Psicologia para América Latina
ISSN 1870-350X
PROCESO SALUD-ENFERMEDAD Y BIENESTAR SOCIAL
Crise de identidade em adolescentes portadores do Diabetes Mellitus do tipo 1
Bernardete Bezerra Silva Imoniana
A adolescência é um processo dinâmico entre a infância e a idade adulta: inicia-se com a puberdade e termina com a aquisição da identidade, bem como da elaboração de projetos de vida e de integração na sociedade. Este estudo objetivo identificar como o adolescente vivencia tornar-se portador da doença crônica o diabetes. Recorremos a abordagem qualitativa, utilizando a entrevista semi-estruturada. Participaram do estudo cinco sujeitos, com idade entre 10 a 17 anos, com diagnostico de Diabetes Mellitus do tipo 1. Analisando os dados organizamos em três temas: o impacto do diagnostico no adolescente, convivendo com mudanças e a busca da identidade.Concluímos que apesar das dificuldades enfrentadas pelos adolescentes portadores do diabetes, pode-se afirmar que a convivência com a doença não é um problema de grandes proporções que os incapacite.Os dados revelam ser importante que exista muita compreensão, grande apoio social e um efetivo trabalho de educação em relação ao diabetes.
Palavras-chaves: Adolescente, Crise de identidade, Diabetes mellitus do tipo 1.
ABSTRACT
Adolescence is a dynamic process between infancy and adult age: starts with puberty and terminates with the acquisition of personal identity, as well as development of life projects and integration into the society.This study aims at identifying how an adolescent comes to bear a chronic disease such as diabetes.To that end, we use the qualitative approach adpoting the semi-structured questionnaires. Five subjects participated in this investigation with ages ranging from 10 to 17 having had the diagnosis of mellitus diabetes type 1. Upon analysis of the data we organize it in three themes: the unfolded impact upon diagnosis on the adolescence; living with changes and the fetching of identity. It follows that in spite of difficulty faced by the diabetes porter adolescent, one would affirm that the acquaintanceship with the disease is not a problem of a greater proportion that incapacitates the adolescent. Finding reveils as been important, the need for comprehension, much social support and effective educational sensitization concerning diabetes.
Keywords: Adolescent, Identity crisis, Mellitus diabetes type 1.
RESUMEN
La adolescencia es un proceso dinamico entre la infancia y la edad adulta: se inicia con la puberdad y termina con la adquisición de la identidad, así como con la elaboración de proyectos de vida y de integración en la sociedad. Este estudio intenta identificar cómo el adolescente vive el volverse portador de una enfermedad crónica como lo es la diabetes. Recorremos el enfoque cualitativo, utilizando la entrevista semi-estructurada. Participaron del estudio cinco sujetos, con edad entre 10 y 17 años, con diagnóstico de Diabetes Mellitus del tipo 1. Analizando los dados organizamos en tres temas: el impacto del diagnóstico en el adolescente, conviviendo con mudanzas y la búsqueda de la identidad. Concluímos que a pesar de las dificultades afrontadas por los adolescentes portadores de diabetes, se puede afirmar que la convivencia con la enfermedad no es un problema de grandes proporciones que puede incapacitarlos. Los datos revelan que es muy importante que exista mucha comprensión, apoyo social y un efectivo trabajo de educación en relación a la diabetes.
Palabras clave: Adolescente, Crisis de identidad, Diabetes mellitus del tipo 1.
O objetivo do estudo é identificar como adolescentes que encontra em fase de vida que apresenta comportamentos com busca de independência, interação grupal,necessidade confiança em si e no outros, enfim uma formação de identidade, vivencia a condição tornar-se portador de uma doença crônica diabetes que acaba por impor restrições que se contrapõem a essa busca.
A fase de transição entre a infância e a idade adulta é puberdade que tem sido estudada como um processo complexo, caracterizado por um conjunto especifico de transformações físicas e biológicas e produzido de forma simultânea ou alternada vem o fenômeno da adolescência,um processo psicológico de adaptação à condição de pubescencia. Segundo Erikson (1987, p.86) “ a pessoa jovem, a fim de sentir a globalidade, deve experimentar uma continuidade progressiva entre aquilo que foi durante os longos anos de infância e aquilo em que promete converterse, no futuro previsto; entre aquilo que ela concebe ser e aquilo que ela percebe os outros verem nela e esperarem dela”. É uma fase de transição que ocorrem muitos questionamentos, atitudes reivindicatórias, de conduta, flutuação de humor, separação progressiva dos pais.
