Pesquisas e Práticas Psicossociais
ISSN 1809-8908
Redução de danos em rave no Rio Grande do Sul: concepções de uma ação1a
Harm reduction in rave in Rio Grande do Sul: conceptions of an action
Reducción de daños en rave en Rio Grande do Sul: concepciones de una acción
Luciane Marques RauppI; Karini Reis PereiraII
IPrograma de Pós-Graduação Memória Social e Bens Culturais da Universidade La Salle
IIGraduada em Psicologia na Universidade LaSalle, redutora de danos no Coletivo Lótus
RESUMO
A música eletrônica está fortemente enraizada na cultura musical do mundo pós-moderno e, se por um lado pode ser encarada como um movimento de apologia ao uso de psicoativos, por outro abarca grupos que realizam intervenções de redução de danos em festas e festivais. Esta pesquisa teve como objetivo apresentar o modo de trabalho em uma ação realizada pelo Coletivo Lótus de Redução de Danos (RD), em uma festa rave no Rio Grande do Sul, a fim de descrever o evento, o trabalho do Coletivo, a compreensão dos redutores que atuaram no evento sobre riscos e danos nesse contexto e as potencialidades do tipo de intervenção realizada. A partir dessas ações, pode-se perceber a necessidade desse tipo de trabalho em festas de música eletrônica, em decorrência da falta de informação sobre o efeito e qualidade de substâncias psicoativas e sobre ações de reduções de riscos e danos.
Palavras-chave: Redução de danos. Rave. Música eletrônica. Saúde Pública.
ABSTRACT
Electronic music is strongly rooted in the musical culture of the postmodern world and if on the one hand it can be seen as an apologetic movement for psychoactive use, on the other it includes groups that perform harm reduction interventions at parties and festivals. This research aimed to present the mode of work in an action performed by the Lotus Collective of Harm Reductions (RD) in a rave in Rio Grande do Sul, Brazil, afterwards, seeking to describe the event, the work of the collective, the understanding of the reducers that worked in the event about risks and damages in this context and the potentialities of the type of intervention performed. From these actions we can perceive the necessity of this type of work in electronic music festivals, due to the lack of information on effect and quality of psychoactive substances and on risk and harm reduction actions.
Keywords: Harm reduction. Rave. Electronic music. Public health.
RESUMEN
La música electrónica está fuertemente enraizada en la cultura musical del mundo posmoderno y, si por un lado puede ser encarada como un movimiento de apología al uso de psicoactivos, por otro, incluye grupos que realizan intervenciones de reducción de daños en fiestas y festivales. Esta investigación tuvo como objetivo presentar el modo de trabajo en una acción realizada por el Colectivo Lótus de Reducción de Daños (RD) en una fiesta rave en Rio Grande do Sul, buscando describir el evento, el trabajo del colectivo y la comprensión de los reductores que actuaron en el evento sobre riesgos y daños y las potencialidades del tipo de intervención realizada. A partir de esas acciones podemos percibir la necesidad de este tipo de trabajo en fiestas de música electrónica, como consecuencia de la falta de información sobre efecto y calidad de sustancias psicoactivas y sobre acciones de reducciones de riesgos y daños.
Palabras clave: Reducción de daños. Rave. Música electrónica. Salud pública.
1 Introdução
A relação da humanidade com o uso de substâncias psicoativas (SPA) ultrapassa os limites do tempo, e o caráter milenar desse fenômeno está atrelado ao desenvolvimento das civilizações. Estão espalhados pela Terra mais de 200 compostos orgânicos capazes de provocar sensações e alterações de humor, os quais despertam reações sociais ambíguas, de acordo com cada contexto e cultura. Divididas entre substâncias legais e ilegais, a partir do início do século XX, seguem sendo objeto de ambivalência, por vezes tratadas como elementos de transgressão, associados à imoralidade à desintegração social ou ainda como dispositivos de cura, prazer ou de integração social e religiosa, tendo já sido consideradas panaceias para diferentes males (Carneiro, 2013).
Com o conhecimento e utilização do reino vegetal, o ser humano pôde produzir alterações no estado de consciência em contextos diversos. A partir do século XV, marcado pelo intercâmbio comercial e cultural entre as nações, dá-se início ao tráfico de determinadas substâncias, como o ópio e o tabaco. A Revolução Industrial acarretou transformações sociais, econômicas e culturais, bem como no padrão de consumo de SPA, e a crescente produção e circulação possibilitou a abertura de meios para sua regulamentação comercial e econômica. Com o passar do tempo, e a crescente propagação do modo de vida capitalista no ocidente, assistiu-se a modificações substanciais nos contextos, padrões e modos de uso. O aumento da disponibilidade e o incentivo ao consumo, em um mercado ilícito marcado pelo advento do proibicionismo, modificaram os padrões tradicionais de uso, acarretando problemas sociais de saúde pública associados ao uso de SPAs, resultando em sua associação ao aumento da criminalidade ligada ao narcotráfico, à repressão e à marginalização social dos usuários (Gomes & Dalla Vecchia, 2018).
Em 1912, na I Conferência Internacional do Ópio, a "Guerra às Drogas" é decretada como modo de lidar com os problemas advindos do uso de SPA. Posteriormente, a Convenção Única sobre Entorpecentes (1961) e a Convenção sobre Substâncias Psicoativas (1971) declararam globalmente o paradigma proibicionista, instituindo limites de posse, uso, distribuição, importação, exportação, manufatura e na produção de drogas exclusivas para o uso médico e científico. Essa abordagem se orienta pela compreensão do usuário a partir de uma perspectiva moral/criminal/patológica, na veiculação de informações pautadas no amedrontamento e pânico moral, bem como na redução da oferta e no incentivo à escassez dos produtos (Gomes & Dalla Vecchia, 2018). Atualmente, o fracasso do modelo proibicionista é evidenciado pelo aumento do tráfico, do consumo e da violência da repressão a usuários.
O proibicionismo pautou o entendimento contemporâneo acerca das SPAs e estabeleceu limites arbitrários para usos de drogas legais/positivas e ilegais/negativas (Fiore, 2012). Com a problematização do uso e abuso de SPAs, estas passaram da esfera religiosa à esfera biomédica e jurídica. Atualmente, esse "[...] fenômeno é entendido como biopsicossocial, pois há um corpo afetado por uma substância, há um indivíduo único que o fez, há um contexto sociocultural em que esse consumo se insere" (Fiore, 2007).
