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Pesquisas e Práticas Psicossociais

 ISSN 1809-8908

     

 

Retratos de um hospital de custódia: os espaços verdes e sua relação com a restauração psicofisiológica do estresse

 

Portraits of a custodial hospital: the green spaces and their relation with the psychophysiological restoration from stress

 

Retratos de un hospital de custodia: los espacios verdes y su relación con la restauración psicofisiológica del estrés

 

 

Bettieli Barboza da SilveiraI; Ariane KuhnenII; Maíra Longhinotti FelippeIII

IPsicóloga graduada pela Universidade do Vale do Itajaí. Mestra e doutoranda em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina. Membro do Laboratório de Psicologia Ambiental (Lapam). Universidade Federal de Santa Catarina, Campus Universitário, Trindade. E-mail: bettieli.bs@gmail.com
IIPsicóloga. Mestra em Sociologia Política e doutora em Ciências Humanas. Professora titular do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina. Coordenadora do Laboratório de Psicologia Ambiental (Lapam). Universidade Federal de Santa Catarina, Campus Universitário, Trindade. E-mail: arianekuhnen@gmail.com
IIIArquiteta e Urbanista. Mestra em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina . Doutora em Tecnologia da Arquitetura pela Universitá degli Studi di Ferrara (Ferrara, Itália). Pós-doutoranda em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina. Membro do Laboratório de Psicologia Ambiental (Lapam). Universidade Federal de Santa Catarina, Campus Universitário, Trindade. E-mail: mairafelippe@gmail.com

 

 


RESUMO

A investigação e o incentivo ao uso de espaços verdes em hospitais de custódia atuam como alternativa para aumentar o bem-estar e a qualidade de vida daqueles que experienciam esse ambiente. Trata-se de uma vertente oposta ao conceito de confinamento, porém congruente com as teorias que discutem a importância dos elementos naturais para a saúde e restauração do estresse. Para tanto, procurou-se identificar como os espaços verdes podem contribuir para a restauração do estresse psicofísiológico de usuários do hospital de custódia. A técnica de Fotografia do Ambiente foi aplicada em associação à entrevista semiestruturada. Buscou-se compreender as especificidades capturadas por meio das fotografias, discutindo-as com base nos pressupostos e na literatura dos Estudos Pessoa-Ambiente. Doze participantes retrataram diferentes lugares, percepções e sentimentos em resposta às indagações propostas. Constatou-se que os ambientes e as paisagens naturais se destacaram quanto ao potencial benéfico à saúde e à redução psicofisiológica do estresse.

Palavras-chave: Ambiente restaurador. Psicologia Ambiental. Hospital de custódia. Espaços verdes. Fotografia.


ABSTRACT

The proposal to investigate and encourage the use of green spaces in custodial hospitals acts as a healthy alternative to human beings who experience this type of environment. This is a work line opposed to the concept of confinement, congruent with theories that deal with the importance of natural elements for health and stress restoration. In this sense, we sought to identify how green spaces can contribute to psychophysiological restoration from stress in a custodial hospital. Therefore, the Environmental Photography technique in association with semi-structured interviews was applied. It was sought to understand the specificities captured through the photographs, discussing them based on the assumptions and the literature of the Person-Environment Studies. Twelve participants portrayed different places, perceptions and feelings in response to the proposed questions. It was verified that natural environments and landscapes stood out as to the beneficial potential to health, as well as in stress reduction.

Keywords: Restorative environment. Environmental Psychology. Custodial hospital. Green spaces. Photography.


RESUMEN

La investigación y el incentivo al uso de espacios verdes en hospitales de custodia actúa como alternativa para aumentar el bienestar y la calidad de vida de aquellos que experimentan ese ambiente. Se trata de una vertiente opuesta al concepto de confinamiento, pero congruente con las teorías que discuten la importancia de los elementos naturales para la salud y restauración del estrés. Para ello, se buscó identificar cómo los espacios verdes pueden contribuir a la restauración del estrés psicofísiológico de usuarios del hospital de custodia. La técnica de Fotografía del Ambiente fue aplicada en asociación a la entrevista semiestructurada con el fin de comprenderlas especificidades capturadas a través de las fotografías y discutirlas con base en los presupuestos y en la literatura de los Estudios Pessoa-Ambiente. Doce participante retrataron diferentes sitios, percepciones y sentimientos en respuesta a las indagaciones propuestas. Se constató que los ambientes y los paisajes naturales se destacaron en cuanto al potencial benéfico a la salud y en la reducción psicofisiológica del estrés.

Palabras clave: Ambiente restaurador. Psicología Ambiental. Hospital de custodia. Espacios verdes. Fotografía.


