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Boletim - Academia Paulista de Psicologia

 ISSN 1415-711X

     

 

I. TEORIAS, PESQUISAS E ESTUDOS DE CASO

 

Representações sociais do idoso e do envelhecimento em estudantes de psicologia

 

Social representations of elderly and aging in psychology students

 

Representaciones sociales de estudiantes de psicología sobre las personas de la tercera edad y el envejecer

 

 

Tamires Folco Lopes1; Paulo Sérgio de Oliveira Júnior2; Sueli dos Santos Vitorino3; Geovana Mellisa Castrezana Anacleto4

 

 


RESUMO

A presente pesquisa teve por objetivo geral investigar representação social do idoso e do envelhecimento de alunos de Psicologia de uma Universidade do Alto Tietê. Sendo definidos como objetivos específicos: 1) levantar a qualidade de vida dos estudantes; 2) identificar as representações sociais sobre envelhecimento pelos estudantes; 3) comparar se há diferenças nas representações dos estudantes, de acordo com o ano em que estejam cursando; 4) identificar as expectativas no trabalho com pacientes idosos.  Este estudo é de caráter empírico descritivo que foi realizado com 50 estudantes de Psicologia de uma universidade privada do Alto Tietê, a partir de: entrevista (perguntas abertas e fechadas) sobre o tema, questionário de qualidade de vida (QV) WHOQOL-BREF, e desenho-estória com tema (D-E). Os dados coletados foram tratados quantitativa e qualitativamente. Os resultados mostram estudantes, majoritariamente, entre 21 e 30 anos, do sexo feminino, com um nível autorrelatado como satisfatório de QV, avós vivos, que considera, para 2025, a predominância de uma população idosa. Quanto à análise projetiva do (D-E), houve congruência entre 'desenho e estória' e 'título e estória', e não ocorreu entre 'desenho e título'. Em relação à análise das categorias na cena há "pessoa", que faz uso de "bengala" e "móveis". Discute-se que seja uma representação de idosos como reflexo de uma sociedade em transformação, ou seja, um idoso visto como mais novo e ativo socialmente. Conclui-se sugerindo novas pesquisas sobre IC e idoso, uma vez que há uma lacuna nessa área temática.

Palavras chaves: qualidade de vida; idoso; psicologia; representação social


ABSTRACT

This research aimed to investigate the social representation of the elderly and aging in psychology students of a University in Alto Tietê. Specific objectives were defined: 1) raise the quality of life of students; 2) identify the social representations about the elderly by the students; 3) compare whether there are differences in student representations according to the year they are attending; 4) identify expectations in working with elderly patients. This is a descriptive empirical study that was conducted with 50 psychology students from a private University in Alto Tietê, comprising: interviews (open and closed questions) on the subject, WHOQOL-BREF quality of life questionnaire (QOL), and thematic drawing-story (DS). The data collected were quantitative and qualitatively handled. The results present students, mostly between 21 and 30 years old, female, with a self-reported level of satisfactory QOL, with living grandparents, who consider, until 2025, the predominance of an elderly population. As for the projective analysis of the DS, there was a congruence between "drawing and story" and "title and story", which did not occur between "drawing and title". Regarding the category analysis in the scene, there is "person" who makes use of "cane" and "furniture". It is argued that this is a representation of the elderly as a reflection of a changing society, that is, an elderly seen as younger and socially active. It is concluded that the suggestion of new research on HF and the elderly, as there is a gap in this thematic area.

Keywords: quality of life; elderly; psychology; social representation


RESUMEN

Esta investigación tuvo como objetivo investigar las representaciones sociales de los estudiantes de psicología sobre las personas de la tercera edad y el envejecer. Definimos como objetivos específicos: 1) elevar la calidad de vida de los estudiantes; 2) identificar las representaciones sociales sobre el envejecer de los estudiantes; 3) comparar si hay diferencias en las representaciones de los estudiantes, según el año que están cursando; 4) identificar expectativas en el trabajo con pacientes de edad avanzada. Este es un estudio empírico descriptivo que se realizó con 50 estudiantes de psicología de una universidad privada en Alto Tietê, se aplicaron entrevistas (preguntas abiertas y cerradas) sobre el tema, un cuestionario de calidad de vida (CV) de WHOQOL-BREF, y dibujo-historia temática (DE). Los datos recopilados fueron tratados cuantitativa y cualitativamente. Los resultados muestran principalmente que los estudiantes de sexo femenino, entre 21 y 30 años, con un nivel de calidad de vida satisfactorio autoinformado, abuelos vivos, consideran para 2025 el predominio de una población de edad avanzada. En cuanto al análisis proyectivo de (D-E), hubo congruencia entre 'dibujo e historia' y 'título e historia', y no entre 'dibujo y título'. En cuanto al análisis de las categorías en la escena hay "persona", que hace uso de "bastón" y "muebles". Se argumenta que es una representación de los ancianos como un reflejo de una sociedad cambiante, es decir, un anciano visto como más joven y socialmente activo. Se concluye sugiriendo la realización de nuevas investigaciones sobre la insuficiencia cardíaca y las personas de la tercera edad, ya que hay una brecha en esta área de investigación.