Como manifestação que se contrapõe ao proibicionismo vigente, a perspectiva da Redução de Danos Sociais e à Saúde (RD) surge nos anos 1980 na Europa como uma estratégia que trata o consumo de SPA como questão de saúde pública. Essa perspectiva de cuidado baseia sua abordagem na construção do vínculo e na valorização dos sujeitos, considerando-os produtores de conhecimento a respeito do próprio cuidado. A RD é inclusiva e livre de julgamento moral e, embora se oponha à exigência da abstinência, não a exclui como meta no tratamento.
1.1 Nasce a redução de danos
O primeiro registro da indicação oficial de uma prática de RD data de 1926, na Inglaterra, com o Relatório de Rolleston, que recomendava a administração supervisionada de morfina e heroína para diminuir o sofrimento decorrente da retirada brusca das substâncias. Além disso, o relatório preconizava a dispensação pública de derivados de ópio para pessoas que não conseguissem abandonar o uso e que não se adaptassem às terapias de substituição. Na década de 1980, com a epidemia da HIV/AIDS, foi identificada a necessidade de ações pragmáticas e, na Holanda, uma iniciativa pioneira de troca de seringas esterilizadas para drogas injetáveis foi proposta por uma associação de usuários para reduzir a contaminação. Nascia então a RD como estratégia de saúde pública, a qual pode ser conceituada a partir de
[...] programas e práticas que visam minimizar os impactos negativos à saúde, sociais e legais associados ao uso de drogas, politicas e leis sobre drogas. A redução de danos se baseia na justiça e nos direitos humanos - trabalha com mudanças positivas e no trabalho com pessoas sem julgamento, coerção, discriminação ou exigindo que elas parem de usar drogas como pré-condição de apoio [...]. Isso inclui, mas não se limita, a salas de consumo de drogas, programas de troca de seringas e agulhas, iniciativas de habitação e emprego baseadas na não abstinência, testagem de drogas, prevenção e reversão de overdose, apoio psicossocial e fornecimento de informações sobre o uso mais seguro de drogas. (Associação Internacional DE Redução DE Danos, 2019)
A RD chega ao Brasil em 1989, na cidade de Santos/SP, a partir de uma intervenção realizada pela Secretaria Municipal de Saúde para distribuir equipamentos para uso seguro de droga injetável, visando à prevenção da propagação de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), em especial do vírus HIV (Niel & Silveira, 2011). No Brasil, a RD é tida como
Estratégia de saúde pública que visa diminuir as vulnerabilidades de risco social, individual e comunitário relacionados ao uso de drogas. A abordagem da RD reconhece o usuário em suas singularidades e, mais do que isso, constrói com ele estratégias, tendo como foco a defesa de sua vida. (Brasil, 2004)
Essa experiência foi a inspiração para o desenvolvimento de novas propostas de cuidado, fundamentadas no vínculo, no protagonismo, no pragmatismo e na diversidade. Durante a década de 1990, a RD ganha espaço de forma crescente e é incorporada como estratégia de saúde pública. Na Bahia, em 1994, surge o Centro de Estudos e Terapia de Abuso de Drogas (Cetad), serviço de extensão permanente vinculado à Universidade Federal da Bahia e, em 1997, surge a Associação Brasileira de Redutores de Danos (Aborda), que visa à implementação e fortalecimento da RD como política pública e a defesa da dignidade do redutor de danos. A Rede Brasileira de Redução de Danos (Reduc) é criada em 1998, com o objetivo de discutir, planejar, elaborar, articular e apoiar ações científicas e sociais, bem como fortalecer as politicas que favorecem assuntos relacionados à RD.
No início dos anos 2000, quando os esforços para a prevenção da propagação do vírus HIV se encontram em um novo estágio, com as mudanças nas práticas de uso de drogas, a opinião pública dissemina o pânico moral associado ao uso de crack, e os usuários de drogas injetáveis não são mais uma preocupação de saúde pública pelo quase desaparecimento dessa via de uso. Então, 14 anos depois da sua chegada ao Brasil, a RD deixa de ser financiada apenas pela área de prevenção às ISTs/AIDS do Governo Federal e é incorporada na Política de Atenção Integral a Usuários de Álcool e outras Drogas (Paiuad), lançada pelo Ministério da Saúde em 2003, movimento que provoca grandes mudanças no campo em questão.
Atualmente, as estratégias de RD voltam-se para todo tipo de usuários e de formas de uso de SPA, desde a experimentação até o uso problemático. De acordo com a Reduc,1 para além de um conjunto de técnicas e estratégias de cuidado em saúde, a RD é uma perspectiva de ética do cuidado, ou seja, uma postura, um modo de se portar com relação ao usuário e aos problemas relacionados à perspectiva pela qual a sociedade aborda a questão dos psicotrópicos (MacRae & Gorgulho, 2003).
Apesar da moralização que ronda o tema das drogas, e a despeito de se configurar como uma questão importante de saúde pública na atualidade, o consumo de psicotrópicos está presente na história da humanidade, em contextos culturais e sociais diversos. Muitas vezes, o uso de SPA está associado à busca de alteração da consciência, à tentativa de dominação da mortalidade, à exploração das emoções, à melhora do humor e à interação social, como um desejo de mudar a realidade (Nunes, Santos, Fischer & Güntzel, 2010).
1.2 A Redução de Danos em contexto festivo
O consumo de SPA em ambientes recreativos, não orientado por um profissional de saúde e fora de ambiente médico ou religioso, é alvo de grande atenção e ainda é pouco estudado. Existe uma prática normativa de uso de SPA em ambientes recreativos que se dá em cinco dimensões: (i) o aumento do acesso e a disponibilidade aos psicotrópicos; (ii) o aumento da taxa de experimentação; (iii) o aumento da taxa de uso recente de SPA; (iv) o desenvolvimento de atitudes positivas em relação ao uso em ambientes recreativos; e (v) o ajustamento cultural ao consumo de SPA (Aldrige & Measham, 2002, apud Valbom, 2015). Paralelo a isso, tem-se a ascensão das festas conhecidas como raves, que surgiram depois do nascimento da música eletrônica, em meados da década de 1980, na ilha de Ibiza (Neves, 2009). Com as raves, houve uma segmentação das festas de música eletrônica em duas vertentes: a) psytrance ou trance psicodélico, de origem indiana, que costuma ocorrer em espaços abertos, em maior contato com a natureza; e b) techno, com ritmo eletrônico mais sincopado de batidas intensas, promovida em locais fechados.