 

 

Introdução

Deveríamos pensar a relação entre o ambiente físico, a subjetividade e o comportamento humano de maneira holística e os fenômenos serem observados nos contextos que ocorrem na vida cotidiana. Nessa direção, alguns estudos em Psicologia Ambiental (PA) dialogam com outras áreas do conhecimento (por exemplo: arquitetura, design de interiores, geografia etc.) e buscam, sobretudo, melhorar a qualidade dos espaços, assim como a qualidade de vida das pessoas (Wiesenfeld, 2005). Enquanto subdisciplina da Psicologia, a Psicologia Ambiental se destaca pela investigação acerca das inter-relações entre a pessoa e o ambiente (Moser, 1998). Para este estudo, serão pesquisados os espaços verdes no entorno de um hospital de custódia. Nas cidades, o "verde" está geralmente em parques, zoológicos, bosques, jardins comunitários, dentre outros lugares de grande importância na promoção e na manutenção da saúde humana (Kessel et al., 2009; Yuan & Bauer, 2007). As áreas verdes localizadas no contexto de hospitais de custódia têm peculiaridades na forma como são utilizadas, dada a reduzida autonomia de seus usuários - o que é uma característica intrínseca ao próprio funcionamento desse tipo de instituição. Tal aspecto repercute no desenvolvimento do estresse e daí a importância dos elementos naturais no ambiente de custódia, já que são compreendidos como de grande potencial restaurador (Markus, 1993).

A proposta de incentivar o uso de espaços verdes como alternativas saudáveis e opostas ao conceito de clausura constantemente vivenciado em instituições fechadas, como os hospitais de custódia, visa contribuir com os preceitos da Reforma Psiquiátrica, movimento de reestruturação dos serviços de atenção à saúde mental amparado no Brasil pela Lei "Antimanicomial" (Lei nº 10.216/2001). Nesse sentido, Jacobi (2003) salienta que para promover ações em prol de melhores condições de bem-estar para as pessoas é preciso atentar para a influência do ambiente físico na saúde humana. Desse modo, indicam-se investimentos na busca por achados científicos que subsidiem os saberes relacionados à capacidade ambiental de promoção e restauração da saúde, assim como o estudo do estresse por influência ambiental (Hartig, 2011).

No que diz respeito à saúde mental e física de adultos e crianças, pesquisas vêm identificando os efeitos positivos da realização de atividade física em áreas verdes (Corti et al., 2005; Hansman, Hug & Seeland, 2007), diminuição dos sintomas de estresse mental e aumento da capacidade de concentração (Grahn & Stigsdotter, 2010; Lee & Maheswaran, 2010), bem como o incremento no engajamento social (Chiesura, 2004). Nesse sentido, a pesquisa de Tsunetsugu e colegas (2013) visou demonstrar alguns benefícios da relação pessoa-natureza, os autores investigaram os efeitos psicológicos e fisiológicos que a exposição a espaços verdes suscitava e verificaram a percepção dos participantes que visitaram três tipos diferentes de áreas urbanas na Finlândia, sendo um centro urbano construído, um parque e um bosque.

Em outro estudo, realizado por Marselle e colegas (2015), foram produzidos dados sobre a influência das qualidades ambientais no bem-estar das pessoas, além dos mecanismos subjacentes a essa associação. A proposta desta pesquisa procurou identificar se a biodiversidade, a naturalidade e a caminhada a que foram expostos, tiveram relação com a restauração percebida e o bem-estar emocional dos participantes. Finalmente, em estudos epidemiológicos realizados na Austrália, Inglaterra, Japão e Holanda identificaram a presença de áreas verdes em vizinhanças como indicadores de saúde (De Vries et al., 2003; Grahn & Stigsdotter, 2010; Mitchell & Popham, 2007; Sugiyama et al., 2008; Takano et al., 2002). Em comum entre as pesquisas citadas, há a indicação que a exposição ao verde diminui os níveis de estresse e favorece o aumento da qualidade de vida e do bem-estar.

No que diz respeito ao ambiente de hospital de custódia, Goffman (1974), em uma análise acerca da subjetividade da experiência institucional, define-o como um espaço fechado que rompe profundamente com os papéis anteriormente desempenhados na sociedade. Sobre a perspectiva física e estrutural, Lima (2009) destaca que, no Brasil, o projeto arquitetônico desse tipo de lugar não é elaborado com base nas especificidades dos seus futuros usuários, sejam eles profissionais, pacientes e/ou presidiários, e, sim, de acordo com as normas impostas pelo Estado. Por fim, em análise específica dos hospitais de custódia, Carrara (2010, p. 17) os denomina como instituições complexas que articulam dupla realidade social: o hospital psiquiátrico ou "asilo dos alienados" e a prisão, constituindo assim o estereótipo de seus internos como "loucos criminosos".

