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Natureza humana

 ISSN 1517-2430

     

 

ARTIGOS

 

As relações objetais primárias no contexto da falha básica

 

Primary object relations in the context of basic failure

 

 

Carlos Augusto Peixoto Junior

Professor Assistente do Programa de Pós-graduação em Psicologia Clínica da PUC-RJ

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este artigo tem como objetivo abordar o problema das relações objetais primárias recorrendo a alguns conceitos formulados por Michael Balint. Para isto, parte-se da discussão sobre duas posições ou modos de investimento precoces, para em seguida situá-los no contexto da falha básica, compreendida como um mecanismo primitivo de constituição da subjetividade e uma das principais áreas do aparato psíquico. Com isso pretende-se oferecer um esboço da teoria balintiana sobre as origens da subjetivação, articulando-a com a chamada clínica de pacientes difíceis.

Palavras-chave: Psicanálise, Balint, Relações objetais, Falha básica, Subjetivação.


ABSTRACT

This article aims to investigate the problem of primary object relations appealing to some of the concepts formulated by Michael Balint. In this sense, it starts with the discussion of two positions or modes of precocious investment, which are then situated in the context of the basic fault, understood as a primitive mechanism in subjectivity's constitution and as one of the main areas of the psychic apparatus. In this way, it intends to offer a sketch of Balint's theory about the origins of subjectivity, articulated with the so-called clinic of difficult patients.

Keywords: Psychoanalysis, Balint, Object relations, Basic fault, Subjectivity.


 

 

O tema das origens sempre instigou pensadores dos mais diversos campos do saber sobre o homem. Desde o pensamento grego, passando pela teologia medieval até o pensamento moderno, diversas teorias que vão da mitologia às ciências procuraram dar conta desse problema. No campo psicanalítico, observa-se a mesma diversidade de abordagens. Desde Freud, a grande maioria dos analistas buscou formular teorias que, partindo de sua clínica, pudessem nos ajudar a conhecer melhor o que se passa nos primeiros momentos de constituição do psiquismo e da subjetividade. Importava apreender de forma rigorosa os principais mecanismos colocados em ação por um ser de singularidade ainda pré-individual, em seu processo diferenciado de maturação, diante das experiências mais primitivas que se encontram na base dos processos de subjetivação. A questão fundamental, portanto, é pensar como seria possível, a partir de um movimento de individuação impessoal, chegar a construir uma integração e uma continuidade psíquicas passíveis de levar a subjetividade a estabelecer múltiplos agenciamentos vitais com o ambiente.

Considerando o espaço restrito de que dispomos neste artigo, evidentemente seria impossível esmiuçar a teoria de cada um dos autores citados acima, levando em conta a enorme complexidade de suas teorias. Assim, optamos neste trabalho por abordar o tema das relações de objeto mais primitivas recorrendo a alguns conceitos produzidos por Balint, na tentativa de lançar alguma luz sobre essa questão tão difícil e ao mesmo tempo tão instigante. Nesse sentido, partimos da discussão de duas posições ou atitudes precoces, abordadas pelo autor através do que ele denominou investimentos ocnofílicos e filobáticos, situando-as no contexto da falha básica, entendida ao mesmo tempo como um mecanismo primitivo na constituição da subjetividade e como uma das três áreas que compõem a mente. O que se explicita aí é que ocnofilia e filobatismo são metáforas dos modos de subjetivação derivados das relações mais precoces com o mundo dos objetos, nos quais as inevitáveis falhas e angústias podem ser superadas. Com esse percurso, acreditamos poder oferecer ao leitor um esboço do pensamento balintiano sobre as origens da subjetividade, articulando-o com questões sobre a clínica dos chamados pacientes difíceis, que sempre tiveram um papel determinante em toda a sua trajetória.

 

A importância do apego na ocnofilia e as expansões amistosas do filobatismo

Uma das hipóteses avançadas no conjunto de trabalhos de Balint sobre o "Amor primário e a técnica psicanalítica" (Balint, M., 1952), é a de que a partir desse tipo de amor, em que o objeto enquanto tal ainda não emergiu - em que o mundo, a mãe, as substâncias, os odores, o calor, etc. são misturas nas quais o bebê está envolvido -, certas relações de objeto defeituosas, patológicas, podem se instaurar como reação a um trauma. Dentre elas, duas se destacam: a ocnofilia e o filobatismo, termos criados pelo autor devido à insuficiência do vocabulário psicanalítico para descrever as emoções ligadas ao amor primário, restrito até então às experiências orais precoces. O primeiro termo é derivado do grego okneo (agarrar-se, aferrar-se, segurar-se com força). O segundo advém da imagem do acrobata (que caminha pelas extremidades, na ponta dos dedos, longe da terra firme) (id., 1987, p. 25). Em cada um dos casos, prazer e angústia são vividos ou experimentados de formas basicamente diferentes. Lá onde a busca de proximidade possibilita um prazer crescente para uns, para outros esse prazer intenso e excitante é obtido fora dessa região de segurança.