As raves, que surgiram driblando a perseguição policial e conquistaram a indústria do lazer, chegam ao Brasil na década de 1990, tendo como cenário principal praias da Bahia e algumas regiões do Centro e Sudeste do país, como Alto Paraíso/GO e Serra da Mesa/MA (Abruzzi, 2014). Alusões às experiências psicodélicas propiciadas por algumas substâncias tinham presença marcante na música, na decoração das festas e nas vestimentas dos participantes. Nesse contexto, expandiu-se o uso de psicotrópicos como o Dietilamida do Ácido Lisérgico (LSD-25), substância popular entre os hippies dos anos 1960, e o Metilenodioximetanfetamina (MDMA) ou Ecstasy, substância empatogéna difundida na cena eletrônica na década de 1980.
Atualmente, coletivos multidisciplinares, tais como Kosmicare (Portugal), MAPS (EUA) e EnergyControl (Espanha), têm atuado em grandes festivais musicais que acontecem no mundo. O objetivo desses projetos é promover ações de conscientização e Redução de Danos, com o intuito de estimular a reflexão, o autocuidado e o conhecimento sobre as substâncias comumente utilizadas nesses contextos.
No Brasil, a RD em contextos festivos surge em 2006, em Salvador, com o Coletivo Balance de Redução de Riscos e Danos, produto de uma tese de doutorado em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia, defendida por Marcelo de Andrade Magalhães. O estudo objetivou aprofundar a compreensão do contexto sociopolítico no qual ocorriam as raves, bem como entender o uso de substâncias psicoativas nesses eventos e definir estratégias de redução de riscos e danos a serem aplicadas (Guimarães, Macrae & Alves, 2012). Posteriormente, outros grupos surgiram, atuando em festas e festivais de música eletrônica e evidenciando o crescimento e aceitação de ações de RD nessas cenas.
1.3 O Coletivo Lótus
O Coletivo Lótus, organização da sociedade civil sem fins lucrativos criada em 2013, em Porto Alegre/RS, objetiva fornecer espaços de informação, de acolhimento e de promoção de saúde mental em contextos de festas, a fim de prevenir o uso problemático de SPA e diminuir os efeitos negativos decorrentes do uso. A equipe é composta por profissionais e acadêmicos da área das ciências humanas, da saúde, da comunicação e das artes, bem como produtores e frequentadores da cena eletrônica, que juntos constroem uma visão integral, intersetorial e transdisciplinar sobre a questão do uso de substâncias psicoativas.
Comumente, as intervenções se centram na montagem de um espaço acolhedor no local da festa, onde as pessoas possam relaxar, conversar, trocar experiências e obter informações. Os espaços informativos e de acolhimento se complementam, uma vez que diferentes demandas podem surgir em contextos festivos (Abruzzi, 2014). Assim, as ações usualmente ofertadas aos frequentadores de eventos nos quais o Coletivo Lótus atua são divididas em três frentes:
1. Infostand: espaço informativo de diálogo e de troca de informações sobre SPA. São disponibilizados panfletos informativos - que versam sobre características da substância, efeitos esperados e indesejados, possíveis riscos e danos, dicas de RD, cuidados, contraindicações e interações entre psicotrópicos - e insumos, como camisinha, lubrificante e água. Pode ser organizado próximo da pista de dança, desde que o som não atrapalhe a comunicação entre redutor e público, ou próximo de área de grande circulação de pessoas. Muitas vezes, ocupa o mesmo espaço físico do acolhimento terapêutico, embora seja interessante que as duas ações ocorram em espaços diferentes.
2. Testagem de substâncias com reagentes colorimétricos: uma vez que o proibicionismo gera a adulteração das SPA, essa ação tem por objetivo identificar a amostra da substância disponibilizada pelo frequentador do evento, de modo a promover o diálogo e a construção do vínculo, levando informações de qualidade e sem moralismos. O reagente, ao ser pingado em uma pequena quantidade do material a ser testado, pode apresentar uma determinada cor, que deve ser comparada com a tabela que indica a presença de uma SPA. A testagem com reagentes apresenta limitações, pois elas não são capazes de determinar o nível de pureza da substância, sequer de confirmar os resultados, já que, para isso, é necessário outro tipo de testagem, como a cromatografia. Comumente, a testagem é realizada no mesmo espaço físico do Infostand, sendo necessária iluminação adequada.
3. Acolhimento terapêutico: ação também chamada de "SOS", que consiste em acolhimentos, acompanhamentos e intervenções breves para pessoas que estejam passando por experiências psicodélicas difíceis devido ao uso/abuso de substâncias. De acordo com o Manual Zendo (2017), experiências psicodélicas difíceis, também chamadas de badtrip, são sagradas, pois fazem parte de um processo de despertar, de cura, e essencialmente, de celebrar a vida. Entre as experiências psicodélicas tidas como difíceis destacam-se a sensação de estar enlouquecendo, a sensação de que aquilo nunca terá fim, as alterações de ego, os traumas que podem ser lembrados ou revividos e as sensações sensoriais, energéticas e corporais (Manual Zendo, 2017). O acolhimento também auxilia em casos em que a pessoa esteja se colocando em risco ou esteja oferecendo risco a outras pessoas. É importante que esse espaço esteja longe da música, seja acolhedor e confortável e tenha espaço para deitar.
É fundamental que haja uma equipe médica no evento para atendimento de casos de demandas de saúde, como febre, desmaio e convulsões. O Lótus só oferece o espaço de acolhimento quando há posto médico na festa ou festival, já que não conta com esse serviço. Quando há equipe médica e de segurança no evento, o Coletivo realiza reunião anterior à intervenção, de modo a estabelecer um atendimento transversal, baseado no diálogo e na troca entre os grupos, sem hierarquia, reforçando a produção de saúde com qualidade.
