Arquivos Brasileiros de Psicologia
ISSN 1809-5267
ARTIGOS
Os conceitos de envolvimento e experiência nos estudos sobre paternidade
The concepts of father involvement and experience in studies on fatherhood
Los conceptos de envolvimiento y experiencia en estudios sobre paternidad
Milena da Rosa SilvaI; Marília Reginato GabrielII; Evandro de Quadros ChererIII; Cesar Augusto PiccininiIV
IDocente. Instituto de Psicologia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Porto Alegre. Estado do Rio Grande do Sul. Brasil
IIDoutora. Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Universidade Federal do Rio Grande Sul (UFRGS). Porto Alegre. Estado do Rio Grande do Sul. Brasil
IIIDoutorando. Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica e Cultura. Universidade de Brasília (UNB). Distrito Federal. Brasil
IVDocente. Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Porto Alegre. Estado do Rio Grande do Sul. Brasil
RESUMO
O maior envolvimento da mãe com os cuidados dos filhos levou à proliferação de estudos sobre a relação mãe-bebê e menos sobre a relação pai-bebê. A produção empírica e teórica sobre a paternidade foi afetada, refletindo na escassez de conceitos que podem ser usados nas investigações. Entre os conceitos comumente usados nos estudos, destacam-se os de "envolvimento paterno" e "experiência da paternidade". Este estudo apresenta alguns aspectos teóricos e empíricos associados a esses dois conceitos visando contribuir teórica e metodologicamente para as pesquisas sobre a paternidade. Destacaram-se as características desses conceitos e suas especificidades, ilustrando-os com relatos de pais encontrados na literatura, contribuindo para a sua definição teórica e operacional. Espera-se que este artigo contribua para despertar o interesse dos estudiosos sobre a importância dos estudos sobre a paternidade, muito relevantes em uma sociedade em que os papéis parentais apresentam fronteiras cada vez mais tênues.
Palavras-chave: Paternidade; Experiência da paternidade; Envolvimento paterno.
ABSTRACT
The greater involvement of the mother on the caring for her child lead to a proliferation of studies on this relationship and much less about the father-child relationship. The empirical literature and theoretical production was affected with a shortage of concepts. Among the concepts commonly used, this study highlights the "father involvement" and "experience of fatherhood". We present some theoretical and empirical aspects associated with these two concepts in order to contribute to a theoretical and methodological approach that can be used to investigate the fatherhood. The characteristics of these concepts were highlighted, illustrating them with father reports found in the literature, contributing to its theoretical and operational definition and to specify the particularity of each concept. We hope that this study will contribute to arouse the interest of scholars about the studies on fatherhood, as it become increasingly relevant in a society where traditional parental roles are with increasingly tenuous boundaries.
Keywords: Parenting; Experience of Fatherhood; Father Involvement.
RESUMEN
La mayor participación de la madre en los cuidados de los hijos llevó a la proliferación de estudios sobre la relación madre-bebé en detrimento sobre la relación padre-bebé. La producción empírica y teórica fue afectada, reflejada en la escasez de conceptos que pueden ser usados en las investigaciones. Entre los conceptos que a menudo se utilizan, se destacan el "envolvimiento paterno" y "experiencia de la paternidad". Este estudio presenta algunos aspectos teóricos y empíricos asociados a esos dos conceptos, con el fin de contribuir teórica y metodológicamente para las investigaciones sobre la paternidad. Se destacaron las características de estos conceptos y sus especificidades, que fueron ilustradas con relatos de padres encontrados en la literatura, contribuyendo a su definición teórica y operacional. Se espera que este artículo contribuya para despertar el interés de los estudiosos sobre la importancia de los estudios sobre la paternidad, éstos cada vez más relevantes en una sociedad donde los roles parentales tradicionales presentan fronteras cada vez más tenues.
Palabras clave: Paternidad; Experiencia de la Paternidad; Envolvimiento Paterno.
A tradicional presença da mãe como cuidadora principal dos filhos contribuiu para a compreensão popular e acadêmica de que a relação pai-filho não seria tão relevante quanto a relação mãe-filho para o desenvolvimento infantil (Cabrera, Tamis-LeMonda, Bradley, Hofferth & Lamb, 2000). Inclusive a psicologia possui uma longa história em ignorar os pais, muitas vezes considerados menos importantes do que as mães para o desenvolvimento infantil (Parke, 1996). Contudo, a partir dos anos 1960 e 1970, importantes mudanças sociais, especialmente nas sociedades ocidentais, alteraram o tradicional contexto no qual as crianças se desenvolvem. Esses aspectos tiveram origem, principalmente, no movimento feminista e nas suas exigências de novas definições dos papéis sexuais, no aumento do índice de divórcios e de pais que não vivem com seus filhos (Cabrera et al., 2000; Dessen, 2010). Com isso, nas últimas décadas, a partir dessas mudanças, aumentou muito o interesse da psicologia a respeito da paternidade.
No entanto, diferentemente do estudo da maternidade, com sua longa tradição teórica e empírica, os estudos sobre paternidade começaram com uma escassez teórica e conceitual, muitas vezes adaptando os conceitos dos estudos sobre maternidade (Coutinho & Morsch, 2006). Contudo, é plausível pensar que nem sempre é possível e adequado usar conceitos maternos no estudo do pai e que, por vezes, é necessário usar conceitos específicos que retratem a especificidade do fenômeno da paternidade. Nesse sentido, o presente estudo não pretende abranger a literatura da maternidade, mas busca deter-se naquilo que diz respeito ao pai. As investigações sobre paternidade tipicamente têm enfocado em aspectos que envolvem a prática paterna, como abordados pelo conceito de envolvimento paterno (Lamb, Pleck, Charnov, & Levine, 1985), assim como em aspectos subjetivos referentes à experiência da paternidade (Houzel, 2004).
Ao encontro dessa tendência, o psicanalista francês Houzel (2004) buscou organizar as funções e os papéis parentais em torno de três distintos eixos, a saber, exercício, experiência e prática da parentalidade.
