Revista Mal Estar e Subjetividade
ISSN 1518-6148 ISSN 2175-3644
MOREIRA, Jacqueline de Oliveira. As faces do trauma na contemporaneidade: a dialética do dizível e do indizível no transtorno do pânico, uma lacuna na história. []. , 6, 1, pp.67-84. ISSN 1518-6148.
^lpt^aNo presente trabalho, pretendemos refletir sobre a questão do desamparo e do trauma presentes no transtorno do pânico, sobre a vinculação dessa forma de adoecer com os traumas pós-modernos, e pesquisar a falência traumática do ego em historicizar a vida do sujeito panicado. O mundo moderno não oferece ao sujeito formas eficazes de contornar a condição estrutural de desamparo, criando um ambiente propício ao aumento de casos de transtorno do pânico. A situação de desamparo pode ser atualizada na vida de um sujeito, quando este se depara com a perda de um ideal que funcionaria como referencial organizador de sua estrutura psíquica. A perda desse ideal organizador produz um enlouquecimento da cadência pulsional e, frente ao grande perigo interno, o aparelho psíquico, numa tentativa de defesa, projeta o perigo para o mundo externo na forma de pânico. O ego será o agente dessa projeção, pois é o primeiro anteparo contra a angústia. Assim, o transtorno do pânico é uma tentativa patológica do psiquismo de lidar com o enlouquecimento produzido pela perda do ideal. Nossa hipótese é a de que nesse trabalho o ego perde sua capacidade de retecer a história do sujeito que se refere à relação com a instância ideal. O ego narcísico-imaginário tenta historicizar o início imprevisível, mas o ataque de angústia fragiliza essa instância, criando uma lacuna na história do sujeito. Assim, concordamos com Fédida, quando este revela que o psicanalista cuida do eros doente pelo excesso, a palavra transferencial oferece a escuta e a nominação desse afeto, possibilitando um novo destino para este último (afeto). Idéia que defendemos em um caso clínico ao final do texto.^len^aIn the present paper, we intend to discuss the issues of helplessness and trauma, both present in panic disorder, as well as the link between this sickening process and post-modern traumas. We will also study the ego traumatic failure in historicizing the panicked subject's life. The modern world doesn't provide subjects with efficient ways of dealing with the structural helplessness condition. It creates, therefore, a propitious environment for the rising of panic disorder cases. The helplessness situation can emerge in the subject's life when he has to face the loss of an ideal who used to work as an organizing reference of his psychic structure. The loss of this ideal/organizer generates great confusion in the pulsional cadencies. The psychic system, in order be able to face a great internal danger, in an attempt to defend itself, projects danger in the outside world by panicking. The subject's ego will be the agent of this projection, for it is the primary barrier against anguish. Therefore, panic disorder is a psychic pathological attempt to deal with the craziness generated by the loss of the ideal. Nevertheless, according to our hypothesis, during this whole process the ego loses it's capacity of rebuilding the subject's story concerning his relation to the ideal instance. The narcissistic-imaginary ego tries to historicize the unpredictable beginning, but the anguish attack weakens such instance, and generates a gap in the subject's history. This is why we agree with Fédida, as he reveals the psychoanalyst takes care of an Eros sickened by excess. The word 'transference' offers the hearing and the nomination of this affect, providing it with the possibility of a new faith (affect). This is the idea we stand for in a clinical case described at the end of the text.
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