No mundo ocnofílico, o investimento primário, embora misturado com uma grande dose de angústia, parece aderir aos objetos emergentes. Eles são sentidos como seguros e tranqüilizadores, ao passo que os espaços vazios são considerados ameaçadores e terríveis. A reação ocnofílica à emergência dos objetos é a de prender-se a eles introjetando-os, porque sem eles o indivíduo sente-se perdido ou inseguro e "aparentemente, prefere superinvestir suas relações objetais" (id., 1993, p. 61, grifado no original). Pelo fato de que, nos estágios iniciais de desenvolvimento, a manutenção de uma forma primitiva de relação exclusivamente bipessoal parece ser o limite do desenvolvimento da capacidade do bebê, Balint acreditou, durante muitos anos, que só haveria um tipo de relação bipessoal precoce, que seria a ocnofilia. Nela, qualquer ameaça de ser separado do objeto cria uma intensa angústia e a defesa utilizada com maior freqüência é o que Balint descreve como uma espécie de adesividade. Suas principais conseqüências são a supervalorização do objeto e a inibição contra o desenvolvimento de habilidades pessoais que tornem o indivíduo independente. Dessa maneira, a reação ocnofílica (segurar ou agarrar algo) parece ser não apenas a primeira, como também a mais espontânea de nossas reações, já que a princípio ela deve preceder a capacidade de ser independente e autônomo. Nesse sentido, os objetos ocnofílicos são considerados símbolos da segurança proporcionada pelo amor materno, perfazendo um objetivo a ser alcançado e mantido.

Já no mundo filobático, as expansões sem objeto retêm o investimento primário original e são consideradas como seguras e amistosas, enquanto os objetos são percebidos como perigos traiçoeiros e empecilhos à satisfação. O filobata "superinveste suas próprias funções do ego" (id., ibid., p. 61, grifado no original), desenvolvendo habilidades que lhe permitem manter-se só, com muito pouco ou nenhum auxílio dos objetos. A partir do desenvolvimento dessas capacidades pessoais (egóicas), torna-se possível recuperar a liberdade de movimentos e a harmonia com as expansões sem objeto, ainda que as relações objetais possam ser dificultadas. Sendo assim, o comportamento no estado filobático impressiona justamente pela capacidade que o indivíduo tem de manter-se por si mesmo, sentindo-se seguro longe de qualquer suporte.O filobata, afirma Balint, mantendo-se por suas próprias forças, evoca-nos a capacidade de manter-se ereto e afastado da mãe-terra, provando sua capacidade de independência pelo tempo que consegue manter-se sem se apegar a nada. Ainda que o filobatismo pareça ter alguma relação simbólica com a ereção e a potência, não devemos considerá-lo um estágio primitivo da genitalidade, nem mesmo uma genitalização secundária de uma função originalmente não genital; na verdade, é muito difícil decidir por uma dessas duas posições. Isso porque todo filobatismo parece ser acompanhado de tendências ocnofílicas regressivas. Em suas aventuras pelas expansões amistosas, a maioria dos filobatas agarra-se a pelo menos um objeto ocnofílico, e este é que poderia ser símbolo de potência e ereção. "Ter um objeto ocnofílico conosco também significa estar de posse de um pênis poderoso e jamais flácido, o que reforça magicamente nossa potência e nossa própria confiança" (id., 1987, p. 29). Estando de posse desses objetos ocnofílicos (seu equipamento), o filobata sente-se possuidor de poderes quase mágicos, o que o faz sentir-se mais confiante para enfrentar o perigo das expansões no vazio.

Segundo Balint, comumente somos confrontados com misturas variadas dos dois tipos de relação objetal, já que uma dessas atitudes pode ser usada para reprimir ou supercompensar a outra. Na ocnofilia, a relação é incondicional e envolve um temor dos espaços vazios entre os objetos, que provocam alívio quando são alcançados e mantidos junto ao sujeito. Daí que um dos principais problemas do apego ocnofílico é a inevitável frustração a qual ele está sujeito, já que o objeto possui vida própria, o que implica um perigo constante de ser abandonado. Além disso, como muitas vezes o que é utilizado na aderência ocnofílica é um objeto parcial, a possibilidade de que ele se destaque do objeto total prejudicando-o é muito freqüente na fantasia. Tal situação gera várias complicações, que fazem com que essa relação nunca seja totalmente satisfatória. O objetivo real perseguido pelo sujeito, que na verdade é o de ser mantido pelo objeto sem o solicitar, também nunca é alcançado pelo ato de agarrar-se desesperadamente a ele.