De acordo com Houzel (2004), o exercício da parentalidade refere-se àquilo que define quem é o pai e quem é a mãe em determinada sociedade, e quais os seus direitos e deveres. Assim, define um campo que transcende ao indivíduo, sua subjetividade e seus comportamentos, referindo-se aos laços de parentesco e à legislação da sociedade à qual o indivíduo pertence. Para Houzel, o exercício da parentalidade aproxima-se mais do campo da antropologia do que da psicologia.
Já o segundo eixo, a experiência da parentalidade, enfatiza os aspectos subjetivos conscientes e inconscientes do processo de vir a ser pai ou mãe e de ocupar papéis parentais, envolvendo numerosas questões, dentre elas o desejo de ter um filho e o processo de transição para a parentalidade, bem como as adaptações e perturbações psicológicas relativas à maternidade e à paternidade. Houzel (2004) afirmou que a experiência da parentalidade já é bastante estudada e conhecida nas mães, mas apenas muito recentemente começou a ser investigada em relação aos pais.
Por sua vez, a prática da parentalidade diz respeito às ações cotidianas que pais e mães devem realizar com seus filhos. Essas práticas não são circunscritas aos cuidados físicos, envolvendo também aspectos psíquicos. Assim, abrangem as interações comportamentais e afetivas que podem ser observadas, bem como aspectos fantasmáticos e simbólicos que se organizam em função da história parental e que dizem respeito às transmissões transgeracionais que inscrevem o indivíduo em sua filiação.
A partir dessa organização conceitual proposta por Houzel (2004), percebe-se que os estudos dedicados ao entendimento da parentalidade, especialmente na psicologia, podem ser organizados e agrupados, principalmente, nos eixos de prática e experiência da parentalidade. É devido a isso que, neste estudo, optou-se por pensar as produções acadêmicas sobre paternidade a partir das ideias desse autor, especificando que a prática da paternidade, como será vista a seguir, tem sido geralmente estudada por meio do conceito de envolvimento paterno, enquanto que a experiência da paternidade é usualmente apresentada com noções referentes aos aspectos subjetivos da paternidade.
Considerando-se esses aspectos, o presente artigo tem o objetivo de apresentar e discutir alguns elementos teóricos e empíricos associados aos conceitos de envolvimento paterno e experiência da paternidade. Para tanto, nas próximas seções, são apresentados e discutidos alguns detalhes desses dois conceitos, buscando ilustrá-los com relatos de pais extraídos de estudos sobre paternidade, no período entre a gestação e o segundo ano do filho, e que foram realizados no Núcleo de Infância e Família (Nudif), dos quais os autores do presente estudo fazem parte. Desse modo, ainda que este estudo não se proponha a uma revisão sistemática e não contemple todas as publicações sobre a temática, procurou-se expor as principais tendências encontradas nas investigações sobre a paternidade, com base no conceito de envolvimento paterno e experiência da paternidade, contribuindo-se com uma discussão teórica articulada com a apresentação de estudos empíricos.
Envolvimento paterno
As práticas cotidianas que os pais realizam com seus filhos têm sido operacionalizadas nos estudos sobre a paternidade, principalmente, pelo conceito de envolvimento paterno proposto por Lamb et al (1985). Estes autores sugeriram três componentes do envolvimento paterno: interação, acessibilidade e responsabilidade. O primeiro refere-se ao contato direto do pai com seu filho, através do cuidado e de atividades compartilhadas. Exemplos de interação incluem: vestir e alimentar a criança, brincar e outras atividades que envolvam cuidado direto. Já a acessibilidade se refere à disponibilidade física e psicológica, o que oportuniza a interação com a criança. Este componente permite, mas não requer, uma interação face a face, como, por exemplo, quando o pai lê o jornal, enquanto a criança brinca no mesmo ambiente. O último, a responsabilidade, refere-se ao papel do pai de garantir que a criança seja cuidada e que os recursos estejam disponíveis para a criança. Levar o bebê ao médico quando está doente e garantir que o bebê tenha roupas adequadas para vestir são exemplos de responsabilidade. Responsabilidade também pode incluir ansiedades, preocupações e planejamentos (Lamb et al., 1985).
Baseado na definição de Lamb et al. (1985), o conceito de envolvimento passou a ser, inicialmente, investigado por alguns autores a partir do tempo que o pai despendia ao filho em cada dimensão. O envolvimento em termos quantitativos era avaliado através de diários ou de questionários que os pais preenchiam, fazendo um levantamento de horas dedicadas ao filho, comportamentos e responsabilidades (Cabrera, Tamis-LeMonda, Lamb, & Boller, 1999; Pleck, 1997), não importando a qualidade desse envolvimento. Por exemplo, o estudo de Minton e Paskey (1996) foi realizado com 270 pais, sendo 178 residentes com a criança e 92 não residentes, no qual os participantes responderam questionários enviados por e-mail. Os autores exploraram a relação entre o status conjugal do pai e o envolvimento deste com as atividades relacionadas à criança. Como resultados, os pais que não residiam com os filhos, diferentemente daqueles que com eles residiam, relataram sentimentos de incompetência e de insatisfação com o papel de pai.
Segundo Pleck (1997), o foco nos níveis de envolvimento paterno surgiu da preocupação com a prática da paternidade, principalmente em um contexto em que as mães estavam em atividades laborais fora de casa. É interessante contextualizar o surgimento desta preocupação com o êxodo das mulheres para o trabalho externo à casa e as dúvidas que existiam quanto às consequências desta ausência para os filhos. Os pais deveriam aumentar seus níveis de envolvimento, a fim de diminuir o ônus que a ausência materna causaria. Também é importante lembrar que os divórcios se intensificaram nas últimas décadas, trazendo mais uma preocupação quanto ao impacto da ausência paterna nos filhos (Dantas, Jablonski, & Féres-Carneiro, 2004).
