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Pesquisas e Práticas Psicossociais

 ISSN 1809-8908

     

 

EDITORIAL

 

 

Maria de Fatima Aranha de Queiroz e Melo; Marcos Vieira-Silva; Marília Novais da Mata Machado; Sheila Ferreira Miranda

Endereço para correspondência

 

 

Com este número, multitemático e plural, a revista Pesquisas e Práticas Psicossociais (PPP) fecha seu nono ano de existência ininterrupta. Apresenta, aqui, artigos que, sempre com um olhar psicossocial, discutem e problematizam políticas públicas - o programa Bolsa Família, o sistema prisional, o Centro de Atenção Psicossocial - demonstrando que essas políticas podem e devem ser aprimoradas. Traz relatos de casos e reflexões sobre questões sociais contemporâneas, como conflito na família, medicalização talvez excessiva e castigo físico de crianças e adolescentes. Proporciona discussões metodológicas competidoras, ao oferecer, de um lado, artigos que pesquisam impactos da sociedade sobre os indivíduos (como o efeito do julgamento moral e da normatização sobre a vida privada de atletas; a relação entre preferência por determinados filmes e características de personalidade; o tipo de universidade em que se estuda e o bem-estar do aluno; as relações raciais e a construção da identidade) e, de outro, metodologias críticas, transdisciplinares e contestadoras.

O número se inicia com o artigo A implementação do programa bolsa família no nível local: a experiência do município de Divinópolis/MG, de Rosângela Maria de Sousa Botelho Dias e Izabel C. Friche Passos, do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais. O artigo traz uma revisão histórica da constituição do Programa Bolsa Família e o relato crítico de sua implementação em Divinópolis, Minas Gerais. As autoras se valem de entrevistas com profissionais responsáveis pelo desenvolvimento do programa na cidade e de levantamento documental. Ao final, mostram a necessidade de diretrizes político-institucionais que claramente fortaleçam tanto a gestão local quanto a formação da equipe intersetorial, a fim de que os fluxos da rede de atenção sejam aprimorados.

Perfis de mães detentas convivendo com seus filhos reúne dados de uma pesquisa no Centro de Referência à Gestante Privada de Liberdade (CRGPL), situado na cidade de Vespasiano, Minas Gerais. Foram traçados os perfis das mães detentas vivendo com seus filhos com foco na descrição quantitativa e em considerações advindas de observações e conversações realizadas com detentas, o que matiza e problematiza os dados numéricos. As autoras são Ilka Franco Ferrari (Programa de Pós-Graduação em Psicologia da PUC-Minas) e Marília Novais da Mata Machado (Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de São João del-Rei).

O artigo Práticas psicossociais em psicologia: um convite para o trabalho em rede, de Thaís Thomé Seni S. e Oliveira e Regina Helena Lima Caldana, doutoras pelo Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, apresenta uma pesquisa qualitativa e a reflexão sobre falas de psicólogos engajados em práticas em Centros de Atenção Psicossocial do Paraná. O atravessamento das políticas nacionais e locais é apresentado como dificultando o trabalho em rede, exigindo do profissional criatividade e busca de estratégias de educação permanente.

Mediação familiar: possibilitando diálogos acerca da guarda compartilhada é artigo que resulta do trabalho coletivo de Amanda Pansard Alves, Sabrina Daiana Cúnico, Dorian Mônica Arpini, Ana Cláudia Smaniotto e Maria Ester Toaldo Bopp, todas da Universidade Federal de Santa Maria. Nele, é relatado o caso ocorrido em um projeto de extensão que, atuando em conflitos de família por meio da prática da mediação familiar, auxiliou, de forma interdisciplinar e dialógica, um estabelecimento de guarda compartilhada.

Flávia Cristina Silveira Lemos (Universidade Federal do Pará), Dolores Galindo (Universidade Federal de Mato Grosso) e Robert Damasceno Rodrigues (Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade) nos trazem, como resultado de uma pesquisa histórico-documental, o artigo Processos de Medicalização de Crianças e Adolescente nos Relatórios do UNICEF, em que problematizam as práticas do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) no Brasil direcionadas às crianças e aos adolescentes no que tange aos efeitos de medicalização da vida.

Janille Maria Ribeiro, da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, é autora do artigo O uso do castigo físico em crianças e adolescentes como prática educativa: algumas perspectivas da Sociologia, Filosofia e Psicologia, em que busca subsídios teóricos na Sociologia, Filosofia e Psicologia para problematizar o uso do castigo físico em crianças e adolescentes no Brasil. Com base na leitura de vários autores, entende que a temática é complexa e requer uma ampla discussão para que posturas sejam modificadas no cenário sociocultural brasileiro.