No caso do filobata, o mundo parece ser bastante diferente, e o problema é ter que negociar a satisfação com um objeto determinado, o que é tido como perigoso e provoca angústia. Pode-se dizer que o mundo filobático

(...) consiste de expansões amistosas dotadas mais ou menos densamente de objetos perigosos ou imprevisíveis. Vive-se nas expansões amistosas evitando cuidadosamente contatos arriscados com objetos potencialmente perigosos. Enquanto o mundo ocnofílico está estruturado pela proximidade física e pelo toque, o mundo filobático estrutura-se pela distância segura e pela visão. (Id., ibid., p. 34)

Balint afirma que uma boa prova de como a ocnofilia está ligada ao toque e o filobatismo à visão pode ser obtida quando consideramos situações em que é preciso mover-se por ambientes desconhecidos com os olhos vendados. Quando perdemos a orientação visual, passamos de um objeto para outro, nos sentimos seguros quando tocamos alguns e particularmente incertos quando estamos nos espaços entre eles.

É importante lembrar, no entanto, que mesmo que o ocnofílico tenda a se apegar de modo excessivo aos objetos, isso não quer dizer necessariamente que ele os ame. Com freqüência ele odeia o objeto do qual depende, pois desloca para ele o desprezo que sente por sua própria fraqueza. De forma similar, seria fácil dizer que o filobata odeia e não dá crédito aos seus objetos, porque representam perigos imprevisíveis. Isso também é apenas parcialmente verdadeiro, na medida em que todos os objetos que constituem seu "equipamento", seus "utensílios", assim como as pessoas que os fornecem são por ele amados. Aliás, Balint chama esses objetos que fazem parte do "equipamento" filobata de objetos ocnofílicos e os considera não apenas representações simbólicas inconscientes de um phallus poderoso, mas representações do amor materno, fontes de emoções altamente positivas para o sujeito.

Essas atitudes ambivalentes de ambos os tipos são fruto de experiências ocorridas no decorrer da instalação do princípio de realidade, após um período primário de amor, em que sujeito e objeto ainda não estão propriamente diferenciados e a relação com o mundo é vivida como uma intromistura harmoniosa de substâncias. Nos primeiros estágios do teste de realidade, quando é preciso distinguir os mundos interno e externo e o que os causa, ambos, filobata e ocnofílico, parecem reagir da mesma maneira (id., 1956, pp. 153-170). O que os diferencia é a interpretação dada ao ambiente: enquanto o primeiro o considera adorável, o segundo tem sentimentos horríveis em relação a ele, apesar da primitiva experiência prazerosa. Dessa forma, ainda que o mundo externo seja exatamente o mesmo para ambos, seus mundos internos se diferenciam radicalmente nesse caso.

Mas o que parece mais importante para Balint são as falhas que ocorrem na instauração do teste de realidade em filobatas e ocnofílicos, as quais, obviamente, influenciam suas ações e seus modos de estar no mundo. Assim, enquanto um tende a minimizar os perigos reais do mundo exterior com uma confiança que nunca se justifica plenamente, o outro parece amplificá-los em seu temor excessivo aos espaços vazios. Porém, apesar dessa aparente diferença, é importante destacar que, mais uma vez, a ambivalência se faz presente, o que acaba por aproximar os dois tipos de relação objetal. Na verdade, o ocnofílico é tão pouco sincero para consigo mesmo quanto o filobata. Isso porque pode-se perceber que por trás da exibição de independência do filobata existe, ainda que cuidadosamente disfarçada, uma real necessidade de objetos seguros, a qual pode ser interpretada como uma atitude ocnofílica de busca pela segurança na proximidade física com seus objetos. Mas por que essa necessidade de se agarrar a eles tão desesperadamente? Tal adesão desesperada pode ser vista como reação à ameaça, real ou imaginária, de perdê-los. Alguma força brutal poderia afastá-los dele ou, o que seria ainda mais assustador, seus objetos poderiam tornar-se indiferentes e, de maneira descuidada e até maliciosa, abandoná-lo.

Como o filobata, o ocnofílico também minimiza ou mesmo nega o perigo, e sua negação é igualmente facilitada por um deslocamento comum que o capacita a dizer que o perigo não está no objeto mas fora dele, e pode ser evitado se ele puder permanecer em contato com seu objeto agarrando-o com força. (Id., 1987, p. 55)

Constata-se, portanto, que se a confiança filobática em sua habilidade para lidar com os perigos externos no conforto dos espaços amistosos é exagerada e um tanto irreal, a crença ocnofílica de que seus objetos são seguros, poderosos e afáveis é igualmente falsa. Mesmo assim, cada qual parece não abrir mão de suas convicções, apesar dos constantes testemunhos prestados pela realidade. Assim, para que se compreendam os mecanismos que promovem a manutenção de tais convicções, é preciso reafirmar a hipótese de um mundo mais primitivo, cronologicamente anterior aos mundos ocnofílico e filobático e ao qual só se tem acesso através da regressão: o mundo do amor primário infantil.