Pleck (1997) retomou o conceito de envolvimento paterno, destacando uma abordagem qualitativa e não só quantitativa, como inicialmente considerado. Deste modo, a metodologia de estudo do envolvimento paterno abandonou, pelo menos em parte, os extensos diários e questionários e passou a utilizar entrevistas e outros procedimentos qualitativos de pesquisa. As novas investigações passaram também a coletar dados diretamente com o pai, usando métodos qualitativos e quantitativos, e alcançaram populações em situação de vulnerabilidade social, recorrendo ainda a outras fontes de informação, que além da mãe, envolviam a família extensa (Cabrera et al., 1999). Outro aspecto que passou a ser importante foi os diferentes níveis de envolvimento paterno de acordo com a situação do pai: residente ou não, pai de filho único ou de vários filhos e aqueles que trabalham ou que estão desempregados (Pleck, 1997). Pais que não moram com os filhos em decorrência de separação conjugal e que têm conflitos com a mãe dos filhos tendem a se distanciar fisicamente da família (Dantas et al., 2004). Estudos também apontam que pais de mais de três filhos, mesmo que residindo com a família, tendem a se envolver menos com os cuidados da prole, por necessitarem trabalhar mais para o sustento da grande família (Falceto, Fernandes, Baratojo, & Giugliani, 2008; Pleck, 1997).
Quanto aos fatores que influenciam o envolvimento paterno, Lamb et al. (1985) destacaram tanto fatores individuais e intrapsíquicos, quanto fatores do contexto. De acordo com os autores, fatores biogenéticos, determinados pela evolução de nossa espécie, ecológicos e psicossociais interagem na determinação do envolvimento do pai com seus filhos. Além disso, a participação do pai na criação dos filhos é fortemente influenciada pelo contexto cultural (Garbarino, 1993; Hewlett, 2000). Por exemplo, em nossa cultura, tende-se a proibir ao menino brincar de ter filhos, de alimentar bonecas, vendo-se nisso um suposto indicativo de tendências femininas, o que pode tornar difícil para o homem cuidar de seu filho (Aberastury & Salas, 1984).
Com relação à gestação, o estudo de Piccinini, Silva, Gonçalves, Lopes e Tudge (2004), com 35 pais que esperavam seu primeiro bebê, indicou que o pai se envolvia com o filho de modo direto e indireto, por meio de acompanhamento de ecografias e consultas, além de apoio emocional à mãe do bebê, estando disponível, conversando, tranquilizando a companheira. Outros relatos de pais sobre seus comportamentos e sentimentos revelaram seu envolvimento na gestação por meio de: apoio material à gestante, referir-se como "grávido", envolvimento nos preparativos para a chegada do bebê, busca de informações sobre bebês e gravidez, entre outras práticas. Na gravidez, os pais relataram interagir com o filho através da busca de contato ou da reação às manifestações do bebê no útero, atribuindo ao bebê características físicas e emocionais: "Bah, o cara fica ali, bota a mãozinha, conversa, né... Eu fico trovando, conversando com ele um tempão, ali, é muito bom; Já leio historinha agora que tá na barriga" (p. 308). As preocupações relatadas pelo pai também suscitam sua responsabilidade com a gravidez, sendo as mais presentes: a preocupação com a gestante, com o bebê, com o parto, com as finanças, com o aumento das responsabilidades e com a inexperiência:
Isso vai ser difícil, vai ser duro, porque eu sou atrapalhado pra caramba, eu vou ter que aprender, esses esquemas, ter habilidade pra trocar fralda, mas eu quero; Daí eu vou ficar preocupado, nervoso, o primeiro filho, a gente não sabe o que faz, marinheiro de primeira viagem é isso (Piccinini et al., 2004, p. 309).
No follow up, realizado aos três meses de vida do bebê, o estudo de Piccinini, Silva, Gonçalves, Lopes, e Tudge (2012) com 38 pais, que contou com mais três pais que passaram a participar da pesquisa mencionada no artigo citado acima, revelou que o envolvimento paterno foi relatado de diferentes formas, como brincando, cuidando, ensinando, provendo suporte financeiro, demonstrando afeto: "A primeira coisa foi trocar [as fraldas] e eu troquei, me saí muito bem, me surpreendi até" (p. 306). Além disso, os pais se mostraram compartilhando com a mãe atividades, responsabilidades e preocupações relacionadas ao bebê: "Eu e a C. [mãe], a gente conversou: 'Olha, agora o negócio é o seguinte, quando a T. [bebê] estiver chorando, alguém tem que parar e dar atenção para ela'. Porque é criança, ela precisa de nós" (p. 308). Nesse estudo evidenciou-se que, nesses primeiros três meses, quando o bebê ainda é bastante pequeno e dependente, a mãe era a responsável principal pelos cuidados do bebê. Ao mesmo tempo, alguns pais consideravam que não tinham habilidades para desempenhar as atividades cotidianas do bebê: "Eu já troquei as fraldas, só que eu não tenho muita habilidade, é meio complicado" (p. 306). No entanto, nas atividades não ligadas ao cuidado, mas a uma interação mais livre, como nas brincadeiras, os pais pareciam se conectar com o bebê e se sentir mais competentes para interagir com ele.
Já no follow up realizado aos 12 meses de vida do bebê, o estudo de Polli, Gabriel, Piccinini e Lopes (2016), com 35 pais, mostrou que, com relação à interação, os pais se envolvem com seus bebês, de acordo com as características desta etapa do desenvolvimento, ao cuidar de suas necessidades e promovendo a sua autonomia, especialmente por meio da alimentação sólida e pelo desenvolvimento motor: "Faço tudo, dar comidinha, tudo que tem que fazer eu faço com ela"; "Quando ela era menor era mais fácil, ela ficava quietinha, só que agora não, se tu ratear ela se vira, aí ela tá cocô, já vira aquela lambança. Então tem que ter uma série de cuidados maior" (p. 201). Também se destacou a decisão pelo cuidado alternativo, uma vez que o término da licença maternidade se aproximava ou, ainda, poderia haver o desejo da mãe de voltar a trabalhar e de que a criança convivesse em outro ambiente: "Ela [mãe] começa a trabalhar e aí a gente vai ver, se ele vai ficar com a minha mãe, com a minha sogra, vai ficar com algum conhecido. Creche tu não sabe como é que é tratado. É difícil pra quem é pai largar" (p. 203).
