23 57 
Home Page  


Revista Psicologia Política

 ISSN 2175-1390

        07--2024

 

Artigo Original

AVALIAÇÃO DE NECESSIDADES COM PESSOAS LGBTQIA+: UMA PERSPECTIVA DIALÓGICA-NARRATIVA

Evaluación de necesidades con personas Lgbtqia+: una perspectiva dialógico-narrativa

Needs assessment with Lgbtqia+ people: a dialogical-narrative perspective

MATHEUS DA SILVA NEVES1  , Concepção, Coleta de dados, Considerações Teórico-metodológicas, Análise de dados, Elaboração do manuscrito, Revisões críticas de conteúdo intelectual, Importante: Aprovação final do manuscrito
http://orcid.org/0000-0001-6805-2075

SILVIA RENATA LORDELLO2  , Concepção, Considerações Teórico-metodológicas, Análise de dados, Elaboração do manuscrito, Revisões críticas de conteúdo intelectual, Importante: Aprovação final do manuscrito
http://orcid.org/0000-0002-8287-7257

1Psicólogo e bacharel formado na Universidade de Brasília, Mestre pelo Departamento de Psicologia Clínica e Cultura - vinculado ao Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília. Pesquisador voluntário junto ao grupo GEPPSVida (Grupo de Estudos em Prevenção e Promoção de Saúde no Ciclo de Vida) do Departamento de Psicologia Clínica da Universidade de Brasília (UnB), Brasília/DF. https://orcid.org/0000-0001-6805-2075 E-mail: onmaths@gmail.com

2Doutora em Psicologia Clínica e Cultura pela Universidade de Brasília (2013). Docente do Programa de Pós-graduação em Psicologia Clínica e Cultura e da graduação em Psicologia na Universidade de Brasília. É coordenadora do Laboratório de Família, Grupos e Comunidade (LABFAM), na UnB. http://orcid.org/0000-0002-8287-7257 E-mail: srmlordello@gmail.com


RESUMO

O preconceito é um aspecto da socialização que atravessa e marca as formas de autoidentificação do Eu e sua capacidade de produzir interlocuções com o mundo. O artigo analisa narrativas sobre vivências à luz das práticas colaborativas e dialógicas, com intuito de obter insumo para intervenções psicossociais com/para pessoas LGBTQIA+. Foi realizado um grupo focal com pessoas LGBTQIA+ maiores de 18 anos, usuárias de serviços assistenciais, utilizando como ferramenta metodológica a Avaliação de Necessidades. Essa ferramenta foi aprimorada com a revisão de pares qualificados no tema de avaliações, gênero e diversidade. A coleta direciona nossa atenção para as condições vulneráveis que pessoas sexo-gênero diversas vivem e as adaptações que construíram para se adequar. Os resultados demonstram como a vivência dessas pessoas foi perpassada pela discriminação, em seus diferentes ambientes de socialização e desenvolvimento, evidenciadas pela análise de conteúdo.

Palavras-chave: construcionismo social; psicossocial; avaliação de necessidades; identidade de gênero

RESUMEN

El prejuicio es un aspecto de la socialización que atraviesay marca las formas de autoidentificación del Yo y su capacidad para producir diálogos con el mundo. El artículo analiza narrativas sobre experiencias a la luz de prácticas colaborativas y dialógicas, con el objetivo de obtener insumos para intervenciones psicosociales con/para personas LGBTQIA+. Para ello, se realizó un estudio con un grupo focal de personas LGBTQIA+, mayores de 18 anos, usuarios de los servicios de atención social, utilizando como herramienta metodológica la Evaluación de Necesidades. Este instrumento fue mejorado con la revisión de pares calificados en el tema de evaluaciones, género y diversidad. La recopilación de datos dirige nuestra atención a las condiciones vulnerables que expertmentan las personas de sexo y género diversos y a las adaptaciones que construyeron para adaptarse. Los resultados demuestran cómo la experiencia de estas personas estuvo permeada por la discriminación en diferentes ambientes de socialización y desarrollo, evidenciada por el análisis de contenido.

Palabras clave construccionismo social; psicosocial; evaluación de necesidades; identidad de género

ABSTRACT

Prejudice is an aspect of socialization that crosses and marks the forms of self-identification of the Self and its ability to produce dialogues with the world. The article analyzes narratives about experiences in the light of collaborative and dialogic practices, with the aim of obtaining input for psychosocial interventions with/for LGBTQIA+ people. To this end, a study was carried out with a focus group of LGBTQIA+ people over 18 years of age, users of social care services, using Needs Assessment as a methodological tool. This tool was improved with review by qualified peers on the topic of assessments, gender and diversity. Data collection directs our attention to the vulnerable conditions that sex-gender diverse people experience and the adaptations they have constructed to fit in. The results demonstrate how the experience of these people was permeated by discrimination in different socialization and development environments, evidenced by content analysis.

Keywords social construcionism; psychosocial; needs assessment; gender identity

INTRODUÇÃO

A sigla LGBTQIA+ agrupa a representação de identidades políticas sexo-gênero diversas1 denominadas Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transgêneros, Queer, Intersexuais e Assexuais. O preconceito a este grupo é representado por um conjunto de posturas e comportamentos que ilustra hostilidade dirigida a vivências identitárias de pessoas gays, lésbicas, bissexuais, pessoas trans, queer e assexuais, de modo a significar o outro como desviante e portador de uma transgressão. Esse fenômeno pode se traduzir em desconforto, indiferença e violência, que não se restringe apenas à sexualidade das pessoas, mas também à identidade de gênero2. Desta forma, heteronormatividade ou norma heterossexual refere-se a um tipo de racionalidade que contempla normas, valores, princípios de conduta e dispositivos, por meio da qual a cisgeneridade3 heterossexual é instituída como a única possibilidade legítima e natural de expressão identitária e sexual, estabelecida como uma convenção social privilegiada. É por meio dessa perspectiva cotidiana de exclusão de quaisquer outras possibilidades de experiência da sexualidade que o preconceito atua como um mecanismo de proteção das fronteiras sexuais e das fronteiras de gênero, reproduzindo um sistema de diferenças que legitima e justifica a marginalização e dominação de sujeitos. A teoria Queer (Butler, 2011a) descreve que os papéis de masculinidade e feminilidade não são biologicamente fixos, mas socialmente construídos, moldados pelos significantes materiais e imateriais que orbitam o objeto. Sobre estes processos de construções de sentido do mundo, a preconceito se coloca como significante nas dinâmicas de poder, corroborada por religiões e instituições, que se caracterizam como ferramenta para manutenção e regulação da sexualidade normativa. Em comum, o Construcionismo Social como meta teoria para as perspectivas pós-modernas descreve o processo de significação e construção de sentido por meio das interações humanas, materializadas no léxico comunicacional (Brito & Germano, 2016; Rasera & Japur, 2007). Assim, sujeito, objeto e conhecimento são construções sócio-históricas que precisam ser problematizadas e desnaturalizadas, entendidas como artefatos sociais mutáveis, negociados na relação dos sujeitos com a sociedade (Gergen, 2009). Desta forma, a presença do preconceito nas posturas discursivas evidencia como alguns entendimentos sobre a realidade prevalecem em privilégio a outros, sustentado pela capacidade retórica e de negociação de seus defensores, e pela utilidade social que têm em determinados contextos.

As pessoas LGBTQIA+ podem enfrentar as primeiras formas de preconceito e exclusão em seu núcleo familiar. Existem experiências que parecem ser comuns a todos os grupos de pessoas sexualmente diversas, como o “assumir-se” e a generalização do sentimento de inferioridade, percebida sobre suas performances4 de gênero, quando comparadas ou ressaltadas pela heterossexualidade cisgênera de conhecidos, amigos e familiares (Schulman, 2010). Como consequência, o enfraquecimento dos vínculos afetivos e o impacto na sua autoestima, podem permear a forma como pessoas LGBTQIA+ socializam, o que permite a perpetuação de ciclos de violência dentro da própria comunidade. Privilegiar e interpretar suas narrativas é um passo para a construção de caminhos teóricos e práticos, traduzidos em estratégias para uma transformação social que impacte positivamente qualidade de vida de pessoas LGBTQIA+.