No intuito de abordá-lo, Balint promove uma extensa investigação etimológica das palavras "sujeito" e "objeto", concluindo que ambos derivam e se constituem a partir de uma harmoniosa mistura primitiva de substâncias. Essa mistura do mundo interno com o externo seria uma velha conhecida da experiência psicanalítica em virtude de fenômenos clínicos tais como alucinações, confusões, despersonalizações e processos dinâmicos de introjeção e projeção. A harmonia característica dessa situação primitiva acaba por ser destruída por falhas provocadas pelo próprio sujeito ou pelos outros à sua volta. É a partir desse estado harmonioso primário que, na interação do individuo com o ambiente, emergem como presença discreta os primeiros objetos delimitados separadamente.

A descoberta traumática de sua existência deve ser aceita e, como resultado secundário disso, surgem as duas atitudes básicas de filobatismo e ocnofilia através das quais o indivíduo responde a esta descoberta, com inúmeras gradações e matizes entre elas. (Stewart, 1996, p. 42)

A análise mais detalhada da passagem traumática da situação de harmonia para a constituição dos objetos, e de suas possíveis conseqüências para a subjetivação, é fornecidas por Balint através de suas teorias sobre a regressão e a falha básica.

 

A falha básica e as três áreas da mente

É a passagem traumática da situação originária de harmonia para a constituição mais definitiva dos objetos que funda o que a teoria balintiana chamou de falha básica. Neste sentido, ocnofilia e filobatismo parecem ser duas instâncias da falha básica, ainda que certamente não sejam as únicas. Para Balint, a falha básica seria uma das três áreas que constituem a mente. A ela se acrescentam as áreas da criação e a área edipiana. A primeira alusão à falha básica aparece no estudo sobre O médico, seu paciente e a doença. Nesse texto o autor faz referência a uma doença (deficiência) fundamental do ser humano, desencadeada por diferentes crises no desenvolvimento individual, tanto no nível psíquico quanto biológico. Sua hipótese é a de que a origem dessa deficiência pode estar numa discrepância considerável entre as necessidades do indivíduo durante seus primeiros anos (ou meses) de formação e os cuidados e atenção disponíveis em momentos importantes. Nesse sentido,

(...) este fenômeno cria um estado de deficiência, cujas conseqüências apenas em parte são reversíveis. Embora o indivíduo possa adaptar-se bem, ou mesmo muito bem, subsistem vestígios de suas primeiras experiências que contribuem para o que denominamos sua constituição, sua individualidade ou a formação de seu caráter. (Id., 1988, p. 222)

Porém, mesmo considerando essa insuficiência, Balint demonstra que, na verdade, tudo pode ir mais ou menos bem nessa fase precoce das necessidades infantis. É somente quando a criança é atingida por um traumatismo que, inevitavelmente, imprimem-se cicatrizes marcantes. Nesses termos, a falha básica seria uma ferida que eventualmente pode cicatrizar, mas que não pode de modo algum ser suprimida.

Segundo Franck Faure (1978, pp. 159-160), essa formulação sobre a falha básica corresponderia a uma transformação considerável no conceito de amor de objeto primário. Com este último, Balint apresentava sua contribuição original à psicanálise - a teorização sobre os períodos precoces do desenvolvimento pré-edipiano - singularizada pela descoberta de que a relação dual primitiva mãe-criança não tinha uma estrutura em comum com a dos outros estágios de evolução libidinal. Suas características essenciais provinham da disparidade entre os seres ligados naquela "unidade dual" e da passividade ambígua desse tipo especial de amor, marcado pela impossibilidade infantil de conceber que seu objeto possa se dedicar a qualquer outra coisa que não às suas próprias necessidades (Balint, A., 1952, pp. 109-127). Ainda que a questão da descoberta traumática do teor ilusório dessa situação esteja implícita nessa descrição, ela parece ainda não adquirir a característica de um trauma estrutural em toda a sua plenitude. Talvez por isso, ao consolidar uma nova topografia para o psiquismo, Balint não vá chamar essa área de área do amor primário, mas de área da falha básica.

Nota-se também que o privilégio dado à noção de falha básica, em detrimento do amor primário, implica uma modificação no estatuto dos objetos e na relação que se estabelece com o entorno. A ênfase então passa a recair sobre a transformação de pré-objetos em objetos, e sobre as noções de substância, intromistura ou mistura interpenetrante, de onde se originam os conceitos de ocnofilia e filobatismo. Com esse leve remanejamento da teoria, a função materna também sofre modificações significativas, na medida em que a interdependência no plano pulsional dá lugar à mistura harmoniosa por interpenetração. Trata-se aqui, basicamente, de uma mutação no estatuto do objeto primário e da constituição da alteridade na experiência amorosa. A mãe passa a ser considerada em sua qualidade essencial de ambiente adequado, provedora de todas as necessidades do bebê nos primeiros tempos de vida extra-uterina, mas é ao mesmo tempo aquela que se move através da percepção do bebê no curso de sua subjetivação.