Instala-se então o que podemos chamar de crise de identidade, o adolescente está em busca de sua identidade, que será movida por uma ampla e profunda desestruturação, com desequilíbrios e instabilidade. “A formação da identidade emprega um processo de reflexão e observação simultânea, um processo que ocorre em todos os níveis de funcionamento mental, pelo qual o individuo se julga a si próprio à luz daquilo que percebe ser a maneira como os outros o julgam”(Erikson,1987p.21). É no período da adolescência que o individuo vai questionar as construções dos períodos anteriores, próprios da infancia. O adolescente assediado pelas transformações fisiológicas próprias da puberdade necessita rever suas posições infantis frente à incerteza dos papéis adultos que apresentam a ele. Será então seguida por um processo de reestruturação da personalidade. Para Erikson (1987,p.86) “a identidade é um produto singular que enfrenta agora uma crise a ser exclusivamente resolvida em novas identificações com os companheiros da mesma idade e com figuras lideres fora da família. A busca de uma identidade nova, mas idônea pode ser melhor observada, talvez, no persistente esforço dos adolescentes para se definirem e redefinirem a si mesmos e uns aos outros, numa comparação muitas vezes implacável”. Podemos nos questionar como fica tudo isso quando surge uma doença crônica, o diabetes, que ao contrario da doença aguda, freqüentemente curável e temporária, ter uma doença crônica significa dizer que a pessoa terá de conviver pelo resto da vida, em um mundo em que se super-valoriza a saúde. Uma doença crônica como diabetes traz consigo um grande impacto, principalmente na fase em que se encontra o adolescente,pode alterar significativamente o seu desenvolvimento tornando-o suscetível à angustia e a ansiedade.
Segundo SBD (1997) para a American Diabetes Association (1995) Diabetes Mellitus é o nome dado a um conjunto de situações resultantes da incapacidade do organismo em manter o nível de glicose no sangue dentro de limites normais, por deficiência ou por ausência total de insulina, manifestando-se por anormalidades no metabolismo dos carboidratos, proteínas e lipídios, como também por complicações macrovasculares, microvasculares e neuropatia. O diabetes mellitus tipo 1 desenvolve-se com maior freqüência entre crianças e adolescentes. É conhecido com insulino-dependente, pois, devido à produção ineficiente de hormônio, torna-se necessária a injeção de insulina.
A metodologia empregada foi a de um estudo do tipo descritivo exploratório, caracterizado pela abordagem qualitativa. Os sujeitos foram adolescentes portadores do Diabetes Mellitus do tipo1 na faixa etária entre 11 17 anos e adotou-se o critério de inclusão-tempo de diagnóstico de pelo menos um ano como fator importante. Porque o adolescente já convive com a doença, o que nos possibilitou saber sobre possíveis limitações, mudanças no cotidiano, nas relações e adaptações que foram feitas durante este período. O instrumento utilizado para a coleta de dados foi a entrevista semi-estruturada com algumas questões para a obtenção de dados. E com base nos dados que foram gravados e transcritos, obtivemos vários códigos, e a partir destes houve agrupamento por semelhança que Bogdan & Biklen (1994) denominam de categorias de codificações, o qual originou as categorias(temas) que foram baseadas no referencial teórico.
No presente estudo podemos observar que o adolescente que se encontra em um momento de grandes transformações físicas, emocionais e modificações corporais, o jovem se vê diante de sentimentos contraditórios: auto-estima,insegurança e medo,etc. E por outro lado há uma grande necessidade de ser aceito no grupo de pares. Começa a questionar sobre o futuro. Inicia-se a busca da identidade com tentativa de independência, é a entrada em uma nova realidade que produz confusão e perda de certas referencias. A essa busca do eu, quem sou eu? Que Erikson (1987) chama de crise de identidade, a palavra crise é usada no sentido de desenvolvimento para designar não uma ameaça de catástrofe, mas “de um ponto decisivo e necessário, um momento crucial, quando o desenvolvimento tem de optar por uma ou outra direção, escolher esteou aquele rumo, mobilizando recursos de crescimento, recuperação e nova diferenciação”. Aliada a toda esta turbulência da adolescência vem descoberta da doença crônica o diabetes.