Para promover mais formas de compreensão sobre sofrimentos que atravessam esta comunidade, propõe-se uma Avaliação de Necessidades em entrevista grupai, adotando-se para a análise das informações, o modelo de prática dialógica colaborativa (Anderson, 2012), para abordar possíveis interlocuções entre as interfaces subjetivas, sociais e econômicas desta população. Esta técnica permite acesso aos determinantes que atuam diretamente na qualidade de vida de um grupo, e como este se relaciona com o contexto em que se desenvolvem. Para acessar e atender este objetivo, são necessárias metodologias e sistematizações diferentes que visam responder formalmente às lacunas percebidas ou hipotetizadas (Murta & Santos, 2015).

A Avaliação de Necessidades serve como ferramenta metodológica que permite investigar e planejar serviços e intervenções, com acesso aos contextos sociais em que o problema epidemiológico se relaciona com a população. Essa avaliação direciona a busca de informações chave para definição de oferta de serviços e prioridades operacionais eficazes, que serve como equipamento de acesso a estas realidades. Sugere-se a Avaliação de Necessidades como forma de construção dos dados, para estruturação robusta das etapas que irão fundamentar e aperfeiçoar intervenções em andamento. Em conjunto, se atentar à contextualização das dinâmicas operacionais (entre cenário, público, interventores, estudo epidemiológico, recursos e barreiras) do projeto, oferece à equipe interventora um insumo autêntico das dinâmicas sistêmicas de multinível, o que possibilita a composição de caminhos conceituais que facilitem a adaptação e implementação dos mecanismos da intervenção (Haynes et. al., 2014).

Embora seja utilizado o framework EPIS (Exploration, Preparation, Implementation e Sustainment) como guia de direcionamento deste processo (Aarons, Hurlburt, & Horwitz, 2011), a intenção é que não se torne um protocolo rígido, mas que inclua com a maior abrangência os temas complexos que envolvem a realidade do público pesquisado. O framework EPIS é capaz de se adaptar à uma grande diversidade de projetos de acordo com a necessidade e o contexto que se desenvolve a intervenção, desde a conceptualização das etapas de um estudo até a avaliação final de seus resultados. A avaliação de necessidades proposta contempla a etapa de Exploration, na construção de subsídios para a atuação de profissionais que lidam com esta população na linha de frente, especialmente psicoterapeutas. Esta ferramenta também permite apreensão e descrição dos mecanismos da intervenção/protocolo explorado, análise contextual de multi-fatores relacionais entre variáveis e hipóteses, além de funcionar como guia de etapas sistematizadas ou não.

A interface dialógica aqui adotada problematiza esquemas positivisitas de rigor científico e se mostra atento à rigidez e às possíveis consequências de condicionamento estrito ou empobrecimento de informações decorrentes de um script fechado. Neste sentido, assume-se que a posição de pesquisador e o entendimento interpretado pela coleta não são neutros, de modo a trazer luz sobre os possíveis enviesamentos que podem interferir ou empobrecer a análise destes dados.

Quando integrado ao processo de pesquisa, o Construcionismo Social propõe uma perspectiva relacional dos processos pelos quais pessoas descrevem, explicam e significam o mundo em que vivem, se incluindo no processo (Gergen, 2009). É necessária a articulação de formas compartilhadas de compreensão do mundo, associadas à historicidade contextual em que se desenvolvem os acontecimentos da realidade (Gergen & Gergen, 2010).

A inteligibilidade sobre si mesmo não decorre dos eventos propriamente ditos, mas das “convenções narrativas disponíveis culturalmente, que destacam e se articulam de formas específicas” (Rasera & Japur, 2007, p. 48). Então, a concepção do self precisa compreender as propriedades das estruturas narrativas, marcadas por sua localização histórica e cultural. É possível observar a forma que a narrativa preconceituosa significa a vivência sexo-gênero diversa como desvio, o que paralelamente concede o status de privilégio às relações heteronormativas. A perpetuação contínua desses discursos promove a alienação e conformação dos indivíduos às possibilidades de ser e estar em sociedade, o que acentua a marginalização e vulnerabilidade de pessoas LGBTQIA+ (Andreo et al., 2016). Para promover o caráter preventivo das intervenções psicossociais, este artigo investiga diversas dinâmicas relacionais que perpassam a vida e construções sociais de pessoas LGBTQIA+, a partir de uma Avaliação de Necessidades. O objetivo é a produção de insumos qualificados (embasados em dados empíricos e analisados sob óticas teóricas) que permitam a criação de componentes interventivos para a estruturação de intervenções psicossociais.

MÉTODO

PARTICIPANTES

Os participantes deste estudo foram abordados por meio de convites em grupos virtuais, coletivos sociais e recomendações de terceiros. Para participar foi necessário identificar-se socialmente como uma pessoa LGBTQIA+, possuir mais de 18 anos, e já ter sido usuária de algum serviço público assistencial específico para diversidade (compreendendo que os insumos produzidos possam endereçar estes espaços e/ou profissionais que atuam no serviço público). Os critérios de exclusão foram pessoas menores de idade, que não se identificam socialmente com nenhuma das identidades sinalizadas pela sigla LGBTQIA+. A escolha de identidades diversas para a construção dos dados se pauta na riqueza explorada sobre as similaridades existentes nas narrativas de sujeitos sexo-gênero diversos, diferentes em gênero e sexualidade, mas comuns na autoidentificação não-normativa. Ao todo, cinco sujeitos participaram do processo de construção grupal destes dados. No processo de identificação das falas dos participantes, esses serão sinalizados no corpo do texto por siglas baseadas na palavra “Sujeito” (S1, S2, S3, S4 e S5), cuja caracterização se encontra na tabela 1.

Tabela 1 Descrição identitária auto declarada. 

Sigla Descrição
S1 Mulher cisgênero; lésbica; branca; 25 anos.
S2 Trans não-binário; assexuai pan-romântico; branco; 20 anos.
S3 Mulher cisgênero; lésbica; negra; 20 anos.
S4 Homem-trans; bissexual pansexual; branco; 19 anos.
S5 Homem cisgênero; bissexual; negro; 25 anos.

CUIDADOS ÉTICOS

Essa pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Ciências Humanas da Universidade de Brasília (CEP-IH), sob o protocolo CAAE: n. 88267118.2.0000.5540. Ao final do procedimento, os participantes foram informados que, em caso de algum sofrimento ou angústia decorrente da avaliação, o suporte técnico-terapêutico seria oferecido pós-coleta; nenhum participante solicitou este acompanhamento.

INSTRUMENTO

Para a coleta, utilizou-se um roteiro semiestruturado, pensado sob a luz das adaptações de diretrizes abordadas no framework EPIS, especificamente a etapa Exploration. O instrumento foi adaptado por processo de peer-review com outras pessoas LGBTQIA+ e pesquisadores da área de gênero. Roteiro semi-elaborado de perguntas, categorizado sobre as interfaces que subjetivam a identidade da pessoa LGBTQIA+ enquanto cidadão; se propõe uma ordem de conteúdo que explora os contextos relacionais do viver em sociedade, partindo do microcosmo (família) para o macrocosmo (cultura e sociedade). As perguntas partiram dos seguintes contextos psicossociais abordados, baseados em espaços vinculados ao desenvolvimento e a relação com espaços sociais: (a) Família (ex.: O que é família para vocês? Como vocês consideram estes relacionamentos?), (b) Escola (ex.: Como foi sua trajetória escolar? Algum evento específico marcou este momento para você?) (c) Trabalho (ex.: Vocês já tiveram experiências de trabalho? Qual impacto o trabalho representa hoje em suas vidas?) (d) Comunidade e Sociedade (ex.: Quais grupos, além da família, vocês se relacionam? Já participou de algum coletivo ou grupo com outras pessoas LGBTQIA+?). Um questionário sociodemográfico complementar foi utilizado.