Nesta movimentação da percepção, devemos incluir a mutação de pré-objetos em objetos, a mutação de agente (desconhecido, mas eficiente) de preservação da harmonia existencial entre necessidades e respostas, em "obstáculo resistente", em "objeto organizado", certamente, e tendo "interesses próprios". (Faure, 1978, p. 189)

A sutileza dessa diferenciação desvela primeiramente o sentido da palavra "interpenetração". A mãe assume aqui uma posição significativa, tanto no sentido objetivo quanto objetal, e não apenas em suas conotações pulsionais, mas também relacionais. Ela ultrapassa a percepção anterior do bebê - único referencial possível nesse nível que é o da substância na "mistura harmoniosa sem objetos" -, tornando-se ela própria um ambiente acolhedor. Nesses termos, a exegese da diferença entre os argumentos centrados nas teses sobre o amor primário e a falha básica permite compreender o que Balint quer dizer quando promove a restauração ou a preservação de uma harmonia inicial ao estatuto de objetivo primordial de todo esforço libidinal. É que ambas (a preservação e a restauração) não têm exatamente a ver com a simples modificação do objeto, presente efetivamente apenas para um observador ideal. Ao contrário, o objetivo último visado é a própria substância da mistura harmoniosa por interpenetração: aquela da coexistência fetal, remanescente como única experiência possível e excluída de qualquer sistema sujeito-objeto, de emergência ulterior.

Se o amor primário deveria dar um fim ao reino do narcisismo primário, a noção de falha básica, elaborada no aprofundamento da regressão, é a formulação teórica que fundamenta a hipótese de um nível real e temporal radicalmente estranho ou distinto por natureza do nível edipiano. O que se infere a partir da falha básica é que só podemos falar de regressão profunda se considerarmos a existência de uma relação anterior, uma relação primária de amor, que se estabelece com o ambiente nos primeiros tempos de vida, logo após o nascimento. Entretanto, e aqui parece estar o elemento fundamental da descoberta balintiana,

[...] o ambiente não é a mãe, pois a mãe enquanto tal, objetivada ou objetalizada, pertence rigorosamente à experiência posterior do estado edipiano. A única experiência do bebê nos primeiros tempos da vida extra-uterina é a da "mistura harmoniosa por interpenetração"; o ambiente como realidade é fundamentalmente "substancial" e "desprovido de objeto" tanto quanto de "delimitação". (Faure, 1978, p. 191, grifado no original)

Daí que as vivências temporais não podem aparecer senão no horizonte de uma "harmonia", isto é, como fundamento da relação com o ambiente em termos de "substância", percebida de maneira positiva ou negativa. Sobre esse fundamento se constituem tanto o que Balint define como a área de criação como o complexo de Édipo.

No que se refere à área da criação, uma de suas características mais relevantes é a de que nela ainda não está presente nenhum objeto externo, sendo que a principal preocupação do sujeito é "produzir algo por si mesmo, que pode ser um objeto, embora nem sempre o seja" (Balint, M., 1993, p. 21). Nesse sentido, o que existe na área da criação são pré-objetos muito primitivos, que não chegaram a se organizar como um todo. Sendo assim, é mais propriamente o trabalho da criação que transforma esses pré-objetos em um todo de objetos organizados, permitindo assim a adequada interação verbal ou edípica entre eles e os objetos externos.

É provável que ocorram interações mais primitivas, adequadas aos níveis da falha básica e da criação, ainda que elas sejam difíceis de observar e descrever de forma mais precisa (id., 1987, caps. 8 e 11). Balint mostra como nos deparamos com inúmeras dificuldades quando, diante de tais situações, recorremos única e exclusivamente à linguagem convencional na tentativa de apreendê-las. A complexidade inerente a esses casos torna-se explícita quando nos damos conta de que, apesar de sabermos que não existem objetos na área da criação, percebemos também que nela, na maior parte do tempo, o sujeito não se encontra totalmente sozinho. O grande problema é que nossa linguagem parece não dispor de palavras para descrever, ou pelo menos indicar, "o que" está presente quando o sujeito não está completamente só. Daí a necessidade de se falar de algo como um embrião de objeto, ao qual o autor se refere propondo os termos pré-objeto ou objeto primário.