Já o estudo longitudinal de Castoldi, Gonçalves e Lopes (2014) investigou o envolvimento paterno de seis casais, da gestação aos 12 meses do bebê. As entrevistas com os pais indicaram que eles continuavam seguindo modelos tradicionais de paternidade quanto à disponibilidade e à responsabilidade, centrando-se no papel de provedor financeiro: "Preocupação com a situação financeira e sustento; até não digo sustentar de alimento, mas em todas as necessidades que ele tiver, poder dar o melhor" (p. 253). As mães mostraram o quanto se responsabilizavam pelo bebê e o desejo de que os pais se envolvessem nas atividades de cuidado: "Banho, alimentação, levar no pediatra, na pediatra, que geralmente é eu que marco, eu que vou e geralmente vou sozinha… eu não gosto muito assim, não de assumir, mas eu gostaria que ele [marido] tivesse mais presente" (p. 253). De modo semelhante ao destacado nos outros estudos (Piccinini et al., 2004; Piccinini et al., 2012; Polli et al., 2016), a interação dos pais foi maior em atividades lúdicas do que nos cuidados do filho: "O que eu mais gosto de fazer com ele é brincar. Ir lá jogar bola, brincar assim com a bola; na verdade, foi depois dos oito meses é que ele ficou mais ativo, né. E aí a gente consegue brincar mais" (Castoldi et al., 2014, p. 254-255).
No follow up realizado aos 24 meses de vida do bebê, o estudo de Gabriel, Polli, Dall'agnol, Tugde e Piccinini (no prelo) com 27 pais indicou que, com relação à interação, embora a criança vá se tornando mais autônoma em algumas atividades, ela ainda necessita do auxílio do pai: "Um dia ela faz tudo nas calças e tem dias que ela não faz. Ela pede: 'xixi', daí eu levo ela no sapinho e ela faz". Outro aspecto a ser destacado nesta fase de desenvolvimento da criança é a intenção de ensinar algo para a criança, tanto considerando a aprendizagem formal, como moral, visando ensiná-la a entender o que pode e o que não pode fazer: "Ontem, eu fui botar o chinelo nela e ela queria ir com o chinelo havaianas que a gente comprou pra ela tomar banho. Aí, eu digo: 'Não! Esse não, esse é pra banho!'". Contudo, aos 24 meses da criança, a mãe continuava sendo a principal responsável pelos cuidados, como já era aos três e aos 12 meses, e isso foi atribuído por alguns pais como devido à habilidade da mãe para lidar com a criança: "Quase sempre é ela [mãe] que troca a fralda dele [filho]. Eu vou lá, ajudo, mas, às vezes, não sei. Ela sempre diz: 'Não, deixa que eu troco direitinho!', aí ela vai lá e troca melhor. Ela sabe fazer melhor". Esses resultados indicam que, ao longo do tempo, o pai envolvia-se com a criança principalmente por meio de brincadeiras, cuidados e conversas, disponibilizando-se para estas interações de acordo com as demandas de trabalho. Ainda pode-se perceber que, mesmo com o crescimento da criança aos 24 meses, os pais ainda expuseram sentimentos de inabilidade ao cuidar da criança quando comparados às mães.
Segundo Tamis-LeMonda, Kahana-Kalman, e Yoshikawa (2009), o envolvimento do pai durante a gestação pode predizer a interação com o filho de um ano de idade. Os autores observaram que pais que participaram mais da vida do bebê, desde a gestação, relataram que faziam mais refeições com o bebê, ficavam mais sozinhos com o filho e se engajam mais nas atividades de cuidado quando o bebê tinha um ano. Na verdade, tem havido uma tendência geral de maior envolvimento do pai com o bebê no primeiro ano como mostra o estudo de Saleh e Hilton (2011). Investigando 2.515 pais americanos de diferentes idades, os resultados revelaram que 43% dos pais relataram interação com os filhos durante mais de 5 dias por semana, 89% também relataram altos níveis de disponibilidade, estando o mês todo junto da família, e 48% referiram ser pais responsáveis por dar apoio financeiro.
Mesmo que o sentimento de satisfação esteja presente na paternidade, os pais podem perceber-se como distante do que consideram ideal, principalmente pelo impedimento que o trabalho representa para uma participação maior na vida dos filhos (Silva & Piccinini, 2007). Contudo, para Monteiro, Veríssimo, Santos, e Vaughn (2008), justificar o não envolvimento paterno através das dificuldades que o trabalho impõe já não é suficiente, uma vez que, em muitos casos, pai e mãe trabalham e mantêm o bebê sob cuidados alternativos. Na verdade, o não envolvimento do pai nos cuidados com o bebê pode estar associado a diversos fatores pessoais e sociais, inclusive ao fato de a mãe não trabalhar fora e a problemas de relacionamento do casal (Falceto et al., 2008).
Obviamente, inúmeros fatores e contextos de desenvolvimento são passíveis de influenciar o envolvimento paterno, dentre eles: depressão pós-parto (Silva, 2007; Gabriel, Silva, Portugal, & Piccinini, 2015); filhos com Síndrome de Down (Henn & Piccinini, 2010) e portadores de Transtorno de Desenvolvimento (Yoshihara, 2008); pais que não moram com os filhos (Silva, 2003; Silva & Piccinini, 2004); pais que casam ou coabitam após a notícia da gravidez (Hohmann-Marriott, 2011); situação de desemprego paterno (Souza, 2008).