As intervenções de RD em festas e festivais de música eletrônica promovem a troca de experiências e informações seguras que favorecem a prática de acolhimento e o desenvolvimento de estratégias de cuidado de si. Levando em consideração o crescimento das ações de RD voltadas às cenas eletrônicas e a necessidade de produzir conhecimento sobre as estratégias e ações realizadas, como forma de fornecer subsídios a outras ações e mesmo à construção de políticas públicas no campo dos usos de substâncias, este estudo buscou descrever o trabalho de RD em contextos festivos por meio da descrição e problematização da ação realizada pelo Coletivo Lótus de Redução de Danos em uma festa de música eletrônica ocorrida no Rio Grande do Sul. Objetivou-se descrever o evento e o trabalho realizado pelo Coletivo no local, bem como acessar a compreensão dos redutores de danos que participaram dessa ação sobre os sentidos e efeitos do trabalho de Redução de Danos efetivado no evento.
2 Método
Este é um estudo qualitativo, de caráter descritivo, que buscou compreender o trabalho de RD realizado pelo Coletivo Lótus em uma festa ocorrida em janeiro de 2018. Optou-se pela abordagem qualitativa em consonância com as características do Coletivo, pois tal método possibilita descrever e explorar diferentes percepções acerca da ação realizada.
Na abordagem qualitativa, o cientista objetiva aprofundar-se na compreensão dos fenômenos que estuda - ações dos indivíduos, grupos ou organizações em seu ambiente ou contexto social -, interpretando-os segundo a perspectiva dos próprios sujeitos que participam da situação, sem se preocupar com representatividade numérica, generalizações estatísticas e relações lineares de causa e efeito. (Guerra, 2014, p. 11)
A coleta de dados dividiu-se em duas fases. Na primeira, foi realizada uma descrição do contexto da festa, do Coletivo e da ação por meio do acesso a dados registrados em diário de campo durante a realização de observação participante na festa em questão. Cabe destacar que a pesquisadora compõe a equipe do Coletivo Lótus e participou de suas ações na festa.
A técnica de observação participante se realiza através do contato direto do pesquisador com o fenômeno observado para obter informações sobre a realidade dos atores sociais em seus próprios contextos. O observador, enquanto parte do contexto de observação, estabelece uma reação face a face com os observados. Nesse processo, ele, ao mesmo tempo, pode modificar e ser modificado pelo contexto. (Minayo, 2002, p. 59)
Na segunda fase do estudo, foram realizadas entrevistas semiestruturadas, tendo por base um roteiro que incluía perguntas acerca da RD e sobre a participação e avaliação dos redutores de danos que compuseram a ação ocorrida no evento. A escolha por esse tipo de entrevista parte do fato de esta fazer emergir informações livres, não restritas às alternativas previamente estabelecidas, e garantir certa flexibilidade na aplicação (Manzini, 1991). O acesso aos redutores ocorreu por meio reunião de equipe do Coletivo Lótus, a partir do critério de que os participantes da pesquisa deveriam ter 18 anos de idade ou mais e ter disposição em participar do estudo de forma voluntária. Foram entrevistados oito redutores de danos, identificados por nomes fictícios. A eles foi explicado o teor da pesquisa e garantido o anonimato mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade La Salle, CAAE:95551418.4.0000.5307.
As entrevistas foram gravadas em áudio e posteriormente transcritas integralmente para a Análise de Conteúdo (Minayo, 2002), realizada por juízes, que permite encontrar respostas para as questões formuladas, possibilitando compreender o que está explícito nos discursos, bem como o que está nas entrelinhas dos conteúdos manifestados, indo além do que está sendo comunicado. Durante esse procedimento, foram identificados temas a partir das entrevistas realizadas, os quais delinearam a constituição de categorias e suas subsequentes interpretações. Foi utilizado o software ATLAS.ti como apoio para a categorização da análise.
3 Descrição da ação
Em janeiro de 2018, o Coletivo Lótus esteve presente em uma festa rave realizada na cidade de Alvorada, na região metropolitana de Porto Alegre/RS, que durou 17 horas e contou com a participação de aproximadamente quatro mil pessoas. São consideradas festas rave eventos festivos que tenham música fundamentalmente eletrônica, localização ao ar livre e duração de mais de 12 horas ininterruptas (Abreu, 2005). Se num primeiro momento a rave era encarada como uma perturbação da ordem social, atualmente esses eventos estão inseridos na sociedade como forma de entretenimento, em conjunto com novas estéticas musicais (Grynnszpan, 1999, apud Simões, Magalhães & Silva, 2016).
A partir do modelo de inter-relação entre droga - set, setting -, de Zinberg (1984, apud Denning & Little, 2012), podem-se compreender os aspectos biológicos, psicológicos e socioculturais no uso de drogas. Ao considerar a droga (tipo de droga, frequência de uso, quantidade, forma de uso, etc.), o set (motivação e expectativa, efeitos desejados, estado psicológico, saúde física, genética, etc.) e o setting (onde usa, com quem, qualidade do sistema de apoio, etc.), desloca-se o olhar das drogas para os sujeitos, contexto de uso e práticas de cuidado, promovendo espaços mais humanizados e éticos. Fundamentado nesse modelo, para proporcionar ações de RD ao público frequentador da festa, o trabalho do Coletivo Lótus ofereceu três serviços:
a) Infostand: nesse espaço, que contribui para a troca de informações e diálogo com o público, houve boa circulação de pessoas e demanda acima do esperado. Foram distribuídas, aproximadamente, 50 unidades do fanzine informativo elaborado pelo Coletivo e 25 unidades do flyer informativo que apresenta estratégias de RD elaboradas pela equipe, além de preservativos e cartilhas sobre infecções sexualmente transmissíveis. A equipe usava camisetas do Coletivo, o que ajudou na identificação dos redutores por parte do público;
b) testagem de substâncias psicoativas com reagentes colorimétricos: por meio dessa ação, oferecida de forma gratuita aos participantes do evento, foi possível promover a troca de informações sobre mitos e crenças acerca de SPA. Em alguns momentos, fez-se necessário o fechamento do espaço devido à grande demanda e à formação de filas. Ao todo, foram realizados 50 testes colorimétricos, para substâncias como LSD (ácido lisérgico) e MDMA (3,4-metilenodioximetanfetamina). Para Winstock, Wolff e Ramsey (2001, apud Rodrigues et al., 2017, p. 55), os testes colorimétricos têm um limite importante devido à subjetividade na identificação da cor, do qual o Coletivo é ciente. Ainda assim, são importantes para o diálogo, a aproximação com o usuário e a troca de informações de qualidade sobre as substâncias, adulterações e expectativas dos usuários (Rodrigues et al., 2017);
c) acolhimento terapêutico ou "SOS": é o espaço de acolhimentos, acompanhamentos e intervenções breves para pessoas que estejam passando por experiências psicodélicas difíceis ou colocando a si ou a outras pessoas em risco. Foram realizados 24 acompanhamentos nesse espaço, por motivos que variaram desde experiências difíceis pelo uso de SPA, até problemas decorrentes do calor intenso, pessoas perdidas ou relatos de emoções e sentimentos como tristeza, por exemplo. O espaço também foi utilizado como medida de combate ao sol e local de descanso, aproximação que favorecia a divulgação do trabalho do Coletivo Lótus. Entre as 10h50min e 14h30min houve um "pico" de atendimentos devido ao calor intenso e, devido ao aumento da demanda, neste momento todos os redutores atuaram nesse contexto.