Em função dos benefícios à saúde física e emocional identificados na relação das pessoas com os espaços verdes, este artigo se propõe a discuti-los situando-os no hospital de custódia, em consideração a toda especificidade do lugar. Para tanto, com o objetivo de contribuir na divulgação de conhecimento científico sobre o uso de espaços verdes em instituições, alguns aportes teóricos nortearam e deram base para tal discussão. O estudo que contemplou o conceito-chave investigado nesta pesquisa iniciou com Roger Ulrich (1984), que propôs uma estrutura de redução psicológica do estresse (Psychophysiological Stress Recovery), enfatizando, basicamente, a percepção visual e estética de certos ambientes e a resposta a eles associada. Espera-se que a partir da visão de parâmetros positivos em determinado ambiente, combinado ao desencadeamento de emoções positivas, a permanência do estado de atenção não vigilante e a diminuição dos pensamentos negativos possibilitem o retorno da excitação fisiológica (physiologicalarousal) para níveis mais moderados (Ulrich, 1984; Van Den Berg & Custers, 2011).

As nuances percebidas por Ulrich (1984) contribuíram para o direcionamento e expansão do conceito de ambiente restaurador (restorative environment). Para que um ambiente se torne restaurador, há que ocorrer um processo de recuperação ou renovação dos recursos psicológicos, fisiológicos e sociais. Esses recursos podem estar comprometidos pelo estresse ou por outras formas de consumo ou alteração dos recursos pessoais para enfrentamento de certas situações. O modo de compreensão e a base teórica para o estudo desse conceito estão subsidiados na Teoria da Recuperação Psicofisiológica ao Estresse (TRPE), ou Teoria Psicoevolucionista, elaborada por Ulrich e que enfatiza, principalmente, os benefícios ao bem-estar e a qualidade de vida das pessoas expostas a contextos de natureza, reais ou simulados.

Inicialmente as pesquisas sobre ambientes restauradores (restorative environments) tiveram o alicerce de pesquisas vinculadas aos atributos ambientais (Kaplan & Kaplan, 1982; Korpela, 1989). Motivadas por observações em lugares como manicômios, sanatórios e prisões localizados na França e Inglaterra, têm-se outras pesquisas notáveis (Markus, 1993). Assim como neste estudo, a similaridade que se observa é em relação ao interesse de investir em contextos prisionais ou de clausura por doença mental. Com o avanço dos estudos pessoa-ambiente, os achados relacionados ao estresse e a avaliação ambiental passaram a receber maior atenção, com vistas à compreensão dos fatores que influenciavam as sensações de prazer ou desprazer experimentadas em determinados ambientes (Gressler, 2014).

É importante ressaltar que, embora muitos hospitais psiquiátricos ainda se caracterizem por lentas e complexas transformações em sua estrutura (Cordioli, Borenstein & Ribeiro, 2006), a criação de espaços verdes já realça seu potencial benéfico, haja vista que pode ser uma atividade desempenhada pelos próprios pacientes em conjunto com os profissionais envolvidos. Trata-se de uma oportunidade para se exercitar, se restaurar cognitivamente, aprender novas habilidades e desenvolver a sociabilidade (Kessel et al., 2009). Assim, reforça-se o questionamento sobre como os espaços verdes podem contribuir para a restauração do estresse psicofísiológico de usuários de um hospital de custódia.

Alocado na região Sul do Brasil, o hospital de custódia investigado está localizado em um complexo penitenciário. No seu espaço físico, o hospital conta com um pátio externo, dois pátios internos, uma horta, espaço de barbearia, sala de tear, sala de visitas, duas salas de aula, uma sala de informática, sala de material desportivo, uma lavanderia, uma rouparia, três setores de leitos, enfermarias e uma ala de tratamento.

Fundada na década de 1970, a instituição já teve e tem, ainda hoje, grande variação no seu quantitativo de internos. A título de exemplo, quando esta pesquisa foi iniciada, o hospital acolhia 130 pacientes, ao fim o número havia caído para cerca de 90. Todas as pessoas internadas têm diagnóstico de doença ou deficiência mental e cometeram algum crime que, nesses casos, são convertidos em cumprimento de medida de segurança, haja vista que são pessoas inimputáveis (Santos, 2015). Quanto ao quadro funcional, todos os profissionais são concursados do estado, sendo assim, não necessariamente escolheram atuar nesse contexto, apenas escolheram a rede pública estadual.

A técnica fotográfica, desenvolvida nesta pesquisa, iniciou-se com observações do ambiente e dos participantes. A fim de apreciação dos dados, optou-se pela análise qualitativa do material obtido pela técnica desenvolvida por Higuchi e Kuhnen (2008), primando pela possibilidade de se aprofundar no material obtido. Vale destacar que o perímetro permitido para a realização das fotos envolveu todo o terreno da instituição, que tem suas margens delimitadas simbolicamente (sem demarcação física, como cercas ou placas).

A explanação dos resultados foi organizada a fim de caracterizar os lugares mais fotografados pelos respondentes, bem como associá-los e caracterizá-los com seus significados ambientais, sendo que o enlace dos significados e atributos ambientais com os lugares fotografados será mais bem explicitado na discussão dos resultados, alicerçados teoricamente.