Palabras clave: calidad de vida; personas de la tercera edad, psicología, representación social


 

 

Introdução

Para a OMS (2015), a dificuldade em responder de forma abrangente ao envelhecimento da população se dá devido às concepções serem baseadas em estereótipos obsoletos, em que a visão do idoso era oposta à visão moderna que conceitua a velhice como um período com perdas e ganhos (Neri, 2005). Caldas e Thomas (2010) reforçam que o idoso, por muito tempo, teve seu valor e era visto como alguém que contribuía e tinha seu lugar assegurado perante a sociedade e a família, cabendo a ele passar as histórias, lembranças e memórias adiante. Entretanto, esta imagem que se tinha sobre o idoso sofreu mudanças drásticas, agregando a eles uma imagem ultrajante, sendo que tal fato ocorreu devido à ascensão do capitalismo em nossa sociedade, em que o foco do comércio passou a ser o jovem produtivo. Atualmente, no Brasil, conforme o Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003), é considerada idosa a pessoa que tiver idade igual ou superior a 60 anos. Gutz (2013) aponta que, em 2025, a população brasileira de idosos aumentará consideravelmente, tornando-se a sexta maior população do mundo com aproximadamente 32 milhões de idosos. A população idosa adquiriu enorme importância e é recorrente nos meios acadêmicos, em particular, na área da saúde, com a adoção do termo Gerontologia, isto é, "campo multi e interdisciplinar que visa à descrição e à explicação das mudanças típicas do processo do envelhecimento e de seus determinantes genético-biológicos, psicológicos e socioculturais". (Neri, 2005, p. 95).

Wuo (2008) aponta que o envelhecimento é um processo vivido por todos, que se inicia desde o nascimento e estende-se ao longo do curso de vida. Entretanto, a sociedade escolheu um determinado período da vida para denominar como velhice, atribuindo a ele aspectos negativos, como doenças, finitude da vida. Com isso, tende-se a atribuir concepções pré-estabelecidas sobre a velhice: "na velhice encontramos pessoas tipicamente indispostas, ranzinzas ou chatas, enquanto que na juventude vigora a imagem de plena disposição para atividades, simpatia e bom humor" (Wuo, 2008, p.05). Neri (2005) faz uma distinção entre os termos idosos, velhice e envelhecimento, em que "idoso", segundo a autora, pode ser considerado como um indivíduo ou uma população; "velhice" é considerada pela mesma autora como a última fase do ciclo vital, marcada por perdas e restrições; já "envelhecimento" é um processo universal condicionado geneticamente para cada sujeito. Esta pesquisa optou por ancorar o estudo à teoria das representações sociais de Serge Moscovici, a qual considera que a construção de um saber de senso comum é o resultado das interações sociais partilhadas por um determinado grupo social. Esse conhecimento socialmente construído e organizado tem como finalidade apreender aquilo que atrai esse grupo, tornando o homem um ser produtor e, ao mesmo tempo, produto da realidade social (Ribeiro, Coutinho & Nascimento, 2010). Os mesmos autores completam que, resultado de uma atividade mental, a representação social tem por função transformar em comum e conhecido, aquilo que não é, reconstituindo o real que, inicialmente, se mostra como um fator de confronto. Sua elaboração ocorre ao longo de toda existência humana, conferindo-lhe um caráter de permanência, sendo o somatório de representações singulares, consequência da vivência individual, que possui um caráter de diversidade (Ribeiro, Coutinho & Nascimento, 2010).

Com cada representação, são elaborados objetivos e procedimentos específicos, a partir do funcionamento cognitivo do grupo. Porém, a representação social é o processo em que se estabelece uma relação entre o mundo e as coisas. Ainda para esse autor, por possuir duas faces indissociáveis, a figurativa e a simbólica, a representação interfere na produção de comportamentos (Sêga, 2000). Sendo um conceito que transita entre pressupostos epistemológicos e o conhecimento prático, a perspectiva adotada para a compreensão da representação social situa essa última como fonte de significados, capaz de atuar efetivamente na criação da realidade social (Spink, 1993). Dessa forma, linguagem e ação não estão separadas, razão pela qual alguns estudiosos preferem substituir o termo "representação social" por "práticas discursivas" (Spink, 1993), ou imaginário coletivo (Trinca, 2013). Relacionando a representação social com a Psicologia, tem-se como resultado uma reflexão quanto à atuação do social na elaboração psicológica constituinte da representação social, bem como o modo como se dá a intervenção da elaboração psicológica no social (Sêga, 2000).