PROCEDIMENTOS

A coleta ocorreu no Centro de Atendimentos e Estudos Psicológicos da Universidade de Brasília, após assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O grupo focal teve duração de 66 minutos, e o áudio foi gravado. Como técnica de pesquisa qualitativa, o grupo focal obtém dados a partir de reuniões em grupo com pessoas que representam o objeto de estudo. A principal vantagem do grupo focal é a oportunidade de observar uma grande quantidade de interação a respeito de um tema em um período limitado, com baixo custo (Gui, 2003).

ANÁLISE

Após a coleta, o procedimento de análise qualitativo (Minayo, 2012) é descrito nas seguintes etapas: (a) discussão sobre as impressões prévias relativas às falas dos participantes; (b) transcrição e revisão dos dados registrados; (c) leitura horizontal e vertical paralela dos registros pela equipe pesquisadora; (d) codificação das narrativas em categorias de significado, a partir de suas tendências; (f) revisão e cruzamento de percepções pela equipe sobre os códigos construídos; e (g) análise de conteúdo interpretativa, fundamentada nos aspectos conceituais da Teoria Queer (Butler, 2011a, 2011b) em interface dialógica com a teoria crítica pós-moderna do Construcionismo Social (Gergen, 2009; Gergen & Gergen, 2010; Rasera & Japur, 2005). Segundo Minayo (2012) no processo de análise qualitativa de dados empíricos, a compreensão e intemalização dos aspectos filosóficos e epistemológicos que fundamentam a interpretação podem assegurar uma análise de qualidade replicável. Desta forma, o aperfeiçoamento das interpretações teve início na construção de um grupo de estudos e pesquisa interdisciplinar em intervenções psicossociais, com o objetivo de aprofundar a compreensão de teorias e práticas utilizadas em pesquisas qualitativas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após a análise qualitativa, sete categorias foram percebidas dentro dos contextos psicossociais abordados. Os resultados a seguir serão apresentados em conjunto das discussões de seus aspectos, a fim de facilitar a leitura de aspectos relacionais complexos.

FAMÍLIA

É essencial compreender quais percepções pessoas LGBTQIA+ possuem em relação a este núcleo. A relação de proteção por parte da família e o custo que esta demanda nas relações é ilustrada nas falas dos participantes, uma vez que a sexualidade atravessa as expectativas de todos. Explorar essa relação aprofunda nossa interpretação sobre como auxiliar profissionais que trabalham nas instituições assistenciais dos CRAS (Centro de Referência em Assistência Social, como no Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV).

O PREÇO DO AMOR

Os trechos a seguir descrevem as particularidades na percepção que algumas pessoas LGBTQIA+ tem sobre suas famílias, da qualidade de seus vínculos e de que forma os compreende.

Acho que núcleo de afeto. (S1)

Acho que são aquelas pessoas que você constrói um vinculo, que se você precisar de algo, elas vão fazer o que podem para poder te ajudar. São as pessoas que tão lá para te apoiar. (S2)

Família é quem me aceita e quem eu também posso aceitar, do jeito que for. (S3)

Sobre estes trechos, percebe-se uma visão sobre família como relativa aos afetos positivos trocados, que estende o vínculo para além dos laços consanguíneos e permite constituir modelos familiares pautados nas similaridades de suas diversidades sexuais. Para estes sujeitos, a família precisa oferecer suporte nos momentos de necessidade, como um espaço seguro e de resiliência frente às mudanças contínuas da vida. Quando questionados sobre os impactos que sentem sobre as relações familiares, é possível perceber como identidade de gênero e desejo sexual condicionam regras e custos para esta relação.

escolhi estar distante de algumas pessoas da minha família no intuito de me sentir mais protegida e me sentir meio que aliviada. (S1)

deveriam ser pessoas que deveriam estar me apoiando da forma que eu preciso e não da forma que eles querem me enquadrar [...] querem me ajudar dentro da concepção que eles têm, da visão deles. (S2)

Antes a gente tinha muitos conflitos por diversos motivos, mas agora a gente tá bem próximo. Até em relação ao meu relacionamento, que eu pensei que ela (mãe) não ia conseguir aceitar, ela super conversa com minha namorada. (S3)

Eu tô sentindo um distanciamento pelo menos da minha parte [...] por eles não saberem lidar direito, por tentarem me entender [...] eles ficam esperando, esperam que eu seja de uma forma, [...] tinham aquela imagem minha e agora eu sou uma pessoa totalmente diferente e acho que isso acaba chocando um pouco eles e eles ficam nessa angústia de tentar me entender. (S4)

É interessante destacar que a forma de se adaptar a estas divergências familiares variam entre pessoas LGBTQIA+. Observa-se que a resposta de S1 e S4 em relação a autorrevelação sexual e as consequências desta nos laços familiares é de manter certa distância, que permita diminuição dos estímulos estressores das interações familiares; ao passo que S3 buscou construir um diálogo com sua mãe a fim de fortalecer sua identidade frente ao preconceito. Estes movimentos representam tentativas de adaptação ao contexto no qual se desenvolvem, o que reflete suas predisposições e atitudes para mediação de conteúdos nocivos e salutares.

Segundo Anderson (2016), o diálogo é uma atividade relacional colaborativa, que promove o enlaçamento de mundos diferentes e a sensação de mutualidade e compreensão. Por sua vez, a empatia catalisadora do diálogo fomenta um senso de responsabilidade compartilhada, facilitadora dos processos de desenvolvimento de autonomia e de identidade. Neste sentido S1 e S4 se encontram em caminhos possivelmente vulnerabilizadores, em que o peso de suas escolhas e consequências não pode ser compartilhado entre seus familiares. Também se percebe a ambivalência que a família oferece, enquanto recurso protetivo e primeiro núcleo sustentador do desenvolvimento; ao mesmo tempo em que se apresenta como limitadora, que delineia as possibilidades de ser e estar. Há uma aparente dificuldade, narrada pelos participantes, na transformação das expectativas que as famílias criam sobre eles, quando estas não são correspondidas.

Há indícios presentes nos discursos, que ilustram aspecto semiótico de uma negociação narrativa de entendimento, que pode ser promotora de angústia na relação familiar. O seguinte dilema é apresentado: a família alega o desejo de aproximação e interesse pela realidade vivida pelos sujeitos sexo-gênero diversos, ao mesmo tempo que condiciona essa aproximação a expectativas irreais de mudança ou conformidade a normas de gênero que não produzem sentido harmônico em seu mundo interno. Neste caso, o interesse da família, estaria condicionado a estas regras não ditas, porém atuadas e percebidas nos comportamentos, em que mais de uma mensagem é sinalizada; suas possíveis respostas geram uma controvérsia psíquica, promotora de angústias e mobilizadora de afetos. Prata (2007) descreve que, por um lado, a família oferece segurança às ameaças provenientes do mundo exterior, ao passo que o preço pago por esta proteção é a perda literal de sua liberdade, sustentada pelas hierarquias de poder deste sistema nuclear.

Segundo um dos pioneiros da terapia familiar sistêmica, Bateson (2000), comunicações de duplo-vínculo são frequentemente utilizadas como um modelo de controle sem coerção declarada, de forma que a instauração da confusão dificulta tanto uma resposta quanto à resistência do ouvinte. Um fator que parece estruturar este cenário de sofrimento psíquico é a incapacidade por parte dos pais de renunciar às expectativas construídas sobre os destinos performáticos-afetivos (performatividade5) de seus filhos; o que ao mesmo tempo dificulta o estreitamento relacional por parte dos filhos, que se sentem inibidos a construir um diálogo, já que não há possibilidade resolutiva do conflito, o que ilustra uma retroalimentação deste ciclo. Evidenciar essas dinâmicas, em um espaço seguro, promotor de diálogo, pode ser uma das formas que profissionais de saúde mental podem intervir positivamente.