Importante ressaltar que o roteiro elaborado para direcionar as orientações passadas aos entrevistados para efetuar as fotografias foi adaptado conforme as considerações dos juízes avaliadores, compostos por membros do Laboratório de Psicologia Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina (Lapam UFSC) a fim de proporcionar maior compatibilidade acerca da proposta de pesquisa.

 

Metodologia

Com vistas a explorar a relação pessoa-ambiente observada em um hospital de custódia, optou-se por utilizar parte dos dados resultantes de estudo anterior, no qual a descrição metodológica e a discussão dos resultados foi norteada pela técnica fotográfica "Fotografia do ambiente", descrita por Higuchi e Kuhnen (2008). Amparada por análise qualitativa, a fim de identificar e agrupar as especificidades capturadas pelas fotografias, aqui será discutida com base nos pressupostos e literatura dos Estudos Pessoa-Ambiente (EPA). Como se notou na pesquisa de Gressler e Gunther (2013), a escassez de literatura brasileira específica dificulta interlocuções comparativas, por outro lado, fomenta um novo caminho a descobrir. A proposta deste artigo baseia-se na ideia de contribuir com os estudos nacionais sobre a temática da restauração psicofisiológica do estresse associada aos espaços verdes, mais especificamente sobre a técnica de pesquisa.

A técnica fotográfica empregada para coleta de dados se caracteriza pela fala não verbal, pela linguagem visual demarcada na imagem por meio de ângulos, cores, sentimentos e percepções (Higuchi & Kuhnen, 2008). A fim de desvelar tais manifestações, a abordagem qualitativa auxilia na investigação detalhada e aprofundada, com a pretensão de compreender as relações, os processos e os fenômenos envolvidos no material obtido (Minayo, 2012).

Quando da coleta de dados, primeiramente foram necessárias observações a fim de saber como se davam as interações entre as pessoas (pacientes e profissionais) e entre eles e o ambiente físico no qual estão inseridos. A partir de então, em momentos individuais, os participantes foram instruídos sobre a utilização da câmera fotográfica para que, posteriormente, cada um fizesse cinco fotos relacionadas com o processo de restauração do estresse. Ou seja, houve um roteiro a ser seguido com a ordenação das fotos a serem tiradas. Primeiro, foi retratado o lugar mais agradável, seguido do mais desagradável. A terceira foto solicitava o lugar mais confortável para o participante, a quarta o mais estressante e, por fim, na quinta foto, foi fotografada uma imagem que, para o respondente, representasse o hospital de custódia. As escolhas dos lugares foram de livre escolha, sendo que o participante só saberia qual seria a orientação seguinte depois de registrar a fotografia anterior.

O processo seguinte ao registro fotográfico foi a análise do material obtido, de modo a ponderar a escolha do foco, a imagem em si, o ângulo retratado, as cores capturadas, a aproximação e o distanciamento do objeto focal, bem como a observação dos conteúdos expressados verbalmente (espontaneamente e sem reforço da pesquisadora) que inspiraram a retratar algo que "respondesse" a indagação referida. Enquadradas como elementos desencadeadores do discurso, as fotografias se configuraram, também, como um organizador de ideias para o participante. Assim que, a cada visualização da imagem capturada, a justificativa pela escolha daquele retrato se materializava em detalhes e porquês descritos livremente pelos entrevistados. Desse modo, a proposta deste artigo discorre sobre uma avaliação reflexiva que verse especificamente sobre a escolha das fotografias e seu conteúdo, utilizando os aportes teóricos dos EPA.

Dentre os cuidados éticos necessários à realização deste estudo, ressalta-se a tramitação e aprovação por Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos, apresentação e obtenção de consentimento à participação por meio de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, bem como alguns resguardos específicos ao processo da técnica fotográfica. Por exemplo, foi pedido que os participantes não retratassem imagens que expunham os pacientes, assim como lhes foi dada orientações sobre o manejo da câmera e a liberdade de acessar toda e qualquer área do espaço físico para responder os questionamentos em fotografias. Faz-se, ainda, o adendo à escolha dos participantes, que estrategicamente recortou apenas profissionais da instituição, haja vista a morosidade de se resguardar eticamente no Comitê a intervenção com os pacientes, considerado um público altamente vulnerável. Nesse aspecto, o fator tempo ditou ritmo para que o desenvolvimento da pesquisa não extrapolasse os prazos pré-determinados.

 

Resultados

Caracterizações dos Participantes

Doze participantes compuseram esta pesquisa, todos profissionais do hospital de custódia pesquisado. Para melhor visualização da caracterização dos participantes, observar o Quadro 1.

A instituição pesquisada conta com aproximadamente 70% dos profissionais atuantes da área de segurança, na função de agentes. Além destes, os funcionários da área de saúde, de assistência social e da administração complementam o total de 50 trabalhadores (número aproximado de colaboradores no momento da coleta de dados). Vale destacar que, com vistas ao reguardo do anonimato dos envolvidos, optou-se por informar apenas o setor de atuação de cada participante, omitindo especificidades de suas funções no hospital. Além dessa ressalva, salienta-se o tempo de trabalho de cada pessoa, enaltecendo as experiências e transições vivenciadas em longo prazo na instituição. Assim que, doravante, cada profissional será identificado por "P1, P2, P3 etc,", numeração aleatória.