Quanto ao envolvimento em situação de depressão pós-parto da esposa (Silva, 2007; Gabriel et al., 2015), os pais se revelam, muitas vezes, presentes e ativos ao cuidar dos filhos e auxiliá-la em tarefas domésticas. No entanto, revelaram também dificuldades de apoiar emocionalmente as mães, assim como de colocar limites aos comportamentos dos filhos: "Às vezes, não consigo também entender tão bem e acabo também sendo um pouco, reagindo mal e sendo também um pouco intolerante e impaciente com ela [esposa]" (Silva, 2007, p. 106).
No contexto de Síndrome de Down, o estudo de Henn e Piccinini (2010) com seis pais revelou que eles se mostraram ativamente envolvidos no cuidado com os filhos, mesmo com as dificuldades emocionais enfrentadas por eles próprios e pelas mães, como tristeza e preocupação: "Eu que dava banho, eu que trocava, porque ela [mãe] não queria pegar nele. Então eu fiz essas coisas de primeiro banho, pegar o umbiguinho que caiu" (p. 625). Na verdade, o envolvimento paterno em situações de desenvolvimento atípico tende a ser maior do que em situações de desenvolvimento típico (Yoshihara, 2008).
Nas situações de desemprego (Souza, 2008; Souza & Benetti, 2008) e de não morar com os filhos (Silva, 2003; Silva & Piccinini, 2004), o envolvimento paterno tende a ser menor do que entre pais empregados ou que moram com a família. O menor envolvimento destes pais está associado a maiores restrições, sendo estas ligadas, principalmente, às dificuldades de relacionamento com as mães de seus filhos, em função da separação: "Às vezes eu acho que ela [esposa] coloca as coisas da nossa separação sobre a L. [filha]. Como essa questão de eu não poder visitar, eu acho que é muito a ver com rancor" (Silva, 2003, p. 108), ou pela falta de contribuição financeira (Souza, 2008; Souza & Benetti, 2008). Pais que casam ou coabitam após a notícia da gravidez tendem a ser mais envolvidos do que pais que casam antes da gestação, o que é explicado pelo foco do casamento ser a criança e o sucesso da recente família, além de serem considerados pais mais flexíveis (Hohmann-Marriott, 2011).
Nesses estudos, que destacam o conceito de envolvimento paterno de Lamb et al. (1985), percebe-se que existem alguns aspectos em comum e que frequentemente têm sido discutidos. Por exemplo, o trabalho e a relação com a mãe do filho aparecem por vezes como limitadores e outras como facilitadores do envolvimento paterno, assim como a manutenção de uma divisão não igualitária de responsabilidades, sendo o pai provedor da família e a mãe cuidadora dos filhos. A interação com o filho também apresenta alguns padrões antigos, quando o pai passa o tempo com o filho brincando ou disciplinando, e a mãe interagindo com o filho através do cuidado e da educação. No entanto, percebe-se, em nossa sociedade, uma movimentação paterna em busca de um maior envolvimento, demonstrando insatisfações em relação ao quanto eles têm se envolvido com os filhos. Uma vez que se compreendem os determinantes e as consequências do envolvimento paterno ou da ausência deste, pode-se auxiliar os pais nessa transição de papéis, com consequências para um desenvolvimento saudável do filho e em uma rica experiência paterna.
Outro aspecto importante a ser considerado sobre as pesquisas a respeito do envolvimento paterno é a abordagem metodológica a ser utilizada nestas investigações. Mesmo que importantes teóricos tenham sugerido que a pesquisa qualitativa seria essencial para um melhor entendimento do envolvimento paterno, os artigos internacionais usam predominantemente métodos quantitativos baseados em diários e questionários. Por outro lado, a maioria das pesquisas nacionais tem priorizado métodos qualitativos, baseados, principalmente, em entrevistas e na análise de conteúdo. Isso demonstra o interesse pelo aspecto processual das experiências paternas a partir das vivências individuais ou grupais e segundo a percepção dos próprios sujeitos (Souza & Benetti, 2009). É plausível se pensar que as duas abordagens merecem ser usadas e podem trazer tanto uma compreensão aprofundada sobre o fenômeno - como ocorre pelo uso do paradigma qualitativo -, como permite que se compreenda a extensão em que determinados achados se fazem presentes entre os pais em uma sociedade - como ocorre através do paradigma quantitativo.
Experiência de paternidade
A partir do modelo conceitual proposto por Houzel (2004), a experiência da paternidade tem sido operacionalizada nos estudos sobre a paternidade, sobretudo, por meio de conceitos que abarcam os aspectos subjetivos conscientes e inconscientes do processo de vir a ser pai. Entre esses aspectos, destacam-se o desejo pela criança e o processo de transição em direção à parentalidade. Assim, ser pai ou ser mãe relaciona-se a um desejo, o qual pode surgir precocemente tanto nas mulheres como nos homens (Lebovici, 1987). Acerca disso, pode-se pensar que o desejo de ter um filho relaciona-se ao lugar simbólico conferido ao bebê, o qual está associado às próprias perdas e resignações enfrentadas pelos pais. Sendo assim, compreende-se que é por meio do processo de ter um filho que a maioria dos homens procura alterar e amenizar seus próprios sofrimentos (Fraiberg, Adelson, & Shapiro, 1994). Além disso, conforme Freud (1914/2004), o desejo de ter filhos abarca um desejo maior, isto é, o desejo de imortalidade do eu, sendo que, para Freud (1900/1990), os filhos representam o único acesso à imortalidade.
Por sua vez, Houzel (2004) destacou que o desejo pela criança se desvincula do ato sexual, pois atualmente há diversas técnicas de controle de natalidade. Para o autor, o desejo pela criança está relacionado com a maturidade psíquica dos genitores, a qual implicaria na transmissão da vida recebida. Nessa perspectiva, compreende-se que para ser pai não é suficiente ser genitor ou, ainda, ser designado como tal, havendo a necessidade de tornar-se pai, sendo que o estatuto de filho apenas pode ser conferido a partir da subjetividade paterna. Esse processo acontece por meio de uma complexa transição para a parentalidade, implicado em níveis conscientes e inconscientes do funcionamento mental (Houzel, 2004).