A grande dificuldade no setting de cuidado foi o espaço físico destinado ao Coletivo. Embora os três serviços ocorressem no mesmo espaço, o acolhimento necessitava de mais privacidade e conforto e, atentos a essa necessidade, os redutores dividiram os espaços com tecidos, evitando a exposição das pessoas que estivessem nos acolhimentos.
Explorou-se, também, a elaboração de um diário de campo como forma de acesso à experiência da redutora pesquisadora. A pesquisadora observou a construção de um ambiente acolhedor, agradável e livre de julgamentos, que contava com uma equipe coesa, colaborativa e comunicativa. Acredita-se que o sucesso da ação, mesmo diante das dificuldades encontradas, deu-se devido à empatia, à relação horizontal de diálogo e à percepção por parte do público de uma abordagem que preserva a autonomia e a liberdade do usuário.
3.1 Análise de entrevistas
A seguir serão expostas a categorização e a análise dos dados coletados. As categorias apontam as concepções dos redutores sobre RD, sobre a atuação na festa e sobre as reações e compreensão do público diante da ação. Para preservar o sigilo dos participantes, eles serão chamados de Lótus, seguido do número que corresponde à ordem dos questionários.
3.1.1 Concepções sobre RD: da política à ética do cuidado
Nesta categoria, buscou-se explicitar as concepções dos redutores de danos entrevistados acerca do termo Redução de Danos e suas práticas. Lótus 7 traz em seu discurso as perspectivas da Redução de Danos como conduta, como prática e como política pública.
Redução de Danos, no meu ver, é o modo mais democrático de lidar no cuidado dos usuários que têm uso problemático, ou não, de qualquer substância ou prática que requeiram algum tipo de atenção/orientação. É um imperativo clínico, ético e político para profissionais e usuários, e também uma ponte para o diálogo com determinados tabus preestabelecidos pela sociedade. (Lótus 7, Redutor Entrevistado)
As estratégias de RD podem ser concebidas como uma política pública de saúde, bem como uma postura ética de cuidado. Da perspectiva da política pública, abrange a dimensão coletiva, ao mesmo tempo em que respeita a autonomia e o direito de escolha dos sujeitos.
Redução de danos tem uma dimensão coletiva, que diz respeito a políticas públicas e práticas de cuidado com pessoas que usam drogas, onde se pretende reduzir possíveis riscos ou danos associados ao uso, mas se respeita a escolha pessoal de cada um, sem julgamentos morais e sem partir da premissa que a abstinência é a única forma de se lidar com usos problemáticos. (Lótus 4, Redutor Entrevistado)
Da perspectiva da ética do cuidado, a RD é uma abordagem empática, compreendida a partir do ideal de uma relação humana próxima, em que exista parceria e que aconteça a partir do interesse espontâneo e ativo pela diferença do outro (Fonseca apud Fônseca, 2012). Nesse sentido, Lótus 5 traz que a RD como uma abordagem humanizada
É olhar de forma mais humanizada para o usuário, tanto aquele que faz uso abusivo quanto recreativo. É compreender que cada pessoa tem necessidades diferentes e que esta opção sobre o uso de drogas deve ser vista sem estigmas e julgamentos, onde o que realmente importa é a saúde e bem-estar da pessoa. (Lótus 5, Redutora Entrevistada)
Olhar para a RD nessa perspectiva de ética do cuidado compreende o reconhecimento do outro, a partir do momento em que se abre espaço para acolher suas alegrias, suas dores, seus modos de sentir e de viver a vida sem julgamento. Define-se com o sujeito o que é possível fazer, dentro do seu contexto de vida. Em suma, os redutores trazem a RD como uma estratégia e conjunto de ações que envolvem a redução de riscos e danos do uso de SPA, de forma a promover uma relação mais saudável do sujeito com a substância.
Para os entrevistados, a RD pode ser vista como um processo educativo, pois dá ao usuário o poder de refletir e definir seu caminho. É uma ética de cuidado que promove a autonomia, autoconhecimento e empoderamento do ser, baseada no cuidado humanizado, no vínculo e no aprendizado a partir de situações que levem à reflexão sobre escolhas. Os redutores também apontam a RD como uma ponte para o diálogo com determinados tabus preestabelecidos pela sociedade. Os entrevistados compreendem que cada pessoa tem necessidades diferentes e que essa opção sobre o uso de drogas deve ser vista sem estigmas e julgamentos, pois o que realmente importa são a saúde e o bem-estar da pessoa.
Urge colocar em debate a construção e disseminação de novas tecnologias de cuidado, inspiradas em outra gramática, na qual palavras como "vínculo" e "afeto" substituem eficiência e eficácia. Um jeito de fazer saúde no qual falamos de "cuidado" e de "atenção" sem cobrar abstinência de ninguém. Onde "acolhimento" substitui a noção de "controle". Uma nova postura na construção de um "novo fazer" que tem como princípio o compromisso ético em defesa da vida, colocando a todos da REDE na condição de responsáveis pelo "acolhimento" e "cuidado". (Outras palavras sobre o cuidado de pessoas que usam drogas, 2010)
Adotar a RD prevê que é suportada a ideia de que a sociedade vive fora do campo dos ideais. Com as estratégias de RD, é possível minimizar os efeitos negativos decorrentes do uso de SPA e das questões associadas à violação de direitos que tocam questões da responsabilidade social, cidadania e dos Direitos Humanos (Queiroz, 2001). O caminho aponta para a construção de uma rede de cuidados orientada pela ética, pelo vínculo e pelo cuidado.
