Stylus (Rio de Janeiro)
ISSN 1676-157X
DIREÇÃO DO TRATAMENTO
Resposta a uma letra em instância
Response to a letter in instance
Dominique Fingermann
RESUMO
A autora, usando o equívoco do duplo significado de lettre, em francês: letra e carta, parte da letra em instância, como aquela que não encontra resposta no Outro. A letra-carta roubada, em sofrimento, a carta que não chega, em suspensão, causa, faz furo-trauma, sintoma que se inscreve na carne do sujeito. É esta a marca de origem de um sujeito, uma cristalização material e singular. Mas, a carta-letra, escrito, sem resposta sempre alcança, atinge, toca seu destino. O impacto deste alcance não é o sentido, mas o gozo. O sujeito seria uma resposta à letra, o Um sem o Outro, argumento da função sintoma. Entra-se, encontra-se, incidentalmente, no Real, onde não há relação. Perceber-se só faz marca. É o Dizer, que lê a letra como seu sintoma, que inaugura o falasser, a ex-sistência. O "gozo opaco" denunciado, no a posteriori, pela letra, pode ser renuncido, emergindo daí a fantasia. O falasser escreve seu romance a partir da sequência: furo – letra – fala – escrito. Sofrimento, sintoma e verdade, cuja repetição o sujeito faz ser o seu destino. O analista responde à demanda de interpretação com o Dizer que não, quando produz o corte do sentido, suspendendo o que o dito tem de verdadeiro. O Dizer apofântico levaria a repetição para além, com o furo da letra, uma furada do sentido, de seus contrangimentos, a possibilidade do ato. Quanto a responder com equívoco, é como responder com poesia, já que liga-se de outra forma, inaudita, à cadeia significante. A matéria do sintoma, significante, pode assim perder consistência. A responsabilidade do dizer é a resposta do Dizer que enoda a letra ao sujeito. Um analisante passante responde pelo real. A letra chega a seu destino quando não quer dizer mais nada, o que permite fazer uso dela para outra coisa.
Palavras-chave: Letra, Interpretação, Dizer que não, Dizer apofântico, Equívoco.
ABSTRACT
The author, using the misconception of the double meaning of lettre in French: letter and correspondence, starts from the instance of the letter, as that which finds no response in Other. The purloined letter-correspondence, in suffering, the letter that does not arrive, in suspension, that causes, makes a crack-trauma symptom that is written into the meat of the subject. This is the original mark of a subject, a material crystallization and unique. But the letter-correspondence, written, unanswered, always reaches, achieves, touches your destination. The impact of this reach is not the end, sense but the enjoyment. The subject could be a response to the letter, the One Without the Other, argument of symptom's function. Comes into the Real, incidentally, where there is no relationship. perceiving it only makes a mark. Is The Saying that read the letter as it symptom, which inaugurates the speaking being, the ex-sistence. The "opaque enjoyment" denounced in subsequent, by the letter, renounced, hence emerging the fantasy. The speaking being writes his novel from the sequence: crack – letter – speech – written. Suffering, symptom and truth, whose repetition the subject makes it your destination. The analyst responds to the demand for interpretation with The Saying that no when the court makes the loss of sense, suspending the true. The apophantic Saying would lead the repetition beyond, with the crack letter reach a hollowed meaning, achieve the possibility of the act. How to respond with misunderstanding, is how to respond with poetry, as it turns otherwise, unheard, the significant chain. The matter of the symptom, significant, may thereby lose consistency. The responsibility of saying is the response of the Saying that makes node between the subject and the letter. An passing analysand responds by the real. The letter reaches its destination when does not mean anything, which allows to use it for something else.
Keywords: Letter, Interpretation, Saying that no, Apophantic saying, Misconception.
