Pensando familias
ISSN 1679-494X
EDITORIAL
Atualmente, estamos continuamente tomando conhecimento de situações difíceis, agressivas, violentas entre seres humanos, onde o relacionamento adequado, respeitoso, saudável é desconectado da realidade. O mundo virtual é abastecido de jogos em que o objetivo é vencer através de manobras violentas. Famílias são colocadas frente a ações violentas de homens e mulheres que destroem vidas com muita facilidade. Lares são invadidos por notícias sobre atos de violência cometidos contra pessoas, que, na maior parte das vezes, são inocentes. Junto a isso, cada vez mais a família é considerada como fundamental para a formação do ser humano, lugar onde o indivíduo poderá desenvolver sentimentos de amor e respeito pelo outro, onde os valores são passados pela convivência próxima e intensa entre os seus diferentes membros. Trabalhar com famílias em sofrimento é bastante complexo. Desta forma, os profissionais que lidam com famílias necessitam sempre ideias que aprimorem seu conhecimento. Assim, apresentamos alguns trabalhos de colegas que estudaram temas considerados relevantes e que poderão aprimorar mais nosso conhecimento.
Pensando Famílias, nesta edição, apresenta a entrevista com o Prof. Dr. Vincenzo Di Nicola, da Universidade de Montreal. Di Nicola é um eminente profissional, versátil, acessível, criativo. Ele fala sobre os caminhos que vai adentrando em sua vida profissional, acrescentando sempre novos conhecimentos que fundamentam e enriquecem seu trabalho. Ao conversar com ele, percebe-se a vibração com os temas sobre os quais discorre, tecendo uma teia sobre as ideias de diferentes autores, unindo-as de forma harmônica e produtiva. Nesta entrevista concedida a Maria Inês Santos Rosa e a mim, ele conversa sobre a terapia familiar atual, suas experiências profissionais, seu modelo de trabalho com famílias através da cultura, seu trabalho clínico, comenta sobre a subjetividade do terapeuta e as aquisições tecnológicas atuais, fala sobre a ética no processo terapêutico, em como nivelar a hierarquia do poder e do conhecimento no encontro com o outro.
Angélica P. Neumann e Eliana P. Zordan realizaram uma pesquisa sobre como repercute no relacionamento fraterno a separação conjugal dos pais. Esta pesquisa foi realizada com três pares de irmãos adolescentes. As autoras concluem que é fundamental a organização anterior e posterior à separação, como os pais lidam com o rompimento do laço conjugal, como se dispõem ao novo relacionamento na situação de co-parentalidade.
Gabriela A. Rodrigues escreve sobre famílias monoparentais com filhos gêmeos, utilizando-se de pesquisa qualitativa sobre um caso em que foi realizada terapia familiar de abordagem sistêmica. O objetivo da investigação foi entender como se constrói o vínculo de um progenitor único com filhos gêmeos e se este vínculo estabelecido com as crianças pode exercer benefícios ou não na forma de exercer os cuidados necessários para com cada um deles. Aponta também a necessidade em ampliar os vínculos com outras pessoas além da família.
Mara S. Pasian; Juliana M. Faleiros; Marina R. Bazon e Carl Lacharité trazem o tema sobre negligência infantil, acrescentando que é a modalidade mais encontrada em diversos países, incluindo o Brasil, mas é, frequentemente, velada ou mesmo pouco investigada e conhecida. O objetivo dos autores é dar subsídios para maior compreensão a esta temática, apontando a necessidade de orientação às famílias, possibilitando às crianças oportunidades de melhor desenvolvimento e de um relacionamento familiar saudável.
Olga M. P. Rolim Rodrigues; Sária C. Nogueira; Elisa R. P. Altafim apresentam um assunto sempre atual e inesgotável: práticas parentais de mães de bebês. Mães, e pais também, sempre desejam saber mais sobre como lidar com seus filhos pequenos, se devem agir de modo positivo e/ou como exercer uma punição. As autoras discutem a necessidade e a importância de exercerem intervenções positivas, diminuindo as negativas, a fim de privilegiar um desenvolvimento infantil mais adequado e saudável.
Sabrina D. Cúnico; Clarissa T. de Oliveira; Cristina S. Kruel; Tania M. Tochetto escrevem sobre a surdez em bebês e o quanto ela interfere no desenvolvimento infantil. As autoras enfatizam a importância de um diagnóstico precoce utilizando a Triagem Auditiva Neonatal (TAN), a fim de oferecer a possibilidade de uma melhor qualidade ao desenvolvimento do bebê. Neste estudo, as autoras também investigam os sentimentos maternos frente à possibilidade de comprovação do diagnóstico de deficiência auditiva no bebê e concluem o trabalho, argumentando a necessidade de oferecer informações claras às gestantes sobre os exames aos quais o bebê deverá ser submetido, a fim de que reconheçam a importância dos mesmos.
Sibelle M. M. de Barros; Maria Angélica C. Andrade; Flávia A. A. Siqueira apresentam pesquisa sobre o cuidado de familiar com câncer e os sentimentos dos cuidadores decorrentes desta função. Utilizam para este estudo de contribuições da terapia familiar, especialmente da terapia narrativa. As autoras encontraram em seu estudo ambiente familiar desfavorável, dificuldades no manejo com o membro familiar doente e falta de apoio familiar, mas identificaram também aspectos de mudança pessoal e felicidade, o que torna suportável o exercício de cuidador.
Giseli V. Farinhas; Maria Isabel Wendling; Letícia L. Dellazzana-Zanon investigam, através de um estudo de caso, o impacto psicológico sofrido pela família frente ao diagnóstico de câncer de um membro familiar, assim como as estratégias de enfrentamento usadas pela mesma. Um dos pontos observados foi a sobrecarga que a cuidadora, filha da paciente, teve ao assumir esta função. Além deste, foi observado o aumento da espiritualidade e aspectos transgeracionais no entendimento do manejo da família frente a esta dolorosa situação. Enfatizam o processo psicoterápico na melhora da vida familiar.
Estes são os trabalhos que esta edição apresenta como contribuição a um melhor entendimento do complexo relacionamento familiar.
Helena Centeno Hintz.