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Stylus (Rio de Janeiro)

 ISSN 1676-157X

     

 

EDITORIAL

 

 

Em Stylus 26, anunciamos que o próximo número, este que agora publicamos, trataria do mesmo tema que foi debatido em julho de 2012 no IIV Encontro Internacional da IF – EPFCL, no Rio de Janeiro, isto é, "O que responde o psicanalista? Ética e clínica".

A necessidade de fazermos duas revistas com o mesmo tema demonstra, por si só, o quanto essa pergunta alcançou o efeito de produção de trabalhos não só para serem levados ao referido Encontro, mas que também se transformaram em escritos, registrando, assim, elaborações importantes acerca das respostas do psicanalista, que expressam o rigor, a atualidade, a vivacidade do discurso analítico, de uma clínica que prima por sua ética, que é a de dar voz ao sujeito, numa sociedade que caminha na contramão do bem-dizer.

Abrindo a presente edição, encontramos o ensaio de Ana Laura Prates Pacheco, que para os leitores de Stylus, ou da referida autora, poderão notar que se trata da continuidade de sua investigação apresentada em Stylus 25, sobre A lógica da interpretação, quando teceu consideráveis articulações entre interpretação e poesia. No presente trabalho, Ana Laura Prates Pacheco procura articular as consequências da elaboração do último ensino de Lacan com a experiência analítica, defendendo a ideia de que, para que o psicanalista possa fazer ressoar outra coisa para além do sentido, é preciso que haja certo forçamento em sua resposta, sem o qual haverá o risco de um fechamento na relação analítica, entendimento situado na provocadora expressão de Lacan: "autismo a dois".

Em seguida, Maria Vitória Bittencourt privilegia a face do amor na relação transferencial, porém do amor que se dirige ao saber, com a intenção de interrogar acerca dos destinos do amor no final da análise, buscando suas respostas através dos testemunhos do passe.

Ainda em ensaios, Vera Pollo parte da questão que está em seu título "Como responder ao sintoma que é evento corporal?", para fazer um percurso em três direções, a saber: a interpretação, o sintoma e o corpo. Através desse caminho, a autora tem a oportunidade de explorar as possíveis distinções entre interpretação e construção, valorizar o aspecto da sonoridade na interpretação e no sintoma, assim como fazer uma reflexão clínica acerca dos "novos sintomas" que a leva a tratar da questão do corpo como objeto, ao corpo como evento.

Encerrando essa seção, somos contemplados com uma elegante e atual relação da psicanálise com a arte através do ensaio escrito em parceria por Lucília Maria Sousa Romão e Gláucia Nagem de Souza, em que destacam dois termos, o vazio e o silêncio como fontes da fala e da linguagem e, portanto, fundadores do ser falante e do fazer artístico. É através da performance da artista plástica Tatiana Blass, "Metade da fala no chão – piano surdo", que as autoras desenvolvem uma reflexão sobre as relações do sujeito com a linguagem e com a arte.

A seguir, entramos na seção Trabalho crítico com conceitos, com um precioso artigo desenvolvido por Gabriel Lombardi, apresentado em parte tanto no IV Encontro Internacional quanto na Jornada do Fórum São Paulo em 2012, quando, apoiando-se na tripartição da ação do analista proposta por Lacan na Direção do tratamento, ou seja, tática de interpretação, estratégia da transferência e política de seu ato, irá interrogar a expressão "pagar com seu juízo íntimo", que o conduz a tratar do ato analítico do ponto de vista ético e político. Duas perguntas se destacam e norteiam todo o artigo, são elas: De que modo o analista ascende ao conhecimento ético de suas práxis e suas consequências? E de quais modos incide, no processo analítico, a dificuldade do analista para efetuar esse pagamento ante distintos tipos clínicos do sintoma?

Em O passe de Picasso, título intrigante à primeira vista, Gláucia Nagem de Souza, dialogando com diversos autores, levanta questões fundamentais para o entendimento e o posicionamento crítico com relação ao dispositivo do passe e sua atualidade.

Samantha A. Steinberg traz à cena o Seminário Os quatro conceitos da psicanálise, pelo viés da topologia de superfície. A autora faz uma contraposição entre os conceitos de transferência e o operador desejo do analista para traçar um comparativo entre a direção do tratamento de uma análise lacaniana e outras abordagens.

Na seção Direção do tratamento, encontramos quatro artigos que apresentam finas pontuações clínicas, evidenciando o que responde o analista através do seu fazer. Iniciando essa seção, encontramos o trabalho de Lenita Pacheco Lemos Duarte, que procura demonstrar, por meio de um recorte clínico, que é pelo ato analítico em conjunção com o desejo do analista que se faz possível alcançar mudanças subjetivas nos analisandos.

Na sequencia, Marcia de Assis propõe pensar o final da análise e os afetos aí implicados, pelo eixo da transferência, considerando a sequência analítica – entrada, momento de passe, saída –, voltando sua atenção especialmente para a conclusão do percurso transferencial, compreendido entre o passe clínico e o ponto final da análise.

Diztrinchar a interpretação, é a intenção de Zilda Machado, que parte de uma pergunta fundamental: O que é a interpretação para a psicanálise? Para respondê-la, recorre ao conceito de alíngua, buscando demonstrar que, na alíngua particular a cada sujeito, se enodam os significantes que o afetam, determinando seu gozo. Apresenta alguns fragmentos clínicos para demonstrar a função da interpretação como corte no sentido e consequente forçamento de outra escrita.

Encerrando essa seção, Gilda Pitombo Mesquita através de um caso clínico de histeria masculina, investiga como a sexualidade colocada em ato trazida no discurso do analisando, pode expressar sua divisão subjetiva e também seu sintoma como modo de gozar do inconsciente, demonstrando enfim como sexualidade e perversão encontram-se enlaçadas nesse caso.

Na ultima parte desta revista, contamos com a colaboração de Lia Silveira e Marcia de Assis que se dedicaram à leitura cuidadosa para trazer para Stylus 27 a resenha de dois livros que muito têm a contribuir com nossa prática, são eles: Da Fantasia de Infância ao Infantil na Fantasia, de Ana Laura Prates Pacheco, resenhado por Lia Silveira, que contempla a clínica com crianças e, através de uma pesquisa consistente e crítica, discute as possíveis especificidades dessa clínica, "tomando como ponto de partida a distinção princeps entre o lugar da criança – enquanto efeito de discurso no social; e o do sujeito do inconsciente, único a ser considerado em qualquer encontro que se diga psicanalítico"; e Lacan, o inconsciente reinventado, de Colette Soler, resenhado por Marcia de Assis, fruto de dez anos de transmissão da psicanalista na Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano, que interroga, segundo a própria autora, o que fundamentava a trajetória do ensino de Lacan.

Concluindo o presente editorial, desejamos a todos uma excelente leitura, esperando que os instigantes artigos aqui publicados venham contribuir com os estudos e pesquisas daqueles que se interessam pela psicanálise e em especial pelo que responde o psicanalista a partir de sua ética e sua clínica.

 

Ida Freitas