Revista Mal Estar e Subjetividade
ISSN 1518-6148 ISSN 2175-3644
CHAVES, Wilson Camilo NANI, Rita Helena Gonçalves. Considerações a respeito da concepção de religião nos textos freudianos "O futuro de uma ilusão" e "O mal-estar na cultura". []. , 8, 2, pp.453-473. ISSN 1518-6148.
^lpt^aEste artigo visa elucidar a concepção de religião nos textos freudianos O Futuro de uma Ilusão, de 1927, e O Mal-Estar na Cultura, de 1929-30. Este trabalho se justifica uma vez que se tornou lugar comum a premissa de que para Freud a religião não passa de uma ilusão, próxima ao adjetivo "ópio" que lhe deu Karl Marx. O homem se torna psiquicamente dependente de suas crenças de tal maneira que não consegue suportar a vida sem ter em sua base uma religião. Freud, em O Futuro de uma Ilusão afirma que as religiões são ilusões na medida em que se originam do desejo humano. Como são ilusões e não constituem objeto das ciências, não oferecem margem para questionamentos a respeito de sua autenticidade. Já no texto O Mal-Estar na Cultura tenta compreender a origem do sentimento oceânico, inerente à religiosidade. Elabora a hipótese de ser uma extensão do sentimento primário do eu. Para este autor, o sentimento religioso é expressão de uma necessidade intensa, que poderia ser uma "reedição" do sentimento de desamparo infantil. Ou seja, seria a reedição da necessidade de proteção de um pai vivida na infância, de uma proteção contra um poder superior do destino. Conclui-se que, em ambos os textos freudianos, a religião é uma das expressões do desejo humano, daí seu caráter ilusório. Sua força está no fato de que é fonte de necessidade intensa de uma busca pelo Pai, reeditando a condição de desamparo infantil.^len^aThis paper aims to elucidating the religion concept in the Freudian texts The Future of an Illusion (1927) and Civilization and its Discontents (1929-30). This work may be justifiable if taken into account the premise - which has become a commonplace - that, in Freud's view, religions is nothing but an illusion, something close to the adjective "opium", given to it by Karl Marx. Man becomes psychically dependent on his faiths in such a way that he is not able to carry on without owning a religious base. Freud ascertains in The Future of an Illusion that religions are mere illusions as they come from human desire. As illusions that do not take part in science's objects, are not susceptible to questionings concerning their authenticity. In Civilization and its Discontents Freud attempts to understand the origin of the oceanic feeling which is inherent to the religiosity. He elaborates the hypothesis that it could be an extension of ego's primary feeling. According to Freud, religious feeling expresses an intense urge that could be a " re-edition " of the sense of abandonment experienced in childhood. That is, it could be the re-edition of the necessity of a father's protection experienced in childhood against destiny's superior power. In conclusion, in both texts religion is regarded as one of human desire's expressions, hence its illusive character. Its strength lies in the fact that is a source of intense need for seeking the Father, as a repetition of child's condition of abandonment.
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