O uso de instrumento projetivo, como o desenho, em investigações científicas, fornece ótimas condições para a projeção da personalidade, ocasionando a revelação de aspectos de que o sujeito não tem conhecimento, além daqueles que não quer ou pode revelar. São aspectos mais profundos e inconscientes, dado o fato que o desenho é um meio de comunicação não verbal que pode fornecer projeções menos controladas consciente pelo sujeito o qual, habitualmente, é pouco usado, quando comparado com a linguagem verbal. Além do aparecimento de mecanismos projetivos no desenho, outros mecanismos, como a identificação e introjeção, podem ocasionalmente apresentar-se. Importantes mecanismos também se apresentam por meio do desenho, tais como a expressão e a adaptação. Sob a ótica da adaptação, um desenho é analisado em relação à tarefa que foi solicitada ao sujeito. Quanto à adequação, sob a ótica da expressão, é analisada a resposta simbólica dada pelo sujeito e exteriorizada por meio dos atributos gráficos que dizem respeito à forma do desenho. Em relação ao caráter projetivo, são verificados o conteúdo e a maneira, por meio das qualidades conferidas a situações ou objetos e como foi abordado o tema. "Essas abordagens se interpenetram e se completam, assumindo cada uma delas papel mais preponderante conforme asituação em que o desenho foi colhido ou executado e a motivação que o determinou". (Kolck, 2001, p. 2). A interdependência entre sujeito e ambiente pode repercutir nas representações sociais, podendo sofrer influência da (e igualmente influenciar) a qualidade de vida do sujeito. Para Lima (2014), o termo "qualidade de vida" (QV) evoluiu ao longo dos anos, adotando-se a definição proposta pela Organização Mundial da Saúde, qual seja, "a percepção do indivíduo sobre a sua posição na vida, no contexto da cultura e dos sistemas de valores nos quais ele vive, e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações" (Who, 1994, como citado em Lima, 2014, p. 13). A autora reflete acerca dessa definição, relacionando diretamente com o grau de satisfação do indivíduo na vida em todos os seus aspectos. Há, portanto, elementos subjetivos e multidimensionais em seu campo de atuação. Os primeiros dizem respeito à percepção individual sobre, por exemplo, o estado de saúde, ao passo que os elementos multidimensionais referem-se à identificação de dimensões que aparecem comumente em avaliações da qualidade de vida, como percepção da saúde, bem-estar físico, mental e psicológico, aspectos sociais e ambientais (Lima, 2014).

De acordo com Vitorino (2012), a OMS (Organização Mundial de Saúde) é a maior potência na produção de estudos voltados para a qualidade de vida (QV), tendo criado um grupo de estudos denominado WHOQOL (World Health Organization Quality of Life), com a finalidade de elaborar uma definição universal de QV, que atendesse as características das populações e culturas estudadas em todo o mundo.  Partindo dos pressupostos anteriormente expostos, pode-se considerar a hipótese de que os estudantes de Psicologia possuam representações sociais que foram estabelecidas durante a sua trajetória de vida. Considerando-se que a qualidade de vida e o inconsciente podem, também, influenciar nessas representações, supondo que o idoso e o processo de envelhecimento instaurem e atribuam valores positivos e negativos divergentes, refletindo, dessa maneira, em como estudantes de Psicologia pretendem realizar o atendimento de pacientes idosos. A pesquisa teve por objetivo geral investigar representação social do idoso e do envelhecimento de alunos de Psicologia de uma Universidade do Alto Tietê. Sendo definidos como objetivos específicos: levantar a qualidade de vida dos estudantes, identificar as representações sociais sobre envelhecimento pelos estudantes, comparar se há diferenças nas representações dos estudantes, de acordo com o ano em que estejam cursando e identificar as expectativas no trabalho com pacientes idosos.

 

Método

Delineamento

Esta Pesquisa é de campo, de levantamento, do tipo descritiva, de corte transversal e com amostra intencional (Campos, 2001; Prodanov e Freitas, 2013).

 

Participantes

Participaram desta pesquisa 50 estudantes de Psicologia de uma universidade particular do Alto Tietê, sendo 10 participantes por seriação anual (primeiro, segundo, terceiro, quarto e quinto anos). A amostra foi considerada não probabilística, sendo constituída de forma aleatória.