ESCOLA

Compreende-se a entrada no espaço escolar como um espaço rico para troca material e simbólica, para além do núcleo familiar, apresentando novas dinâmicas sociais representativas do ser e estar. Este espaço auxilia na estruturação das formas de significar a realidade compartilhada, na interlocução de novos vínculos sociais e conhecimentos práticos. Nem sempre o processo do aprendizado é mediado de maneira positiva, uma vez que modelos estruturais de ensino operam com hierarquias impositivas, e não dialógicas. Esta hierarquia também permeia as relações sociais.

MORALIDADE: VIGIAR, PUNIR E CENSURAR.

A percepção de comportamentos e dinâmicas que pudessem evidenciar a diversidade de suas performances de gênero, por parte dos colegas e professores, como, evidenciam o temor que os participantes sentiam sobre a possibilidade de “revelação” de suas identidades. Ao mesmo tempo, estes tinham compreensão da desigualdade de tratamento que recebiam em comparação a colegas e amigos cisgêneros e heterossexuais. Os eventos que foram determinados por estes processos marcaram os participantes sobre as regras e formas que a sociedade os compreendia, sinalizados pelos trechos a seguir:

Eu estava de mão dada com minha namorada e aí chegaram umas meninas e começaram a gritar que a gente era (lésbica). (S1)

Eu tinha um amigo que a gente era muito próximo [...] e a gente queria ter essa experiência [...] só que bem na hora passou um inspetor do colégio e ele viu a gente, e aí ele foi pra direção e falou que a gente tava se pegando no meio do recreio. E isso é proibido, só que se você for no corredor, tem casal hétero se beijando... ele não falou nada. (S2)

Eu estudava em um colégio de freira, católico [...] comecei a me relacionar com minha namorada, mas teve um dia que a gente tava sentada no campo [...] aí ela só me abraçou. Uns dias depois a coordenadora me chamou na sala e falou que os pais reclamaram que agente tava se beijando lá. Sendo que a gente não fazia nada [...], e tinha muito casal hétero que ia pra trás do society e fazia mil coisas e ninguém falava nada. Mas aí eu comecei a odiar aquele colégio. E odeio até hoje. (S3)

Mas tinha uma amiga minha também que tava com a namorada dela, abraçada, e tinha essa política de que casais não podem ficar abraçados, mas só casal LGBT né. O resto tá liberado. (S4)

Quando pensamos nos aspectos que orbitam o processo de “sair do amário”, Sedgwick (2007) descreve que este armário não é apenas uma característica da pessoa sexo-gênero diversa, e sim fundamental de sua vida social. Esta autora aponta que, por mais afortunado que seja o apoio que estes recebem de seus vínculos, por mais corajosos e sinceros que sejam, é difícil desassociar a presença formadora que este armário tem em suas vidas. Podemos perceber como a presença deste símbolo rege o juízo de valor que figuras de autoridade demarcam em suas ações e narrativas. Destaca-se aqui as atitudes e narrativas de preconceito regidas pelo poder discursivo de regulamentação sexual, na formação de estruturas relacionais do self dialógico. Compreende-se a hierarquia produzida pelas sexualidades, em que a heteronormatividade, confere à heterossexualidade um status superior; e às vivências sexo-gênero diversas um lugar marginal de subalternação e pedágio. Com a finalidade de sustentar este poder, esta estrutura narrativa tão elástica e engendrada não cederá seu controle sobre importantes formas de significação social (Sedgwick, 2007), o que privilegia os alicerces heteronormativos e cisgêneros na manutenção do status quo. Aqui, a figura dos profissionais educacionais, respaldada pelo símbolo da autoridade institucional, faz esta interlocução e afirma instauração desta hierarquia, no constrangimento de suas identidades pela punição social e imposição de “ocultamente”. Estas dinâmicas evidenciam a constante fragilização dos laços sociais que pessoas LGBTQIA+ enfrentam em seus processos de socialização, o que pode reduzir potencialmente sua rede protetiva.

Sobre este ocultamente, é possível perceber que até os professores precisavam se manter sob a égide do discurso preconceituoso, impedidos de dialogar sobre qualquer aspecto que sinalize a existência da diversidade sexual e de gênero.

aqueles conhecimentos eles são selecionados. [...] sair dessa trajetória do Ensino Fundamental, Médio e entrar na Universidade que aí eu fui compreender, [...] conhecimentos que são produzidos por pessoas LGBTs né [...]E a gente é totalmente vedado disso, proíbem esse conhecimento pra gente. [...] Parece que a única opção era ser hétero, ser cis. (S1)

eu tinha professores que eram obviamente eram LGBTs só que eles não podiam falar. E a gente queria ter esse contato com os professores, tinha uma professora que todo mundo amava, todo mundo sabia que ela era sapatona (sic). [...] xingaram ela por ser feminista, ela não podia falar nada na sala, não podia se defender porque ela corria o risco de perder o emprego. A gente tinha um professor que era obviamente casado com um cara mas os professores não podiam falar com a gente. (S2)

teve um dia que a gente tava aprendendo modernismo. Foi quando a gente começou a ter os LGBTs. Eu perguntei pra professora se ela ia falar sobre os gays nessa época, ela disse que não, porque a escola não ia aceitar esse tipo de coisa. (S3)

Aqui (faculdade) parece que não tem uma espécie de Estado que tá manipulando e vendo tudo que você tá fazendo. Na escola sentia um pouco isso, as regras eram ditadas por uma entidade, assim. Você abraça uma pessoa e alguém fala que você já beijou. Parece que tem uma entidade te olhando o tempo todo. (S5)

Foucault (2014), por meio de sua análise histórica, percebe nas instituições (exércitos, fábricas, escolas etc), modelos de adestramento do corpo e da mente, explorando a concepção de sujeito enquanto objeto, capaz de ser moldado. A experiência de S5 durante a ensino médio, nos permite traçar um breve paralelo na dinâmica de regulação de comportamentos, que impacta diretamente na sua capacidade de socialização e percepção de si mesmo. Simbolicamente, esses significantes de regulação operam como limitadores de afetos, direcionando os comportamentos para modelos hegemônicos “adequados”.

A Avaliação de Necessidades nos indica que a sensibilização destes profissionais sobre as especificidades dos fenômenos de gênero e como estes se desenvolvem em sociedade pode promover a quebra de mitos e desestruturação de atitudes pautadas em preconceito. É imprescindível a promoção e ativação de educadores como aliados frente às violências exercidas pela regulamentação sexual do ser e estar. Ainda, junto a estes profissionais, fomentar uma postura empática e crítica da realidade, pode permitir a aproximação genuína de pessoas LGBTQIA+ vulnerabilizadas. Estas intervenções podem impactar diretamente nos eixos que regulamentam e privilegiam comportamentos heteronormativos em comparação às vivências sexo-gênero diversas.

TRABALHO

AS PROBLEMÁTICAS DE “SER QUEM SOU”

Os trechos a seguir demonstram como o acesso e permanência de pessoas LGBTQIA+, em especial pessoas travestis, transexuais e transgêneros, no mundo do trabalho são permeados por protocolos institucionais básicos.

Eu vou tentar retificar meu nome [...] mesmo depois de retificar eu não sei quando eu vou conseguir um emprego. Meu nome vai estar masculino, gênero masculino, só que eu não sei quando eu vou ter. [...] quando eu vou ser... Quando vão me ler de fato [...]. É, eu preciso de um trabalho porque eu preciso de dinheiro para fazer minha transição. [...] eu preciso de um trabalho pra eu poder ser eu. (S2)

Eu nunca trabalhei, e até eu ter meus documentos retificados eu não sei quando que eu vou arrumar um emprego. Porque as opções de trabalho que usam o nome social são baixíssimas. Também todo um outro desconforto, de eu estar iniciando minha transição agora. E muitas pessoas me veem como uma mulher. Nunca arrumei nenhum emprego, nunca trabalhei. [...] Por causa da dificuldade de acesso a esse mercado, muitas pessoas trans acabam na prostituição. (S4)

Segundo os dados divulgados pela ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), organizados pela própria associação, aproximadamente 90% da população travesti e transexual, em sua amostra, depende da prostituição como renda principal. No levantamento descrito no mesmo estudo, é apresentado um mapa da violência em que é evidenciado que 70% das pessoas travestis e transexuais assassinadas em 2017 estavam em situação de prostituição (Benevides, 2018). Estes dados informam características específicas das vulnerabilidades que esta população ainda se encontra, em que o impedimento ao acesso do trabalho formal as direciona às formas de sustentação financeira insalubres e ameaçadoras.