No tocante à parentificação, entende-se que a experiência de se tornar pai e as responsabilidades adquiridas com o nascimento de um filho implicam em diversas mudanças na vida de um homem (Fägerskiöld, 2008). Ser pai pode mudar o modo como um homem pensa acerca de si mesmo, podendo ajudar a reavaliar valores e a estabelecer prioridades (Parke, 1996). Essas mudanças podem ser sentidas como uma grande reviravolta ou ainda como uma transição suave. Entre os fatores que afetam como o pai vivencia este momento estão sua expectativa, preparação e propósito de vida, bem como as características comportamentais do bebê (Bradley, MacKenzie & Boath, 2004).
Comumente, os novos pais sentem um crescente senso de autoestima, descrevendo-se como orgulhosos e mais maduros depois de terem visto o seu bebê pela primeira vez (Greenberg & Morris, 1974). Assim, frequentemente, os pais experimentam o sentimento de um extraordinário crescimento, em especial com o nascimento do primeiro filho (Darchis, 2000), sentindo-se felizes, mas também com medos, dúvidas e angústias (Lamour & Letronnier, 2003). Para Lebovici (1987), o bebê parece provocar uma intensa liberação de energia psíquica no pai, acentuando sentimento de autoestima, além de exaltação e prazer pelo fato de ter se tornado pai e ser capaz de produzir um bebê.
Além disso, compreende-se que, no processo de tornar-se pai, há um intenso remanejamento psíquico, sobretudo na primeira experiência da paternidade, a qual possui especificações que a diferencia das paternidades subsequentes (Parseval, 1986). Desse modo, tornar-se pai não é um evento único e pontual, mas um processo gradual de ocupar esse novo papel familiar (Parke, 1996). Para Palkovitz e Palm (2009), a transição que ocorre ao longo do processo de tornar-se pai pode ser considerada como tendo um impacto mais importante para o pai do que os aspectos iniciais da paternidade. Outros autores (MacAdam, Huuva, & Berterö, 2011) concordaram que esse processo causa mudanças permanentes que conduzem a repercussões em todos os aspectos da vida de um homem. Nessa mesma direção, para Genesoni e Tallandini (2009), as mudanças psíquicas advindas com a paternidade pertencem essencialmente a três dimensões, a saber, mudanças na autoimagem, transformação da relação diádica em triádica, assim como modificações no ambiente social. Desse modo, segundo Darchis (2000), a paternidade implica em uma viagem psíquica na qual o homem tem de se haver com sua história subjetiva, voltando-se para sua própria constituição a fim de ressignificar seu passado e, enfim, tornar-se pai. Com isso, conforme Parke (1996), uma das maiores transições da vida para o homem adulto é tornar-se pai. Essa transição pode ser difícil e estressante, mas pode também propiciar mudanças consideradas positivas para o desenvolvimento.
Nesta transição, segundo Cramer e Palacio-Espasa (1993), o pai enfrenta uma tarefa considerável de redistribuição de seus investimentos narcísicos e libidinais, impulsionada pela inclusão do bebê em sua organização psíquica. A criança se transforma em depositária de investimentos que, até este momento, estavam ligados a objetos internos ou aspectos do self dos seus próprios pai e mãe. A representação mental da criança, feita pelo pai e pela mãe, torna-se uma extensão, uma parte externa do psiquismo parental (Cramer & Palacio-Espasa, 1993).
A respeito disso, Houzel (2004) afirmou que apenas iniciou-se a investigação das modificações psíquicas ocorridas nos pais ao longo da transição para a paternidade. Para esse autor, é inegável que elas existem, ainda que possam ser menos evidentes do que aquelas encontradas nas mães. Com efeito, os distúrbios psicopatológicos que acometem os homens na transição para a paternidade são exemplos dessas alterações psíquicas (Houzel, 2004). A respeito disso, a transição para a paternidade pode ser entendida como o período mais estressante da vida de um homem (Halle et al., 2008). Conforme Dallos e Nokes (2011), tem-se apresentado certo reconhecimento das dificuldades que os pais podem enfrentar, ainda que somente recentemente os pesquisadores começaram a examinar se os pais podem especificamente experienciar sofrimento psíquico com o nascimento de um bebê.
Entre essas alterações psíquicas está a síndrome de couvade que se caracteriza pela presença de sintomas físicos e emocionais, entre eles sintomas psicossomáticos associados à paternidade (Brazelton & Cramer, 1992; Lebovici,1987; Parke, 1996; Parseval, 1986).
De Martini, Piccinini e Gonçalves (2010) entrevistaram 30 casais primíparos sobre a presença de indicadores da síndrome de couvade referidos pelos pais e pelas próprias gestantes. Os relatos dos participantes indicaram a presença de sintomas físicos e emocionais nos pais durante a gestação das esposas, o que sugere a presença da síndrome de couvade:
No início, [senti] enjoo. Até nós estávamos brincando, eu e a V. [esposa], que eu fiquei uns dias enjoado. Ela avisou, falou [da gravidez] e acho que 15 dias depois começou a me dar enjoo, mas passou. Aquela vez foi engraçado, porque ela até gozou de mim. Ela que tava grávida e eu que [enjoava] (p. 127).
Os autores pontuaram que em diversos casos o modo como os sintomas paternos foram contados indicavam um intenso envolvimento emocional do pai, assim como mobilização física envolvendo a gestação da companheira.
Na verdade, os pais podem desenvolver um bom envolvimento emocional com seus filhos desde a gestação (Bornholdt, Wagner, & Staudt, 2007), uma vez que não apenas a mãe engravida, mas o casal em conjunto (Parke, 1996). Embora, o pai se relacione com o bebê distintamente da mãe, especialmente durante a gravidez (Piccinini, Levandowski, Gomes, Lindenmeyer, & Lopes, 2009), entende-se que a gestação afeta toda a família (Lebovici,1987; De Martini et al., 2010). Para o homem, esse período é considerado como um dos principais no que diz respeito à reorganização de sua identidade (Genesoni & Tallandini, 2009).
