Revista Mal Estar e Subjetividade
ISSN 1518-6148 ISSN 2175-3644
PEYON, Eduardo Rodrigues RUDGE, Ana Maria. A poética dos neurônios em Freud. []. , 7, 2, pp.501-526. ISSN 1518-6148.
^lpt^aNo seu artigo Freud e a Cena da Escritura (1967), Derrida valoriza a Bahnung (Facilitação) freudiana como um conceito que indica uma possibilidade de ruptura com a metafísica clássica. Segundo Derrida (1967), Freud, ao afirmar que a memória e, conseqüentemente, o psiquismo é fruto das diferenças entre essas facilitações (Bahnungs) nos neurônios PSI, não estabelece uma origem pura e plena para o psíquico. Derrida afirma, ainda, que Freud buscou, em seu Projeto, dar conta do psiquismo através de um apelo ao princípio da diferença. Assim, a origem seria a différance que não é um conceito, nem uma essência, tampouco é a tradução de algum significado transcendental. Desta forma, não há uma origem definitiva do psiquismo que possa ser plenamente determinada, mas sim uma origem que já é transcrição dessas diferenças entre as facilitações e cujo significado está sempre sendo reconstituído no a posteriori (Nachträglichkeit). Por fim, é com a metáfora do Bloco Mágico (Wunderblock) que o modelo freudiano se conforma mais propriamente a uma escritura. No presente artigo, buscamos articular essa leitura derridiana de Freud com a poesia; esta aqui é entendida como criação diante da ignorância ou estranheza que a différance, a cada vez, faz emergir. A poesia seria, portanto, uma possibilidade de desdobramento da différance, seguindo as vias abertas pelas primeiras facilitações nos neurônios. A criação segue reenviando à própria origem, impedindo, assim, que se estabeleça uma oposição absoluta entre a origem e o originado e também um pleno presente em qualquer tempo, passado, presente ou futuro.^len^aIn his article "Freud and the Scene of Writing", Derrida (1967) values the Freudian 'Bahnung' (facilitation) as a concept that fosters a rupture with classic metaphysics. According to Derrida, Freud, when he affirms that memory and, consequently, the psychic, are fruits of differences between these facilitations in psychic apparatus, does not establish a pure and full origin of the psychic. Derrida affirms also that Freud tried, in his "Project", to give account of psychic invoking the principle of difference. Thus, the origin would be 'différance', which neither is a concept, nor an essence, nor the translation of some transcendental meaning. So, the psychic does not have a definitive origin that can be fully determined, but it has an origin that is already the transcription of those differences between the facilitations, which meaning is always re-constituted as a deferred action ('Nachträglichkeit'). Finally, it is with the metaphor of magical block ('Wunderblock') that Freud takes writing more precisely as a model. In the present article, we aim to articulate this Derridarian interpretation of Freud with poetry. Poetry is understood, here, as a creation in face of ignorance or strangeness, that 'différance', in each time, makes emerge. Poetry would be, therefore, an unfolding of 'différance', following the ways opened by the first facilitations in neurons. Creation always remits to its origin, thus, precluding the establishment of any absolute opposition between the origin and the originated, and, also, of a plain present, in any time: past, present or future.
: .