"... Basta bascular a letra com a qual começa a palavra
"pior" [pire], e teremos "dizer" [dire]."1
(LACAN, 1971-72/2012, p. 12)
1. A instância da letra
Uma "lettre en instance," em francês, é uma carta em espera, em suspenso. Diz-se também uma "lettre en souffrance",(NT 1) no primeiro sentido de "souffrance" –sofrimento – que significa carregar, suportar, e evoca persistência, paciência, resistência. Nos dois casos, ouve-se aí algo da ordem da constância, da perseverança, da insistência, algo de uma iminência em suspenso.
Uma "lettre en instance" é uma carta que não encontrou seu destinatário, Lacan precisa: "… o que enuncio, restabelecendo o texto de Poe, The Purloined Letter [A Carta roubada], ou seja, a carta que não chega, a carta prolongada em seu circuito" (LACAN, 1976-77/aula de 15/02/1977).2 Uma letra em instância é uma letra que não tem resposta no Outro: algo acontece que causa desconforto, ou delicia, mas abala, desconcerta, deixa estupefato, faz furo – trauma, portanto –, "sintoma, inscrito em letras de sofrimento na carne do sujeito" (LACAN, 1953/1998, p. 307).3 Letra em sofrimento, digamos, o que ameniza o pathos, dado que é desta marca que surge a unicidade consequente do sujeito suposto, desta marca, ou seja, desta "cristalização material daquilo que o condiciona como ser humano" (LACAN, 1975).4 Essa não resposta (não correspondência) é marca de origem, é aquilo que do grito não se transfere em apelo, ponto de emergência do Dizer que perdura instamente, insistentemente como aquilo que não se textura nas voltas do Dito [les tours du Dit], mas a partir daí pode forjar uma escritura.
Da letra ao escrito: entendemos assim porque Lacan (1966/1998) coloca O seminário sobre a carta-letra roubada como epígrafe de seus Escritos, sinalizando desta forma a sua prevalência sem-par. Esse seminário se anuncia tal uma "Lettre en souffrance", letra em suspenso da qual ele não cessará de escrever o comentário no decorrer de seu ensino, como ele faz também com seu texto princeps A instância da letra (LACAN, 1957/1998), que anunciava a diz-mensão que só se confirmaria mais tarde: "guardando aí em todo caso o preço desta letra que digo que sempre chega onde deve" (LACAN, 1972/1998, p. 449).5
De fato, trata-se de uma letra que não tem resposta no Outro, mas que, todavia, chega sempre ao seu destino, como bem diz o conto de Poe; mas então o que responde, aquele que se faz destinatário dela? Por outro lado, o que constitui sua virulência? Questão que Lacan desdobra a partir de Lituraterra: "É que, para isso, seria preciso ainda desenvolver o que entendo que a carta-letra alcança, e que sempre a faz chegar a seu destino" (LACAN, 1971/2003, p. 17).6
Entre grito e escrito [cri et écrit], alguma coisa alcança, atinge, toca. Joyce desenvolveu isso, se assim pudermos dizer, em seu sintoma: o que alcança, no sentido do impacto, não é o sentido, mas o gozo. Um escrito não para ser lido, mas ouvido, como dizia Joyce (apud BIDENT, 2012) sobre Finnegans Wake: "Ah, não é de forma alguma escrito. Tampouco é feito para ser lido; é feito para ser olhado e ouvido" (p. 21).7
2. A resposta do sujeito
Pode-se dizer que o sujeito é resposta à letra?
A letra é gozo inconcebível, "acontecimento de corpo" que fixa que o Um é realmente sem o Outro, elemento da alíngua que vem fazer argumento à função sintoma. "... É por vieses completamente incidentes que entrará para ele aquilo que faz o três, ou seja, o Real" (aula de 12/02/1974),8 – desdobra Lacan (1973-74) no Seminário XXI – isto é, o que não faz dois, "não há relação", "mediante o que, há coisas que se imprimirão, pela tia Yvonne, pelo avô Fulano-de-tal ou pela própria criança, ou seja, seu patético, ao saber que ela está relegada, ninguém aí compreende nada, e com razão, pois não há nada para ser compreendido" (LACAN, 1973-74/aula de 12/02/1974).9 "Encontrar-se" só, pois não há dois que sustente, não passa despercebido, isso se nota e se marca.