 

Material

Aspectos éticos

Fizeram parte dos materiais éticos, o Parecer do Comitê de Ética e Pesquisa que autorizou a pesquisa, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (apêndice 1), que notificou aos participantes a garantia de absoluto anonimato e sigilo das respostas obtidas durante e após a pesquisa, sendo utilizados somente para fins científicos, e cuja participação foi de forma voluntária; o Termo de Autorização da Instituição (apêndice 2), em que a instituição autorizou a realização da pesquisa por meio da assinatura por parte da responsável pela mesma.

 

Instrumentos

Fizeram parte dos instrumentos utilizados na pesquisa: 1) roteiro de entrevista (apêndice 3), com 15 perguntas abertas e fechadas relacionadas ao tema da pesquisa. 2) questionário de qualidade de vida da OMS "WHOQOL – BREF" (anexo 1), com a finalidade de avaliar a percepção subjetiva da qualidade de vida, que consistiu em 26 itens da escala Likert, que medem os domínios físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente. 3) Desenho- Estória com Tema (Trinca, 2013): é um instrumento projetivo, gráfico, escolhido pela vantagem de ser um instrumento de rápida aplicação e com um custo reduzido, validado para população brasileira.

 

Procedimento

Este projeto de pesquisa seguiu as normas estabelecidas pelas Resoluções 466/2012 e 510/2016, e a coleta de dados teve início após aprovação do Comitê de Ética em pesquisa sob o nº CAAE 70027017.3.0000.5497.

No projeto inicial, intencionou-se fazer a coleta de dados em duas etapas, durante o período de pré-aula (das 18h às 19h), em que, na primeira etapa, seria aplicado o desenho – estória com tema sem inventário, com duração aproximada de 15 min, e, na segunda etapa, seria aplicado o WHOQOL – BREF, de forma auto aplicada, e a entrevista aconteceria de forma individualizada, em que os pesquisadores transcreveriam as respostas dadas pelos participantes da pesquisa.  Entretanto, no decorrer da pesquisa foi constatado que a melhor forma de aplicação dos instrumentos seria de maneira coletiva, em sala de aula, no horário de aula previamente estabelecido com o professor. Dessa forma, foi entregue aos alunos que desejassem participar um kit contendo uma folha A4, o WHOQOL – BREF e o questionário da pesquisa. Optou-se por iniciar a coleta de dados pela aplicação do desenho – estória com tema, na qual os participantes desenharam um idoso, após o término do desenho, os mesmos escreveram uma estória sobre o mesmo tema, com começo meio e fim, no verso da folha de desenho e, por último, foi solicitado a todos que dessem um título para a estória escrita. Posteriormente, os participantes responderam ao WHOQOL – BREF e, por último, o questionário da pesquisa. A aplicação teve duração aproximada de 40 minutos.

 

Plano de análise de dados

Foi realizada uma análise mista (quantitativa e qualitativa) dos dados coletados, sendo aplicada ao WHOQOL a estatística descritiva com apresentação de média e mediana, e nas demais categorizações é apresentado no formato de tabelas com frequência e porcentagens. Quanto à análise qualitativa, as variáveis são advindas da entrevista e do desenho-estória com tema, na qual foi utilizado o método de análise de conteúdo temático de Bardin (2016). Os temas dos desenhos, bem como as histórias e seus respectivos títulos, foram categorizados por dois juízes independentes e, não havendo consenso em alguns dos temas, foi consultado um terceiro juiz, com a intencionalidade de que houvesse isenção na categorização final dos mesmos. Para montar o banco de dados e as análises estatísticas, foi usado o Microsoft Excel (Pacote Office 2013).

 

Resultados e discussões

Esta pesquisa buscou investigar quais são as representações sociais que estudantes de Psicologia têm sobre o idoso e o envelhecimento. O interesse por este estudo surgiu quando se verificou, por meio de pesquisas, a precariedade de estudos voltados para as representações sociais de estudantes de Psicologia sobre os temas envelhecimento e idoso, os quais serão seus clientes/pacientes em potencial, no futuro. Os resultados aqui apresentados referem-se às informações coletadas e tratadas de modo a permitir a construção da categorização da população amostra (tabela 1).

 

 

A amostra foi composta, majoritariamente, por pessoas com idade entre 21 e 30 anos (60%) que, comparando com a literatura, está de acordo com o perfil de estudantes de psicologia, como Leite, Andreatta, Durães, Cozza e Cruces (2011) encontrou em seu estudo, cujo objetivo era caracterizar a expectativa do psicólogo no mercado de trabalho, demonstrou que 94% dos participantes tinham idades entre 21 e 35 anos.

