Revista Mal Estar e Subjetividade
ISSN 1518-6148 ISSN 2175-3644
RIBEIRO, Patrícia Alves. Mal-estar na psiquiatria: o papel da mulher na instituição psiquiátrica. []. , 3, 2, pp.395-417. ISSN 1518-6148.
^lpt^aO presente artigo é uma reflexão sobre o papel questionador e revolucionário das mulheres, especialmente as histéricas, nas instituições psiquiátricas, dado seu atravessamento pelo discurso capitalista que, em aliança com o discurso da ciência, produz sérias consequências no campo da psiquiatria e na cultura moderna. Um desses efeitos é a dessubjetivação do sofrimento, localizando-o no corpo, para que seja tratável pelo saber médico. Por isso, tomamos a psiquiatria biológica como exemplo paradigmático do entrelaçamento desses dois discursos no campo da psiquiatria.Um outro efeito é a transformação de qualquer mal-estar em doença, para que possa ser medicável. Perdemos o direito de ficar tristes, ficamos deprimidos. O discurso capitalista é apontado por Lacan como aquele que foraclui a castração. Esta foraclusão corresponde ao apagamento da diferença, à dessexualização, à massificação que vivemos em nossa cultura. A foraclusão da castração corresponde a foraclusão do laço social. É nesse ponto que as histéricas têm seu papel revolucionário, pois o discurso da histérica é o que pode mais diretamente questionar o do capitalismo, pois aponta para a castração e não pode existir fora do laço social. As histéricas desafiam a psiquiatria biológica também com seu corpo, pois produzem o sintoma no "corpo erógeno" e não no "corpo biológico". Ao foracluir a castração, o discurso do capitalista foraclui também as "coisas do amor". A erotização, a valorização do laço social e das "coisas do amor" é o ponto comum das histéricas com as mulheres. Freud delega à mulher o papel de Eros na cultura e lhe dá a condição de ser o "antídoto contra a massa". Não estariam as mulheres, em especial as histéricas, encarnando o limite de impossibilidade de tratar do humano em uma perspectiva dessexualizada? Não estariam estes sujeitos berrando com seu inconsciente o fracasso da pretenção de homogenização, apagamento das diferenças? Não teriam as mulheres e as histéricas, com seu "antídoto contra a massa", uma função de resistência a essa tendência de dessubjetivação operado pela psquiatria biológica? É o que pretendemos articular nesse pequeno ensaio.^len^aThis article is about the revolutionary roll played by women, especially the hysterical ones, in mental institutions, considering that the logics capitalism rules these institutions. The liaison between capitalism and science has serious consequences to psychiatry and to our culture.One of the consequences is the attempt to localize psychological suffering in the body, so that it is of concern to the medical knowledgement. Therefore biological psychiatry will be taken in this article as an exemple of the association of science and capitalism in the field of psychiatry. This association has another consequence: any kind of indisposition is taken as illness and there is a corresponding medicine.We do not get sad anymore, we get depressed. According to Jacques Lacan capitalism denies ("Vewerfung") castration. This corresponds to the fading of differences (especially the sexual difference) and to the effect of massing people we feel in our culture. As a result of denying castration we have the fading of the social bonds. Hysteria, this way of relationship formalized by Lacan as a speech, points to castration and does not exist out of the social bonds. Therefore hysteria questions capitalism and may play a revolutionary roll in modern culture. Hysterical women also threaten science with their body, since their symptoms belong to the erotic body, that is, the body as it is built by the investiment of the libid and not to the biological body. Denying ("Verwerfung") castration capitalism also denies the affairs of love. The importance given to the social bonds, erotism and the affairs of love is what hysterical women and "ordinary"women have in common. Freud gives women the status of Eros in the culture and the condition of a "medicine against massing". For those reasons we ask: don't women, especially the hysterical ones, resist to the attempt of treating human beings as mere organisms, desconsidering the erotism involved in their symptoms, that is, the repressed desire, the unconscious? Isn't that why they cause so much trouble in mental institutions where biological psychiatry is used to treat people and the logic of capitalism rules?
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