Ao ler esta letra como seu sintoma, o Dizer inaugura o falasser, assim como a ex-sistência que só será experimentada como tal, de fato, no a posteriori de seus ditos.
É a posteriori que a letra se denuncia – "se suspeita" (idem, ibidem)10 – como furada do "gozo opaco" ao qual o sujeito renuncia para, a partir daí se fazer uma razão: $<>a, a razão do fantasma. O Um do sujeito marca simultaneamente esse Gozo que ex-siste e o seu fracasso.
A repetição desse Um se fará vetor da demanda, cujo Dizer impronunciável se suspeitará aquém dos Ditos, supondo "o sujeito que, como efeito de significação, é resposta do real" (LACAN, 1972/2003, p. 458).11 O sujeito é uma suposição, cujo ponto de partida é um ponto de partição: a resposta do Dizer diante da alteridade.
Alguma coisa se escreve daí por diante, algo da ordem do nó, que faz laço onde não há relação. Algo verossímil se escreve então, encore, balizado de um lado pela repetição do traço que faz rastro do rastro primeiro, e por outro pela constância do objeto que "faz" letra, que faz as vezes da letra: escrita no corpo (encore) produzindo as ranhuras em que derramará o espraiar do significado (litter-rasura).
É a escrita do romance que se trama assi m, desde o início do falasser a partir desta sequência: furo (trou) – letra – fala – escrito.
O sofrimento do sujeito se embaralha, dá nós com seu sintoma, que ele proclama como verdade e se dedica à repetição da qual ele faz seu destino. A menos que ele encontre "um parceiro que tenha chance de responder" (LACAN, 1973/2003, p. 555)12 de outro modo a essa letra em espera [souffrance].
3. Resposta de analista: suportar a verdade, fazer valer o real
A psicanálise é uma experiência que parte do sofrimento, ou melhor, da demanda de um que sofre, que como toda demanda, supõe a resposta, isso o faz blablabar, falar para um outro suposto deter sua verdade, isso o faz " falasser".
O analista responde, antes de tudo, é esse o a priori da demanda de interpretação que a transferência lhe endereça. É por isso que é melhor se calar, para que de fala em falatório se desmoite [défriche], e se decifre [déchiffre] um texto, e se deposite um escrito, uma espécie de eco "do fato de que há um dizer" do qual testemunha sua textura pulsional. Um escrito que não é para ser lido, já que o que se leria é a letra impronunciável.13 "Não seria nada mal que o ler-se fosse entendido como convém, ali onde se tem o dever de interpretar" (LACAN, 1973a/2003, p. 504).14
Sem sentido, da angústia, do sintoma, da repetição: a busca do sentido perdido faz com que, em geral, sustentar essa inclinação pela verdade seja uma resposta esperada e pouco problemática. Lacan sublinha que o analista pode colaborar com esta interpretação significativa que o dispositivo desencadeia, mas não é aqui que sua resposta específica é exigida.
A verdade aligeira o sentido dos sintomas numa certa medida, mas para além da mensagem enviada e recebida, resta a letra, em espera, em suspenso. Muito rapidamente, o sentido esbarra com o sem saída (sans issue), e haja analista para sacar daí o sentido da saída, o sentido sacado (sens issu) do não sabido (insu). O impasse do sujeito suposto saber é a saída lógica do discurso histérico, mas é somente o ato do analista que pode conduzi-lo da impotência ao impossível, quando a "repetição programada" (SOLER, 2010) pelo dispositivo põe a transferência à prova, para não dizer em xeque : é preciso um parceiro que tenha chance de responder!
Sublinhamos três dessas respostas específicas:
O Dizer que não
"[...] o dizer se demonstra por escapar ao dito. Por conseguinte, só se assegura esse privilégio ao se formular como 'dizer que não' [...]. Responder assim suspende o que o dito tem de verdadeiro" (Lacan, 1972/2003, p. 452). 15
"Dizer que não" consiste em produzir o corte no sentido, que por definição é sempre verossímil. Aqui a tática da interpretação saberá diversamente burlar e desconcertar a estratégia da transferência.