Com relação ao sexo dos participantes, 82 % foi constituída pelo sexo feminino. Pode-se dizer que as informações obtidas estão análogas aos dados encontrados no estudo apresentado por Wuo (2008), cuja pesquisa serviu de base para este estudo, na sua população amostra de pesquisa houve predominância do público feminino. O estudo realizado por Fernandes, Miyazaki e Silvares (2015), com objetivo de aprofundar o conhecimento sobre a formação do psicólogo, na qual contou com a participação de 21 supervisores e 21 aprimorandos, sendo que 18 supervisores e 16 aprimorandos eram do sexo feminino. No artigo escrito por Yamamoto, Falcão e Seixas (2011), cujo objetivo era articular sobre a elitização do curso de Psicologia, usando como dados de análise as informações do questionário sociodemográfico dos alunos que prestaram a prova do ENADE no ano de 2006, 84% da população amostra foi constituída pelo público feminino, e, no trabalho realizado por Leite et al. (2011), também demonstrou que 17 dos 20 participantes era do sexo feminino. O que nos faz pensar o porquê de a adesão ao curso de psicologia ser composto, em sua maioria, por mulheres.

Quanto ao contato com os avós, 68% das pessoas disseram ter avós ainda vivos e, desta população, 58% pessoas tem contato com os mesmos. Wuo (2008) demonstrou que 74,6% dos participantes tinham contato com pessoas idosas, sendo este contato proveniente do ambiente familiar, o que nos leva a pensar que o curso de Psicologia poderia facilitar ainda mais o contato destes futuros profissionais com as demandas provenientes da população idosa, para que este conhecimento seja expandido para além das dinâmicas familiares. No que se refere a pergunta sobre a população atual e a estimativa da população para 2025 (tabela 2), 48% das pessoas responderam que a população atual é composta por adultos, demonstrando bom conhecimento geral e, conforme a literatura, estando em consonância com o estudo realizado por Wuo (2008), no qual foi observado que a maioria dos participantes da pesquisa também responderam ser essa a maior faixa etária da população brasileira.

 

 

Sobre a população para 2025, mais de três quartos das pessoas (78%) acreditam que a maior população serão de idosos, o que vai de encontro ao que é aludido por Gutz (2013) na qual sinaliza que a população idosa entre os anos de 1950 a 2025 terá um aumento de 15 vezes maior, enquanto que a população total aumentará apenas 5 vezes mais, atingindo um total de 32 milhões de idosos, tal estatística corrobora o envelhecimento da população brasileira como um fato. Nós, como futuros profissionais de Psicologia, não podemos nos esquivar, sendo um tema a ser pensado em imediato e colocado em prática, pressupondo o engajamento das entidades fomentadoras do conhecimento para propiciar espaços reflexivos acerca do envelhecimento, capacitando, dessa forma, cada vez mais profissionais a lidarem com estas questões, já que ainda há uma defasagem, tanto em pesquisas como nos profissionais que atuam nesta demanda.

A qualidade de vida total dos alunos do curso de Psicologia foi obtida por meio das respostas do WHOQOL-BREF, que na sua mensuração não apresenta linhas de corte, mas considera baixos scores (mais próximo de 0) como baixa QV e altos scores (mais próximo de 100) como alta QV. A amostra desta pesquisa foi separada, para melhor análise, de acordo com o ano que os alunos estavam cursando, sendo demonstradas na tabela 3 abaixo.

 

 

Pode-se dizer que, apesar da pequena variação entre as médias e medianas de acordo como ano do curso, a qualidade de vida dos alunos tem-se mostrado satisfatória. Na literatura diferentemente do encontrado, Silva e Heleno (2012), em seu estudo, trazem que não existe um consenso certo de qual valor indica um nível satisfatório ou insatisfatório da qualidade de vida, entretanto, sua pesquisa revela que os alunos participantes de seu estudo apresentaram baixa qualidade de vida em que o índice geral obtido foi de 15. Na avaliação projetiva (tabela 4), ou seja, do desenho, quando comparada a congruência entre o desenho e estória, que foi o segundo item a ser solicitado para que a população amostra realizasse, em 54% dos casos houve congruência. Se comparado título e estória, 78% dos desenhos são congruentes e, na comparação entre desenho e título, ou seja, o primeiro e o último itens a serem solicitados para ser feito pela amostra, revela que 66% dos desenhos não demonstrou congruência. Esse resultado está dentro do esperado.

 

 

Para obtenção das representações sociais, os desenhos foram analisados a partir da técnica da análise de conteúdo de Bardin (2016). Tanto nos aspectos formais quanto os de conteúdo foram verificados por dois juízes, sendo um terceiro juiz convidado, quando não havia consenso entre as cinco categorias avaliadas: (1) elementos primários, (2) secundário, (3) da natureza, (4 e 5) tema geral do título e da história.

