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Boletim - Academia Paulista de Psicologia
versão impressa ISSN 1415-711X
Bol. - Acad. Paul. Psicol. vol.39 no.97 São Paulo jul./dez. 2019
IV. MEMÓRIA
Vida e Obra de Eurípedes Simões de Paula
Nasceu Eurípides Simões de Paula na cidade de São Paulo, a 15 de novembro de 1910, filho de Jacintho Araujo Cintra de Paula e Maria de Lourdes Carvalho Simões de Paula. Formou-se primeiramente em Direito em 1935, pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco e, posteriormente, entre 1934 a 1936, cursou a subseção de Geografia e História da recém criada Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo. Aprovado em concurso interno promovido pelo Prof. Fernand Paul Braudel, no ano de 1936, na Cadeira de História da Civilização Antiga c Medieval, disciplina que ministrara até a sua morte.
Em 1942, defende a primeira tese de doutorado em Ciências (História) da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, apresentando o trabalho denominado O comércio varegue e o Grão-Principado de Kiev.
Com a entrada do Brasil da Segunda Grande Guerra, é convocado para o serviço ativo do exército como oficial da reserva. De 1942 a 1945 faz a campanha da Itália como 1º tenente, de onde voltou com seis condecorações. Em 1945, reassume a regência da Cadeira de História da Civilização Antiga e Medieval e, em 1946, presta concurso para Prof. Catedrático desta mesma Cadeira, apresentando tese sobre o Marrocos e suas relações com a Ibéria na Antiguidade.
Dentre as muitas realizações de sua vida acadêmica, destacamos duas que nos parecem bastante significativas. A primeira, aquela da qual o Prof. Eurípides talvez mais se orgulhasse. foi a criação, em 1950, da Revista de História, da qual foi diretor durante 27 anos. A segunda realização de destaque foi a fundação da Associação dos Professores Universitários de História, destinada a congregar os professores de História, da qual também foi presidente desde a fundação até sua morte.
"Na qualidade de professor e pesquisador publicou cerca de 60 trabalhos: 3 livros e 56 estudos, ensaios e artigos, além de um número muito grande de resenhas de livros.
Como administrador, exerceu por seis gestões o cargo de Diretor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP e, por duas vezes, o cargo de Vice-Reitor. E foi na qualidade de administrador que o Prof. Eurípides muito contribuiu para a criação, no âmbito da Universidade de São Paulo, do Instituto de Psicologia.
Nos anos de 1968 e 1969, discutia-se intensamente na USP a reforma universitária. Um dos principais itens desta reforma previa a criação de Institutos, aos quais caberia a responsabilidade pelo ensino e pela pesquisa nas diferentes áreas do conhecimento. Vários Departamentos da antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras lutavam para virem a constituir-se em futuros Institutos. Em muitos casos a decisão era pacífica: não havia praticamente questionamentos de que a Física, a Biologia, a Matemática, a Educação e vários outros deveriam ter seu Instituto. Em outros casos, porém, a legitimidade das pretensões dos Departamentos era posta em dúvida, uma vez que não se pretendia criar um número muito grande de Institutos. A Psicologia estava entre esses casos, em que não havia consenso entre os reformadores quanto à necessidade de criar-se um Instituto independente para abrigar os estudiosos desta área do conhecimento. Na verdade, não havia consenso nem mesmo entre os psicólogos quanto à conveniência da criação do Instituto de Psicologia. Alguns defendiam a idéia de que a Psicologia deveria integrar o conjunto das ciências Biológicas, como um mero Departamento deste Instituto. Outros viam as ciências humanas como o lugar mais adequado para a inclusão da Psicologia. É neste momento que a contribuição do Prof. Eurípides foi fundamental. Como testemunha Pfromm Netto, em depoimento escrito especialmente para um número especial da Revista de História, como homenagem póstuma:
O prof. Eurípides compreendeu muito bem que não tinha nenhum fundamento qualquer tentativa de alojar a Psicologia em setores destinados ao estudo de outras ciências. Que se justificava plenamente o seu cultivo dentro da Universidade, num instituto autônomo, eqüidistante das unidades destinadas ao ensino e ao estudo das demais áreas do conhecimento, sem prejuízo das indispensáveis relações de intercâmbio e cooperação. E empenhou-se vivamente nesse sentido, de múltiplas maneiras, principalmente junto aos componentes do Conselho Universitário de então (p. 502/503).
Numa votação apertadíssima, por 13 votos favoráveis e 12 contrários, o Conselho Universitário de então, aprovou a criação do Instituto de Psicologia. É quase certo que sem o trabalho de convencimento de Prof. Eurípedes junto aos seus colegas e ao seu próprio voto, o Instituto de Psicologia não existiria no âmbito da Universidade de São Paulo. Face a esta sua contribuição fundamental, um grupo de eminentes psicólogos que, em fins de 1979, reuniram-se para fundar a Academia Paulista de Psicologia, prestaram-lhe uma justa homenagem escolhendo-o como Patrono da Cadeira nº 26, denominada "Simões de Paula". No dia 21 de novembro de 1977, em consequência de um acidente de trânsito, vem a falecer na cidade de São Paulo. Está sepultado no Cemitério da Consolação (São Paulo), no jazigo da Família Jacintho Cintra de Paula.
José Fernando Bitencourt Lomônaco
Cadeira nº 26, Eurípides Simões de Paula
(Boletim APP ano XX, nº 2/2000, pp.5-6)