Outro fator que é inerente à condição econômica para S2 é a possibilidade de financiar sua transição. O direito ao nome e ao próprio corpo é central no processo de constitutivo do self, em que se pressupõe suas funções básicas de identificar e individualizar. Hogemann (2014) descreve o objeto “nome social” como a identificação que pessoas travestis e transexuais constroem, correspondente a sua identidade de gênero, cuja adoção pretende garantir o respeito a sua dignidade frente ao constrangimento e vexame social. Para S4, a compreensão dessas barreiras o desmotiva a buscar inserção formal no mercado de trabalho, em que parece compreender como este local é potencialmente ameaçador à imagem que possui de si mesmo.

A narrativa de S4, que aborda as adversidades do trabalho, parece evocar a mesma sensação de medo em S3, quando esta descreve que um processo de transição capilar, do liso sintético ao crespo natural, a tornou alvo de comentários lesbofóbicos e racistas. É importante destacar que a interseccionalidade6 como ótica de análise, nos permite evidenciar a maneira que os discursos construídos em opressões estruturais produzem interfaces de sofrimento sincrônicas.

Foi bem estranho, porque eu tinha o cabelo liso e depois eu comecei a transição capilar. Aí quando eu cortei todo mundo começou a meio que falar ... o pessoal já achava, já se perguntava da minha sexualidade. Aí no final do ano passado, eu cortei bem mais curto, raspei dos lados, só deixei em cima e nossa. Teve um cara, que eu tava lá tranquila fazendo meu trabalho e ele começou a me chamar de menino, sendo que eu tava bem insegura com meu cabelo, porque foi uma mudança muito brusca. Eu fiquei quieta, mas fiquei muito triste. (S3)

Ao mesmo tempo, S5 relata não sentir desconforto na atuação de seu trabalho, destacam-se aqui as descrições autodeclaradas de sua identidade como um homem cisgênero bissexual e negro: “Como psicólogo. É meio confortável assim, não se colocar como sujeito. Sexualidade não aparece assim. Não tem nenhum problema eu acho.” (S5). Freitas, Augusto e Mendes (2014) descrevem que a organização do trabalho produz sobre seres humanos ações específicas em seu aparelho específico, uma vez que o sofrimento surge da indissociabilidade dos desejos pessoais do sujeito que trabalha e uma organização que não acolhe os sonhos e esperanças desse sujeito trabalhador. Porém, antes de pensarmos os possíveis aspectos que permeiam os sofrimentos psíquicos de pessoas LGBTQIA+ no trabalho, e sua possível permanência, precisamos compreender as decorrências que inviabilizam seu acesso ao emprego formal.

Sobre este aspecto, podemos inferir que suas identidades, e as barreiras de interlocução geradas pelo preconceito, impactam a qualidade de seus processos de subjetivação entre o ser e o estar. Segundo Miranda (2011), a questão estética no corpo negro também é política, em que as possíveis interpretações sobre o que é belo ou não, servem como revestimento ao discurso e demarca direcionalidade na atuação social, na reiteração de padrões e estratégias de resistência. A construção social de modelos padronizados de estética e beleza sustenta dinâmicas de poder que instauram locus privilegiados de ser e estar qualificados como objetos ideais; ao mesmo passo, aquelas variantes à regra se circunscrevem de forma marginal, destituídas de um referencial “tolerável”, fragilizados pela convenção narrativa social de seus corpos insuficientes, abjetos (Butler, 2011b; Colling, 2015).

CURIOSIDADE: CONVITE AO DIÁLOGO OU INTIMAÇÃO A UM INQUÉRITO?

Ainda sobre os aspectos que perpassam a socialização no local de trabalho, os participantes relatam as formas de interesse que as pessoas possuem em relação a sua vivência afetiva-sexual. Destaca-se que a percepção deste interesse por parte dos outros, é disparada inicialmente pela imagem não-normativa de seus corpos.

na época eu sei que era mais insegurança de me assumir dentro do local de trabalho, sabe? Mais pelo medo de perder o dinheiro, o trabalho. Quem me segue em rede social vê que eu namoro e tem foto com minha namorada. Aí eu acho que o pessoal acaba sabendo, mas nunca chegou a ser um assunto assim. Mas no meu outro estágio já rolou algumas situações meio constrangedoras. No sentido de ter medo de me assumir assim, era uma época que eu tava com um cabelo bem louco [...] Só que aí minha chefe ela

falava comigo, ficava falando dos namorados dela. Aí quando ela perguntava de mim, eu não tinha coragem. Eu cheguei até a inventar lá um boy [sic] pra ela. (S1)

eu tinha um cabelinho curto e colorido de azul. E era bem interessante nesse sentido. (S2)

No trabalho, ninguém me tratou mal por causa disso, mas já dava pra perceber né. Esse cara que eu me abri ele uma vez me perguntou né. Porque a gente num sentido sexual usa “apetrechos”. Aí ele foi e me perguntou por que que a gente usa isso sendo que a gente tem homem, que a gente pode chamar um homem pra participar. (S3)

Anderson (2012) aponta algumas descrições que estão envolvidas no processo de diálogo, como o escutar e falar reflexivos e intrinsecamente entrelaçados. Nesta relação dialógica, o “ouvir” precisa se oferecer como contínuo para a compreensão do que outra pessoa tenta dizer. Responder para entender depende de uma curiosidade genuína; questionar para compreender mais do que é dito, e não o que o interlocutor acha que deveria ser falado. Sobre a narrativa descritas de S1 e S3, é possível inferir a ausência destes aspectos comunicacionais colaborativos, em que a curiosidade mobilizadora parece não refletir interesse genuíno, mas sim uma exotificação de suas experiências.

Quando questionado por crianças sobre sua vivência, S2 não demonstra se sentir ansioso ou violado pelas perguntas, ao contrário, se mostrou motivado e compreendeu o momento como algo lúdico. Infere-se que a forma da abordagem feita por estas crianças, e a compreensão que S2 possa ter sobre estes sujeitos permitiu um projeto de diálogo colaborativo (Anderson, 2016), em que há um convite, respeito pelo conhecimento e perspectiva da outra pessoa, por ambos. Este modelo conversacional propicia a cogeração de novos significados, entendimentos e ações, essenciais para o fortalecimento de vínculos e sustentação de redes afetivas.

Em contraste, quando observamos a fala de S3, a curiosidade de seu colega de trabalho não aparenta vir de um local de interesse genuíno pela experiência que possui, mas por querer propor resoluções de conceitos pré-concebidos por ele. Este aspecto ilustra uma curiosidade intencional em questionar a capacidade do gozo feminino sem a presença do homem. Mitos difundidos sobre a lesbianidade evocam que a ausência do pênis continua a manter a posição homossexual, havendo necessidade desta “intervenção fálica” para reordenação à normalidade (Martins, dos Santos, & Teixeira, 2016). Este trecho ilustra como este modelo de conversação possui formas inibidoras de colaboração, uma vez que o conhecimento e entendimento da experiência pessoal não são suficientes para a reparação de sentidos perdidos. A forma como se desenvolve o discurso entre S3 e o colega parece ser similar ao de uma investigação, na qual há objetivo implícito de se chegar a uma resposta sobre o que é percebido como um conflito de sentidos, em que este apresenta “resoluções” não solicitadas.