O Dizer apofântico
Freud já falava do valor da resistência enquanto ela des-cobria algo da ordem da ex-sitência.
Pode ser que a análise chegue até o ponto de desvelar no escrito depositado nas dobras do texto, a lógica da repetição para além de seu trágico (HUGO, 1872/1985).16 Com efeito, esta procura repetir justamente o que lhe escapa,"ou seja, a marca primeira que não poderia se duplicar e que escorrega necessariamente" (LACAN, 1967-68, aula de 28/02/1968).17
Pode um analisante suportar um "É assim", "É isso!" que sublinha no fato mesmo da repetição, a função da letra, que enquanto furo permite alguns clarões, uma furada do sentido e de seus constrangimentos? O fato da repetição permite topar com a possibilidade do ato.
Em todo caso o analista não pode não se fazer o suporte disso.
Quanto a mim, se proponho à psicanálise a carta como retida [a letra como em sofrimento / la lettre comme en souffrance], é porque nisso ela mostra seu fracasso. E é deste modo que a ilumina: quando invoco assim as Luzes, é por demonstrar onde ela faz furo. Já se sabe há muito: nada é mais importante na óptica, e a mais recente física do fóton mune-se disso. (LACAN, 1971/2003, p. 17). 18
A psicanálise esbarra na beira do furo, mas é aí mesmo que a letra pode disparar a sua pirueta e produzir uma reviravolta "There's a crack in everything, that's how the light gets in" (COHEN, s.d.).
O equívoco
"É na medida em que nossa interpretação liga (lê), de uma outra forma, uma cadeia que é uma cadeia de articulação significante, que ela funciona" (LACAN, 1967-69, aula de 29/11/1967),19 dizia já Lacan no seminário sobre o Ato, equivocando com o verbo ler (lire/ elle lit) e o verbo ligar (lier/ elle lie).
Mais do que ler e decifrar, a interpretação equívoca liga de outra forma; é essa a sua poesia, mas é, sobretudo, sua função de nó que está em jogo; ao ler as coisas de outro modo, ela as liga forçosamente de uma outra forma, muitas vezes inaudita.
Feita como o sintoma, com a mesma moterialidade, um nó de significante, ela pode desfazer sua consistência.
Como um lapso, ela pode denunciar sua ausência de sentido e o reduzir à sua letra. Como o chiste, ela pode ter efeito desopilante, isto é, que muda o afeto.
4. A responsabilidade do dizer e o uso da letra
A responsabilidade do dizer é a resposta de uma análise ao Dizer que enoda a letra ao sujeito: é pelas suas sequências que se julga o ato. Ser respondedor, e responder pelo real, é a resposta que se pode apostar para um analisante que, a partir de então, se nomearia passante.
É pelas suas condutas que se confirmará então sua resposta/responsabilidade ética, na medida da lógica e da poética à qual uma resposta de analista o terá levado. Assim sendo, não podemos desejar-lhe senão: Bons ventos!, isto é, Boa hora!,(NT 2) e que, então, ele faça um bom uso da letra.
A letra chega ao seu destino quando ela não quer dizer mais nada, quando ela perdeu seu valor de troca, de mensagem, e que ela só retém seu valor de uso, "um não-sei-o-quê e um quase nada" que faz fixão,(NT 3) que "retém o corpo invisivelmente". É só então que se pode fazer uso dela para qualquer outra coisa ("a prática da letra"), outra coisa que não reiterar o romance do qual pode enfim desconectar-se (se désabonner), descolar-se. E então com isso, pode "ainda", de novo, (en-corps-encore) fazer laço e, por que não, fazer amor.