 

Fotografando Ambientes

Desde o momento em que os participantes recebiam a orientação da fotografia a ser tirada e o efetivo registro, cada pessoa levou em torno de dois minutos. Muitos deles avisavam aonde iriam, o que soava como um pedido de confirmação, ou, talvez, uma sinalização de trabalho em conjunto. No decorrer do caminho até o local da captura da imagem, todos os participantes conversaram e contaram livremente o porquê do lugar escolhido, alguns verbalizavam momentos vivenciados ou idealizados para um futuro próximo. Porém, e com a devida ressalva, diante da visualização da fotografia expandida na tela da câmera, o que se prevaleceu foi o silêncio. Por vezes, o silêncio era seguido de uma fala, como a de P12: "Vê?! Era isso que eu queria dizer e não conseguia, essa foto diz tudo!"

A primeira orientação de retrato foi sobre o lugar mais apreciado no hospital de custódia, no qual o pátio externo foi escolhido pela metade (6) dos participantes. Caracterizado como um espaço verde e aberto, para muitos "o único espaço realmente aberto dentro do hospital (P6)", o lugar é composto por árvores, grama, uma quadra poliesportiva e uma pequena quadra de basquete. Além desses atrativos, o pátio externo contempla mesas e bancos na grama, academia ao ar livre e um muro pintado de branco com desenhos grafitados, por sinal, um dos poucos lugares coloridos em todo ono complexo.

Ao contrário das boas perspectivas elencadas no pátio externo, o lugar menos apreciado no hospital de custódia, elencado por seis participantes, foi a ala de tratamento. De modo geral, trata-se de um lugar "fechado por todos os lados (P1)", com paredes altas e de cores escuras, em sua maioria coberta de marcas de ocupação (riscos, pequenos buracos e danos materiais). Nas pequenas janelas dos leitos dessa ala, era possível visualizar grades espessas, assim como nas grossas portas de madeiras que também contavam com esse reforço. A baixa iluminação, visível nos retratos capturados, se complementava aos gritos e chutes nas portas das pessoas internadas naquele espaço, como verbalizou um dos participantes (P10): "Se ao invés de foto, fosse um filme, daria para registrar os gritos e chutes. A ala em si já é desagradável, feia, escura e ainda abriga presos de fora, que dão mais trabalho e geram muita tensão". A ala de tratamento faz parte do hospital de custódia e está localizada no primeiro corredor, quem adentra a porta principal pode visualizá-la de longe. No entanto, devido a seu caráter de tratamento, o hospital criou esse espaço para tratar daqueles presos de unidades prisionais de toda a região que em caso de necessidade de intervenção psiquiátrica carecem de cuidados de saúde provisórios. Por essas e outras razões, os internos desse espaço são vistos como "presos de fora", o que possivelmente contribua com visualização da ala como um mau lugar.

Na sequência fotográfica, a orientação dada aos participantes foi para que um lugar de conforto fosse retratado. Nesse caso, a diversidade de escolhas permeou entre as imagens capturadas, sendo possível observar que os mais escolhidos foram a cozinha, o alojamento e o pátio externo. A similaridade entre os lugares se dá, principalmente, por serem pontos de encontro e confraternização entre colegas e pacientes. As refeições e os momentos de descanso foram descritos como bons encontros realizados entre os profissionais na cozinha e no alojamento, respectivamente. Além disso, é no pátio externo que as festas e comemorações são organizadas, a exemplo da festa junina, da páscoa e dos aniversários. Oportunidades de integração, inclusive, dos pacientes com seus familiares, convidados nessas ocasiões. Por outro lado, em relação ao lugar mais estressante, sete entrevistados escolheram retratar a ala de tratamento. Em destaque negativo novamente, a ala de tratamento e seus elementos constituintes salientam a necessidade de se repensar o ambiente e as ações planejadas para ele.

Por fim, a última fotografia registrada pelos participantes. A eles foi dada a seguinte instrução para capturar a imagem, "como você vê o hospital de custódia atualmente?" Dentre os registros fotográficos, predominou o retrato da fachada lateral da instituição (cinco fotos), que contempla a demarcação física do prédio em meio a árvores e arbustos. Além disso, na imagem da fachada se destaca a grande porta de madeira na entrada, recoberta de grades que, como afirmou P5, "já impacta na entrada, porque a pessoa chega e vê um hospital com grades". Nas demais escolhas de imagem representativa, foram feitos retratos da horta, do pátio externo, das enfermarias, das paredes no corredor de leitos, do posto de enfermagem e corredor característico pela fila de pacientes para consulta médica. Diferentes composições e verbalizações visuais a fim de demonstrar os olhares singulares da experiência de cada participante no hospital de custódia.

