Revista Mal Estar e Subjetividade
ISSN 1518-6148 ISSN 2175-3644
EDITORIAL
A produção do sofrimento através do singular e do institucional
Diante do interrogante sobre as formas de mal-estar que nossa época apresenta, o terceiro número da Revista Mal-estar e Subjetividade traz à tona artigos e resenhas precisas no desiderato de aprofundar as insurreições da Subjetividade, no afeto ao sujeito, em suas nuances individuais, universais, estruturais, racionais e suas repercussões no espaço do social. Segue com uma análise sobre a relação agressividade e violência, tomando como enfoque a perspectiva sócio-psicanalítica.
Traz a discussão sobre a desconcretização subjetiva das mulheres contextualizadas no espaço de trabalho institucionalizado, vivamente atravessado por uma lógica de dominação advinda do masculino, onde se nota um deslocamento do referencial de uma posição sexista para o eixo da competência profissional, espaço institucional que varia de acordo com a forma que se estabelece a cultura da empresa, sua complexidade e sua formação grupal. Indica que dentro das relações sujeito-instituição o que se pode levantar como hipótese de leitura do mal-estar contemporâneo aponta a uma resposta à chamada crise da cultura moderna.
Nesse contexto de crise, a obra freudiana comparece como catalizadora do mal-estar, fazendo frente as totalizações propostas pelos discursos da ciência e da religião, fazendo emergir, ao mesmo tempo, a proposta ética propugnada pelo sujeito desejante que exibe uma singularidade contraposta ao nivelamento homogeneizador da subjetividade. No âmbito da discussão sobre os efeitos do mal-estar chamamos a atenção do leitor para a Psicologia Ambiental e as brechas que se abrem entre o meio-ambiente, as instituições e o sofrimento psíquico, dentro da formação acadêmica do estudante de graduação e o aprofundamento que projetos específicos podem trazer com estudos de pós-graduação.
Concluímos este número com uma vertente clínica do sofrimento, mediante as considerações sobre o histrionismo na estrutura histérica e com uma interessante elaboração sobre o deslocamento realizado entre angústia/afeto e desamparo/estado. Considerações clínicas que se coadunam com a resenha sobre as novas formas do adoecimento do homem hoje e, conseqüentemente, a indicação dos lugares que o analista deve ocupar em tempo de aparente esfacelamento da psicanálise.
Assim, o mal-estar se atualiza na cultura e exige esforços da academia e da escuta clínica na tarefa de reorganização de um saber aparentemente esfacelado. Neste número, nosso esforço é o de mostrar que há um plano viável de leitura dessas produções subjetivas do homem contemporâneo, na medida que o institucional e o singular se cruzam no campo da produção do sofrimento. Sofrimento que suporta análise de posições dos que estamos sustentando possíveis lugares transferenciais demandados por aqueles que se exasperam e se desesperam diante da pergunta: "O que o Outro quer de mim?"
Henrique Figueiredo Carneiro