O portador do diabetes sente que tudo mudou e que não será mais o mesmo.O impacto do diagnóstico se deve principalmente ao fato de ser uma doença crônica, isto é, o individuo terá de viver pelo resto da vida com essa doença, o que os adolescentes a vivenciarem uma fase caracterizada por incertezas. (...) “é que antes eu não comia doce,daí eu chorei,e a pediatra falou para mim porque eu tinha diabetes”. (...) “ foi ruim né, saber que você não pode comer doce na escola”.
A doença crônica para o adolescente constitui-se num caminho por vezes longo, difícil e imprevisível. Segundo Santos (2001,p.52) “ a adesão ao tratamento tem sido uma questão relevante, principalmente entre adolescentes, que tem dificuldades de seguir restritivas prescrições médicas, nessa faixa etária, a doença tem um impacto muito grande pelo fato de que o curso normal de desenvolvimento pode ser alterado”.
As características cronicidade e risco das crises por descompensação da glicemia particularizam de forma especial o cotidiano da doença crônica o diabetes, impactando de forma importante no seu diagnostico. Neste aspecto, concordamos com Vieira(2001), quando afirma que desde o inicio dos sintomas até a definição do diagnostico, eles vivenciam uma fase de crise caracterizado por um período de desestruturação e incertezas, precisando aprender a lidar com os sintomas,procedimentos terapêuticos, para assim, reorganizarem suas vidas.E que a prioridade agora para esses adolescentes é a doença e eles precisam se adaptar às suas limitações, e estas estão relacionadas às condições físicas, alimentares e de socialização.
(...) “Ah! gente eu vou ter de parar, porque como é que eu vou sair com minhas amigas,elas vão comer e eu não e na hora do sorvete ?”.
A adaptação a um novo estilo de vida, com a necessidade de educação alimentar para evitar possíveis complicações com a doença, dificuldade de se adaptar a uma rotina de compromissos sociais (escola, festas e baladas) face as freqüentes idas a médicos e postos de saúde para exame, a perda de liberdade de escolha quanto à alimentação e as dificuldades de se manter em dieta estando em companhia de amigos não diabéticos, são comportamentos e atitudes relevantes que impactam na reorganização da vida dos adolescentes que foram entrevistados. Pelo conteúdo coletado nas entrevistas, entendemos que a adaptação gira em torno do controle que é a necessidade de se estabelecer domínio constante sobre os sinais indicativos do estado geral do adolescente e sobre os fatores que o determinam: alimentação, medicação, atividade física, etc.
(...) “ando de bicicleta, eu vou a pé para a escola ... dá uns 2 kms”.
Observamos que apesar do impacto que causou a noticia da existência do diabetes em suas vidas, a convivência com a doença faz com que os adolescentes aprendam a lidar com o tratamento exigido e com as dificuldades provenientes da doença. Kovacs(2001) entende que o jovem diabético deve ser encorajado a adaptar seu tratamento médico a sua rotina diária, que inclua, a principio, todas as atividades destinadas a seus pares, tais como: freqüentar aulas, praticar esportes, passeios e viagens, desde que realize os cuidados prescritos para com o diabetes.
A adaptação a situações adversas, como é o caso da doença crônica, tem como fator importante a capacidade do individuo de responder aos desafios e as dificuldades, frente a situações de riscos. E depende de alguns fatores como: características individuais, apoio familiar e social. Entendemos que o envolvimento da família é fundamental nesse processo para promover a reconstrução da vida que foi alterada em função da doença. Podemos constatar através das entrevistas, a relação de dependência e de responsabilidade que os adolescentes colocam sobre os pais a respeito do diabetes. Setian et. al (1995) apontam ser comum nos consultórios clínicos os médicos depararem com adolescentes portadores do diabetes se queixarem do excesso de controle dos pais e reivindicarem maior liberdade, mas que continuam delegando aos familiares os conhecimentos e a responsabilidade quanto ao seu próprio corpo. (...) “ quando eu estou assim, passando mal, eu aviso minha mãe” ... “ela pega o aparelho e faz o teste”.