 

Figura 1

 

Discussão

Como forma de organizar a discussão dos resultados, optou-se por discorrer acerca dos aspectos teóricos associados aos atributos e significados ambientais em relação aos lugares mais fotografados, que respondem aos questionamentos propostos pela pesquisadora. Assim, a divisão dessa seção se dará com: a) análise dos ambientes de valência positiva - "lugar que mais gosto (1ª foto)" e "lugar mais confortável (3ª foto)"; b) análise dos ambientes de valência negativa - "lugar que menos gosto (2ª foto)" e "lugar mais estressante (4ª foto)"; c) análise da representação do hospital de custódia, de acordo com a visão dos participantes.

 

Ambientes Favoráveis ao Bem-Estar: "Mais Gosto e É Mais Confortável"

A orientação para a primeira (lugar que mais gosto) e terceira foto (lugar mais confortável) do roteiro da técnica de fotografia do ambiente carregou um aspecto em comum, ambas versam sobre significados ambientais positivos. Dentre as verbalizações acerca de tais simbologias, o que se percebeu em maior frequência e intensidade foram os destaques ao verde: árvores, horta, morro e gramado, e aos ambientes propícios às integrações: a cozinha, o alojamento e o pátio externo. De modo geral, o hospital tem uma boa estrutura física em seu entorno, porém carece de investimentos e melhor aproveitamento dos espaços. Além disso, os impasses na administração pública estadual quanto à existência e a liberação de verba travam os avanços e as modernizações na instituição. Contudo, no resumo das constatações percebidas, observa-se que há potencial para se trabalhar a fim de tornar o hospital um ambiente restaurador. Variáveis positivamente destacadas e ações realizadas ao longo dos últimos anos reforçam tal potencial, enaltecendo a importância de se especificar as nuances que devem receber atenção para se estruturar tais modificações.

A perspectiva de bem-estar buscada na área externa versa sobre um lugar em que as pessoas se sintam livres, tenham possibilidade de circular em um amplo espaço, de interagir com as pessoas e com o ambiente em si. Ao retratar sua primeira foto, no pátio externo, P8 salienta que nesse local "não tem grades, para o paciente é como se ver em liberdade, e para nós é um refúgio, é o lugar menos estressor e mais humanizado do hospital". O mais interessante ao fazer a análise das fotografias capturadas foi observar que quem não retratou o pátio externo na primeira orientação o retratou na terceira. Dos 12 entrevistados, apenas quatro não escolheram o pátio externo em nenhum momento. Dentre os quatro, dois participantes atuam no setor da enfermagem, que em raros momentos frequentam esse ambiente, e dois profissionais da segurança, que foram os únicos, dentre os 12, a não referir importância aos espaços verdes.

Sobre os lugares mais confortáveis fotografados, o pátio externo, a cozinha e o alojamento, o destaque perpassou pelos momentos de confraternização e integração dos profissionais entre si e entre eles e os pacientes. Os encontros entre os funcionários são descritos por P3 como a hora do "intervalo, da conversa, da piada, faz um lanche, um almoço, um café, então me traz assim o conforto. A ideia de integração com amigos, estar com colegas, a mesa grande, o espaço grande. Onde o pessoal se reúne". O descanso no ambiente de trabalho é entendido por Hartig e Staats (2006) como um promotor de bem-estar e um redutor dos efeitos do estresse. Segundo Gressler (2014), a falta desses momentos durante a jornada laboral pode comprometer os aspectos físicos, de bem-estar e as relações interpessoais do trabalhador, dificultando sua lida com as demandas e exigências diárias.

A criação de ambientes saudáveis, acolhedores e que fomentem as necessidades singulares de cada pessoa é o que se preza na cartilha da Política Nacional de Humanização (2013). Assim sendo, o conceito de ambiência passou a ser um ponto central e norteador das subjetividades intrínsecas ao espaço físico nas relações entre os sujeitos, principalmente no que condiz a ambientes fechados, de restrita autonomia do ser humano e caracterizados pela longa permanência de seus internos. Nesta pesquisa, os profissionais foram os porta-vozes dos elementos que carecem de investimento, o que não exclui a relevância de se ouvir e atentar para as demandas de cada pessoa acolhida. Na investigação maior que baseia este artigo, a escuta dos pacientes é realizada com informalidade, proposta pelo diário de campo, sendo possível com ele observar a sincronia nas necessidades apontadas tanto pelos profissionais quanto pelos internos. Por fim, o que todos buscaram solicitar e enaltecer foi a ampliação de bons lugares, a importância de se ter atividades nos espaços verdes, a ampliação e a melhor utilização da horta, assim como a criação de um ambiente para atividades grupais de cunho educativo e psicossocial.