Compreende-se aqui uma peculiaridade comum a vivência de pessoas LGBTQIA+, especialmente pessoas trans, dissidentes na performatividade gênero-sexual: a aproximação de pessoas a partir da curiosidade. Propõe-se então pensar de que forma esta particularidade do fenômeno pode ser potencializada de forma útil e fomentadora de vínculos seguros, na ativação de aliados sobre a desmistificação de suas vivências.

COMUNIDADE E SOCIEDADE

Diversos estudos indicam que identidades sociais fazem bem para a saúde, além da promoção de recursos protetivos contra estressores sociais e estados mentais desorganizantes, como abordado por algumas revisões (Greenaway, Cruwys, Haslam, & Jetten, 2016; Haslam, Jetten, Postmes, & Haslam, 2009; Jetten, Haslam, & Haslam, 2012). A identidade demarca espaços e molda os sentidos, o que sinaliza um questionamento: o fortalecimento de identidades sociais serão sempre positivas para a saúde? (Begeny & Huo, 2016a). As noções sobre o papel que estes vínculos com a comunidade representam variam de acordo com a experiência de cada um, o que ilustra aspectos ambíguos em suas experiências.

COMUNIDADE LGBTQIA+: PERTENCIMENTO E PROTEÇÃO

Quando questionados sobre suas relações com outras pessoas LGBTQIA+ e de que forma esses vínculos impactam suas vidas, há uma noção comum de pertencimento evocado pela diversidade de suas identidades. Esta característica se mostrou presente em diversos trechos diferentes da entrevista. A seguir, os relatos apontam como o processo de aproximação com outras pessoas diversas possibilitou a exploração e afirmação de aspectos de suas identidades.

Eu acho que, antes de eu me assumir trans, quando eu achava que eu era lésbica... Minha irmã também é, foi legal ter esse contato, de você saber de alguém, poder falar com ela, poder ir numa festa com ela [...] saber que eu tô com alguém que eu confio, em um lugar em que eu posso só ser, e experimentar. Isso é importante. (S2)

(um amigo) Ele... ele era gay, aí quando ele se assumiu pra mim, eu tinha uns 12 anos. Eu nunca pensei nada relacionado a sexualidade [...]. Aí nessa época ele se assumiu pra mim, aí eu comecei a pensar. Mas não pensando se eu sou lésbica, se eu sou bi, mas a pensar, porque que eu sou assim. (S3)

Um ponto importante pra eu me assumir, me aceitar e iniciar minha transição foi ter o contato com outras pessoas trans, tanto pesquisando na internet, youtube, quanto conversando pessoalmente [...]. Também ter um círculo, que a gente se sente mais à vontade, um círculo que você sabe que as pessoas ali não vão te agredir, nem fisicamente, nem com palavras. (S4)

As pessoas com quem eu tive um afeto mais honesto na minha vida [...]. São pessoas bissexuais, assim, que não ligam pra gênero né. Não que não ligavam, mas isso não era importante na hora de se relacionar. (S5)

A possibilidade de construir um espaço seguro entre pessoas LGBTQIA+ oferece às populações estigmatizadas recursos protetivos frente à discriminação. É comum que os primeiros processos de auto-conhecimento que se constituíram com a ajuda de vínculos afetivos benéficos marcaram suas experiências de forma positiva. Esse acesso a mundos análogos delineados pela diferença, incita o movimento reflexivo do self dialógico, na integração de experiências diversas ao Eu (Rasera & Japur, 2007). Ao mesmo tempo, a interação nestes espaços reflete suas posições subjetivas, baseadas no grau em que suas qualidades e características pessoais são valorizadas pelo grupo, apontados por pesquisas anteriores como indicadores de diminuição de ansiedade e sintomas depressivos (Begeny & Huo, 2016b; Huo, Binning, & Begeny, 2015).

A partir das falas, é possível inferir que quanto mais cedo existir o contato com espaços aliados, maior a possibilidade de contornar vivências de sofrimento identitárias. O trecho descrito por S2 ilustra como a relação com sua irmã lésbica o permitiu maior valoração de sua autoestima, o que lhe ofereceu mais determinação em ser si mesmo. S4 também relata como este contato com outras pessoas trans permitiu que ele compreendesse mais sobre si, ao ponto que se sentiu seguro para iniciar sua transição hormonal. S5 descreve como a relação com outras pessoas bissexuais foram referências de afetos e emoções positivas, quando comparadas com pessoas heterossexuais cisgêneras.

Aqui, a comunidade LGBTQIA+ pode ser compreendida como associações grupais, organizadas ou não, materializada por coletivos, e grupos sociais em espaços físicos e virtuais. Sinaliza-se a capacidade que a própria comunidade possui em acolher e amparar os diferentes tipos de violência sofridas por seus membros, em que há compreensão legítima de suas vivências. Estes espaços podem ser eficientes na promoção de pertencimento, proteção e fortalecimento da autoestima até certo ponto.

QUANDO A IDENTIDADE MACHUCA: O DIREITO (OU DESEJO) DA “NORMALIDADE7

É perceptível que a carga que a identidade possui também produz sofrimentos, mesmo em contextos de empoderamento e reafirmação. Por ser um processo constante e exaustivamente evocado em sociedade, o “assumir-se” parece desgastar as conexões que pessoas LGBTQIA+ estão dispostas a construir com o mundo. As falas a seguir ilustram como dinâmicas cotidianas reiteram a inferiorização de suas vivências, reforçadas pela divergência de suas experiências quando interpeladas pela performatividade de gênero-sexualidade normativa.

a nossa sexualidade é sempre questionada. A dos héteros, não... por que que eu tenho que me assumir, sabe? É minha vida pessoal, me deixa em paz. Parece que a única opção era ser hétero, ser cis. E essa coisa de se descobrir é um processo [...], porque eu não sabia quem que era gay, quem era lésbica, quem que era trans não tinha contato sabe? [...] coisas que trouxeram sofrimento, coisas que eu passei por eu ter, não ter oportunidade de saber quem eu era. A sociedade não ajudou né. Eu acho que todo mundo LGBT vive isso. (S1)

Porque me identifico como mulher, não é só porque eu mudei meu cabelo que as pessoas podem começar a me chamar de menino. Eu sei que teve um dia que eu cansei, e eu comecei a falar que eu realmente era lésbica. Porque também tinha um cara que dava muito em cima sabe? Ele me encontrou na rua, desceu da moto e ele quase me beijou sabe? Foi horrível, fiquei muito assustada. (S3);

Uma sensação [...] de que finalmente você está pertencendo a algo... que as pessoas que estão ali realmente tão te aceitando, não tão interessadas em quem você tá ficando... Cria esse sentimento de pertencimento... [...] sentir à vontade de ficar com quem você quiser, porque ai ninguém vai te julgar, te olhar torto. Se sentir realmente à vontade naquele espaço, porque são pessoas que passam por vivências parecidas e que podem te acrescentar coisas. (S4)

Embora o fortalecimento pela identidade apresente algumas implicações positivas, como citado, alguns impactos negativos também foram percebidos, como corroborados pela literatura (Begeny & Huo, 2016a). A identidade se torna central nos processos psicodinâmicos de percepção e organização da realidade dinâmica do self (Smith, Coats, & Walling, 1999). Dessa forma, grupos minoritários se tornam mais vigilantes a estímulos e expressões de discriminação, e os percebem com mais frequência. A noção de mundo como um constante ameaçador continua a diminuir a capacidade de relação destes sujeitos com camadas sociais que possam ser estratégicas na redução do preconceito. É necessário a construção destes espaços de interlocução para a promoção experiências significativamente positivas de troca, o que deve contribuir ativamente na alteração deste paradigma.

