Revista Mal Estar e Subjetividade
ISSN 1518-6148 ISSN 2175-3644
VILHENA, Junia de; NOVAES, Joana de Vilhena ROCHA, Livia. Comendo, comendo e não se satisfazendo: apenas uma questão cirúrgica? Obesidade mórbida e o culto ao corpo na sociedade contemporânea. []. , 8, 2, pp.379-406. ISSN 1518-6148.
^lpt^aO culto ao corpo perfeito passou a ser tema da moda, objeto de preocupação dos estudiosos e fonte de angústia para as mulheres. Em uma sociedade onde o corpo, além de objeto de consumo, passa a ser lócus privilegiado da construção identitária feminina, a relação com o próprio corpo acaba por tornar-se desprazerosa e persecutória. A cultura do corpo tomou conta da cena contemporânea produzindo e agenciando subjetividades. Distintas práticas corporais, cada vez mais radicais, estão sendo utilizadas para escapar do grande vilão chamado "gordura". Associada à feiúra, desleixo e fraqueza de caráter, diferentes mulheres prestam depoimentos ao longo deste trabalho falando da exclusão social e discriminação vividas. Neste artigo buscamos compreender a obesidade mórbida a partir da psicanálise, pressupondo um sujeito de linguagem tanto como um sujeito de gozo. Visto desta forma, a obesidade é um sintoma, posto que sintoma é um fenômeno estruturado como uma linguagem, mas também um gozo com o qual não se soube bem o que fazer. Sintoma como ponto condensado de gozo que captura o sujeito, deixando-o em suspenso. Assim, buscamos fazer um recorte tendo em vista o novo contexto em que se tem pensado a obesidade, definida, a partir do discurso médico, enquanto uma patologia que exige correção, nesse caso a "cirurgia da obesidade". É por este viés, da medicalização crescente do corpo que buscamos entender o fenômeno da obesidade/cirurgia como ancorados em uma cultura que, cada vez mais, controla e moraliza o corpo.^len^aThe body awareness became a fashion, an academic theme, as well as a major source of anxiety for women. In a society, where in addition of being seen as merchandise, the body is more than ever, the privileged locus of identitary construction. Facing such unattainable goals and such impossible ideals, women are due to have a very anxious and persecutory relationship with their own bodies. The body culture, took care of the contemporary society, producing and negotiating subjectivities. Different corporal practices, more and more radicals, are being used to escape the great villain called "fat". Associated to ugliness, negligence and character weakness, different women bear testimonies along this work speaking of the social exclusion and discrimination experienced. In this article we aimed to understand the morbid obesity from a psychoanalytic view, presupposing a subject of language as much as a subject of joy. Obesity is viewed as a symptom, since symptom is a phenomenon structured as a language, but also as joy with which one did not know well what to make. Symptom is a condensed point of joy that captures the subject, leaving him in suspension. We intend to view obesity in this article, stressing the medical speech -, a pathology that demands correction, the bariatric surgery or "surgery of the obesity". Taking obesity or mere fatness as the paradigm of ugliness, the authors points out how intolerant society became of those who deviate from what the body culture has established as normal. It is from these points of view that we can stress the role of the culture in the growing medicalization of the body and understand the phenomenon of the obesity/surgery as anchored in a culture that is increasing its controls and regulations of the human body.
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