Em consideração a toda peculiaridade inerente a contextos prisionais e de saúde, que envolvem cuidados específicos sobre materiais e modificações no espaço físico, duas possibilidades de intervenção são sugeridas, são elas: a) criação de ambientes de natureza, espaços verdes; b) os mesmos ambientes naturais expostos de forma mediada, virtual ou simulada. No primeiro caso, acerca das potencialidades de utilizar a natureza em sua essência, Ulrich (1999) reforça que devido à configuração natural dos espaços verdes e a predisposição das pessoas a reagir positiva, imediata e velozmente a esses ambientes, o alcance da necessária recuperação do estresse é favorecido por essa interação direta. Outro possível alicerce a esse ponto é a virtualidade, mencionada no tópico b, que permite a visualização de imagens de natureza por meio de desenhos, fotos, pinturas, que podem ser alocados na instituição visando outras formas de fomentar o acesso ao potencial conteúdo restaurador. Nesse sentido, os autores Van Den Berg, Jorgensen e Wilson (2014), além de Felsten (2009), defendem que, independentemente de ser real ou simulada, a qualidade restauradora, o estado de restauração, e/ou a probabilidade de restauração percebida em cenários naturais têm um papel de suma importância no processo de restauração do bem-estar do sujeito.

De modo geral, ressalta-se que a atração dos usuários do hospital de custódia para lugares que eliciem emoções positivas deve ser fonte de investimento, pois se trata de saúde, de bem-estar e de melhores condições de trabalho (para os profissionais) e de vida (para os internos). Os próprios investimentos realizados nos últimos anos na instituição têm demonstrado a importância de tais melhorias. Recentemente o hospital investiu em camas, colocação de azulejos e pisos e modernização do pátio externo.

 

Ambientes Desfavoráveis ao Bem-Estar: "Menos Gosto e É Mais Estressante"

De modo geral, ressalta-se o acesso a distrações positivas e a eliminação das fontes de distração negativas no ambiente de custódia hospitalar. Estímulos positivos, nos pequenos detalhes, podem ser alicerces fundamentais à restauração do estresse, assim como, por outro lado, estímulos negativos podem se caracterizar como geradores de estresse. A exemplo das cores, em grande parte escuras e de pintura gasta, espalhadas pelas paredes do hospital e que geram comentários como: "as cores escuras caracterizam prisão (P7)" e "a pintura aqui é muito feia, toda escura (P6)". De acordo com Cunha (2004), é preciso ter muito cuidado com as cores, pois algumas atraem, outras repelem, e ainda há as que são de difícil percepção para pessoas com determinadas patologias. Dentre os aspectos que fomentam o desenvolvimento do estresse e que podem culminar em grandes dificuldades de perceber o espaço, destaca-se o uso de obras de arte abstratas, plantas de espécie "nocivas", ausência de lugares com privacidade e espaços com intensa incidência solar (Ulrich, 1999; Marcus & Sachs, 2013). A exposição das pessoas aos estímulos negativos e indesejáveis requer que os usuários enfrentem suas demandas, sejam elas de trabalho ou de vida, desfavorecidos por distrações não suportivas (Ulrich et al., 1991).

As respostas dos participantes visualizadas nas imagens e verbalizações durante a técnica versaram, principalmente, sobre os pequenos espaços dos leitos, os acessos restritos, a dualidade do lugar, o quantitativo de grades e de estrutura defensiva, aspectos físicos antigos e precários, as paredes demarcadas por mau uso do lugar, acrescido de todo negativo significado ambiental reforçado pelos habitantes da ala de tratamento por meio de chutes, gritos e da "maldade de preso, que gera muito estresse e tensão ao ter que adentrar esse espaço", como mencionou P10. Cada tópico desfavorável ao bem-estar ressaltado se refere a questões de grande incômodo aos usuários do hospital de custódia, no que tange às dificuldades similares a todos os entrevistados, sem dúvida, o destaque é ao aspecto dual de custódia e tratamento.

Os aspectos destacados nas fotografias referentes ao lugar mais desagradável e ao mais estressante descrevem certa divergência sobre as nuances prisionais imersas em um hospital. Características que essencialmente se referem à clausura são representadas nas imagens da ala de tratamento, nos retratos dos pátios internos (duas fotografias), dos corredores e leitos (três fotografias) e na fotografia de um banheiro. Dos elementos focalizados nos registros, destacam-se os altos muros, móveis de concreto (mesas, cadeiras), camas pregadas ao chão, janelas e portas com grades, pátio de concreto e sem atrativos, corredores estreitos rodeados de grades e cadeados, além de banheiros precários e com estrutura defasada. Despojar-se de todos os objetos pessoais, ter horários e atividades preestabelecidas, carecer do uso contínuo de uniforme prisional e perder a privacidade, pois tudo será coletivo, impessoal e massificado (Cordioli, Borenstein & Ribeiro, 2006; Goffman, 1974).