S1 descreve novamente uma característica intrínseca aos processos de socialização não-normativo: a necessidade de se adequar. Quando questiona o “porquê” de sua sexualidade sempre ser motivo de interrogação, sinaliza virtualmente um desejo pela afirmativa compulsória que emana da hetero-cisnormatividade, em que há uma curiosidade invasiva sobre sua vivência íntima. Pessoas LGBTQIA+ possuem a consideração constante sobre como, quando e para quem devem revelar sua natureza sexual, o que sugere um estado contínuo de vigilância sobre si para evitar estímulos estressores, ao mesmo tempo que a energia dispendida nestes processos são mobilizadoras de angústia (Beals, Peplau, & Gable, 2009; Pachankis, 2007).

Quando eu fui a primeira vez (Parada do Orgulho LGBT), foi a primeira vez que eu me senti normal, extremamente normal. Eu sou qualquer outra pessoa no mundo, porque eu vi outras pessoas fazendo o mesmo que eu, tava lá pelo mesmo motivo que eu. Foi na parada LGBT que eu realmente pensei que eu sou lésbica. (S3)

A concepção de que era igual a todas as pessoas presentes, pareceu promover um alívio e tranquilização. Explorar alternativas que possam promover essas sensações em diferentes locais pode ser eficaz na melhoria da qualidade de vida LGBTQIA+. Do ponto de vista dialógico colaborativo (McLeod, 2004), promover espaços discursivos, simbólicos e materiais onde estas identidades possam ser cultivadas e redesenhadas; desta forma, estabelecer espaços para reconstrução do senso de agência, identidade pessoal e aperfeiçoamento, o que abrange negociação, práticas e repertórios promotores de transformação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A avaliação permitiu ilustrar aspectos relacionais do sofrimento de gênero-sexualidade nos diferentes contextos em que estes se desenvolvem. Os dados nos informam como pessoas LGBTQIA+ se caracterizam como um grupo em vulnerabilidade psicossocial, que podem desenvolver adaptações psicológicas pouco saudáveis. Em comparação com pessoas heterossexuais cisgêneras, minorias sexuais possuem níveis mais elevados de ansiedade e transtornos depressivos corroborados por dados e interpretações produzidas em outros estudos e revisões (Coulter, Kenst, Bowen, & Scout, 2014; Department of Health, 2010; Espelage, Aragon, Birkett, & Koenig, 2008).A discussão também permitiu a proposição de insumos que puderam ser organizados como demandas e justificativas para reestruturar modelos institucionais (como na escola e no trabalho) opressores. Mudanças na postura e em protocolos organizacionais promovem inclusão e podem evitar situações vexatórias, como sinalizadas.

Um aspecto que pode ser percebido foi uma quantidade significativamente menor de respostas do participante S5 em relação aos outros participantes, seja por ausência de discurso durante a entrevista ou distanciamento das vivências de outros participantes. Pressupõe-se a partir da descrição de sua identidade (homem negro, cisgênero e bissexual), que alguns aspectos estruturais possam diferenciar sua vivência frente ao preconceito. Há espaço aqui para algumas inferências em forma de questionamentos: é possível que os privilégios de sua vivência cisgênero masculina o tenha protegido de certos preconceitos diretos, o que diminuiria a intensidade em que percebe significativamente as violências de gênero-performance que recebe/compreende? Há também a possibilidade de que este possa ter se sentido inibido ou desmotivado a compartilhar vivências mais diretas de violência por perceber estas divergências durante a coleta?

Outro aspecto que parece essencial, e relativamente observável na cultura, é maneira que pessoas heterossexuais cisgêneras impactam a socialização de pessoas LGBTQIA+. Pensar aspectos interventivos que levem em consideração as especificidades da vivência heterossexual-cisgênera e como esta incide sobre os processos de sexo-gênero diversidade permite enriquecer nosso insumo operacional (estratégias de ação e planejamento) com componentes interventivos (ex.: modelo de sensibilização direcionado, advocacy, lobbying, capacitação de equipe em instituições, intervenções comunitárias) mais autênticos e possivelmente eficazes. Estes, representados em sua maioria como figuras institucionais, familiares e cotidianas que estruturam parte importante da malha social. Os autores sugerem um grupo focal específico sobre cada um dos temas descritos pelo instrumento (Família, Educação, Trabalho, Comunidade e Sociedade), nos próximos estudos, entendendo a riqueza individual deste aprofundamento para a prática em clínica e nos serviços assistenciais.

Financiamento

Bolsa de Mestrado disponibilizada pela CAPES – 2018/2019

Consentimento de uso de imagem

Não se aplica.

Aprovação, ética e consentimento

Essa pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Ciências Humanas da Universidade de Brasília (CEP-IH), sob o protocolo CAAE: 88267118.2.0000.5540

1Termo utilizado neste artigo pelos autores para abarcar a diversidade de pessoas LGBTQIA+ que passaram pelo processo de subjetivação social de suas identidades de gênero e/ou sexualidade discordante à estrutura heteronormativa e/ou cisgênera.

2Gênero com qual a pessoa de identifica, que pode ser o mesmo ou não ao designado durante o nascimento (De Jesus, 2012).

3Pessoas que se identificam com o gênero que lhes foi designado no nascimento (De Jesus, 2012).

4Conceito que descreve como discursos, comportamentos e comunicações não-verbais auxiliam na manutenção e definição das identidades de gênero (Butler, 2011a); este processo é redefinido de forma continua e acompanha o desenvolvendo e as transformações do sujeito.

5Possibilidade das identidades, que não ocorrem livremente, mas sim reguladas pela estrutura rígida da heterossexualidade compulsória e os discursos que a sustentam, “os códigos de significação que subjazem [possibilitam e restringem] determinadas performances, e com isso, desafia a percepção do senso comum de que nosso comportamento [...] é a simples expressão de nossos eus essenciais” (Cameron & Kulick, 2003)

6Noção de interdependência nas relações sociais de gênero, raça e classe social, advinda dos estudos sobre feminismo negro, no final dos anos 70, cuja provocação ilustrada é considerar as múltiplas fontes da identidade (Hirata, 2014).

7Conceito de normalidade extraído da heteronormatividade compulsória explorada por Butler (2011a); nesta perspectiva, sexo e gênero são atos normativos sustentando recorrentemente valores heterossexuais, apreciados como normais e adequados.

REFERÊNCIAS

Aarons, G. A., Hurlburt, M., & Horwitz, S. M. (2011). Advancing a conceptual model of evidence-based practice implementation in public service sectors. Administration and Policy in Mental Health and Mental Health Services Research, 38(1), 4-23. doi: 10.1007/sl0488-010-0327-7 [ Links ]

Anderson, H. (2012). Relaciones de Colaboración y conversaciones dialógicas: ideas para uma práctica sensible a lo relacional. Family Process. 51. https://pt.scribd.com/document/125580289/Relaciones-de-Colaboracion-y-Conversaciones--Dialogicas-Ideas-Para-Una--Practica-Sensible-a--Lo-RelacionalLinks ]

Anderson, H. (2016). Algumas considerações sobre o convite ao diálogo. Nova Perspectiva Sistêmica, 25(56), 49-54. https://www.revistanps.com.br/nps/article/view/240Links ]

Andreo, C., Peres, W. S., Tokuda, A. M. P., & de Souza, L. L. (2016). Homofobia na construção das masculinidade s hegemônicas: queerizando as hierarquias entre gêneros. Estudos e Pesquisas em Psicologia, 16(1), 46-67. https://www.redalyc.org/pdf/4518/451846425004.pdfLinks ]

Bateson, G. (2000). Steps to an ecology of mind: Collected essays in anthropology, psychiatry, evolution, and epistemology. University of Chicago Press. https://www.jstor.org/stable/674214Links ]

Beals, K. P., Peplau, L. A., & Gable, S. L. (2009). Stigma management and well-being: The role of perceived social support, emotional processing, and suppression. Personality and Social Psychology Bulletin, 35(7), 867-879. https://doi.org/10.1177/0146167209334783Links ]

Begeny, C. T. & Huo, Y. J. (2016a). When identity hurts: How positive intragroup experiences can yield negative mental health implications for ethnic and sexual minorities. European Journal of Social Psychology, 47(1), 803-817. https://doi.org/10.1002/ejsp.2292Links ]