Especificamente quanto à experiência do pai no período puerperal, Stern (1997) afirmou que a mãe costuma ver o pai de maneira mais negativa entre o nascimento e o terceiro mês de vida do bebê, e tende a afastar os outros, inclusive o pai, durante esta fase inicial, mantendo o bebê dentro de sua esfera. Em função destas características da relação inicial mãe-pai-bebê, o sentimento de ser excluído é muito presente nos pais já desde a gestação. Isso persiste nos primeiros meses do bebê, durante os quais o pai também não tem um controle e participação na sua rotina tão amplo quanto a mãe, ficando de fora, especialmente, da amamentação do bebê.
Durante a gravidez, os futuros pais costumam conviver com sentimentos ambivalentes de alegria, ansiedade e conflitos (Krob, Piccinini, & Silva, 2009; Lebovici, 1987; Parke, 1996; Piccinini et al., 2004). A respeito disso, Krob et al. (2009) verificaram, em uma amostra de 20 pais que residiam na região metropolitana de Porto Alegre, que para muitos pais a gestação é vivida como um período de amadurecimento da ideia de ser pai, permeada por fantasias e idealizações, bem como por antecipações de como será a paternidade: "Acho que vai com certeza modificar bastante porque uma criança dá um toque especial, dá um outro sentido, porque, além de viver pra ela [mãe], eu vou viver pra ele [bebê]" (p. 277). Esse relato, como outros encontrados na literatura, evidenciam que os pais demonstram o estabelecimento de uma ligação emocional com o bebê já durante esse período (Krob et al., 2009; Piccinini et al., 2004).
No mesmo estudo, no segundo mês do bebê, a grande maioria dos pais mencionava sentimentos positivos e grande satisfação em relação à paternidade: "Muito bom, tô achando incrível, já havia uma expectativa favorável antes, eu gosto de criança, o filho foi planejado, desejado e está sendo curtido agora nessa fase de início de vida" (Krob et al., 2009, p. 279). Contudo, as experiências com o bebê e com a nova realidade do casal foram percebidas de formas distintas pelos pais, que expressaram sentimentos ambivalentes de satisfação e desagrado. Muitos pais percebiam, de acordo com os autores, que era preciso um período de adaptação para que pudessem conhecer o bebê e aprender sobre ele, o que não estava sendo tão simples como imaginavam durante a gestação.
A experiência da paternidade também foi investigada aos três meses de vida do bebê no estudo de Gonçalves, Guimarães, Silva, Lopes e Piccinini (2013). Participaram desse estudo 38 pais primíparos, com idades entre 20 e 40 anos, que residiam na região metropolitana de Porto Alegre. A experiência da paternidade foi associada predominantemente a sentimentos positivos e satisfação, sendo, no entanto, também marcada por mudanças nos investimentos afetivos dos pais: "Às vezes a gente se obriga a deixar de fazer umas coisas que a gente fazia, mas tem este outro lado recompensador, é bem legal, ficar com ela, e a gente passeia, vai aos parques, às praças" (p. 601). Para os autores, a impressão é de que os pais procuravam equilibrar os possíveis ganhos e perdas advindos com a paternidade, redimensionando a vida afetiva a fim de incluir o bebê.
O estudo de Cherer (2014) também investigou a experiência da paternidade, longitudinalmente, com três pais primíparos do sexto mês ao final do segundo ano de vida da criança. Para o autor, os resultados evidenciam o movimento paterno em ceder o investimento narcísico ao filho que nasceu. Referente a isso, no sexto mês do bebê, os pais expressaram a ambivalência da experiência da paternidade: "Ao mesmo tempo que eu tô gostando de ser pai, eu tô assim... eu não tô gostando da vida que eu tô levando" (p. 69). Resultados semelhantes também foram encontrados ao final do segundo ano de vida da criança: "É divertido, às vezes é estressante. É uma mescla de sentimentos, eu acho que tudo no seu tempo assim, né. E eu acho que eu já consegui lidar com essa situação de ter que abrir mão das minhas coisas" (p. 47). Para Cherer (2014), nos três casos investigados a experiência da paternidade esteve relacionada à inscrição subjetiva da finitude, processo que possibilitou aos pais investirem subjetivamente em seus filhos como a criança maravilhosa e imortal.
Como pode ser visto acima, os estudos sobre a experiência da paternidade são ainda menos frequentes do que os de envolvimento paterno. Isso indica tanto uma dificuldade metodológica em abordar esta questão, como aponta para o fato de que cada pai acaba tendo uma experiência muito particular com cada filho e que estudos com muitos participantes podem se tornar superficiais. Na experiência da paternidade, cada pai revive sua própria história infantil e de relações com seus genitores, bem como suas posteriores relações afetivas, inclusive com a mãe de seu filho. Além disso, com cada filho a experiência da paternidade é provavelmente revivida de forma particular, seja por questões tão concretas como o sexo e outras características do filho, seja por questões mais subjetivas, despertadas por aquele filho em particular e pela relação que estabelece com ele. Frente a todos esses fatores, sem esquecer suas dimensões subjetivas e inconscientes, não é fácil investigar a experiência da paternidade e depara-se com limitações metodológicas, parcialmente minimizadas, quando se recorre a estratégias de estudos de casos, investigados com profundidade.
Considerações finais
O objetivo deste estudo foi apresentar alguns aspectos teóricos e empíricos associados aos conceitos de envolvimento paterno e experiência da paternidade, visando contribuir para uma abordagem teórica e metodológica que possa ser usada ao se investigar o fenômeno da paternidade. Foram destacadas as características destes conceitos, ilustrando-os com relatos de pais encontrados em artigos produzidos pelo Núcleo de Infância e Família, contribuindo para a sua definição teórica e operacional e para especificar as particularidades de cada conceito.