E que ao fazerem assim, acabam denunciando a imaturidade e a depen- dência que permeiam a relação com a doença crônica. A adaptação do adolescente à nova situação depende, em parte da família. No inicio, os cuidados necessários devem contar com a ajuda dos pais, que posteriormente irão nortear comportamentos e condutas no estabelecimen to de conhecimentos e responsabilidade ao adolescente do seu próprio corpo e a doença. Ressaltamos que este processo de transferência ocorra com um ritmo próprio que dependera de cada adolescente. Acreditamos que é na significação que a doença assume no contexto familiar que se dará à possibilidade de trata-la, retomando o diabetes como objeto de controle e não a família ou o adolescente.
Podemos observar através das entrevistas, que inicio da doença se deu para alguns de forma silenciosa e para outros abruptamente como uma crise. Crise esta prenunciada por sintomas que ainda não causavam maiores problemas, tanto que uma das adolescentes foi diagnosticada inicialmente como tendo uma gripe forte.
(...) “fiz o destro,daí tava muito alta, minha mãe me levou no Atalaia”.
Passado o impacto da descoberta da doença, constatamos que houve a busca por informações com os médicos, postos de saúde, os hospitais e os grupos com atendimento especificam, tentando criar melhorias ou mesmo uma forma de amenizar as complicações decorrentes e as limitações que a doença impõem, estes foram comportamentos comuns no grupo de adolescentes entrevistados.Percebemos que há uma grande preocupação em relação às modificações nos hábitos alimentares, principalmente na ingestão de doces e guloseimas em geral, uma vez que os adolescentes relatam dificuldades para aceitarem a restrição a este tipo de alimento. Visto que o mesmo é comumente muito utilizado tanto no âmbito escolar como festas.
(...) “seja festa ou balada mesmo, eu faço uma boa alimentação”. Vieira (2001) em seu estudo ressalta que a criança/adolescente sabe que precisa se ajustar a limitações físicas, alimentares e de socialização e que nesse processo e tratamento os pais e os profissionais da saúde é que devem estimula-los a manter a autonomia e a independência, próprias da fase de desenvolvimento em que se encontram.
É na adolescência que o individuo desenvolve os pré-requisitos de crescimento fisiológico, maturidade mental e responsabilidade social que o preparam para experimentar e ultrapassar a crise de identidade.Construir uma identidade para Erikson implica em definir que a pessoa é, quais são seus valores e quais as suas direções que deseja seguir pela vida. “o processo adolescente só esta inteiramente concluído quando o individuo subordinou as suas identificações da infância a uma nova espécie de identificação, realizada com a absorção da sociabilidade e a aprendizagem competitiva com (e entre) os companheiros de sua idade”.
O adolescente se refugia em si mesmo e mundo interno que foi se formando durante a sua infância, preparando-se para o futuro, na qual elabora e reconsidera constantemente suas vivencias e seus fracassos.
(...) a porque sempre eu ver de repetir a mesma coisa. A mudança de humor é uma característica típica da adolescência, ele passa por desequilíbrios e instabilidade extremas, com períodos de introversão alternando com audácia, desinteresse ou apatia, euforia com desalento. Sendo a indestrutibilidade outra característica marcante, o adolescente se considera invulnerável, aliando a necessidade de experimentar o novo e desafiar o perigo. Notamos através das entrevistas com os adolescentes que alguns deles apresentam este comportamento de uma forma exacerbada, relatando como, por exemplo: andar de skate horas a fio, ir para baladas e dançar sem controle, não se alimentar por longos períodos até desmaiar.
Santos (2001) salienta que, a fim de mostrar a sua independência e responsabilidade sobre si mesmo, o adolescente pode deixar de usar a medicação a fim de testar o quanto é dependente realmente de insulina. E da mesma maneira desafiadora alguns adolescentes passam a tirar proveito da situação e tentam manipular as pessoas e situações.
(....) “ modificou porque eu aprendi a ter mais responsabilidade”
A medida que o adolescente vai se afastando de seus pais de infância, os valores que trazem consigo são atualizados e substituídos.
Setian et al (1979) salienta que com o crescimento e amadurecimento do jovem, a sociedade passa a esperar e a cobrar dele uma serie de obrigações e responsabilidades que contribuem para sua inserção à realidade e definição de seu papel dentro da comunidade.
Segundo Erikson (1987,p.129) “ a necessidade de ser definido pelo que se pode querer livremente, então o adolescente procura agora uma oportunidade de decidir, com livre assentimento, sobre um dos rumos acessíveis ou inevitáveis de dever e serviço, e ao mesmo tempo, tem um medo mortal de ser forçado a atividade em que sentisse exposto ao ridículo ou a duvida sobre si próprio.