Segundo Balint, a área da criação parece se constituir, inicialmente, a partir de uma espécie de retirada dos objetos desagradáveis e frustrantes em direção à mistura harmoniosa dos estados anteriores. Segue-se a ela uma tentativa - nem sempre bem-sucedida - de criar algo mais amistoso, consistente e harmonioso do que mostram ser os objetos reais. Como, possivelmente, a maioria dos objetos é indiferente ou frustrante num primeiro momento, para que alguns provem ser gratificantes é necessário que os cuidados primários com a criança não sejam excessivamente deficientes ou insensíveis. Assim, "partes do entorno poderão conservar algo de seu investimento primário original, tornando-se o que chamei de objetos primários" (id., 1993, p. 62). Ainda que os exemplos mais evidentes do que se passa nessa área sejam os processos ligados à criação artística e ao conhecimento, a teoria da clínica balintiana lembra-nos da importância de outros indícios do que ocorre nessa área, mesmo considerando a precariedade da avaliação que se possa fazer a seu respeito. Dentre esses indícios destacam-se os fenômenos presentes no início e na fase de recuperação espontânea das doenças físicas ou mentais. Tendo em conta as dificuldades na apreensão de processos que se passam na ausência de um objeto externo, que a princípio impedem o estabelecimento de uma relação transferencial, os momentos em que os indivíduos se queixam de suas doenças parecem favorecer o trabalho com um método analítico que leve em conta os aspectos terapêuticos da regressão. Balint, no entanto, não explicita de um modo mais preciso os fenômenos aos quais está se referindo quando menciona o início e o fim das doenças, apontando mais uma vez a ausência de transferência como o grande obstáculo para uma compreensão clínica rigorosa dessas experiências. Ele procura apenas indicar que nessas condições os analistas devem tentar transformar uma situação obviamente unipessoal em uma relação bipessoal, que permita a utilização dos métodos analíticos mais habituais. Isso demonstra que os "pré-objetos" existentes na área da criação devem ser tão primitivos que não podem ser considerados como um "todo organizado". Só depois que o trabalho de criação consegue torná-los "organizados" é que poderá ocorrer uma razoável interação verbal ou "edípica" entre eles e os objetos externos.

Mesmo considerando que o processo de criação que transforma pré-objetos em objetos seja imprevisível, parece que conflitos graves no nível edipiano podem acelerar ou retardar a velocidade do movimento criativo. Assim, no processo analítico, para além da elaboração desses conflitos fundamentais, torna-se possível não apenas observar e acompanhar pessoas absorvidas na área de criação, como também esboçar as possíveis configurações mentais que a estruturam. Neste sentido, diante de um paciente silencioso, faz-se necessário dar positividade ao silêncio. Não devemos simplesmente adotar a atitude analítica habitual, que vê no silêncio uma mera forma de resistência aos materiais originados do passado ou à situação transferencial atual.

Podemos acrescentar que tal interpretação quase sempre está correta; o paciente está fugindo de alguma coisa, geralmente de um conflito, mas também poderá ser que ele esteja correndo para alguma coisa, isto é, está em um estado no qual se sente relativamente seguro, podendo fazer algo a respeito do problema que o está atormentando ou preocupando. (Id., ibid., p. 23, grifado no original)

Esse algo que ele eventualmente irá produzir e depois apresentar, é fruto de sua criatividade. Talvez seja necessário, portanto, modificarmos nossa postura tradicional, deixando de considerar o silêncio um sintoma de resistência e passar a considerá-lo uma preciosa fonte de informação sobre a área da criação.

Antes de voltarmos à discussão sobre a área da falha básica, vale a pena delimitar rapidamente os processos que se produzem na área edipiana. Não há a dúvida de que todas as coisas no nível edípico, mesmo quando ligadas a experiências genitais ou pré-genitais, se passam numa relação triangular. Isso, evidentemente, significa que além do sujeito existem sempre pelo menos mais dois objetos paralelos envolvidos. Esse é, portanto, o nível no qual Freud situou seu famoso Complexo de Édipo, que apesar de ser característico de uma fase ainda precoce do desenvolvimento, pode ser descrito em linguagem adulta ou convencional no que diz respeito aos desejos, sentimentos e emoções nele envolvidos. Com ele Freud teria arriscado sua audaciosa hipótese de que "as moções pulsionais, satisfações e frustrações da criança muito pequena são não apenas muito semelhantes às do adulto, mas também possuem entre si relação de reciprocidade" (id., ibid., p. 10).

Levando em conta a ambivalência originada das complexas relações entre o sujeito e seus dois objetos na situação edipiana, Balint considera o conflito que ela provoca uma das principais características dessa área mental. Assim, toda vez que o trabalho analítico se passa no nível edipiano, é com um conflito que temos que lidar até chegarmos à sua elaboração. O exemplo mais estudado desse tipo de conflito é aquele no qual uma autoridade, interna ou externa, proíbe determinada forma de gratificação. Eventualmente, tal conflito pode levar a uma fixação - se uma determinada quantidade de libido ficar aí retida numa luta inútil -, criando uma tensão contínua. Nesse caso, a análise terá como tarefa mobilizar e liberar essa quantidade de libido através da interpretação ou dando ao paciente a chance de regredir na transferência a fim de encontrar uma solução melhor. Note-se que aqui o paciente é capaz de lidar com objetos organizados e totais, tais como as interpretações que seriam passíveis de uma elaboração. Daí é possível derivar ainda uma outra característica fundamental do nível ou da área edipiana: nele a linguagem adulta, com a qual formulam-se as interpretações, é um meio de comunicação adequado e confiável. Por essa razão, Balint chega mesmo a afirmar que se fosse preciso criar um novo termo para esse nível, poderíamos chamá-lo de nível de concordância, de linguagem adulta ou convencional.