3.1.2 O Coletivo Lótus
Nessa categoria, busca-se explicitar o funcionamento e trajetória do Coletivo Lótus, bem como o perfil e trajetória dos redutores participantes da pesquisa. O Coletivo Lótus nasceu em 2013, em Porto Alegre/RS, vinculado ao trabalho de conclusão da Residência de Saúde Mental Coletiva da psicóloga Jéssica Abruzzi. A partir da descoberta do projeto Respire, de São Paulo/SP, e por frequentar a cena eletrônica e desconhecer a existência dessas práticas no Rio Grande do Sul, Jéssica decide formar o grupo e trazer a RD para esse cenário.
O Coletivo conta com uma equipe multiprofissional interessada pela temática da RD e/ou aproximação com as festas rave. As reuniões do Coletivo acontecem semanalmente, quando há pautas voltadas aos eventos, e quinzenalmente, quando não há programação de eventos. Em seu relato, Lótus 7 descreve o Coletivo como um grupo autogestionário, ou seja, o Coletivo é gerenciado pelos próprios redutores, sem fins lucrativos.
No início eu achei que era chegar nas reuniões e já partir para as festas, mas, na verdade, o que eu encontrei foi um Coletivo que fazia (e faz) muito esforço em articular a RD dentro da cena gaúcha. O Coletivo não é algo pronto, na verdade ele é construído em cada reunião, cada ação que conseguimos estar presentes e cada contato com produtores, professores e gestores - e mais um monte de gente. (Lótus 7, Redutor Entrevistado)
Não há um critério definido para a entrada de novos integrantes, e para se vincular ao Coletivo não se faz necessário participar de ações nas festas (Abruzzi, 2014). Outras maneiras de atuação relacionam-se à promoção de rodas de conversa/palestras e à participação nas reuniões, por exemplo. Participaram dessa ação 10 redutores de danos, mas somente 8 responderam ao questionário. Entre eles, seis são da área da Saúde e dois da área da Comunicação Social. Além de contar com equipe uma multidisciplinar e saber transdisciplinar nas ações do Coletivo, também há demanda para outras funções: "Devido a minha formação em comunicação, me envolvo bastante com a criação e a difusão de materiais informativos por meios online e offline" (Lótus 4, Redutor Entrevistado).
As intervenções do Lótus, tanto em festas como em ambiente acadêmico, são ações educativas que buscam diminuir os efeitos nocivos decorrentes do uso de SPA. Além disso, existe o trabalho constante de administração das mídias do grupo, bem como a criação e difusão de conteúdo sobre RD e SPA.
Os redutores entrevistados chegaram até o Coletivo de diferentes formas, dentre elas: contato com o grupo por meio das redes sociais (1); convite de amigos que já faziam parte do grupo (2); interesse pela cena eletrônica e por frequentar esses eventos (2); por morarem no QG do Coletivo (2); nas reuniões abertas para novos integrantes (1). Vale dizer que muitos redutores do grupo, na sua maioria, são frequentadores da cena eletrônica, além disso, muitos redutores são ou foram usuários de SPA. Essas duas variáveis possibilitam um maior conhecimento da linguagem, estratégias e necessidades do público atendido. Segundo Nardi e Rigoni (2005), essa configuração também possibilita uma ressignificação da experiência e desses saberes, haja vista que o usuário passa a ocupar outro lugar, usando da sua experiência de vida como usuário para o cuidado com outros usuários.
Com relação ao tempo de atuação no Lótus, a maioria dos redutores participantes da ação tem uma caminhada no Coletivo: quatro ingressaram em 2016, dois em 2017 e dois em 2018. Embora haja certa alternância de integrantes na equipe em virtude das datas e interesse pelos eventos, o Coletivo conta com uma equipe ativa que mescla redutores mais experientes e novos redutores e procura montar suas equipes combinando esses perfis.
3.1.3 Percepções da ação
Nesta categoria, destacam-se os relatos dos redutores entrevistados, nos quais expressam como se sentiram com a ação realizada e suas percepções sobre a reação e compreensão do público no evento em questão.
Deu para perceber a gente fazendo a diferença efetivamente em grande escala, me senti muito útil ali, tanto em termos de prevenção e promoção, conversando com a galera, quanto na reparação que é o acolhimento, e foi muito legal poder fazer uma ação organizada e tão eficiente, no sentido de ter bastante demanda, e a gente conseguir atender essa demanda, e se sentir realmente proporcionando a Redução dos Danos em grande escala em uma festa. (Lótus 1, Redutora Entrevistada)
A ação ocorreu de modo eficiente e proporcionou uma redução de riscos e danos em grande escala, em dois vieses diferentes. O Infostand configura-se como de prevenção e promoção de saúde, já que objetiva oferecer informações sobre SPA e sobre os riscos e danos associados ao seu uso. No acolhimento, há uma reparação de algum dano, haja vista que as pessoas atendidas neste estão passando por alguma situação difícil em decorrência do uso.
Logo, essa grande procura despertou em nós um belo sentimento de reconhecimento do trabalho. Realizamos mais de 20 atendimentos e muitos envolveram o acompanhamento terapêutico de pessoas em situação de sofrimento, paranoia, medo pelo uso abusivo de psicoativos e álcool. Foi uma ação muito gratificante. (Lótus 5, Redutora Entrevistada)
No relato de Lótus 3 é referida a importância do grupo.
Eu me senti superbem, eu achei que foi uma ação que o grupo tava muito coeso, a gente conseguiu se organizar bem, a gente conseguiu conversar bem, acho que todo mundo teve uma participação essencial, acho que quem foi pela primeira vez conseguiu aprender bastante coisa [...] acho que a gente teve bastante demanda, e isso fez com que a gente não parasse muito e visse a importância [...] acho que isso trouxe bastante gás pro Coletivo, pra se experimentar, se perceber capaz. (Lótus 3, Redutor Entrevistado)
Na concepção de Pichón-Rivière (1985, apud Gayotto & Domingues, 1995), o grupo é um instrumento de ação que se apoia na concepção de sujeito que emerge de uma complexa rede de vínculos e relações sociais. A partir dessa óptica, o autor propõe que a aprendizagem em grupo se dá da compreensão e da ação transformadora de uma realidade. A partir do relato anterior e da própria experiência em campo da pesquisadora, percebe-se o sentimento de pertença, que dá margem à identidade pessoal e grupal. Além disso, para Gayatto e Domingues (1995) a pertença também é um indicador de responsabilidade, pois, à medida que os vínculos se estabelecem, a tarefa do grupo fica mais clara e a confiança se fortalece. Lótus 7 refere surpresa com a reação do público, e Lótus 6 aborda a importância de um espaço de fala para os usuários.
