Revista Mal Estar e Subjetividade
ISSN 1518-6148
EDITORIAL
Suffering, body and look
O olhar circula e impõe ao sujeito uma constante condição indagadora. O que ele vê em mim? O que quer de mim? Esse outro me deseja? Como me coloco? Diante dessa dinâmica, o sujeito se verte em uma posição. Um lugar subjetivo que atende à sua realidade psíquica e que afeta, ao mesmo tempo, a sua posição no laço social e na forma de conduzir suas relações.
Começamos este número por dimensionar o lugar do adolescente diante do olhar que circula e que o atravessa, exigindo-lhe uma resposta subjetiva. Neste sentido, o corpo fica tomado sempre pelo olhar do Outro, que implica o sujeito numa pergunta. As repostas são várias e indicam o sofrimento psíquico fruto do mal-estar inerente a esse lugar.
O transtorno dismórfico corporal - visto na adolescência - pode incidir sobre uma série de sintomas da distorção da imagem. Entretanto, a adolescência traz à tona a posição do sujeito diante da vergonha, categoria de extrema relevância para a construção de sentido frente ao sofrimento psíquico. O artigo sobre o transtorno dismórfico, que abre este número, recoloca o sujeito diante da pergunta do olhar do Outro. Sugere uma visita pela lógica apresentada no Estado do Espelho, desta feita na condição do lugar que pode vir a ocupar diante do outro sexo. No mesmo sentido, apresentamos a pergunta do sujeito ao Outro quando o corpo se apresenta pela via da obesidade ou da opulência como fetiche no contexto da modernidade. Um lugar de vergonha ou um lugar de gozo? Seja qual for o caminho, são duas formas de respostas às indagações do Outro, nas quais, necessariamente, não entra em cena a lógica da exclusão mútua.
Publicamos, na sequência, trabalhos que versam sobre o sofrimento em uma perspectiva mais ampla no artigo que trata de conceituar sujeito e subjetividade, de acordo com as teorias de Freud e Lacan, em particular, as formas de subjetivação e seus efeitos sobre a existência humana, o adoecimento e o convívio social na atualidade. Discutimos o sofrimento que exige uma revisão sobre a angústia e o complexo de Édipo na visão psicanalítica freudiana e pós-freudiana, com o intuito de situar a angústia na criança, tanto em um momento transitório, como em um momento de ordem mais edípico, apontando para o caminho relacionado à neurose infantil. Refletimos sobre o sofrimento que remete a uma constante atualização sobre a análise da dor física e psíquica na elaboração freudiana da teoria metapsicológica.
É posto em discussão o sofrimento consequente de perguntas que o sujeito não responde com a linguagem e intervém no corpo, utilizando-se de uma condição subjetiva afetada pela droga, resultando no ato da eliminação da própria vida. Levamos o sofrimento para uma visão constitutiva do sujeito e a pergunta sobre o lugar do feminino. Com isso, se estuda a relação entre o conceito e a ocupação do lugar, a noção de alteridade e quais os limites inerentes à constituição do sujeito nesta posição. E, em decorrência da discussão sobre a pergunta pela dor, situamos as transformações possíveis do discurso de vitimização de familiares, quando levados a um posicionamento conjunto, responsável pelo sofrimento psíquico vivido pelo sujeito.
Destacamos o sofrimento que encontra, talvez, na pergunta pelo sexo, a sua maior complexidade, quando seguimos as análises feitas sobre os efeitos dos enunciados das atuais políticas públicas acerca da diversidade sexual propostas para a educação, principalmente através do Programa Brasil Sem Homofobia. Pergunta que, ficando sem resposta para a vítima de estupro, mortifica o sujeito em uma posição de sofrimento insuportável. Resposta que na percepção de jovens mulheres vitimadas sexualmente associam violência e efeitos sobre a sua saúde nos aspectos emocionais, físicos e comportamentais.
Do ponto de vista institucional, o sofrimento psíquico levanta grandes polémicas epistemológicas e conceituais. Um caso de autismo com internação prolongada é analisado a partir da perspectiva da Psiquiatria e da Psicanálise. Um estudo sobre o sofrimento psíquico de professores diante das exigências de produção científica mostra que a saúde mental do trabalhador está diretamente ligada à gestão administrativa. Finalizamos com apresentação de uma experiência envolvendo psicanálise e capoeira no espaço de um CAPS-ad, e, com uma reflexão sobre o filme Clube da Luta, no intuito de repensar os conceitos de imago, imagem, papel e função paterna.
Henrique Figueiredo Carneiro
Editor e Organizador