo com o tempo, já que o indivíduo passa a ter sua expectativa de vida também diminuída (Lavi e Solomon, 2005). E como a expectativa de futuro envolve diversos aspectos da vida do indivíduo (Catalano e outros, 2004; McWhirter & McWhiter, 2008), algumas mudanças vão sendo identificadas como menos prováveis.

 

Conclusão

A forma final da escala de expectativa de futuro foi composta por 18 itens, distribuídos por três fatores (Sucesso Profissional e Financeiro; Condições da Sociedade e Realização Pessoal), cada um com seis itens. O instrumento apresentou características psicométricas adequadas no que se refere à validade de construto, o que o recomenda para utilização em estudos com amostras brasileiras em diferentes contextos, buscando investigar a forma pela qual a expectativa que as pessoas têm sobre o futuro tem influência sobre o comportamento atual. Entretanto, maiores investigações devem ser realizadas buscando explicar melhor o papel de variáveis como idade, estado civil, entre outras, se relacionam à expectativa de futuro, inclusive utilizando técnicas de análise de dados que permitam identificar o papel isolado e combinado de tais variáveis para a expectativa de futuro.

Apesar do instrumento se destinar à mensuração da expectativa de futuro de maneira global e a partir dos três fatores que a compõem (sucesso profissional e financeiro, condições da sociedade e realização pessoal), existe a possibilidade de novos fatores venham a ser considerados em estudos futuros, tendo em vista o caráter multifatorial do constructo.

O próximo passo em relação à Escala de Expectativa de Futuro é a avaliação de sua validade externa, principalmente em dois contextos principais que têm sido de interesse para os autores: na educação e nas organizações. Apesar de diversos estudos já terem sido realizados no contexto educacional, associando a expectativa de futuro com diversas variáveis, como a dedicação do aluno na escola, o desenvolvimento do instrumento proposto neste estudo favorecerá análises mais aprofundadas. O conhecimento da expectativa que o indivíduo tem em relação ao seu futuro parece ser uma variável importante a ser considerada por parte de profissionais da educação.

No contexto organizacional, não foram encontrados estudos que pudessem dar suporte empírico à hipótese de que a expectativa que o trabalhador tem sobre seu futuro influencia o comportamento que o mesmo tem na organização. Entretanto, a revisão da literatura sugere que a expectativa de futuro deve ser incluída no rol de variáveis capazes de influenciar o comportamento humano nas organizações, afetando diretamente variáveis como comprometimento, cidadania e confiança nas organizações, entre outras. Em outras palavras, o contexto organizacional não se diferencia de qualquer outro no que se refere à previsão que o indivíduo faz sobre os acontecimentos no ambiente no qual está inserido.

Considera-se assim que a expectativa de futuro seja uma variável importante a ser considerada, sobretudo em estudos que tenham um enfoque voltado para a análise da influência do ambiente sobre o comportamento de indivíduos e grupos.

 

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Recebido: 07/08/2013
Corrigido: 19/08/2013
Enviado a Parecerista: 21/08/2013
Aceito: 20/09/2013.

 

 

1 Doutor em Psicologia. Professor Associado do Departamento de Psicologia e do Mestrado em psicologia, na UFRRJ. Contato: Marcos Aguiar de Souza – Instituto de Educação - Departamento de Psicologia– Br 465 – Km 7 – Centro, CEP: 23890-000, Seropédica, RJ – Brasil. Tel. (21) 2682- 1841. E-mail: marcos.aguiar@pq.cnpq.br
2 Doutorando do CPDA – UFRRJ - Programa de Pós Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento Agricultura. Contato: Rua Ivo Borges, 733, Ap.104 - Recreio dos Bandeirantes, CEP:22790-440, Rio de Janeiro, RJ –Brasil. Tel. (21) 26821841. E-mail: paulo@brixpace.com.br
3 Doutorando do CPDA – UFRRJ - Programa de Pós Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento Agricultura. Contato: Rua General Renato Paquet, 199, 401 / bloco 02. - Barra da Tijuca, CEP 22793-060, Rio de Janeiro, RJ –Brasil. Tel. (21) 26821841. E-mail: andre@brixpace.com.br
4 Doutor em Psicologia Social ; Professor no curso de Psicologia na Faculdade Mauricio de Nassau - PB. Contato: Av. Presidente Epitáfio Pessoa, 67 Bairro dos Estados, CEP: 58040-220, João Pessoa, PB.– Brasil. E-mail: nsformiga@yahoo.com

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