Pode-se perceber a carência teórica e conceitual quando se trata de investigações sobre a paternidade, diferentemente do que acontece com os estudos sobre maternidade, que são apoiados em uma extensa literatura, com muita sofisticação teórica e conceitual, oriunda especialmente da psicanálise. Isto tem chamado a atenção de diversos autores, que ficam carentes de conceitos quando buscam investigar a paternidade. Sem ter por objetivo fazer uma revisão sistemática da literatura sobre paternidade, o presente estudo trouxe uma contribuição ao apresentar os principais conceitos usados nas investigações envolvendo pai, embasando-os empiricamente.
Neste contexto, o conceito de envolvimento paterno tem sido mais comumente utilizado e apresenta uma definição mais clara e precisa, envolvendo três dimensões, interação, disponibilidade e responsabilidade, o que tem permitido inclusive sua operacionalização em estudos quantitativos. Apesar de ser adotado em muitos estudos nacionais e internacionais, sendo alguns deles citados neste estudo, e de trazer contribuições importantes sobre o estudo da paternidade em diversos contextos, este conceito não consegue abarcar toda a extensão da paternidade. Ele não consegue apreender as dimensões mais subjetivas e inconscientes da paternidade, que são incluídas no conceito de experiência da paternidade.
Como foi detalhado acima, o conceito de experiência da paternidade se apresenta como mais complexo, menos preciso e é referido de forma diversificada pelos autores, comumente de orientação psicanalítica. Este conceito está associado à ideia de que ser pai envolve aspectos subjetivos conscientes e inconscientes, como desejos, sofrimentos, reviver experiências com seus próprios pais, mudanças sobre o que pensa sobre si mesmo, reorganização da própria identidade, processos que ocorrem durante a transição à paternidade. Tornar-se pai é uma das maiores transições da vida para o homem adulto (Parke,1996) e está associada a muitas mudanças pessoais e sociais. Estas podem ser sentidas como uma grande reviravolta ou como uma transição suave, sendo que manifestações corporais e dificuldades que acometem os homens na transição para a paternidade são exemplos de repercussões psíquicas encontradas, as quais, para além de indicarem eventualmente um sofrimento psíquico, também podem ser pensadas como indicadores de um processo de ajustamento às novas demandas (Houzel, 2004). É importante que os profissionais de saúde estejam cientes para reconhecer as dificuldades que os pais podem enfrentar frente ao sofrimento psíquico advindo do nascimento do filho. Contudo, apenas iniciou-se a investigação das modificações psíquicas ocorridas nos pais ao longo da transição para a paternidade (Houzel, 2004) e muitos estudos se fazem necessários.
Mesmo ao considerar que os dois conceitos foram apresentados em separado no presente estudo, torna-se evidente que aspectos relacionados à experiência de paternidade estão associados ao envolvimento paterno e vice-versa. A experiência de paternidade pode, de certa forma, influenciar no envolvimento, no que o pai faz com o seu filho de modo mais concreto e, ainda, pode-se pensar em como o pai experiencia o seu modo de se envolver com a paternidade. Da mesma forma, as atividades práticas relacionadas ao filho podem também transformar a experiência do pai.
De modo geral, o estudo da paternidade tem carecido de definições claras dos conceitos utilizados para compreender o fenômeno. Tem sido utilizada, não somente na Psicologia, mas nas publicações de Enfermagem, Medicina, Educação, entre outras, uma grande variedade de palavras que parecem não ter uma base teórica de sustentação sobre conceitos, como participação, papel, função etc. Por esse motivo, as definições teóricas e empíricas apresentadas neste artigo, mesmo que não sejam as únicas, podem contribuir para que outros pesquisadores interessados no estudo da paternidade possam ter em mãos uma maneira organizada de investigar e compreender a paternidade.
Além disso, percebe-se que a maioria das publicações mencionadas se trata de pesquisas qualitativas. Acredita-se que a paternidade necessita ser estudada de forma aprofundada e segura, assim com os estudos sobre maternidade, e que a pesquisa qualitativa pode corresponder a essa demanda. Conforme sugerido por Pleck (1997), os extensos questionários e diários deram lugar a entrevistas que puderam ser úteis para o entendimento da paternidade e para uma abertura de espaço para que os homens tenham voz quando o assunto é a parentalidade.
Espera-se que este estudo contribua para despertar o interesse dos estudiosos sobre a paternidade, tema este cada vez mais relevante em uma sociedade na qual os tradicionais papéis parentais estão com fronteiras cada vez mais tênues. Contudo, sugere-se que as investigações não só se mantenham na tradicional abordagem sobre o envolvimento paterno, mas que avancem no estudo da experiência da paternidade. Sem dúvida, essa dimensão é mais difícil de ser abarcada pelos atuais instrumentos de pesquisa, mas deve-se almejar avançar nesta direção, que, com certeza, trará contribuições muito relevantes para se conhecer o fenômeno da paternidade. Com isso, pode-se também desenvolver estratégias de intervenção para eventualmente ajudar os pais neste momento de transição, especialmente nos contextos de desenvolvimento atípico, como destacado no presente artigo, o que terá impacto positivo não só para eles, mas para a relação pai-filho e para o próprio desenvolvimento do filho. Neste sentido, é importante que o pai seja percebido não só como fonte de apoio à mãe, mas que se leve também em consideração suas próprias necessidades, angústias, dificuldades perante a paternidade e à relação com o filho.
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Endereço para correspondência:
Milena da Rosa Silva
milenarsilva@hotmail.com
Marília Reginato Gabriel
mariliargabriel@gmail.com
Evandro de Quadros Cherer
quadroscherer@gmail.com
Cesar Augusto Piccinini
piccinini@portoweb.com.br
Submetido em: 27/02/2015
Revisão em: 12/02/2017
Aceito em: 27/03/2017