Quando analisado o desenho feito pela amostra da pesquisa, verificou-se que 70% das pessoas representam o idoso através da figura 'pessoa' no desenho, no entanto, um fator que chama a atenção é se o idoso está diretamente relacionado com o fato de ser um representante de uma 3ª geração, correspondendo a de avós. Ou seja, há uma relação direta ser idoso(a) e ser avô(ó)? Talvez esse conflito tenha refletido na elaboração de desenhos de pessoas mais joviais do que o esperado. Lopes e Park (2007), em um estudo sobre a representação social de idoso e envelhecimento em crianças, afirmam que há, atualmente, uma coexistência de imagens, em que são apresentados nuances de idosos, entre aqueles acometidos por doenças típicas da velhice, e aqueles que participam ativamente, na terceira idade. Esse fenômeno é muito comum, segundo os autores, visto que as representações sociais possuem um caráter dinâmico, passíveis de mudança, conforme a sociedade e sua busca em compreender o que, aparentemente, não faz sentido e gera conflito (Lopes & Park, 2007). Ainda acerca dos desenhos de pessoas joviais, Santos (2002), partindo dos estudos da psicologia social, considera que o idoso é uma categoria construída socialmente, institucionalizada, cujas características, dentre outras, seriam o senso de inutilidade e ausência do convívio social e, consequentemente, de autonomia. Contudo, a análise desses desenhos pode supor que o idoso, no papel de avô ou avó, ainda se encontra num papel ativo, possuindo profissão, compromissos sociais e financeiros. Esses desenhos levam a refletir que a pouca idade dos avós cria uma nova representação de idosos, mais jovens que a faixa etária prevista por órgãos como a OMS para eles, porém, são a referência que os participantes possuem. Dessa forma, "idoso" e "pessoa mais velha da família" seriam correspondentes. Schneider e Irigaray (2008) também apontam que, além da idade cronológica, há as idades biológica, social e psicológica.

Quanto à idade social, em virtude dos papéis sociais dos indivíduos em sociedade, podem-se considerar as pessoas em atividade como adultas e não idosas, visto que não se retiraram do mercado de trabalho (Schneider & Irigaray, 2008).

Os elementos primários da cena que mais apareceram (25 vezes ou 50%) foram os idosos, e os elementos secundários que mais apareceram (14 vezes ou 23%) foram a bengala e os móveis (tabela 5). Na literatura, Veloz, Nascimento-Schulze e Camargo (1999), em estudo de tema semelhante, aponta três tipos de representação social: uma diretamente relacionada à perda de laços familiares e de identidade física, à perda da capacidade de trabalho e a um desgaste natural. Na pesquisa realizada com estudantes de Psicologia, há a coexistência dos três tipos, prevalecendo, porém, o terceiro tipo. A imagem do idoso está associada a um estado de paralisação, com uma dinâmica pouco diversificada, cabendo a atividades como ir ao mercado, cozinhar para os filhos, passeio a praças e algumas viagens. O idoso já não tem relação ao profissional ativo que é demonstrado pelo adulto. A interação familiar é uma das formas de lazer, ao mesmo tempo em que é recorrente o idoso solitário e triste. Percebe-se que há uma redução de formas de socialização, quer pela diminuição das atividades sociais, quer pela maior presença do idoso em ambientes nos quais ainda consegue locomover-se com certo amparo, como o ambiente familiar. A dependência é um conceito diretamente relacionado ao envelhecimento, em particular, aos idosos com problemas patológicos (Caldas, 2003). Segundo a autora, são poucas as ocorrências em que se nota uma dependência financeira, e à família cabe o cuidado informal, visto que não é feito diretamente por um profissional da saúde (Caldas, 2003). Já Ramos (2003) considera que o arranjo familiar depende do nível socioeconômico do idoso, sendo que níveis mais altos demonstram que vivem sozinhos ou com o cônjuge, ao passo que, em níveis socioeconômicos baixos, há maior predominância de membros de diferentes gerações num mesmo espaço familiar.

 

 

 

 

 

 

Um aspecto recorrente, tanto no Título (22%), quanto na Estória (22%) é o fato de o elemento "História de Vida" estar associado ao idoso. Sua representação, portanto, está diretamente relacionada à experiência de vida. Comparando com a literatura, Wachelke (2009), em um estudo com estudantes de Medicina sobre envelhecimento, apontou grande recorrência de termos ligados à categoria "Experiência e sabedoria", ou seja, "envelhecimento é um processo em que fundamentalmente a pessoa possui conhecimentos acumulados ao longo da vida, que se traduzem em maior sabedoria, e que é marcado pelo convívio familiar e cuidados e busca pela saúde" (Wachelke, 2009, p. 107), levando a considerar uma categoria central, no estudo citado.