Já o nível da falha básica não deve ser simplesmente adjetivado de pré-edipiano, na medida em que ele pode coexistir com as experiências edipianas. Ainda que se trate de um nível definitivamente mais simples que o edípico, a utilização do termo falha para caracterizá-lo acentua a preocupação de que ele não seja confundido com um estágio, posição ou complexo. Uma de suas características mais notáveis é que todos os eventos que nele ocorrem pertencem a uma relação exclusivamente bipessoal, de natureza bastante particular e completamente diferente das mais familiares relações no nível edipiano. Como a natureza da força dinâmica que opera no nível da falha básica não é a de um conflito, muitas vezes a linguagem adulta pode ser inútil ou enganadora para descrever tais experiências, já que nelas nem sempre as palavras estão de acordo com o seu significado convencional. Na verdade, "as palavras perdem a credibilidade como meios de comunicação entre o paciente e o analista; em particular, as interpretações, que tendem a ser experimentadas pelo paciente como sinais de hostilidade e agressividade ou de afeição" (id., ibid., p. 78). A natureza dessa relação bipessoal primitiva pode ser considerada uma instância da relação objetal presente no amor primário, e qualquer terceiro que nela interfira tende a ser sentido como um pesado encargo ou uma força intolerável. Outra notória qualidade dessa relação é a imensa diferença de intensidade entre os fenômenos de frustração e satisfação. Enquanto esta última acontece através de uma adaptação do objeto ao sujeito que, mesmo provocando sensações de bem-estar naturais e suaves, só pode ser observada com muita dificuldade, a frustração - experimentada como falta de adaptação do objeto - produz sintomas extremamente intensos e tumultuados.

Considerando a importância clínica dessas relações na área da falha básica, Balint chega até a indicar os tipos de eventos durante o tratamento analítico que podem ser considerados sinais de que se atingiu esse nível. Em certos momentos, de maneira súbita ou insidiosa, a atmosfera da situação analítica modifica-se profundamente. Dentre os vários aspectos dessa modificação destaca-se a impossibilidade de que as interpretações oferecidas pelo analista sejam experimentadas pelo paciente enquanto tais, pois elas são sentidas como um enorme ataque ou uma imensa gratificação com tonalidades de sedução. Além disso, também pode acontecer que as palavras comuns, que tinham até então um significado convencional "adulto" e podiam ser utilizadas sem maiores conseqüências, se tornem extremamente importantes e poderosas, tanto no bom como no mau sentido. Nessas horas, qualquer observação casual, gesto ou movimento do analista podem adquirir uma significação enorme e assumir uma importância muito maior do que realmente se tinha pretendido.

Nessa atmosfera de inquietante estranheza surgem fenômenos um tanto "misteriosos". O paciente de alguma forma parece ser capaz de perceber o que se passa com o analista, mostrando inclusive um talento até então desconhecido que o torna capaz de "interpretar" a conduta daquele. O analista, afirma Balint, "sente o fenômeno como se o paciente pudesse vê-lo por dentro, retirando daí coisas a seu respeito" (id., ibid., p. 17). Se nesses momentos ele não responder como o paciente espera que o faça, não surgirá na transferência, como seria esperável no nível edipiano, nenhuma reação de ódio, contentamento ou crítica. O que se observa então não é nada mais do que um sentimento de vazio, em que tudo é aceito sem maiores resistências, mas nada faz qualquer sentido. Outra possibilidade de reação à ausência de sintonia por parte do analista pode ser a manifestação de algumas angústias persecutórias.

Assim, no nível da falha básica, quaisquer frustrações passam a ser sentidas pelos pacientes como se lhes tivessem sido infligidas intencionalmente e passam a constituir testemunhos incontestáveis dos sentimentos maus ou hostis do entorno. Quanto às coisas boas, elas parecem ser mero fruto do acaso. O que é espantoso é que tudo isso é aceito como um fato doloroso, que surpreendentemente mobiliza pouca aversão e quase nenhuma disposição de lutar; além disso, dificilmente se observa o surgimento de qualquer tipo de desespero. Essa estranha mistura de sofrimento profundo, ausência de vontade de luta e inabalável determinação de avançar, constituem um importante sinal diagnóstico de que se atingiu o nível da falha básica e de que é preciso recorrer a processos terapêuticos adequados para lidar com ela. A reação do analista nesses casos também é característica: todas as coisas lhe tocam muito mais do que o normal e torna-se um tanto difícil manter sua atitude habitual de passividade objetiva e simpática, em função do risco constante de envolvimento emocional.