(...) “ porque elas não acreditam, eu falei que eu tenho diabetes.Só que elas não acreditam que eu tenho diabetes”.
Em seu estudo Kovacs(2001,p.47) relata ser “ inúmeras são as limitações vividas pelo diabético,desencadeadoras de vários sentimentos e atitudes, ora de medo e insegurança, ora de conformismo, auto-cuidados,que provavelmente serão vivenciados por muito tempo pelos portadores do diabetes”. O adolescente esta em busca de novos modelos de identificação, segundo Erikson (1987, p.13) o adolescente esta em busca de ‘pares’, sente a necessidade de compartilhar suas angústias e modelar atitudes e idéias “os adolescentes não só se ajudam uns aos outros, temporariamente, no decorrer desse conturbado período, formando turmas e estereotipando a si próprios, aos seus ideais e aos seus inimigos, mas também testam. insistentemente as capacidades mutuas para lealdades constantes, no meio de inevitáveis conflitos de valores”.
(...) “ é tem alguns amigos diabéticos que eu saio, quando a gente sai, assim, eles não deixam a gente tomar nada com açúcar”.
Os modelos de identidade são transferidos dos pais para os adolescentes da mesma idade, de modo a permitir a construção de ideais e afetos próprios. As atitudes impostas pelo grupo passam a ser soberanas, pois dele advém o suporte emocional e a aprovação dos comportamentos. Podemos observar estes comportamentos no grupo de adolescentes entrevistados, na qual o grupo de pares influenciado através de esportes radicais que necessitam de muito esforço físico ou mesmo de uma forma positiva ou mesmo protetor (substituindo os pais) tentando ajudar o adolescente a manter sob controle o diabetes.
A tendência grupal pode influenciar diretamente a relação do adolescente com a nutrição, como por exemplo: a quebra de horários, a não aceitação da alimentação da família, passando a comer o que quer, quando e onde o grupo come e também a busca de padrões estéticos pode levar a agravos nutricionais em graus variáveis, independente do nível socioeconômico. Observamos que a vinculação ao grupo se faz presente no estudo, no sentido de ser relevante para os adolescentes a semelhança com seus pares e notamos a ambivalência de comportamentos, ora o grupo como controlador, ora ocultando a doença para o grupo para não se sentirem diferentes, visto que o conceito de ter saúde. A vinculação ao grupo de pares assume grande importância na adolescência, tornando cada componente mais forte e menos solitário. De acordo com Setian et al (1995) muitos adolescentes “ocultam dos amigos o fato de serem diabéticos; já que o grupo que poderia fornecer algum tipo de ajuda não o faz por desconhecimento.
(...) “ vamos concordar comigo uma pessoa que não portador do diabetes, os pais vão deixar acampar por uma semana? ”.
Através da fala acima, podemos inferir que a moratória neste caso é sentida como uma aventura e ao mesmo tempo aprendizado.
No processo adolescente, é necessário integrar todo o passado, o experimentado, o internalizado e também o rejeitado com as novas exigências do meio e com as urgências instintivas emergentes em função do desenvolvimento físico e biológico dos indivíduos.A sociedade possibilita períodos intermediários mais ou menos sancionados entre a infância e a idade adulta.Esse período que Erikson chama de moratória social. Na moratória social a sociedade reconhece ao adolescente a necessidade de exploração, dando-lhe a possibilidade de experimentar e de se adaptar a vários papéis sociais sem assumir nenhum compromisso numa direção concreta. É não requerer do adolescente papéis específicos e lhe permitir experimentar o que a sociedade tem para oferecer com a finalidade de definir sua personalidade.
Segundo Erikson (1987,p.157) “ por moratória social entendemos um compasso de espera nos compromissos adultos e, no, entanto, não de trata apenas de uma espera. É um período que se caracteriza por uma tolerância seletiva por parte da sociedade e uma atividade lúdica por parte do jovem”. Ressalta ainda que cada sociedade e cada cultura institucionalizam uma certa moratória para os seus jovens. E essas moratórias acabam por coincidir com aprendizados e aventuras que se harmonizam com os valores da sociedade. A moratória psicossocial é um período “durante o qual o jovem adulto, através de livre experimentação de papel, poderá encontrar um nicho em alguma seção da sociedade, um nicho que é firmemente definido e, entretanto, parece ser exclusivamente feito para ele”.