Segundo Tuan (1983), ao versar sobre a relação de pertencimento a um lugar, o autor destaca que o lugar é onde as pessoas imprimem suas marcas, expressam sua subjetividade, atribuem novos significados e formas de identificação com o ambiente, ou seja, lugar corresponde a um processo de apropriação do espaço. Acerca de tais pressupostos, compreende-se que o hospital de custódia versa por um caminho oposto, pois está caracterizado por ser um lugar de não pertencimento, uma ocupação sem identificação. Fala-se de um lugar em que as poucas singularidades são, também, massificadas. Têm-se os benefícios de não instigar nos internos a percepção de longa permanência e de reforçar a perspectiva de que num futuro próximo haverá a desinstitucionalização. Mas, por outro lado, o panorama impessoal enaltece a ideia de que não há poder de alteração, de personalização ou de ressignificação (Lima & Bomfim, 2009). O que se tem, tanto para os profissionais quanto para os internos, é o reforço da perspectiva dualística tanto na estrutura física quanto na funcionalidade institucional, comprometendo as ações e enaltecendo a necessidade de se rever a formação profissional compatível para se atuar nessa modalidade de atendimento (Dantas & Chaves, 2007).

 

"Assim Eu Vejo o Hospital de Custódia"

O comportamento das pessoas, seja em processos psicológicos,seja em ações, é influenciado pelo modo como elas o percebem, isto é, o processo perceptivo não pode ser analisado em separado da relação pessoa-ambiente (Kuhnen & Higuchi, 2011). A percepção ambiental é o processo resultante do conjunto de dados ambientais apreendidos pela pessoa e que, posteriormente, é dotado de sentido (Felippe, 2015). Nesse viés, esta seção discorre brevemente pelas visões acerca do hospital de custódia descrita nas fotografias retratadas pelos participantes do estudo. A singularidade que cada pessoa tentou capturar em seu retrato é resultante da forma como ela vê o hospital, as experiências e vivências obtidas nesse espaço são percebidas de forma única, retratadas por diferentes percepções ambientais.

As imagens capturadas nesse disparador concentraram, em sua maioria (5), retratos da fachada do prédio. Dentre as 12 imagens, o que se observou em destaque foi a intenção de capturar "uma bela imagem do hospital de custódia (P2)" ou uma fotografia que "demonstrasse a transição do hospital, os lugares clássicos que o caracterizam não mais ocupados como antigamente (P5)". Para aclarar a fala de P5, que foi corroborada por P4, os participantes se referiram às antigas práticas negativas, como o eletrochoque e as enfermarias lotadas de pacientes. Para tanto, fotografaram o pátio das enfermarias (P5) e o posto de enfermagem (P4), segundo eles, como forma de homenagear a todos que se envolveram e que ainda se implicam em tornar o hospital de custódia um lugar melhor.

 

Considerações finais

O conhecimento científico orienta os rumos e diretrizes da sociedade, subsidiando políticas públicas e orientando ações das pessoas no cotidiano. Com esse propósito, almeja-se que o público em geral se aproprie desses achados. Ao pesquisador, cabe disponibilizar seus achados nos meios de comunicação em formato e linguagem acessível ao público em geral. Torná-lo factível e exequível a todos não é tarefa fácil, mas a tentativa é de grande valia, já que transmite à comunidade científica a importância da contribuição social e de como a teoria pode agregar ao conhecimento popular.

O impacto dos espaços verdes no bem-estar e na qualidade de vida das pessoas são, a cada dia, confirmados em novas pesquisas (Kaplan & Kaplan, 2009; Ulrich et al. 1991; Marselle et al., 2015). O potencial do hospital de custódia é imenso, trata-se de uma instituição que, durante um ano, reduziu o número de internos pela metade, alocando-os em suas respectivas famílias, em comunidades ou residências terapêuticas, primando por melhores ambientes para auxiliar no tratamento. Quanto aos ambientes restauradores, passíveis de implementação no hospital de custódia, destacam-se os ambientes e as paisagens naturais, bem como as plantas, a água, a vegetação, as hortas e os jardins (Van Den Berg, Hartig & Staats, 2007). Além dos benefícios oriundos da relação humana com a natureza, importante destacar aspectos relacionados à quietude, à iluminação solar e ao ar fresco como elementos que auxiliam na redução do estresse e que em algum momento foram registrados nas fotografias (Van Den Berg, 2005).

Ulrich e colegas (2008) identificaram que a principal influência sobre o estresse gerado em hospitais se refere aos ruídos e à ausência de exposição à natureza. Assim como se obteve neste estudo, os resultados direcionaram a necessidade de implementação e ressignificação do uso das áreas verdes, enaltecendo seu potencial como elemento restaurador do estresse. Soma-se a isso a importância de se romper com aspectos dualísticos percebidos na instituição, fator que dificulta processos perceptivos tanto de profissionais quanto de pacientes. Diante dessas variáveis e em consonância com os dados aqui apresentados, sugere-se uma ação reflexiva acerca das modificações possíveis de concretização em curto e médio prazo, inicialmente. As significativas transições e melhorias percebidas na instituição nos últimos anos reforçam a crença de que é válido o investimento, é válido pensar em espaços promotores de saúde e bem-estar.

 

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Recebido em: 25/5/2017
Aprovado em: 26/7/2018

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