Paralelamente a isso, o elemento "Sentimentos", na estória, também é muito frequente (10%), enfatizando-se seu aspecto emocional. Por outro lado, tanto "Rotina" quanto "Atividade física" obtiveram 12%. Nota-se uma associação do idoso a uma inércia, o que é corroborado com a presença de elementos secundários, como móveis, bengalas, acessórios pessoais. A presença de tais elementos também foi destacada no estudo de Lopes e Park (2007), em que crianças, cuja representação social baseia-se em sua realidade imediata, associam aparência ao envelhecimento, bem como limitações físicas ocasionadas por doenças, ou seja, ainda prevalece a imagem de envelhecimento como período de perdas e adoecimento (Lopes & Park, 2007). Schneider e Irigaray (2008) também afirmam que, predominantemente, o envelhecimento associa-se a uma fase de degerescência do corpo. Quando comparados os dados desta pesquisa com os dados obtidos pela pesquisa de Simões, Ferreira-Teixeira e Aiello-Vaisberg (2014, p. 73), cuja amostra era composta por diversos profissionais da saúde mental "reconhece a velhice como triste e solitária", fica evidente que é necessário mudar a representação que o aluno tem acerca do idoso e do envelhecimento, para que este, no futuro, possa atuar na profissão de maneira diferente a que vemos hoje, em que se dá mais ênfase ao negativo do processo do que as possibilidades ainda emergentes

Com base na explanação acima referida, deparamo-nos com a expectativa de trabalho em relação à população idosa, que se faz presente, em sua maioria, independentemente do semestre em que esteja cursando (tabela 8). Dos 10 participantes do Primeiro Ano, oito (80%) trabalhariam com idosos. No segundo ano, 4 (40%); no terceiro, 5 participantes (50%); no quarto ano, 4 participantes (40%); no quinto ano, 6 participantes (60%) responderam afirmativamente quanto à atuação perante a população idosa. Acredita-se que há, nas respostas dos participantes, uma influência da aplicação total dos instrumentos de pesquisa, uma vez que, ao longo dos anos de curso, ora aumenta ora diminui a adesão do futuro profissional em atuar com a população idosa, sem apresentar, porém, uma diferença significativa. Verificando que a instituição oferece a disciplina de Psicogerontologia somente no nono semestre, esse dado corrobora nossa hipótese inicial. Comparando o resultado com a teoria psicodinâmica, encontramos em Freud a base teórica que serve de continente para a pesquisa, Gomes (2003), em um estudo sobre os mecanismos de defesa em processo de psicoterapia analítica em adultos, bem como a aliança terapêutica entre o profissional psicólogo e seu paciente, revela que a intelectualização é um dos mecanismos de defesa considerados intermediários, pois há, nesse grupo de mecanismos, uma leve distorção da imagem, acompanhada da negação. Segundo o autor, esse funcionamento defensivo retira do nível da consciência sentimentos, desejos, ideias e etc, potencialmente ameaçadores, de forma a regular a autoestima (Gomes, 2003).

 

 

Retomando aos dados da tabela 8, acredita-se que, por se tratar de uma pesquisa acadêmica, dentro da própria instituição que forma profissionais de psicologia, é também uma preocupação dos participantes a formação da postura do profissional, o que está relacionada à adoção de temas relevantes e valorizados dentro desse campo profissional, como direitos humanos, redução da desigualdade social, bem-estar e qualidade de vida etc, do qual a população idosa faz parte. Nesse sentido ao ser perguntado aos participantes se eles trabalhariam com idosos, ao se formar, a maioria respondeu positivamente, sendo maior as assertivas no primeiro ano do curso, o que, por inferência, pode significar que a nova geração de estudantes já vem mais disposta a lidar com essa faixa etária ou, ainda, que o desejo de trabalhar com esse público se mantém ao longo da formação.

Os dados coletados revelaram (tabela 9), que os participantes, nos dois primeiros anos de curso acreditam ser necessário ter mais paciência (40%) para atender um paciente idoso, e do terceiro ao quinto ano revela que o acolhimento (40-50-60% respectivamente) é o mais importante no atendimento da população idosa, ambas as ferramentas citadas pelos alunos, são base para um bom atendimento psicológico seja ele da população independente da sua faixa etária. Em um estudo realizado por Witt, Carvalho, Rodrigues e Santos (2014) para analisar as competências profissionais necessárias para o atendimento de idosos, revelou que a comunicação entre profissional e paciente é um fator de extrema valia, na qual na frase "demonstrar disposição e paciência para escutar o idoso" (Witt et al., 2014, p. 1022) tem os elementos paciência e acolhimento implícitos.