É nesta fase de experimentação de alternativas e possibilidades, nesse momento conflitante que os adolescentes mostram-se ávido por novos modelos de identificação, já que estão se afastando de seus pais de infância. A crise de identidade legitima a necessidade de confiança em si e nos outros, o adolescente procura fervorosamente por homens e ideais em que possa confiar e ser digno de confiança. Nesse sentido, a interação grupal assume grande importância na adolescência, aqui o grupo funciona como protetor e reassegurador frente às angustias e temores, e que poderá representar um meio intermediário através do qual o adolescente atingira a individualização. Consideramos que o grupo quando alertado e orientado, poderá ajudar os adolescentes com a doença crônica.
Como afirma Erikson, a vinculação ou identificação grupal pode ser usada de maneira positiva e não encarada sempre como perigosa,agressiva, fortalecedora de condutas anti-sociais. Ela pode vir a fortalecer o espírito de equipe, o aparecimento de lideranças construtivas, que seriam muito saudáveis se persistissem também na vida adulta. Reiteramos que o grupo de pares juntamente com a sociedade, conduz a um empenho profundo e decisivo para formação da identidade, cuja resolução é a necessidade imperativa para o individuo que busca se manter em equilíbrio. Para Erikson (1987) “ a identidade final, tal como fixada no final da adolescência, é superordenada em relação a qualquer identificação singular com indivíduos do passado; ela abrange todas as identificações significativas mas também as altera de modo a constituir com elas um todo único e razoavelmente coeso”.
Concluímos que no estudo podemos constatar que os adolescentes sabem que precisam se ajustar as limitações físicas e alimentares e de socialização embora alguns consideraram que o dia-a-dia não é afetado por serem doentes crônicos.Esses adolescentes tem dificuldades em manter algumas atividades como estudar e participar de eventos sociais que envolvam consumo de alimentos. Considerando que os adolescentes vivenciam sentimentos e situações complexas que são inerentes a esta fase de vida e aliado a isto a doença cro- nica o diabetes, parece-nos importante que exista muita compreensão e um grande apoio social família, escola e comunidade. E um efetivo trabalho de educação em relação ao diabetes,incluindo a participação nas associações de diabéticos que podem ter um papel social importante, servindo de base para pressionar no sentido de uma legislação em favor dos portadores do diabetes.
Neste sentido concordamos com Erikson(1987,p.258) quando afirma “devemos compreender a função da adolescência na sociedade e na historia, pois o desenvolvimento adolescente abrange um novo conjunto de processos de identificação com pessoas significativas e forças ideológicas, o qual se apodera, por conseguinte, da força e das fraquezas da mente juvenil. Na juventude, a biografia cruza-se com a história; nela, os indivíduos são confirmados em suas identidades e as sociedades regeneradas em seu estilo de vida”.
Sugerimos a criação leis que impeçam atitudes discriminatórias, bem como esclarecer a população em geral sobre a doença e outras questões de alta relevância para a efetiva integração social e psicológica do diabético.
Bibliografia
- Bogdan, RC; Bikle,SK. 1994. Investigação Qualitativa em Educação. 1A.ed. Porto Editora [ Links ]
- Erikson, EH. 1987. “Juventude, Identidade e crise”. 2a.ed. Guanabara
- Kovacs, ACTB. 2001 “Trabalhando as necessidades especiais de crianças e jovens diabéticos”. Dissertação (Mestrado em Educação Especial) Universidade Federal de São Carlos-São Paulo/Brasil
- SBD – SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. 1997. “Consenso Brasileiro de Conceito e Condutas para o Diabetes Mellitus”. São Paulo/Brasil
- Santos, JR.2001.”Adolescentes com Diabetes Mellitus tipo 1: seu cotidiano e enfrentamento da doença”. Dissertação (Mestrado em Psicologia) Faculdade de psicologia, Universidade Federal do Espírito Santo.
- Setian, et. al. 1995. “Diabetes Mellitus na criança e no adolescente encarando o desafio”. 1a.ed. Sarvier
- Vieira, MA. 2001. “Doença crônica: vivencias de criança e adolescentes” Dissertação (Mestrado em Enfermagem) Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo-Brasil