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Boletim - Academia Paulista de Psicologia
versão impressa ISSN 1415-711X
Bol. - Acad. Paul. Psicol. vol.39 no.97 São Paulo jul./dez. 2019
IV. MEMÓRIA
Vida e Obra de João Toledo
Formado aos 18 anos, pela então Escola Complementar de Itapetininga, em 1900, João Toledo tornou-se uma das mais respeitadas personalidades nos campos da Pedagogia e da Psicologia. Nascera em Tietê (SP) a 12 de maio de 1872, falecendo na cidade de São Paulo a 21 de dezembro de 1940, portanto ainda na maturidade, aos 68 anos de idade. Iniciou suas atividades profissionais como diretor, primeiramente, de Grupo Escolar e, posteriormente, da Escola Normal de Campinas e do Instituto de Educação "Ana Rosa" desta capital, ascendendo às funções de direção do | Departamento de Educação da Secretaria do Estado de São Paulo. Em termos de docência, começou como lente de Psicologia e Pedagogia da Escola Normal de São Carlos (SP) e, mais tarde, como Assistente de Metodologia do Instituto de Educação, posteriormente, integrado à Universidade de São Paulo.
" Como pioneiro no campo da Educação e da Psicologia, representou o Estado em diversos congressos; participou de várias reformas de ensino; colaborou em revistas especializadas; e publicou vários livros sobre Pedagogia, Psicologia, História e outros campos do conhecimento. Dentre as obras de sua autoria, destacam-se: O Crescimento Mental, publicado em 1925, com quatro edições posteriores; Escola Brasileira; Planos de Lição e Didática, em 1934. Tais publicações tiveram grande sucesso na época, especialmente como material de consulta bibliográfica nas então Escolas Normais, uma vez que não havia ainda literatura brasileira nesses campos do conhecimento.
Detemo-nos na obra O Crescimento Mental, editada pela Livraria Liberdade, na cidade de São Paulo, por ser inédita, de vanguarda e de autor brasileiro, sendo destinada a estudantes da Escola Normal. É de notar-se que esta ciência nessa época, tinha como característica o campo da Psicofisiologia, com aprofundamento no estudo do sistema nervoso (cérebro, cerebelo, bulbo, medula, nervos cranianos, neurônios, entre outros). Tais ensinamentos eram efetivados por explicações orais do professor e desenhos do sistema nervoso realizados pelos próprios alunos, já que não existiam ainda outros recursos audiovisuais demonstrativos.
Note-se que esta tendência da Psicologia, sob a ótica neurofisiológica, frequente nos anos 20, foi incentivada, principalmente, pela instalação de Gabinetes de Psicologia Experimental, junto às Escolas Normais. O primeiro que teve lugar foi o criado por Ugo Pizzoli (Professor Convidado, no Governo de Altino Arantes), em 1914, na Escola Normal da Praça da República, e posteriormente foi dirigido por Clemente Quaglio (Patrono da Cadeira n.º 31). Este Gabinete se distinguia por uma variada aparelhagem para a realização de experimentos e medidas das reações neurofisiológicas. Era a primeira tentativa, em nosso meio, de tornar científica a Psicologia.
O livro de João Toledo sobre crescimento mental, extrapola essas ideias, tendo ampla repercussão e também por ser escrito em excelente linguagem didática e inteligentemente planejado, fruto da larga experiência do autor no então magistério primário e normal, além de suas copiosas leituras sobre o tema. A respeito dessa obra, Fernando de Azevedo em Ensaios, publicado no jornal O Estado de São Paulo, (1924-1925), comenta: "Entre as poucas obras de nossa literatura psicopedagógica, geralmente acanhada, surge como palheta de ouro, sem deslustres, a de João Toledo. O autor idealista a um tempo, em cuja asa poderá pesar as preocupações práticas, soube, pela devoção ao trabalho docente, vencer a resistência do meio e cativar, com seu trato maleável, os espíritos independentes".
A obra em referência se independiza, em grande parte, da influência da época, incluindo no seu bojo aspectos da Psicologia como fases típicas do desenvolvimento mental e os desvios da normalidade, como também a influência das instituições sociais (família, escola, Igreja, oficinas e centros de recreação) sobre o comportamento humano. Também trata da natureza da emoções e das capacidades mentais, como atenção, memória, percepção, hábitos, assim como suas respectivas medidas. Integra ainda referências aos conceitos de IM (idade mental), Ql (quociente de inteligência) e testes mentais. É de destacar nesse contexto, a influência das ideias de Dewey, de Freud, assim como de Pfister, autores com os quais João Toledo já estava familiarizado, antes que muitos outros. Tais contribuições constituíram, portanto, claros avanços para os conhecimentos psicológicos e educacionais de então.
Figura singular em nossa cultura, conhecedor dos progressos mundiais sobre O tema, deixou-nos ainda, o famoso livro Escola Brasileira, dirigido especialmente ao nosso estilo de vida, ao nosso meio, aos nossos mestres e, também aos nossos ideais.
Seu legado, portanto, justificou plenamente a láurea que lhe foi outorgada como Titular do Instituto Histórico e Geográfico São Paulo e, como homenagem póstuma, atribuído o seu nome ao Grupo Escolar de Cerquilho - Tietê, assim como seu retrato inaugurado na Galeria dos Diretores de Ensino, no citado Departamento de Educação. A Academia compartilhando dessas justas homenagens, designou João Toledo como Patrono da Cadeira nº 20, denominada pelo nome do homenageado.
Fontes de referências:
- Discurso pronunciado por Alfredo Gomes, (1957) no Departamento de Educação, quando da inauguração do retrato de João Toledo na Galeria dos Diretores de Ensino. [ Links ]
- d'ÁVILA, A. (1946) Biografia de João Toledo, Polianteia do Centenário do Ensino Normal no Estado de São Paulo. [ Links ]
- AZEVEDO, F. (1924-1925) Ensaios, O Estado de São Paulo. [ Links ]
António d'Ávila (in memoriam)
(1º ocupante da Cadeira nº 20, "João Toledo". São Paulo, 12/09/1980. Síntese efetuada pelo editor do Boletim)
(Boletim APP ano XXI, nº 4/01, pp.5-7)