Outro grupo importante de fenômenos sinalizadores situa-se em torno da apreciação ou gratidão pelo trabalho do analista durante o tratamento. Se no nível edipiano esses dois sentimentos parecem ser poderosos aliados em períodos difíceis do processo analítico, no nível da falha básica nunca é possível ter certeza de que o paciente se lembrará da habilidade e da compreensão do analista no passado. Um dos motivos para mais essa profunda modificação é que nesse nível os pacientes simplesmente sentem que lhes está sendo dado aquilo de que eles estão precisando. Se o analista fornecer o necessário, isso é dado como certo, podendo originar-se daí a produção de um número cada vez maior de demandas, numa espiral caracterizada pela enorme voracidade do paciente.

Nenhum desses eventos pertencentes essencialmente ao campo mais elementar da psicologia bipessoal apresenta a estrutura de um conflito. Esse é um dos principais motivos pelos quais Balint propõe que os chamemos de básicos. Já o termo "falha" é utilizado exatamente por ser a palavra à qual recorrem muitos de seus pacientes para descrever o que se passa nessas circunstâncias. Segundo ele, "o paciente diz que sente que existe uma falha dentro de si, que precisa ser corrigida" (id., ibid., p. 19). Cabe salientar que ela é sentida precisamente como uma falha - e não como um complexo, conflito ou situação - provocada porque alguém falhou ou se descuidou dele. Essa área é invariavelmente cercada de uma grande angústia, que se expressa através de demandas desesperadas de que agora o analista também não venha a falhar. Embora altamente dinâmica, a força que se origina dessa falha não assume a forma de um conflito - fruto de um represamento para o qual seria necessário encontrar um escoadouro -, mas é vivida como uma deficiência, como algo de errado que está faltando agora e durante toda a vida do paciente. Como bem sabemos, necessidades pulsionais podem ser satisfeitas, ainda que parcialmente, e conflitos também podem ser minimamente resolvidos. Mas uma falha básica talvez só possa ser suprida se os ingredientes que faltaram puderem ser agora encontrados, e mesmo assim apenas em quantidades suficientes para preencher o defeito, como uma simples e indolor cicatriz.

O adjetivo "básica", significa que o autor se refere não apenas a condições mais simples do que as edipianas, mas também que a influência dessa falha ou deficiência se estende de maneira ampla quanto aos seus efeitos. Provavelmente, ela perpassa toda a estrutura somato-psíquica da pessoa, envolvendo em graus diferenciados mente e corpo. Nesse sentido, o conceito de falha básica favorece a compreensão tanto das doenças clínicas comuns como também das diversas neuroses, psicoses, transtornos de caráter e problemas psicossomáticos, enquanto sintomas de uma mesma entidade etiológica. Como vimos antes, a discrepância entre as necessidades biopsíquicas de um indivíduo e o cuidado material, psicológico ou afetivo disponibilizados em momentos relevante pelo entorno (no decorrer de fases precoces de formação), cria uma situação de déficit cujas conseqüências posteriores parecem ser apenas em parte reversíveis. As causas de tais discrepâncias podem ser congênitas ou ambientais e, neste último caso, provêm de um cuidado insuficiente, deficiente, aleatório, altamente angustiado, superprotetor, severo, rígido, inconsistente, superestimulante ou simplesmente indiferente.

Em última instância, o que a teoria balintiana enfatiza é a falta de "adaptação" entre a criança e as pessoas que representam seu entorno. Incidentalmente, as análises começam com uma falta de "adaptação" semelhante entre o analista - com uma técnica provavelmente correta em outras ocasiões - e determinadas necessidades do paciente, o que, muito provavelmente, parece ser a causa fundamental de dificuldades e fracassos dos analistas em suas práticas clínicas. Daí o destaque dado aos processos que se passam na área da falha básica, que têm sua origem numa relação objetal muito primitiva e peculiar, fundamentalmente diferente das relações observadas entre adultos. Ainda que se trate de uma relação bipessoal, não devemos esquecer que apenas um dos parceiros interessa e que seus desejos são os únicos que contam e precisam ser atendidos. O outro, embora pareça extremamente poderoso, só interessa na medida em que pode gratificar ou frustrar os desejos do primeiro; seus próprios interesses e desejos simplesmente não existem.

 

Referências

Balint, Alice 1952: "Love for the mother and mother love" in Balint 1952.        [ Links ]

Balint, Michael 1952: Primary Love and Psychoanalytic Technique. London, Hogarth Press.        [ Links ]

_____ 1956: Problems of Human Pleasure and Behavior. N. York, Liveright.        [ Links ]

_____ 1987: Thrills and Regressions. Connecticut, International University Press.        [ Links ]

_____ 1988: O medico, seu paciente e a doença. Rio de Janeiro, Livraria Atheneu.        [ Links ]

_____ 1993: A falha básica. Porto Alegre, Artes Médicas.        [ Links ]

Faure, Franck 1978: La doctrine de Michael Balint. Paris, Payot.        [ Links ]

Stewart, Harold 1996: Michael Balint: object relations pure and applied. London, Routledge.        [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência
E-mail: cpeixotojr@uol.com.br

Recebido em 27 de maio de 2003
Aprovado em 8 de abril de 2004