Natureza humana
ISSN 1517-2430
MEZAN, Renato. Que tipo de ciência é, afinal, a Psicanálise?. []. , 9, 2, pp.319-359. ISSN 1517-2430.
^lpt^aPara Freud, a disciplina que criou fazia indiscutivelmente parte das ciências da Natureza, e de modo algum daquelas do espírito, como então se chamavam na Alemanha as atuais ciências humanas. Para nós, contemporâneos, tal asserção parece muito estranha: que objeto poderia ser mais humano do que o espírito humano, tema da Psicanálise? Este artigo retoma esse problema pelo ângulo da partição entre os dois tipos de ciência que vigoravam no tempo e no ambiente cultural de Freud, no interior da qual faz sentido a sua enfática afirmação. Mostra que já não dividimos o campo do saber da mesma maneira que então, o que torna possível alojar a Psicanálise ao lado de disciplinas como a História, a Etnologia e outras do mesmo gênero, portanto, no campo das ciências (para nós) humanas. A parte final do texto explora alguns intrigantes paralelismos epistemológicos entre as noções de seleção natural e inconsciente, e as estratégias retóricas de que Darwin e Freud - este, aparentemente sem se dar conta de que estava imitando seu grande predecessor - se utilizam para criar no leitor a convicção de que são indispensáveis para estruturar o campo das respectivas disciplinas.^len^aFreud had never any doubts that his invention belonged in the field of natural science, and not in the area of the sciences of the Spirit, as human/social sciences were then called in Germany. For us, this sounds strange: what could be more human than human mind, the subject of Psychoanalysis? This paper argues that the way of separating both fields in which Freuds claim makes sense has changed considerably since his day, so that we are justified in ranking Psychoanalysis on the same side as History, Anthropology and similar disciplines, as we usually do nowadays. It also explores some intriguing parallels between the notions of natural selection and unconscious, as well as some rhetorical strategies employed by both Darwin and Freud - in this case, probably unaware that he was copying his great predecessor - when they set to the task of persuading their readers that those ideas cannot be dispensed with in their respective fields.
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