Referências
BIDENT, C. Joyce enfin libre sur scène. Magazine Littéraire. Paris: Sophie Publications, n. 515, jan., 2012. [ Links ]
COHEN, L. Anthem. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=_e39UmEnqY8>. Acesso em: 02 jun. 2013. [ Links ]
HUGO, V. (1872). L'année terrible. Paris: Gallimard, 1985. [ Links ]
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SOLER, C. La Répétition (Cours de 2009-2010). Paris: TREFLE, 2010. [ Links ]
Recebido: 29/01/2013
Aprovado: 20/02/2013
1 "Il suffit de faire basculer la lettre qui commence le mot'pire', ça fait 'dire".
NT1 A expressão en souffrance, em francês, pode ser traduzida tanto por "em espera" ou "em sofrimento", em português, de acordo com o contexto.
2 "[...] ce que j'énonce, en rétablissant le texte de Poe, The Purloined Letter, à savoir la lettre qui ne parvient pas, la lettre prolongée dans son circuit. [...]."
3 "[...] symptôme inscrit en lettre de souffrance dans la chair du sujet [...]."
4 "[...] cristallisation matérielle de ce qui le conditionne comme être humain [...]."
5 "[...] y gardant en tout état de cause le prix de cette lettre que je dis parvenir toujours où elle doit [...]. "
6 "[...] Car encore faudrait-il pour cela qu'on développe ce que j'entends que la lettre porte pour arriver toujours à sa destination [...]."
7 "[...] Oh, ce n'est pas écrit du tout. Ce n'est même pas fait pour être lu. C'est fait pour être regardé et entendu [...]."
8 "[...] C'est par des biais tout à fait incidents qu'entrera pour lui ce qui fait le trois, à savoir le Réel [...]"
9 "[...] moyennant quoi il y a des choses qui s'imprimeront, par la tante Yvonne, par le grand-père Machin ou par l'enfant lui-même, à savoir son pathétique, à savoir qu'il est relégué, personne n'y comprend rien, et pour cause, il n'y a rien à comprendre."
10 "[...] se soupçonne [...]."
11 "[...] le sujet, qui, comme effet de signification, est réponse du réel [...]."
12 "[...] un partenaire qui ait chance de répondre [...]."
13 "Por que, senão porque o judeu, desde o retorno da Babilônia, é aquele que sabe ler, isto é, que pela letra se distancia de sua fala, encontrando ali o intervalo, preciso para aí se jogar com uma interpretação?" (LACAN, 1970/2003, p. 427). "[] Pourquoi sinon de ce que le Juif depuis le retour de Babylone, est celui qui sait lire, c'est-à-dire que de la lettre il prend distance de sa parole, trouvant là l'intervalle, juste à y jouer d'une interprétation [...]."
14 "[...] Ça ne serait déjà pas mal que se lire s'entendît comme il convient, là où on a le devoir d'interpréter [...]."
15 "[...] le dire se démontre, et d'échapper au dit. Dès lors ce privilège, il ne l'assure qu'à se formuler en 'dire que non'. Répondre ainsi suspend ce que le dit a de véritable [...]."
16 "L'homme tragique, saisi par le destin qui n'est que la logique."
17 "[ ] à savoir la marque première qui ne saurait se redoubler et qui glisse nécessairement [ ]."
18 "[...] Pour moi si je propose à la psychanalyse la lettre comme en souffrance, c'est qu'elle y montre son échec. Et c'est par là que je l'éclaire: quand j'invoque ainsi les lumières, c'est de démontrer où elle fait trou. On le sait depuis longtemps: rien de plus important en optique, et la plus récente physique du photon s'en arme [...]."
19 "[...] C'est dans la mesure où notre interprétation lie (lit) d'une autre façon une chaîne qui est une chaîne d'articulation signifiante, qu'elle fonctionne [...]."
NT2 Em francês Bon Heure!, que equivoca a palavra bonheur [felicidade] e a expressão bon heur [boa hora] em francês.
NT3 Tradução de fixion, neologismo forjado por Lacan (ver "L'Étourdit" In: Autres Écrits. Paris: Seuil, 2001, p. 483), que produz um equívoco entre ficção e fixação.