Talita Machado Vieira, do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Estadual de São Paulo de Assis, e Sonia Regina Vargas Mansano, da Universidade Estadual de Londrina, buscam compreender, em Impasses gerados pelo trabalho imaterial na vida privada: um estudo sobre os profissionais do esporte, as relações entre trabalho imaterial afetivo e vida privada. A pesquisa analisou reportagem sobre esporte e depoimentos de domínio público de atletas profissionais e concluiu que esses profissionais estão sujeitos a julgamentos morais por parte da população e a normas que fazem de seus corpos objetos administrados por clubes e patrocinadores. Apesar dos efeitos dessas tentativas de sujeição na suas vidas privadas, eles, contudo, resistem.

O artigo Preferência por estilos de filmes e suas diferenças nos cinco fatores de personalidade foi produzido a muitas mãos, tendo como autores Carlos Eduardo Pimentel, Diogo Conque Seco Ferreira, Marlizete Maldonado Vargas, Viviane Andrade Prado Maynart e Diego Cardozo Mendonça, oriundos de várias universidades (Universidade Federal da Paraíba Universidade Federal de Sergipe, Universidade Tiradentes, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). Traz os resultados de um estudo realizado com estudantes do ensino médio e universitário que buscou verificar se a preferência por estilos de filmes estava em consonância com nossos traços de personalidade.

O artigo Evaluación del bienestar subjetivo en estudiantes de universidad privada mexicana tem como autores José Ángel Vera Noriega, David Alán Figueroa García, Jesús Tánori Quintana e Claudia Karina Rodríguez Carvajal, pesquisadores mexicanos ligados, respectivamente, à Universidad Autónoma de México, à Universidad de Sonora, à Universidad Autónoma de Sinaloa e à Asesoría y Consultoría en Educación, Desarrollo Humano y Social, em Hermosillo, Sonora. Nele, são apresentados os resultados de uma investigação sobre o bem-estar subjetivo de estudantes de uma universidade privada mexicana, realizada com uma amostra de 371 alunos, mostrando, entre outros resultados, correlação positiva entre satisfação com a vida e percepção de felicidade.

Os autores Márcia Cristina Costa Pinto e Ricardo Franklin Ferreira, da Universidade Federal do Maranhão, escreveram sobre as Relações raciais no Brasil e a construção da identidade da pessoa negra, em que fazem um percurso histórico, desde a época do Brasil Colônia, com o objetivo de refletir sobre o processo de construção da identidade da pessoa negra em meio às relações raciais brasileiras. Abordam conceitos como o mito da democracia racial e a ideologia do branqueamento que se entrelaçam na construção desse processo.

Em A transdisciplinaridade como perspectiva metodológica para uma clínica das subjetividades, José Carlos Chaves Brazão, da Universidade Federal Fluminense, propõe, como método, a transdisciplinaridade para se trabalhar com as subjetividades na clínica, articulando-o com as perspectivas de ciência de Latour e Serres que tomam o conhecimento científico como um efeito em rede pela convergência de fatores múltiplos. O autor defende a liberdade na utilização de conceitos em que entra em jogo a habilidade do terapeuta para utilizá-los como operadores analíticos.

Mariana Barcincki, professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul é a autora de O lugar da informalidade e do imprevisto na pesquisa científica: notas epistemológicas, metodológicas e éticas para o debate, em que são discutidas e questionadas orientações metodológicas como as da neutralidade, da objetividade e da exigência de um protocolo rígido para a coleta de dados. A autora argumenta que, na pesquisa social qualitativa, informalidade e imprevisto têm seu lugar, o que é demonstrado por meio de um relato em que as informações de pesquisa mais precisas e interessantes são obtidas, precisamente, graças ao inesperado e ao espontâneo.

Seguem-se aos artigos a seção Publicações Recentes e a lista dos nossos consultores ad hoc de 2014. A partir deste número, a PPP conta em seu quadro de editores responsáveis com a participação da Profa. Dra. Sheila Ferreira Miranda. Ela substituirá Marcos Vieira-Silva, um dos idealizadores da revista, membro da comissão editorial nesses nove anos e coordenador do Laboratório de Pesquisa e Intervenção Psicossocial (LAPIP) que sedia a publicação. Marquinhos (ou Marquito), como é carinhosamente reconhecido, cede lugar a uma jovem recém-doutora. Mas, certamente, continuará a ser o nosso principal quebra-galho.

 

 

Endereço para correspondência:
Laboratório de Pesquisa e Intervenção Psicossocial (Lapip/UFSJ).
Praça Dom Helvécio, 74, Salas 2.09 e 2.10
São João del Rei, MG, CEP: 36.301-160.

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