Begeny, C. T. & Huo, Y. J. (2016b). Is it always good to feel valued? The psychological benefits and costs of higher perceived status in one's ethnic minority group. Group Processes & Intergroup Relations, Advance online publication, 21(1), 193-213. https://doi.org/10.1177/1368430216656922Links ]

Benevides, B. (2018). Mapa dos Assassinatos de Travestis e Transexuais no Brasil 2017. Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), https://antrabrasil.org/mapadosassassinatosLinks ]

Butler, J. (2011a). Gender trouble: Feminism and the subversion of identity. Routledge. [ Links ]

Butler, J. (2011b). Bodies that matter: On the discursive limits of sex. Routledge. [ Links ]

Brito, R. M. M. & Germano, I. M. P. (2016) Terapia narrativa e abordagem colaborativa: contribuições do construcionismo social para a clínica pós-moderna. Nova Perspectiva Sistêmica, 22(47), 57-73. https://www.revistanps.com.br/nps/article/view/7Links ]

Cameron, D. & Kulick, D. (2003). Language and sexuality. Cambridge University Press. [ Links ]

Colling, L. (2015). Que os outros sejam o normal: tensões entre movimento LGBT e ativismo queer. Edufba. http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/21766Links ]

Coulter, R. W., Kenst, K. S., Bowen, D. J., & Scout. (2014). Research funded by the National Institutes of Health on the health of lesbian, gay, bisexual, and transgender populations. American journal of public health, 104(2), el05-e112. [ Links ]

Department of Health and Human Services (2010). Healthy People 2020. US. https://doi.org/10.1044/poa7.1.29Links ]

De Jesus, J. G. (2012). Orientações sobre identidade de gênero: conceitos e termos. Guia técnico sobre pessoas transexuais, travestis e demais transgêneros, para formadores de opinião, 2, 42. [ Links ]

Espelage, D. L., Aragon, S. R., Birkett, M., & Koenig, B. W. (2008). Homophobic teasing, psychological outcomes, and sexual orientation among high school students: What influence do parents and schools have? School Psychology Review, 37(2), 202-216. https://doi.org/10.1080/02796015.2008.12087894Links ]

Freitas, L. G., Augusto, M. M., & Mendes, A. M. (2014). Vivências de prazer e sofrimento no trabalho de profissionais de uma fundação pública de pesquisa. Psicologia em Revista, 20(1), 34-55. https://doi.org/10.5752/P.1678-9523.2014v20nlp34Links ]

Foucault, M. (2014). Vigiar e punir. Leya. [ Links ]

Gergen, K. (2009). O movimento do construcionismo social na psicologia moderna. INTERthesis, 6(1), 299-325. https://doi.org/10.5007/1807-1384.2009v6nlp299Links ]

Gergen, K. J. & Gergen, M. (2010). Construcionismo social: um convite ao diálogo. Editora do Instituto NOOS. [ Links ]

Gui, R. T. (2003). Grupo focal em pesquisa qualitativa aplicada: intersubjetividade e construção de sentido. Psicologia: organizações e trabalho, 3(1), 135-159. [ Links ]

Greenaway, K. H., Cruwys, T., Haslam, S. A., & Jetten, J. (2016). Social identities promote well-being because they satisfy global psychological needs. European Journal of Social Psychology, 46(3), 294-307. https://doi.org/10.1002/ejsp.2169Links ]

Haslam, S. A., Jetten, J., Postmes, T., & Haslam, C. (2009). Social identity, health, and well-being: An emerging agenda for applied psychology. Applied Psychology, 58, l-23.https://doi.org/10.1111/j.1464-0597.2008.00379.xLinks ]

Haynes, A., Brennan, S., Carter, S., O'Connor, D., Schneider, C. H., Tuner, T., & Gallego, G (2014). Protocol for the process evaluation of a complex intervention designed to increase the use of research in health policy and program organizations (the SPIRIT study). Implementation Science, 9, 113. [ Links ]

Hirata, H. (2014). Gênero, classe e raça Interseccionalidade e consubstancialidade das relações sociais. Tempo Social, 26, 61-73. [ Links ]

Hogemann, E. R. (2014). Direitos Humanos e Diversidade Sexual: O reconhecimento da identidade de gênero através do nome social. Revista da SJRJ, 21(39), 217-231. [ Links ]

Huo, Y. J., Binning, K. R., & Begeny, C. T (2015). Promoting social engagement and well-being in diverse groups: The role of respect. In S. Orten, I. van der Zee, & M. Brewer (Eds.), Toward inclusive organizations: Determinants of successful diversity management at work (pp. 49-66). Psychology Press. https://ore.exeter.ac.uk/repository/handle/10871/36422Links ]

Jetten, J., Haslam, C., & Haslam, S. A. (2012) The social cure: Identity, health and well-being. Psychology Press. https://doi.org/10.1080/09602011.2012.711658Links ]

Martins, L., dos Santos, A., & Teixeira, R. (2016). Homossexualidade e Corpos Estereotipados. RELACult - Revista Latino-Americana de Estudos em Cultura e Sociedade, 2(4), 370-380. http://dx.doi.org/10.23899/relacult.v2i4.271Links ]

Minayo, M. C. (2012). Análise qualitativa: teoria, passos e fidedignidade. Ciência & Saúde Coletiva, 17(3), 621-626. https://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232012000300007Links ]

Miranda, S. F. (2011). O “feio e o belo”: reflexões sobre os efeitos de uma ideologia do corpo. Psicologia para América Latina, 22, 1-8. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttex-t&pid=S1870-350X2011000200004Links ]

Murta S. G. & Santos K. B (2015). Desenvolvimento de programas preventivos e de promoção de saúde mental. In S. G. Murta, C. Leandro-França, B. S. Karine & P. Larissa (Orgs.), Prevenção e Promoção em Saúde Mental: Fundamentos, Planejamento nejamento e Estratégias de Intervenção (Cap 7, pp. 168-191.) Sinopsys. [ Links ]

McLeod J. (2004). Social Construction, Narrative, and Psychotherapy. In E. L. Angus & J. McLeod (Eds.), The handbook of narrative and psychotherapy: practice, theory and research (pp. 119-136). Sage Publications. [ Links ]

Pachankis, J. E. (2007). The psychological implications of concealing a stigma: A cognitive-affective-behavioral model. Psychological Bulletin, 133(2), 328-345. https://doi.org/10.1037/0033-2909.133.2.328Links ]

Prata, M. R. (2007). Serviço Social e Homossexualidade. Rev. do Depto. De Serviço Social-PUC-RIO, 5, 01-64. https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/10790/10790.PDFLinks ]

Rasera, E. F. & Japur, M. (2005). Os sentidos da construção social: o convite construcionista para a psicologia. Paidéia (Ribeirão Preto), 15, 21-29. [ Links ]

Rasera, E. F. & Japur, M. (2007). Grupo como construção social: aproximações entre construcionismo social e terapia de grupo. Vetor. [ Links ]

Sedgwick, E. K. (2007). A epistemologia do armário. Cadernos Pagu, 28, 19-54. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-83332007000100003Links ]

Schulman, S. (2010). Homofobia familiar: uma experiência em busca de reconhecimento. Bagoas-Estudos gays: gêneros e sexualidades, 4(5), 67-78. [ Links ]

Smith, E. R., Coats, S., & Walling, D. (1999) Overlapping mental representations of self, in-group, and partner: Further response time evidence and a connectionist model. Personality and Social Psychology Bulletin, 25(1), 873-882. https://doi.org/10.1177/0146167299025007009Links ]

Recebido: 30 de Junho de 2021; Revisado: 01 de Maio de 2022; Aceito: 02 de Maio de 2022

Creative Commons License Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative Commons Attribution, que permite uso, distribuição e reprodução em qualquer meio, sem restrições desde que o trabalho original seja corretamente citado.