Revista Mal Estar e Subjetividade
ISSN 1518-6148 ISSN 2175-3644
RESENHAS DE LIVROS
Julia S.N.F. Bucher
Professora Doutora do Mestrado em Psicologia da Universidade de Fortaleza
Dirk Revenstorf
WENN DAS GLÜCK ZUM UNGLÜCK WIRD: Psychologie der Paarbeziehung.
Munique: Ed. C.H. Beck,1999, 159p.
Com o título "Quando a felicidade se transforma em infelicidade: Psicologia da relação conjugal", o Dr. Dirk Revenstorf, professor da Faculdade de Psicologia Clínica da Universidade de Tübingen, na Alemanha, apresenta e discute as relações amorosas, a busca da felicidade e o sofrimento associado a esse tipo de relação, tema dos mais pesquisados nas últimas décadas. Atualmente o autor é membro da presidência da Sociedade Milton Erikson na Alemanha e membro fundador da Sociedade Alemã-Chinesa para psicoterapia. Desenvolveu pesquisas, no México, na China, na Alemanha, sobre temas relacionados com o amor, interações conjugais e familiares e psicoterapia e atualmente integra grupo de pesquisa sobre casal e família no Brasil. Esta ampla experiência multicultural o levou a apresentar, neste livro, a complexidade das interações conjugais como uma contribuição para a terapia de casais. São discutidas questões fundamentais como o que significa hoje psicoterapia e o conceito de mudança numa perspectiva sistêmica.
Uma ampla revisão da literatura sobre essas questões precede a introdução da relação conjugal, apresentada sob vários ângulos, entre eles a perspectiva antropológica de onde emerge a polaridade natureza e cultura, as questões do matriarcado e do patriarcado, do incesto e de sua proibição, desenvolvendo a base antropológica da relação conjugal. A partir dessa discussão, é demonstrado que o fundamento do casamento e da família se encontra na cultura e não na natureza. É apresentado também o desenvolvimento da relação conjugal a partir dos componentes que cada um dos cônjuges carrega consigo, da experiência emocional vivenciada na primeira infância e que, mais tarde, terá uma grande importância na escolha do parceiro. Nesse sentido, observa-se como a dimensão sistêmica integra elementos do sistema emocional, como ela se estrutura e como sua dinâmica interatua numa dimensão intergeracional. O conceito de ciclos de vida familiar é apresentado com interessantes exemplos, bem como as questões vinculadas à vivência da sexualidade nas relações conjugais. As questões do amor passional e do amor duradouro são discutidas sob o ângulo das emoções definidas como o fundamento dos comportamentos humanos. São precisamente as emoções que estão na base dos sentimentos de bem-estar ou de mal-estar, fundamentos do que nós vivemos como felicidade e infelicidade, nas relações interpessoais. O sentimento do AMOR se destaca do conjunto das emoções como um dos mais importantes, porque tem como objeto a pessoa amada e como fim a união com ela, culminando com a constituição do casal.
Isso leva a questões sobre a estrutura e dinâmica subjacente às interações conjugais e, neste sentido, o livro discorre sobre as influências que podem estar como pano de fundo para a manutenção ou não das relações conjugais, e como a terapia de casal pode contribuir para o esclarecimento da relação.
A terapia conjugal se realiza com um casal que se encontra inserido no contexto psicológico, social e cultural, no qual circulam as concepções de valores e as normas vigentes. Terapeutas são procurados quando o sentimento de felicidade abre espaço para o mal-estar, o sofrimento. Os conhecimentos oriundos de múltiplas fontes (antropológicas, psicanalíticas, psicodinâmicas e sistêmicas), apresentados nesse livro constituem uma importante contribuição para a formação dos terapeutas, quando discute as relações e as regras, a mudança dessas regras, a palavra e o gesto, pensamentos irracionais e a atribuição de culpa e alguns aspectos inconscientes. Além disso, discute amplamente, a partir das pesquisas realizadas sobre as terapias de casal, suas possibilidades e limites à luz do conceito de mudança procurando responder quão eficiente é a terapia de casal.
Portanto é um livro que interessa psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais e a todos os pesquisadores que procuram aprofundar esse tema.
Resenha aceita em 08 de janeiro de 2002