Eu fiquei bem surpreso com a reação do público! Os curiosos nos abordavam e perguntavam o que era aquilo tudo e depois do diálogo eram só elogios! "Vocês não têm ideia de quanto o trabalho de vocês é legal", "vocês são verdadeiros anjos", "a gente nem sabia que existia isso no Brasil", "pode tirar foto com vocês?". Um dos melhores retornos foi do acolhimento. (Lótus 7, Redutor Entrevistado)
Não é comum para as pessoas acessarem pessoas ou serviços de saúde que falem abertamente sobre drogas. Muitas das pessoas nessa ação manifestaram seu agradecimento verbalmente, tamanha era a surpresa [...] a impressão é de que, nessa festa, bastante gente que fazia o uso de drogas não tinha o conhecimento aprofundado sobre o que estava usando. Da mesma forma, não conheciam muito sobre a RD e demonstravam-se contentes descobrindo que existia essa abordagem da questão. (Lótus 6, Redutor Entrevistado)
Os redutores perceberam a satisfação com a participação do Coletivo no evento, ainda que o público estivesse surpreso e curioso com a presença do grupo. A partir das entrevistas, pode-se problematizar a escassez de espaços para construir um diálogo sobre SPA sem tabus e livre de julgamentos, e como isso está diretamente ligado à desinformação dos usuários sobre as substâncias, reforçando-se a importância das intervenções dos coletivos de RD. Embora houvesse um retorno positivo por parte do público, o grupo encontrou dificuldades.
Eu e mais dois membros participamos da articulação com a produção de uma maneira mais intensa, pegamos bastante os bastidores, reuniões, visita técnica, foi bem corrido. Tivemos que lidar com demora nas respostas dos produtores, falta de material, problemas com financiamento antes da festa, enfim, foi cansativo, mas era a gênese da coisa. Às vezes a galera acha que o negócio é ir lá e fazer o acolhimento ou as testagens, mas para isso rolar tem todo um trabalho prévio envolvido. Mesmo assim, faltou muita coisa para ser o "espaço de cuidado dos sonhos". Mas com o que deu para arranjar, a experiência foi muito, mas muito interessante. (Lótus 7, Redutor Entrevistado)
As dificuldades encontradas foram apresentadas à produtora a posteriori em um relatório da ação. Quanto às dificuldades, destacam-se: a ausência de comunicação entre a produtora e o Coletivo durante o evento e a comunicação antes da festa; a falha na impressão de materiais informativos do Coletivo Lótus, que comprometeu o Infostand; a alimentação pouco variada, apesar do acesso à água e/ou refrigerantes; a falta de cadeiras e mesas para o espaço destinado ao Coletivo, importantes para expor o material informativo e realizar as testagens; a ausência de um espaço de acolhimento mais reservado; e a indisponibilidade de insumos para combater o calor, como protetor solar e leque.
Os pontos positivos da ação também foram apresentados à produtora. A localização do espaço do Coletivo ao lado da equipe de socorristas proporcionou uma sinergia e interesse no trabalho de ambas as equipes, o que fez com que os encaminhamentos e trocas de informações fossem constantes e contribuíssem para o sucesso da ação. A receptividade da equipe de segurança, a compreensão do trabalho e troca de informações sobre os casos atendidos também foram fatores importantes. Destacou-se a preocupação da produtora com estratégias para reduzir o calor, tais como, promoção prévia de água, caminhão-pipa, tenda de grande extensão e com o ambiente de festa limpo. O deslocamento da equipe e entrada no evento, o armazenamento dos reagentes para as testagens, a tenda disponibilizada para o Coletivo atenderam às expectativas e necessidades do Lótus em relação ao evento e foram fatores importantes para que os redutores percebessem uma relação de parceria com a produtora, além de terem seu trabalho reconhecido. O número de redutores foi suficiente para dar conta da ação e todo o valor orçado foi repassado até dois dias depois de a festa ter ocorrido, fator que fortalece o vínculo de confiança com a produção.
Outros fatores essenciais para o sucesso da ação foram o reconhecimento do espaço e o reconhecimento e a integração do público da festa com o espaço de RD. A Busca Ativa de casos pela equipe, respeitando o espaço das pessoas, fez com que pudessem ser identificadas situações de risco e desconforto, tanto pelo uso de SPA quanto pelo calor ou sonoridade violenta, evitando que essas situações se tornassem mais graves. Além disso, a Busca Ativa incentivou, na pista, algumas pessoas a realizarem as testagens de suas substâncias.
3.1.4 Efeitos do trabalho
Nesta categoria, destacam-se os relatos dos redutores entrevistados, os quais expressam como perceberam os efeitos do trabalho realizado. No trecho a seguir, o redutor Lótus 6 relata que os efeitos do trabalho podem ser percebidos de maneira imediata e mediata.
Os efeitos do trabalho para os indivíduos fazem muita a diferença. O oferecimento de cuidado é fundamental para evitar complicações. Isso se pode perceber como efeito imediato. Seja nas testagens, no stand informativo ou no AT, o envolvimento com o público foi positivo. Já falando mais amplamente, os efeitos da RD aos poucos vão se espalhando, pessoas por pessoa, e essas vão se tornando também vetores de cuidado, num efeito que aos poucos vai ganhando forças, como é a RD e sua história de empoderamento dos usuários. (Lótus 6, Redutor Entrevistado)
A partir do relato e da experiência da pesquisadora, cabe ressaltar que um dos grandes efeitos do trabalho de RD no contexto de festa é a desmitificação do papel de usuário de SPA, que, em geral, é permeado por dimensões negativas, problemáticas e estigmatizantes. Dessa forma, a RD e as ações do grupo possibilitam uma abordagem de gestão de prazeres e dos riscos do consumo (Romaní, 2008; Rovira & Hidalgo, 2003), que acolha a decisão dos sujeitos e os capacite para uma gestão mais cuidadosa e responsável, além de formar multiplicadores de conhecimento que terão mais cuidado consigo e com os outros.
