8 3 
Home Page  


Revista Mal Estar e Subjetividade

 ISSN 1518-6148 ISSN 2175-3644

PAULINO, Maria das Graças Rodrigues. Reprovando o trágico: sociedade de consumo e poesia na escola. []. , 8, 3, pp.803-828. ISSN 1518-6148.

^lpt^aEste trabalho compara a presença de poemas trágicos em escolas brasileiras dos anos 1950 com seu relativo abandono nos anos posteriores, especialmente pela inserção do País nas sociedades de consumo cultural. Uma antologia poética usada por professoras das séries iniciais em 1957, em algumas escolas do Estado de Minas Gerais, é referida como exemplo de obra que assume o trágico junto aos alunos, como discurso relacionado à condição humana com seus impasses, dos quais se podia falar, ouvir, escrever e ler. Hoje esse discurso é reduzido em importância ou negado em diversas escolas para crianças como depressivo, patológico. Muitas escolas excluem textos trágicos, sob a alegação de que não fariam bem aos pequenos alunos. Trata-se de uma confusão entre arte trágica e abordagens midiáticas da violência, associadas ao espetáculo gratuito, num processo de banalização do trágico, apontada por Adorno, em sua denúncia da indústria cultural. A dimensão político-social dessa mudança é focalizada a partir da Teoria Crítica da Cultura e também dos poderes discursivos, segundo Charaudeau (político) e Maingueneau (literário). O Brasil tardiamente se torna uma sociedade de consumo, a partir dos anos 1950, explicando isso em parte a preferência crescente por livros infantilizados, em nome de um mercado específico. Embora tenha melhorado em qualidade e quantidade, nossa produção de livros para crianças chega aos nossos dias muitas vezes ameaçada por um repúdio ao trágico próprio da arte literária ocidental. A ordem do consumismo (Lipovetsky) cuja história se inicia no fim do século XIX no Ocidente, revela, desde a segunda metade do século XX, sua face mais cruel, ao levar os sujeitos à necessidade de serem sempre "felizes", vivendo numa sociedade que nega a fala dos sofrimentos e faz do trágico um grande espetáculo midiático, aparentemente contrário a outras instituições, como algumas organizações culturais que escolhem para crianças textos amenos, e certa psiquiatria, que, ignorando o poder psicoterapêutico da palavra, continua receitando antidepressivos para quaisquer tristezas de seus pacientes.^len^aThis study confronts the presence of tragic poetry in the 1950's to its reduction in the years that followed, in elementary schools in Brasil, when the country became a consumerist society. A poetical anthology was used by children's teachers in 1957 in some schools of Minas Gerais State. That anthology is a proof of the presence of tragic texts in classrooms of that time, as a discourse about human condition and its troubles, which children could talk, hear, read and write about. Nowadays this discourse has been seen as depressive, pathological. Many schools refuse tragic texts saying that they are disruptive for children. Institutions, such some schools, cannot distinct tragic art with its midiatic banalization, in the sense of Adorno, when he denounced the cultural industry. The social-political dimension of this change is focused from the point of view of Critical Cultural Theory and also through the ideas of Discourse Analyses, according to Charaudeau and Maingueneau. Brasil became a consumerist society in the end of 1950's, but the consumer order (Lipovetsky), associated with occidental life and its degradation, has a long history, since the end of the 19th Century. It created a permanent need of happiness in people, a situation which denies the painful discourse and turned the tragic into a "discourse show". Many cultural organizations and schools prefer to work with plain texts and many psychiatrists, ignoring the speech recovery powers, prefer to use medicine to treat all kinds of sadness and sorrows that pacients may have.

: .

        · | |     · |     · ( pdf )

 

Creative Commons License All the contents of this journal, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution License