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Psicologia para América Latina

 ISSN 1870-350X

     

 

ANÁLISIS Y CONSTRUCCIONES TEÓRICAS EN PSICOLOGÍA

 

Subjetividades contemporâneas – uma reflexão a partir da modernidade e pós-modernidade

 

 

André Félix; André Santos; Anna Cristina; Carina Elizabeth Velozo Schmiedecke; Débora Pláton; Fernanda Cunha; Liege; Mariah Ribeiro; Natalia Pereda; Selene Aparecida Moura Schiavo; Waleska Martins

Faculdade de Psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, SP. Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMEN

El extracto para el sicoanálisis, subjetividad humana se abarca de ego, de la identificación y del superego. Sus ayudas de la comprensión para clarificar la inconsciencia y por lo tanto para asistir a hombres en ocuparse de sus anguishes. Se inserta Subjectivism es establecido por la sociedad y por lo tanto relacionado con la cultura dentro de él. Psicanalysis fue creado en la sociedad de industrial/modern. Debido a dos guerras mundiales la sociedad decidía dar para arriba la libertad para la seguridad. El "superego cultural" inhibió a agresividad humana, y a hombres forzados para internar sus sensaciones. Por lo tanto el malestar de la sociedad moderna fue causado por la represión (sobre todo represión sexual). Hoy en día, la fragmentación de la información caracteriza a la sociedad de post-industrial/post-modern el exceso y. La seguridad se negocia para la felicidad. la sociedad Poste-moderna es hedonista e imagetical. Por lo tanto, el malestar poste-moderno es causado por la represión impuesta por estándares de los medios. Hay un desequilibrio claro entre los componentes psíquicos del uno mismo, particularmente la "identificación". Por lo tanto el sicoanálisis sigue siendo un instrumento importante para hacer frente al anguish de hombres poste-modernos.

Palabras Clave: Subjetividad Humana, Modernity, Poste-modernity.


RESUMO

Conforme a teoria psicanalítica, a subjetividade humana se compõe de instâncias psíquicas, a saber, ego, id e superego. Sua compreensão ajuda a elucidar o inconsciente e assim, ajudar o indivíduo em suas angústias. A subjetividade é instituída socialmente e, portanto, está relacionada à cultura na qual se insere. A psicanálise surge na sociedade industrial/modernista. Por conta de duas guerras mundiais, a sociedade preferiu trocar sua liberdade por segurança. O “superego cultural” inibia a agressividade humana, obrigando o homem a internalizar seus sentimentos. O mal-estar da modernidade era causado pela repressão (sobretudo sexual). Atualmente, a sociedade pós- industrial /pós- moderna se caracteriza pelo excesso e fragmentação da informação. Troca-se a segurança pela felicidade. A sociedade pós - moderna é hedonista( prazer imediato) e imagética. O mal-estar dessa sociedade provém da repressão imposta pêlos padrões da mídia. Há um claro desequilíbrio entre as instâncias psíquicas do subjetivismo, sobretudo o “id”. Por isso a psicanálise continua sendo importante instrumento de auxílio no combate à angústia do homem pós- moderno.

Palavras-chave: Subjetividade Humana, Modernidade, Pós-modernidade.


ABSTRACT

For psychoanalysis, human subjectivity is comprised of ego, id and superego. Its understanding helps to clarify the unconsciousness and therefore assist men in dealing with its anguishes. Subjectivism is established by the society and therefore is related to the culture within it is inserted. Psicanalysis was created in the industrial/modern society. Because of two world wars the society decided to give up liberty for security. The “cultural superego” inhibited human aggressiveness, and forced men to internalize their feelings. Therefore modern society’s unrest was caused by repression (mostly sexual repression). Nowadays, post-industrial/post-modern society is characterized by the excess and fragmentation of information. Security is traded for happiness. Post-modern society is hedonist and imagetical. Therefore, post-modern unrest is caused by repression imposed by media standards. There is a clear unbalance among the psychic components of the self, particularly the “id”. Hence psychoanalysis remains an important instrument to face the anguish of post-modern men.

Keywords: Human Subjectivity, Modernity, Post-modernity.


 

 

Introdução

Pretendemos neste trabalho, proporcionar uma reflexão crítica à cerca da inserção do indivíduo na sociedade atual, bem como dos efeitos desta na construção da subjetividade contemporânea; tendo como dispositivos de análises, filósofos e teóricos modernos (Focault, Deleuze, Bauman)e a Psicanálise (Freud 1930).

O trabalho possui como objetivo específico identificar traços da subjetividade na Modernidade e na Pós -modernidade, através da arte. A fim de que tal análise seja possível, usufruiremos a obra modernista de Tarsila do Amaral e da Pós-moderna de Homero Brito.

O referente estudo é importante para o curso de Psicologia, pois a subjetividade é um objeto de estudo privilegiado para a esta ciência e fundamental para o acompanhamento da cultura e do indivíduo e conseqüentemente para todas as áreas da Psicologia de disciplinas afins.

O referido projeto possui caráter bibliográfico, portanto para a elaboração do mesmo se fez necessário uma pesquisa amiúde de diversas referências bibliográficas e uma investigação referente as obras modernistas e pós- modernistas, especificamente sendo essas da artista Tarsila do Amaral e de Homero Brito.

Como embasamento teórico, será utilizada a teoria psicanalítica, uma vez que a mesma pode contribuir para a compreensão do fenômeno humano de uma única maneira: aprofundando o seu ângulo próprio de apreensão, insistindo em buscar, por trás do consciente e do imediato, os aspetos inconscientes e as forças psíquicas [pulsões] que envolvem e os determinam (MEZAN, 1997).

 

Revisão Teórica

Inicialmente falaremos sobre Mezan (1997) e seu texto sobre "Subjetividades contemporâneas", procurando explicar a subjetividade no âmbito psicanalítico, sem deixar de lado outros fatores importantes que influenciam a subjetividade do índivíduo como: culturais, sociais, biológico e contextual que influenciam na construção da subjetividade, no qual propõe duas maneiras diferentes para entender a subjetividade: da experiência em si e condensação de uma série de determinações (no qual a subjetividade sendo processos que começam antes dela e vão além). Contudo, a subjetividade como estrutura e como experiência vai depender do lugar social que o indivíduo ocupa, portanto o afeto e a emoção são culturais, a forma como eu vou lidar com a morte, por exemplo, é cultural e essa emoção é subjetiva e consciente. Como a subjetividade é instituída socialmente, precisamos conhecer a cultura a qual está inserida.

Conforme Mezan através dos processos de identificação que o sujeito se organiza, se comporta, ele introjeta os padrões próprios de sua cultura, sendo que existe dentro da subjetividade três planos distintos, o singular que é somente meu o que diz respeito as minhas identificações, o universal é o que compartilhamos com todos os indivíduos e o particular o qual compartilho com alguns não com todos.

Segundo à psicanálise, a subjetividade parte para além da consciência e da experiência em si, fazendo um contraste a partir dos sintomas, defesas,transferências e as pulsões; ela vem para elucidar as partes inconscientes para uma maior compreensão de como o indivíduo incorpora, introjeta e absorve do grupo onde pertence. A psicanálise não busca apenas uma universalidade do inconsciente, pois se isso se constituísse todas as culturas e sociedades teriam o mesmo padrão de leitura. Podemos dizer que o ego, id e superego são instâncias psíquicas que constituem a subjetividade, sendo que o ego está relacionado com o simbólico e constitui a imagem relacionada ao narcisismo.Para que o individuo não adoeça e se mantenha saudável é preciso que haja identificações razoavelmente estáveis.

Alertando sempre para as diferenças individuais. Pois cada um é um.

Como um estudo da subjetividade contemporânea, do cotidiano, implica, necessariamente a contextualização cultural,tentaremos rever os conceitos e distinções entre modernidade e pós-modernidade observando assim as diferenças sociais e modos de subjetivação dos individuos referentes as referidas épocas. Faremos essa análise a partir de Santos (1986)que considera que o pós- moderno se iniciou em 1950 ,devido às mudanças e aos avanços na tecnologia e na ciência. Tais mudanças repercutiram uma alteração social e individual, ocasionando um desreferencialização do real e desubstancialização do sujeito, ou seja, o referente (a realidade) é simulado por uma realidade falseada fazendo com que preferimos a imagem à ao objeto real, e o indivíduo decorrente disto se depara com sentimento de vazio, pois a personalização se consiste através da aparência, exacerbando um narcisismo, onde a imagem é super valorizada.

Segundo o autor estamos na era do "hiper-realismo", onde o real devido à tecnologia computadorizada é intensificado na forma, na cor, no tamanho, se tornando mais embelezado e interessante que o próprio real, por isso no pós-modernismo preferimos mais a imagem do que ao objeto caracterizado por um individualismo exacerbado e um indivíduo de caráter hedonista, ou seja, a busca de um prazer individual e imediato, o pós-modernismo satura o cotidiano do indivíduo com uma enxurrada de informações, desfazendo e criando, manipulando e pregando uma falsa liberdade onde princípios regras, valores, práticas e a própria realidade criam no sujeito uma expectativa falseada e frustrante.

A partir do cenário um pouco pessimista Santos (1986), faz uma dicotomia entre a sociedade industrial/modernismo e pós-industrial/ pós-modernismo sob o âmbito da arte. Partindo da idéia de que a arte moderna vinha de um movimento que visava a quebra dos padrões anteriores tradicionais e a busca de uma representação realista da realidade, trazendo a liberdade e a irracionalidade de interpretação, a expressão das sensações próprias, as experimentações, as distinções das visões subjetivas, a garantia da individualidade, o hermetismo e o formalismo, o impulso criador entre outras características próprias a arte moderna vê na arte pop, pós-moderna , que encontra as sociedades de massa , a sua antiarte , com a qual esta se desloca dos museus para a vida cotidiana, para os signos e objetos de massa, para a banalidade cotidiana, singularização do banal, banalização do singular, para a vida pós-moderna do público/ da massa , onde não se quer representar nem interpretar, onde se encontra a desestetização (pondo fim a beleza, forma, eternidade da arte) e a desdefinição (utilização de materiais não artísticos), trocando, assim toda a arte abstrata, difícil, crítica, modernista pela figuração acessível dos objetos e imagens de massa. Agregando, dessa forma, a pós-modernidade como a busca do ZERO PATAFÌSICO (oposto às soluções sérias, patafísicas), onde em tudo se agrega e se dilui, como a vida cotidiana, a propaganda, a literatura, o cinema, a TV.

Ele faz uma clara distinção entre a arte moderna e Pós-moderna. A Modernidade é de uma sociedade Industrial, apresenta a Arte Moderna; enquanto que a Pós-modernidade é de uma sociedade pós Industrial, apresentando a Anti-arte. No Modernismo os movimentos são manifestos futuristas, sendo um não ao passado, ocorre uma revolta contra o convencionalismo na arte, há uma busca de Experimentação com a invenção de destruir a estética tradicional. Há uma quebra do universo racional, aparece o Cubismo, Futurismo, Picasso. O Modernismo é a crise da representação realista do mundo e do sujeito na arte. O sujeito passa a interpretar livremente a realidade, tem uma visão particular. A arte liberta-se das formas e usa curvas, assimetria, deformação, o grotesco. Vem uma linguagem nova, uma forma nova, o Hermetismo e o Formalismo (deformando o real criando novas formas, torna-se auto-referencializada, exemplo: Picasso). Aparecem os vanguardistas, as emoções transformam-se novas visões subjetivas; os surrealistas dão vida ao sonho com humor ou terror. Na poesia há quebra de sintaxe; no Romance se desce nas camadas mais profundas da mente para desvendar segredos e dissolver o tempo, personagens e enredo. Na música aparecem harmonias dissonantes. Na arquitetura há uma racionalidade Funcional. é uma arte irracional, Emotiva e Humanista.

Conforme o autor, como contraponto aparece no Pós-Modernismo, nos anos 50, a Arte Pop, a Anti-arte. Como todo hermetismo e subjetivismo, aparece nas ruas, nas massas publicidades anúncios, propagandas, fotos, rótulos de garrafas, sendo a banalidade cotidiana a nova arte. é a fusão da arte com a vida; onde esta Anti-arte representa: a vida diretamente em seus objetos, a desestatização, desdefinição da arte, há um fim da beleza, da forma, do valor supremo, se abandona o óleo, o bronze, apelando para materiais não artísticos: plástico, papelão, areia, etc.

O cotidiano se acha estetizado pelo "design" objetos em série são signos digitalizados e estilizados para a escolha do consumidor. Esta Anti- arte trabalha sobre ilustradores de revistas, publicitários. é uma ponte entre a Arte Culta e a Arte de Massa, exemplo: Andy Warhol. Há uma singularização banal ou uma banalização singular. Presença do Dadaísmo, que é o brincar com os objetos no caos cotidiano; onde o importante é o gesto, o processo inventivo e não a obra. A Anti-arte é participação, publico reagindo pelo envolvimento sensorial, corporal. é o mundo POP, minimalista, onde se apóia nos objetos, na matéria, no momento, no risco, sendo frívolo, pouco crítico, não apontando nenhum valor para o futuro do homem, é agora. Há uma tendência ao niilismo, ou seja, zerar a própria arte, onde se negam os valores da realidade ou possibilidade de conhecê-la.

Na literatura há uma destruição do romance, se quer o pastiche, a paródia, o uso de formas gastas, aparece a metaficção americana; onde não é para se ac acreditar no que está sendo dito, sendo um jogo com a própria literatura. Há uma desdefinição do romance, a narrativa é grotesca, escabrosa, aproximando o homem da sua natureza animal de maneira cômica.

Percebe-se que com a pós-modernidade surge um novo estilo de vida que influencia gostos e atitudes dos indivíduos de uma forma geral. Os avanços tecnológicos e uma busca exacerbada do prazer potencializa o "neo-individualismo" dando ênfase aos aspectos mais preponderantes do narcisismo.

Essa atual conjuntura proposta e exacerbada pelo neoliberalismo prega ao indivíduo uma criação de identidade pautada no consumo, transformando tudo e todos em mercadorias que podem ser consumidas, coagindo o indivíduo ao consumo. Esse individualismo exacerbado faz com que o indivíduo comece a deixar de lado assuntos de interesse públicos e sociais.

O consumo por si só não mantém a engrenagem do capitalismo fazendo com que seja necessário fazer com que os indivíduos retome antigos valores tradicionais que facilitam o processo de controle social.Não só o indivíduo sofre mudanças, mas a massa também assume uma postura bastante diferente. Com a pós-modernidade a massa perde sua concretude, passando por uma "deserção social" que passa pelo campo da História, Política, Ideologia, do trabalho, da família e da religião, valores estes que foram construídos até a modernidade. Santos define a massa pós-moderna como "ultrafragmentada", indivíduos cheios de informação mas isolados em seus mundos.

Outra característica da pós-modernidade é transformar a realidade em signo, ou seja o real se transformando em virtual e uma preferência pelo virtual negando a realidade. Esse atual indivíduo, que deseja uma busca satisfação a curto prazo e que sofre de uma apatia desenvolta adquire um "identidade sincrética", do mesmo modo que o capitalismo avançado assume uma forma multinacional.

O autor ainda afirma que o pós-modernismo surge com o "boom" da bomba atômica, mas historicamente ele se inicia em torno de 1955, na sociedade industrial que produz artigos padronizados com o objetivo de se expandir. Houve uma automação da produção Industrial, que resultou na segunda revolução industrial.

Na sociedade da segunda revolução industrial passou a se consumir serviços e não mais bens materiais como na primeira revolução. Necessitando de um sistema de informação dando entrada na era do Bit (0/1= numero binário), logo o "boom", o expandir se transforma em Bit, gerando sociedades programadas.Com esta aceleração de informações a sociedade saiu do real, do Bit, e passa para o "blip", ou seja, uma sociedade em que o indivíduo é metralhado por informações fragmentadas ou retalhadas. Neste ambiente repleto de estímulos desordenados, a mensagem passada ao indivíduo é a de "não se reprima", não se frustre, libere seus desejos.O pós-moderno na nova sociedade não possui um centro ele se pulveriza na massa de consumidores isolados e com interesses diferentes. Estes absorvem a qualquer cultura e a qualquer ideal.

Por fim, Santos (1986) conclui o livro analisando toda esta influencia e mudança extrema da base moderna na condição humana e caracteriza a pós-modernidade como um ambiente cujo qual cotidiano é marcado pela tecnociência, bens e serviços para o individuo consumir, com uma falsa busca pela libertação e personalização, onde se visa reproduzir os modelos gerados pela publicidade e pelos mass media; perdendo o que se caracteriza como moderno como a luta de classes, a critica, a política, a tensão, entre outras, além da fragmentação e da dificuldade de sentir e representar o mundo em que vive e si mesmo, gerando assim, a irrealidade, o vazio e a confusão, tanto de papéis, como de valores, ideais, culturas, identidades, pensamentos, características próprias e grupais, coletivas, garantindo o ZERO DA REPRESENTAçâO, sem rumo, com fragmentos e fragilidades no âmbito individual essencial e mundial básico, no qual se faz no homem uma busca incessante de uma vivência que o complete e o garanta como indivíduo, ser humano presente no mundo que o rege.

Deleuze (1990) em seu texto "Sobre as Sociedades de Controle", mostra como se deu a evolução histórica das sociedades no âmbito da organização político ideológico de controle social.

Inicialmente o autor explica a idéia de Foucault sobre "sociedades disciplinares"- contexto dos séculos XVIII e XIX, que garantiam os grandes meios de confinamento e um projeto ideal, ou seja, uma forma concreta de políticas publicas de disciplina social, que apareciam principalmente na fábrica como : concentrar, distribuir espaço, ordenar tempo e compor no espaço- tempo uma força produtiva - e sobre "sociedades de controle", que com a crise generalizada de todos os meios de confinamento surge, sem moldes e com modulações; sem fábrica e com empresa; sem massa resistente e com rivalidade; sem recomeço e sem fim, sem poder massificante e indivíduante e com poder na base da produção e unicamente do indivíduo consumista, sem maquinas simples e com maquinas de informática, computadores; sem produção e com sobre-produção, serviço e produto, ou seja, entra no rol de políticas publicas uma nova metodologia de coerção social, onde tanto o individuo como a massa-individuo se perdem; vindo, assim a trazer o paradigma político ideológico da atualidade.

Dessa forma a mudança de uma "sociedade de disciplina", onde não se para de recomeçar, para uma "sociedade de controle", onde não se termina nunca, só aconteceu devido ao capitalismo, onde este, no século XIX, se voltava para a produção do produto e hoje se encontra adaptado à produção de necessidades e a venda de serviços.

Eis que então o homem, despolitizado e alienado se mantém endividado, não pelo dinheiro, mas por sua não constituição e enquadramento no ideal consumidor ao qual o marketing impõe sobre os indivíduos que se mantém e garantem esta "sociedade de controle", que se garante a partir do novo paradigma de controle social com base na estrutura capitalista.

De acordo com o colóquio Foucault-Deleuze (Unicamp, 2000) sobre as mudanças nas formas e no modo de viver político da nova ordem mundial imposta pelo capitalismo renovado pontua a necessidade de uma reflexão acerca da nova sociedade que está se formando, com base nas idéias de sociedade disciplinar de Foucault e sociedade de controle de Deleuze, no qual nos encontramos. Questionando assim o papel da mídia, que ajuda no processo de dominação e de imposição do capitalismo, das "verdades absolutas", no qual as pessoas são cada vez mais tomadas pelo consumo, em todos os âmbitos, da arte até a cultura.Nas escolas as transformações também ocorreram, desde de sua mudança de papel até o reforço do controle, garantia da formação técnica, do serviço, do consumo, da falta de reação e de critica.A agregação do capitalismo na cultura transformou esta em produto, ao qual deste é extraído a essência e incorporado o clonado, esteriotipado, clichê, garantindo o consumo que influi na identidade destes indivíduos.

A nova ordem de sociedade de controle garante ambigüidades, falta de resistência as regras impostas; estruturação de subjetividades semelhantes para serem reproduzidas de forma separada de sua relação com a vida, com a práxis, com a reflexão e a ação e reprodução de comportamentos, manifestações e cultura em grande escala.Mas para que todo este processo se converta é necessário abrir novos pensamentos, trazer consciência aos indivíduos, a práxis, a ação, a atuação que gera um grande sofrimento na busca da verdade sobre si, no qual o poder da megaindústria junto a publicidade alienante nos impede desta dor e nos remetem ao novo tipo de comportamento na sociedade onde o prazer infinito não garante a frustração, a dor, o sofrimento, e nos remete a alienação. Contudo, a publicidade ganha força, a política se esvazia, e no lugar aonde se exercia a cidadania, a participação política é visto como algo negativo, no qual a mídia impõe estas verdades contribuindo desta forma para uma comunicação inquestionável e uma alienação impregnante.

Acerca do controle afetivo-sexual recorremos à autora Marilena Chauí (1984), que aborda sob o enfoque psicanalítico da regressão, iniciando pela a temática Edipiana que se configura sob quatro ângulos, a saber: dos helenistas, com seu contexto histórico; segundo as leituras psicanalíticas de Sigmund Freud e a de Helio Pellegrino e sob a leitura antropológica de Lévi-Strauss.

Desde a retrospectiva clássica, o ciclo poético Tebano –assim chamado por ser Tebas a polis onde tiveram lugar os imaginários fatos em torno á mítica figura de édipo– engloba a temática Edípica, "Edipo Rei" de Sófocles. Esta retrospectiva "confronta e questiona passado e presente, o mundo humano e a ordem divina, as idéias de destino e responsabilidade, força e justiça, e as tensões entre as varias formas de autoridade". Aparece aqui a dupla dimensão histórica na tragédia: uma questão política e uma questão religiosa. Não entanto, o que a autora quer ressaltar do mito de Sófocles é a ótica psicanalítica.

A psicanálise Freudiana fez uma leitura da saga de édipo e aí construiu seu epicentro da teoria das neuroses: o Complexo de édipo. A convergência de argumentos central da saga esta constituída pelos temas socialmente proibidos de exposição: incesto e parricídio. Aqui Chauí faz um exame minucioso da teoria freudiana analisando conceitos básicos que dizem respeito ao Sistema Nuclear ou Complexo de édipo, tais como: relação triangular, libido e princípios (Principio do Prazer e Principio da Realidade, Eros e Thanatos), entre outros.

A leitura de Pellegrino que a autora destaca reside no fato deste psicanalista considerar e situar a tragédia antes da fase fálica como Freud considera, em sintonia com a posição teórica de Melanie Klein, que situa o aparecimento do Complexo de édipo na criança já na fase oral.

Para o antropólogo Claude Lévi-Strauss a repressão do incesto constitui o fator que articula a passagem desde a natureza para a cultura. Este autor se interessa pela estrutura do mito, pelas relações que o constituem.

Logo a seguir a autora comenta um pouco sobre o conceito de Repressão sexual, como um mecanismo de defesa inconsciente que tende a fazer desaparecer da consciência um conteúdo desagradável ou inoportuno, seja idéia, afeto, etc. Neste sentido, o recalque é uma modalidade especial de repressão.

Já Bauman (1998), ao escrever sobre a redistribuição pós-moderna do sexo começa fazendo uma leitura sobre a representação social da criança, e como esta em seu desenvolvimento histórico foi adquirindo uma nova representação social pautada na revolução educacional. A criança a princípio não era diferenciada do adulto, era considerado um adulto pequeno. Porém essa concepção começou a mudar no século SVI, quando a educação infantil começou a tomar espaço na sociedade. Essa preocupação com a educação das crianças mudou não só as práticas pedagógicas adotadas na aprendizagem infantil como também, mudou a forma do tratamento dos pais para com os filhos, além de influenciar na dinâmica estrutural familiar desde de sua distribuição social no espaço até no interjogo da subjetividade, com também influenciou no percurso da subjetividade da criança. Toda essa reorganização da estrutura familiar trouxe uma remodelação em diversos segmentos das relações sociais. Bauman concentra sua leitura sobre a redefinição do sexo e das práticas sexuais dentro da família, onde se começou a princípio exercer um controle para se reprimir a masturbação infantil. Com a mudança da representação do sexo dentro da família, acarretou na mudança da representação social do sexo.

Bauman (1998) citou que esses períodos de onde ocorreram mudanças da representação social do sexo formam momentos de revolução social do sexo, onde apresentou duas Revoluções sexuais. Na primeira revolução sexual o sexo foi convertido em um "material de construção das estruturas sociais duráveis e extensões capilares do sistema global de construção da ordem" (p. 183) e no segundo momento esse processo muda para uma redução em andamento, onde se perde a importância da preservação das relações e passa-se para uma relatividade pessoal do sexo e que o individuo se preocupa mais com a quantidade de experiências sexuais (ato) do que com a qualidade.Esse contexto da sexualidade pós-moderna vem ao jogo de interesse que o indivíduo pós-moderno apresenta a sexualidade também se transforma em um produto de mercado, perdendo assim o seu caráter da afetividade na relação sexual.

Conforme o autor toda essa perversão do caráter sexual nas relações humanas gerou um definhamento de suas relações sociais em todos os estratos da. Esfera social, desde as relações mais tênues do convívio familiar (pais e filhos) até relações de amigos, vizinhos e colegas de trabalho. Essa "a separação atual do sexo das outras relações interhumanas permite-lhe ser submetido, sem restrição, aos critérios estéticos da experiência" (p. 189) e assim reduzindo a possibilidade do simbólico nas relações inter–humanas.

Avançando no sentido de uma reflexão acerca dos efeitos da cultura na constituição da subjetividade, sob a ótica psicanalítica, recorremos inicialmente à obra de Freud que contextualizada na Modernidade, a partir do historiador Peter Gay e finalmente a Freud (1930) no tocante ao conceito "superego cultural" (cap8). Conforme Peter Gay (1989) descreveu, para Sigmund Freud a cultura era sumariamente infeliz: nossos corpos adoecem, envelhecem, morrem; estamos sempre ameaçados pelas intempéries da natureza exterior e, portanto, procuramos diversões que nos distraiam da dor, movidos pelo princípio do prazer. Em sua, O Mal-estar na civilização (1930), Freud desenvolve uma abordagem hobbesiana da civilização. O homem freudiano é atravessado por necessidades inconscientes e por ambivalência (amor e ódio), além de atos de tirania e sentimentos de culpa. A vida em sociedade, de acordo com Freud, era um compromisso imposto, resultado de um contrato. A cultura seria o reflexo em grande escala dos conflitos dinâmicos individuais e do grande dilema humano: os homens não vivem sem civilização, mas não são felizes nelas. Parte do pensamento de Freud advém do contexto em que vivia, circundado por regimes totalitários, após atravessar a Primeira Guerra Mundial que lhe foi penosa, inclusive profissionalmente, vivendo em uma Europa ameaçada por grupos anti-semitas que surgiam rapidamente e vendo sua áustria mergulhar na miséria.

Além de questionar a filosofia cristã, alegando que o apelo do amor cristão nada mais é do que uma defesa contra a agressividade e a crueldade humana, Freud atribui ao homem tendências agressivas, desmistificando a visão de um homem meigo e amável, para tanto relatou os horrores da Primeira Guerra.

A agressividade em si também é fonte de prazer, sendo que os seres humanos a negam após tê-la experimentado, a agressividade é o complemento do amor, como também o ódio é conveniente ao narcisismo, pois os homens têm prazer em perseguir ou ridicularizar seus vizinhos, citando guerras que estavam ocorrendo na época, como por exemplo, a perseguição aos judeus. A agressividade visível é a manifestação exterior da pulsão de morte e o mal – estar da civilização está no fato de ser tão difícil viver feliz na civilização, pois ela impõe grandes sacrifícios às tendências agressivas e a sexualidade humana.

O que Freud (1930) denominou de "superego cultural" está no fato em que a cultura inibe a agressão própria e instintiva do homem, fazendo com que o mesmo internalize os seus sentimentos agressivos de volta para a mente de onde se originaram. Portanto, a luta entre o amor e o ódio se encontra na fundação do superego, e esse desenvolvimento psicológico do indivíduo se reproduz através do histórico social, ressaltando que culturas inteiras podem ser carregadas de culpas.

Os sentimentos de culpa principalmente os de origem inconscientes são uma forma de angústia, e Freud defendeu a sua idéia de quem nem toda experiência surge do mundo exterior, pois é a constituição inata, inclusive a herança filogenética de uma pessoa que contribuem para o complexo de édipo e a partir daí para a formação do superego que terá relação com a cultura.

Freud (1930) em o "mal-estar da civilização" define sobre o sentimento de culpa, sendo algo que vem da relação com a autoridade, com o superego, com a punição, com a reparação consciente ou inconsciente e com a pulsão de morte. Dessa forma este sentimento de culpa pode ser consciente, quando o individuo rompe com o pacto social, com as regras sociais no ato, o que a ele gera o remorso e inconsciente quando o individuo se sente culpado sem saber, sem um ato concreto, às vezes só na intenção. Outro aspecto citado do sentimento de culpa é que este tem relação com o sintoma e que acaba por ter ligação direta com o superego tanto individual (leis internas, autoridade interna X externa) quando cultural externo e introjetado (anterior ao individuo); levando, assim este sintoma como uma reparação inconsciente.Sendo assim, este sentimento de culpa tem influencia da Pulsão de Morte frente ao objeto, desenvolvendo uma agressividade ao objeto.

Dessa maneira, o "superego cultural" se forma com as instituições, interdição, controle, leis/regras para o bom convívio social e gera os sintomas na cultura, nos indivíduos inibindo a canalização da agressividade voltando esta contra o ego, contra a libido do indivíduo.Contudo, se faz necessário um equilíbrio das pulsões, levando a integração de um ego sadio e um equilíbrio das instancias psíquicas, o que leva a um convívio social positivo por mais que a vida nos leve a luta continua entre Eros e a Pulsão de Morte.

Chegamos enfim a reflexão da subjetividade pós-moderna.De acordo Bauman (1997) na introdução de seu livro "O mal-estar da Pós-modernidade", os aspectos abordados por Freud (1930) em o "O mal-estar da civilização", relacionados à limpeza, harmonia e ordem,projetos ideológicos que eram cultivados, que fez com que a sociedade moderna impusesse grandes sacrifícios aos instintos sexuais e de agressividade dos indivíduos, no qual, segundo Freud, o princípio do prazer se restringiu ao princípio da realidade, que ocorreu devido ao fato do homem moderno "trocar suas possibilidades de felicidade por um quinhão de segurança" (1997:8). Dentro desse contexto, motivado pelo excesso de ordem, controle, repressão e a escassez de liberdade que gerou os mal-estares da modernidade.

No entanto, no contexto atual, os ideais de limpeza, harmonia e ordem, passaram de um projeto social para um projeto individual, onde o dilema se da troca de felicidade por segurança se inverteu, o que segundo Bauman (1997), a sociedade pós-moderna trocou a sua possibilidade de segurança por um "quinhão de felicidade".

Conforme Bauman(1997) esse novo contexto muda a causalidades dos mal-estares, onde na "modernidade provinham de uma espécie de segurança que tolerava uma liberdade pequena demais na busca de uma felicidade individual" (1997:10), e na pós-modernidade provem "de procura do prazer que tolera uma segurança individual pequena demais" (1997:10).Ele reflete sobre os mal-estares tanto da modernidade quanto da pós-modernidade, chamando a atenção para uma necessidade de equilíbrio, para que o indivíduo consiga viver em liberdade, onde afirma que "liberdade sem segurança não assegura, mas firmemente uma provisão de felicidade do que segurança sem liberdade" (1997; 10).

Mezan (2000), após fazer uma análise dos aspectos que Freud mencionava sobre o que gerava o mal-estar na modernidade, - no qual atribuía a repressão sexual imposta pela sociedade como o principal desencadeante dos mal-estares -, busca trazer essa reflexão para a sociedade atual, procurando encontrar possíveis mecanismos sociais que desencadeiam o mal-estar atual.

Feito essa análise, ele questiona se setenta anos depois, a leitura da sociedade feita por Freud ainda se sustenta, chegando a conclusão que em parte sim e em parte não.No que se refere ao sim, sustenta que "a repressão social não foi eliminada" (2000:209), ela apenas se modificou as formas de controle social, contudo tem que se alertar que houve mudanças políticos, econômicas e sociais que por sua vez mudaram as formas de comportamentos sociais, implicando assim um novo contexto social.

Quanto ao não, apesar dessas mudanças, "o mal-estar não desapareceu: apenas assumiu novas formas".(2000:209), o mal estar atual "se manifesta através de fenômenos como stress, depressão episódios psicossomáticos, adição a drogas ou mesmo delinqüência".(2000:210), essa angústia pode ser expressa, segundo Mezan, pela sensação de desorientação e desamparo diante da vida, que gera no indivíduo em uma sociedade pós-moderna um vazio, que se tem como manifestação mais comum à depressão, que influência na forma como um indivíduo estrutura sua subjetividade.

Mezan (2000) diz que diante dessa situação o indivíduo se vê com sua subjetividade mais fragmentada, gerada por essa sensação de vazio, e encontra na sociedade apelos ao consumo desmedido com modelos identificatórios impostos pela mídia que o indivíduo não consegue atingir, faz com que se tenha essa sensação de impotência.Por fim, ao analisar a situação atual da sociedade e seu mal-estar, Mezan acredita que a psicanálise é a ferramenta que pode ajudar na compreensão das circunstâncias atuais que afetam os indivíduos, buscando caminhos para a superação, "embora precariamente, da alienação e do vazio" (2000:210).

 

Movimento Modernista

O movimento da arte Moderna, semana de evento de 1922 que apresenta uma renovação de linguagem, a busca de experimentação, a liberdade criadora e a ruptura com o passado.

Oswald de Andrade, poeta, romancista e dramaturgo, nasceu em São Paulo em 1890, estudou direito na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Em 1912, viaja para Europa. Em Paris, entra em contato com o Futurismo e com a boemia estudantil.De volta ao Brasil faz jornalismo literário e divulga informações futuristas através da imprensa, a necessidade de renovar o estilo da arte brasileira propiciando mudanças urbanas e da mentalidade da época.

Oswald escreveu uma poesia que foi ridicularizada pelos amigos, pois naquela época a arte não tinha por finalidade discutir a realidade, o título da poesia era " O último passeio de um tuberculoso pela cidade de bonde".

Outro artista à contribuir para a formação do modernismo brasileiro foi o pintor Lasar Segall, que trouxe para São Paulo idéias sobre o Expressionismo Alemão, uma arte que deformava as imagens, privilegiando a representação material e psicológica. A primeira exposição modernista foi realizada em 1913, onde Segall foi recebido com uma fria polidez. Desanimado voltou para Alemanha, retornando ao Brasil só dez anos depois quando a aceitação do movimento estava mais a favor.

Chega ao Brasil em 1914 Anita Malfatti que como Lasar Segall traz novidades sobre o Expressionismo.

Em 1917 o Brasil passa por intensas turbulências internas como as greves lideradas por operários anarquistas. Nesse momento Anita resolve fazer sua exposição, alguns de seus quadros foram vendidos,porem a maioria do público ficou chocado e críticas acirradas e ataques feitos por Monteiro Lobato causaram uma reviravolta.

Esses ataques feitos a Anita fizeram com que os modernistas se mobilizassem e se unissem, impulsionando-os a lutar ferozmente por uma renovação artística se aliando a eles Vitor Brecheret que retorna ao Brasil em 1919 que veio para trazer a maquete do Monumento as Bandeiras que tinha feito por ocasião dos preparativos ao Centenário da Independência.

A semana de arte moderna foi realizada no Teatro Municipal de São Paulo, em 1922 por artistas e intelectuais que queriam arejar o quadro mental daquela sociedade, dando fim a postura hipócrita e a mania de falar difícil e não dizer nada, além de trazer uma modernização de uma cultura atrasada e tradicionalista, acabar com o mimetismo mental e denunciar o atraso, a miséria e o subdesenvolvimento.

Denunciando com uma linguagem, moderna, coloquial aproveitando o arsenal estilístico e estético das inovações da vanguarda européia.

Neste ano o país comemorava o Centenário da Independência e os jovens modernistas pretendiam redescobrir o Brasil, libertando-o das amarras que prendiam aos padrões estrangeiros. Um movimento pela Independência artística.Trazendo muita emoção para toda uma geração que vivenciou o desenvolvimento do estado de São Paulo.

O tema da semana de arte moderna foi a Antropofagia, pois para se ter uma modificação era preciso entrar em contato com as técnicas literárias e visões de mundo futuristas do dadaísmo, expressionismo, cubismo e do surrealismo, que formavam a vanguarda européia, para a partir daí criar um novo estilo. A produção da arte brasileira, afinada com as tendências vanguardistas da Europa, sem, contudo perder o caráter nacional, era a grande aspiração da semana.

Para Oswald e Tarsila do Amaral, artista plástica com quem se casara em 1926 e que foram responsáveis pelo lançamento da Antropofagia, acreditavam que a renovação da arte brasileira nasceria da retomada dos valores indígenas.

A civilização e arte européia não deveria ser rejeitadas, mas sim absorvida e superada, a antropofagia é o símbolo desta tese: o europeu devia ser devorado.

 

Tarsila do Amaral

Uma inadvertida operação antropofágica estava presente já em "A negra", trabalho-chave de Tarsila do Amaral realizado em 1923, destacando-se em meio a uma serie de estudos que haviam absorvido a artista naquele ano, exercícios ortodoxos seguindo mais ou menos a risca a cartilha cubista. Pintada em Paris, era uma das raras pinturas plenamente modernas que haviam surgido ate então no ambiente cultural brasileiro, e antecipava idéias do "Manifesto antropófago" escrito por Oswald de Andrade em 1928, para não mencionar a própria produção da artista do período de 1928 a 1929, justamente conhecida como "antropofágica". Com uma ponta de maldade, A negra trazia uma iconografia irreverente, primitiva e localista, mas Tarsila, ciosa da disciplina cubista, comprimia tal iconografia num espaço ultra-raso-jž quase uma abstração geométrica como que ostensivamente incitando a denuncia de sua fonte européia. Ou como que colocando a prova a resistência da matriz formal européia para assimilar, em seu funcionamento mais interno, a injunção heterodoxa de uma particularidade nativa.

Ao contrario do que poderia sugerir o aprendizado de redução formal que a artista cumpria no mesmo ano de 1923 no atelier de Lëger, Lhote e Gleizes, naquela pintura ela de modo algum abdicara da expressividade de sua personagem, e assim a caracterizava mediante claros distintivos étnicos e sexuais, que se projetavam de maneira tão suave quanto impositiva (e mesmo desafiadora) na superfície da tela. A superfície, por sua vez, surgia como uma estrutura diagramática de planos de cor, sustentando a figura também bastante resumida sem qualquer esforço melodramático ou recurso metafórico. De resto, Tarsila dispunha o "fundo" com maliciosa ambigüidade, de maneira que seria possível percebê-lo ora como um desdobramento analítico de planos, ora como o signo cifrado de uma paisagem particular-assinalada, para que não se tivesse qualquer duvidas, por gigantesca folha de bananeira. Importa dizer que nesse trabalho a artista manipulava com involuntária ironia antropofágica tanto o critério "formais", universalistas, evidentes no arrojo construtivo dos elementos pictóricos (o espaço planar e estrutural da pintura moderna), quanto o critério "local", afetivo e particularista, do "tema" regional.

Tal combinação inusitada e aparentemente incongruente (pois a singularidade teimava o tempo todo em saltar para a superfície do quadro, contradizendo a premissa moderna da universalidade das formas) iria radicalizar-se e desembocar cinco anos mais tarde no referido "período antropofágico". Era a culminação das experiências que a artista realizara nos anos de 1924 e 1925, em sua primeira tentativa sistemática verdade que as vezes quase didática e excessivamente sentimental de aclimatação da racionalidade anima e abstrata do espaço cubista ao ambiente brasileiro, o chamado "período pau-brasil" de sua pintura. Em todo caso, pode-se dizer que também a pintura "pau-brasil" de Tarsila retratava de modo precursor o sentido essencial de um procedimento antropofágico, pois os trabalhos desse momento revelavam a mesma dimensão metalingüística de A negra, sinalizando deliberadamente, por meio das tensões entre o arranjo formal e o iconográfico, um processo de apropriação do modelo "externo", convertido assim a um ponto de vista regional, brasileiro.

Em face desse corpo-a-corpo com a dinâmica da copia e do modelo, dinâmica que o "Manifesto antropófago" não tematizaria senão alguns anos mais tarde, parecem injustos tomar a obra de Tarsila para ilustrar algo da plataforma antropofágica. A artista não apenas a anteviu em sua produção de 1924-1925, como se aventurou depois a extrair-lhe ao máximo as possibilidades emancipatórias (e a explorar-lhe as contradições) no campo objetivo da forma, vale dizer, no embate implacável com a circunstancia histórica e cultural brasileira (a pintura "antropofágica" de 1928 a c.1929). E, tendo esgotado esse projeto pictórico no limiar da década de 30, Tarsila pode não ter criado um corpo de pinturas substancial ao longo de sua vida, mas acabou por consumar uma reflexão crucial sobre a questão da heteronímia na arte brasileira.

Do mesmo modo, seria improcedente supor que a pintura "pau-brasil", que se pode muito bem considerar a primeira incursão sistemática da arte brasileira numa forma moderna, dialeticamente empenhada na superação do histórico estigma nacional da imitação, apenas repercutia as idéias do "Manifesto da poesia pau-brasil", que Oswald publicara em 1924. Ai que A negra fora produzida no ano anterior e, acima de tudo, cabe considerar que Tarsila confrontava essas questões, como se disse, enredada no campo objetivo da forma, estava arrebatada pela idéia de olhar com frescor e sem preconceitos a realidade brasileira, e muito pouco mobilizada por formulações teóricas ou especulações intelectuais.

Sua pintura, enfim, discerniu a antropofagia antes mesmo que ela fosse nomeada, conforme se viu como um procedimento poético, que parecia instaurar a própria condição de possibilidade de uma arte moderna brasileira. Mas antes de ser possível praticar a antropofagia com desenvoltura e senso estratégico, o que só se passaria nos últimos anos da década, teria de ocorrer uma reforma visual radical na arte brasileira, seria preciso retirá-la do bovarisme dezenovista e confrontá-la imediatamente com o simbolismo tecnológico e mecanicista da forma moderna. Daí o giro conceitual substantivo realizado pela arte brasileira na obra "pau-brasil" de Tarsila. De fato, foi mérito desta obra ter-nos arremessado abruptamente a uma posição de sincronia em relação à cultura metropolitana hegemônica, e com isto parecia querer desrecalcar o atávico sentimento de atraso que atravessou o pensamento brasileiro desde o primeiro momento em que ele aspirou à condição moderna.

Não haveria, entretanto, como esconder certa candura nessas pinturas do período pau-brasil, que em última instância confiavam no pulso civilizatório daquela reforma estética e no desencadeamento iminente de um processo de racionalização da paisagem brasileira3. é claro que esse otimismo explodia com certa insolência na sem-cerimônia com que Tarsila "amestiçava" o código culto, insolência que era, aliás, o que conferia graça e uma liberdade que nada tinha de doutrinária ou programática à abordagem da artista. Mas mesmo esse otimismo relativizado pela apropriação "bárbara" da forma tecnológica se exprimiria nas pinturas de uma maneira ingenuamente demonstrativa, como se a artista se empenhasse em mostrar–a um olhar culto–que a paisagem brasileira era, sim, capaz de assimilar as premissas construtivas do cubismo, como se ela se regozijasse, perante esse olhar, com a descoberta de um estranho ponto de convergência entre uma ordem construtiva clássica e a natureza brasileira dotada de formas puras e clarividentes, não corrompidas sob o peso de uma "envelhecida cultura européia".

Ao período "paus-brasil" seguiram-se dois anos de relativo refluxo produtivo, contrabalançados pelas estadias prolongadas da artista em Paris, por uma exposição individual na Galérie Percier, que exigiu dela toda uma seqüência de preparativos e, como já vinha ocorrendo desde o princípio da década, pela intensa circulação do casal Tarsila e Oswald pelo mundo artístico e intelectual parisiense. As telas desse período (por exemplo: A boneca e Manacá, ambas de 1927) não escondem o esgotamento do projeto anterior e o advento de algo novo, mais pessoal, mais livre do didatismo que marcara sua obra dos anos de 1924 a 1925, embora nesse momento de transição se manifestassem tentativas ainda bastante incipientes de elaboração de uma nova síntese iconográfica e formal. Eram pinturas que passavam a trabalhar com formas moles, que vinham dissolver o célebre pressuposto da grade cubista. Com elas, Tarsila começava a solapar a ordem construtiva, cujo aprendizado lhe custara tantos esforços e que bem ou mal lhe ensinara a acomodar o punhado de contradições inerentes a tal façanha cultural, e parecia retomar fôlego para encetar com plenitude a operação antropofágica.

A pintura "O Abaporu", como se sabe, inauguraria o segmento antropofágico da obra da artista, em 1928. A mitigada obscenidade de A negra reapareceria agora num enredo dinâmico de formas naturais, atravessados por referências fálicas, apelos tácteis e hibridismos envolvendo a combinação marota de elementos antropomórficos e vegetais. O essencialismo linear da ordem construtiva se via substituído por um desconcertante empirismo da forma, e a pedagogia da forma cubista, dominante no grupo anterior de pinturas, dava lugar a uma poética de amadurecimento e eclosão de espécies de frutos sexuais, que sagazmente ostentavam um caráter dúbio, entre o natural e o artificial. Por outro lado, com essa nova síntese do arranjo formal e de exigências de uma iconografia de forte apelo localista, Tarsila parecia ter superado as contradições do "período pau-brasil", no qual a racionalidade do espaço cubista era incessantemente flanqueada pela dimensão afetiva e particularista em que a artista mergulhava a paisagem brasileira.

Muitos tenderam a assinalar o caráter onírico e fantástico dos trabalhos do período antropofágico, numa interpretação fundamentalmente psicologizada das estripulias formais de Tarsila, interpretação que freqüentemente, aliás, acabaria por alinhá-la à escola do imaginário fantástico, a uma Frida Khalo, por exemplo, quando não aos cenários primitivos do douanier Rousseau. Entretanto, as formas naturais na pintura da artista brasileira eram essencialmente paródicas, é como se resultassem desse hibridismo quase metódico entre formas naturais e artificiais, de sorte que a relativa dose de ironia e inteligência construtiva requerida em tal procedimento deveria desaconselhar que se interpretasse essa pintura como reservatório das metáforas de um inconsciente individual.

 

Romero Britto

Romero Britto é brasileiro nascido no Recife, mudou-se para os Estados Unidos e casou-se com uma americana, com a qual tem um filho de 14 anos.

Até conhecer um executivo de uma marca de vodca, que teve a idéia de transportar suas imagens para uma peça publicitária, ele vendia suas obras na rua como o fazia no recife. Depois da publicidade ficou famoso em vários paises.

Romero Britto é o maior expoente brasileiro da POP-ART, estilo artístico que surgiu no final dos anos 50 que se baseia no reprocessamento de imagens populares e de consumo, estando intimamente ligado ao trabalho publicitário.

Romero Britto é dono de um traço quase infantil, produz pinturas a óleo explorando figuras geométricas ou figuras de sua preferência como corações ou animais, sempre com cores vivíssimas.

 

Metodologia

Para a realização deste trabalho foi utilizado uma revisão bibliográfica dos assuntos referidos: modernidade, pós-modernidade, subjetividade humana, movimento modernista, Tarsila do Amaral e Romero Britto a fim de proporcionar uma reflexão sobre subjetividade, visando trazer uma indagação mais científica e favorável a este tema tão significativo em nossa atual sociedade.

 

Conclusão

Dessa forma, observando a biografia e as obras dos dois artistas, caracterizados por suas subjetividades e particularidades, somos capazes de conseguir de forma explicita fazer diferenciações significativas de traços e perspectivas marcadas por suas épocas, caracterizando nossa reflexão, no fato de que um "superego cultural", específico de cada sociedade, atua e influi em subjetividades e atividades, garantindo e auxiliando desta forma uma compreensão a partir da elucidação do incosnciente e das instancias psíquicas, que a luz da psicanálise poderá ajudar o individuo a lidar com suas angustias.

Contudo podemos perceber que as obras produzidas por Tarsila do Amaral são marcadas por alguns traços característicos da modernidade, prevalecendo o futurismo, a negação ao passado e a interpretação livre e pessoal da realidade; enquanto que as obras de Romero Britto, influenciada por uma pós-modernidade e intitulada como Pop Art, caracterizam-se por formas que prevalecem sobre conteúdos, assim como o virtual sobre o real, o padronizado sobre o individual, revelando dessa maneira a sociedade atual, hedonista e imagética.

Para finalizar nossa reflexão teórica, retornaremos a questão crucial: Freud (1930) ainda explica o mal-estar na cultura?Sim!Desde que se leve em consideração à mudança do superego (individual) engendrada pela mudança do "superego cultural" atual (Pós-modernidade).Ou seja, um superego liberal que, ao contrário daquele (Modernidade) ordena não mais proibição ao prazer (repressão), mas liberação (prazer, sempre mais prazer).Justificando assim os efeitos contestadores na subjetividade contemporânea, conforme acima caracterizado.

 

Referências Bibliográficas

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Endereço para correspondência
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