 

 

A pesquisa teve como relevância científica e social a preocupação, enquanto formação dos futuros psicólogos, frente ao crescente fenômeno do aumento da população idosa no Brasil. Muitos são os estudos realizados diretamente com idosos, e pouco se tem pesquisado em relação aos estudantes de Psicologia que atenderão a esta demanda. Esta pesquisa almejou promover uma discussão, contribuindo para a ampliação dos horizontes de atuação desses futuros profissionais, visando melhorias na formação dos estudantes. Visou, também, propiciar, para as instituições de ensino, um parâmetro de compreensão acerca da visão dos alunos sobre o envelhecimento e o idoso, contribuindo assim para que as mesmas possam oferecer a seus alunos uma atenção maior sobre o tema na sua grade curricular de graduação. E, com isso, a população idosa terá melhor acolhimento e cuidado por parte dos profissionais de Psicologia, que estarão melhor qualificados para atender a esta demanda., com uma visão mais ampla, real e humanista, quebrando estereótipos sobre o idoso e o envelhecimento. Podem se consideradas como limitações deste estudo o que se refere ao número da amostra de pesquisa (n= 50) sendo este número composto por tipologia de amostragem não probabilístico e, também quanto ao fato de que a pesquisa foi realizada em apenas uma universidade particular do Alto Tietê, sendo assim não é possível generalizar os resultados obtidos, conforme é apontado por Leão (2016) que versa sobre esta tipologia de amostra não ser passível de generalização dos resultado obtidos pois não são garantia de certeza pelo fato de não haver representatividade.

 

Considerações finais

De acordo com os objetivos da pesquisa, este estudo investigou quais eram as representações sociais que estudantes de Psicologia tinham sobre o idoso e o envelhecimento. Constatou-se pouca ou quase nenhuma variação entre as respostas dadas de acordo com o ano do curso, mostrando-se de certo modo homogêneas, em que as representações dos alunos acerca do idoso e do envelhecimento não sofrem alterações no decorrer do curso de Psicologia. Na correlação da qualidade de vida (QV) dos alunos e as suas respectivas representações sociais, pode-se dizer que as representações obtidas não sofreram influência da variável QV. Entretanto, vemos a interferência do inconsciente no que se refere ao quesito da congruência, quando comparado o primeiro item a ser solicitado (desenho) para população amostra com o último item solicitado (título da estória), em que não há congruência entre ambos.

Com base nos resultados expostos, pode-se dizer que a hipótese inicialmente levantada foi confirmada, visto que grande parte da amostra da pesquisa possui contato com idosos em âmbito familiar, tendo interesse em trabalhar futuramente com a população idosa. Atualmente o curso de Psicologia tem focado seus estudos no desenvolvimento infantil até a fase a adulta, sendo pouco abordado aspectos inerentes ao envelhecimento 'normal' do ser humano, desta forma se faz necessário que seja de conhecimento as representações que os futuros profissionais têm sobre esta fase da vida para assim diminuir preconceitos e estereótipos acerca do idoso.  Declara-se que não houve conflito de interesse, embora os alunos fossem estudantes de psicologia, não houve contato com a população amostra.  Deste modo, sugere-se que novas pesquisas sobre esta temática de representação social sobre o idoso e o envelhecimento e com uma amostragem maior, e em outras universidades privadas e públicas sejam realizadas visto a carência que temos de pesquisas nesta vertente.

 

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Recebido: 14.02.2019 / Corrigido: 19.06.2019 / Aprovado: 07.08.2019

 

1Tamires Folco Lopes, Rua Sebastião Molinari, nº 48, Monte Sion. Suzano – SP  CEP: 08613-125, Telefone para contato: (11) 9 4826-6933, email: tamires_folco@hotmail.com. ORCID ID: https:/ ORCID ID: https:///0000-0003-4613-3004.
2Paulo Sérgio de Oliveira Júnior - Rua: Jardelina de Almeida Lopes, nº689, Bloco 1, ap. 305 – Parque Santana- Mogi das Cruzes – São Paulo CEP: 08730-660 - ORCID ID: https://orcid.org/0000-0002-2616-034X.
3Sueli dos Santos Vitorino - Rua: União, nº483, bloco 10 ap. 21 – Jardim América - Poá – São Paulo - CEP: 08555-600 - ORCID ID: https://orcid.org/0000-0003-4642-9024.
4Geovana Melissa C.Anacleto, Rua: Av. Dr. Cândido Xavier de Almeida e Souza, 200 - Prédio 2 - Vila Partenio - Mogi das Cruzes – São Paulo, CEP: 08780-911 - ORCID ID: https://orcid.org/0000-0002-6448-0985

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