Em seu relato, Lótus 3 refere o convite da produtora para o Coletivo estar presente no próximo evento como outro aspecto positivo do trabalho desenvolvido nesta ação, mas principalmente a busca do público pelo espaço.
Com certeza o retorno do público com o nosso trabalho e a resposta da produtora, que já demonstrou interesse em contar conosco no próximo festival (que vai ter o dobro de público). Mas o melhor efeito foi ver esse trabalho de cuidado, assistência e informação sendo produzido numa cena, que há pouco, eu mesmo fazia parte do público, foi um prazer meio que paradoxal. E também abrir as portas para a RD na cena comercial de raves do RS. É claro que ainda temos dificuldades, falta perna e muitas produtoras ainda não reconhecem o trabalho feito pela RD, mas devagarzinho a gente chega lá. (Lótus 3, Redutor Entrevistado)
Embora a prática de RD esteja amparada pela Lei nº 11.343/2006 (antiga Lei de Drogas nº 6.368/1976), que em seu artigo 20 postula que "constituem atividades de atenção ao usuário e dependente de drogas e respectivos familiares, para efeito desta Lei, aquelas que visem à melhoria da qualidade de vida e à redução dos riscos e dos danos associados ao uso de drogas", a dificuldade de estabelecer vínculo com as produtoras é um dos desafios enfrentados pelo grupo. A contratação de uma equipe de RD implica em reconhecer que nesse local há consumo de SPA, mas, com medo de represália ou complicações legais, algumas produtoras optam por não oferecer esse serviço ao público. Vale ressaltar que o Coletivo tem uma caminhada na cena eletrônica mais underground, sendo esta a primeira vivência do grupo em uma festa da cena comercial. Assim, a partir dos relatos do grupo e da pesquisadora, tem-se que estabelecer um vínculo próximo com a produtora, e abrir as portas para a RD nesse contexto é uma vitória para a RD, para o público e para o próprio grupo.
4 Considerações finais
Este trabalho procurou descrever as características da ação realizada, além de apresentar as percepções dos redutores de danos do Coletivo Lótus sobre os efeitos do trabalho efetivado em uma ação específica realizada no Rio Grande do Sul, de modo a elucidar a importância do trabalho nesse contexto e proporcionar reflexões sobre a ação desenvolvida.
A análise das entrevistas e os resultados colocaram em evidência a importância da construção de espaços para falar sobre usos de psicoativos, na perspectiva da orientação e acolhimento. Percebeu-se que o público sentiu-se satisfeito, acolhido e grato pela ação desenvolvida pelo Coletivo Lótus e pelo espaço destinado ao grupo. Os diálogos durante a ação foram tranquilos e o público foi receptivo e carinhoso, não havendo nenhum relato de dificuldade de manejo no espaço informativo e no acolhimento.
Ações de RD abrem possibilidade de diálogo em diferentes instâncias, viabilizando o estabelecimento de canais de diálogo com profissionais de diferentes áreas, como a equipe de socorristas e de segurança da festa. Assim, torna-se possível a desconstrução de visões moralistas e repressivas, que resulta em um atendimento mais integral e humanizado ao público que comparece ao evento. A intervenção do grupo permitiu que os usuários tivessem lugar de fala, com possibilidade de escuta e acolhimento ético e digno. Por meio do vínculo, é possível um diálogo aberto, livre de julgamentos e tabus, que permite ao usuário obter orientação e sanar suas dúvidas com relação aos efeitos e danos de psicoativos, bem como formas de uso seguro, o que pode resultar no empoderamento do usuário e na gestão cuidadosa e responsável de prazeres, além de torná-lo um multiplicador desses saberes.
A cena das raves comerciais não conta com ações de RD, diferentemente dos festivais, sendo esse um dos motivos para que o público tenha ficado tão surpreso com a presença do Coletivo no evento em questão. Nas raves, o uso de psicoativos geralmente é abusivo, não sendo difícil ouvir relatos sobre pessoas que colocam a si e aos demais em risco, como desmaios, exposição moral, overdoses e casos de morte. Os resultados deste estudo contribuem para a compreensão de ações de RD em contexto festivo, com foco na atuação do Coletivo Lótus, e sobre como informar o público e minimizar os danos e riscos associados ao uso de SPA.
Não seria apropriado falar em conclusões a partir de análise de uma única ação, já que não houve observações em eventos pela mesma produtora. Entretanto, informações importantes foram obtidas, ainda mais quando essa temática ainda é pouco explorada cientificamente. Fazem-se necessárias pesquisas que explorem a cena eletrônica como espaço de uso recreativo. A realidade desse tipo de uso não envolve necessariamente abuso ou dependência, porém ainda é ignorada. É importante, também, que novas pesquisas surjam para evidenciar a atuação de coletivos de RD no contexto festivo, de forma a explorar essa temática tão pouco debatida. A proposta de desenvolver estratégias de RD no contexto de festas de música eletrônica promove espaços educativos junto ao público, possibilitando o desenvolvimento de estratégias apropriadas ao contexto. Com a multiplicação dessas informações e com a internalização de formas de cuidar de si e dos amigos sob os efeitos de SPA, de forma a ajudar na redução dos riscos associados ao uso abusivo e as misturas, previnem-se danos (Costa et al., 2014).
O desafio, nesse cenário, parece ser o de construir e promover espaços de troca a fim de quebrar paradigmas, desconstruir a dicotomia reducionista e mitos acerca do uso de SPA, promover o autocuidado e cuidado com os outros, tendo o usuário como protagonista de sua história, e respeitando seus desejos, sua autonomia e sua liberdade. Assim, fica evidente o propósito do Coletivo Lótus de construir, com o público e com as produtoras, espaços de promoção de saúde, de informação e de apologia ao cuidado.
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Recebido em: 29/10/2018
Aprovado em: 4/2/2020
1 Macrae, E., & Gorgulho, M. Redução de Danos e tratamento de substituição posicionamento da Reduc. Recuperado em dezembro, 2019, de http://www.neip.info/downloads/t_edw8.pdf.
1a ERRATA: Na autoria deste artigo, onde se lia apenas: Luciane Marques Raupp (Programa de Pós-Graduação Memória Social e Bens Culturais da Universidade La Salle), lêia-se também em autoria: Karini Reis Pereira(Graduada em Psicologia na Universidade LaSalle, redutora de danos no Coletivo Lótus)