13Psiquiatría y psicología forense en México: precisiones acerca del supuesto intrusismo 
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Psicologia para América Latina

 ISSN 1870-350X

     

 

PSICOLOGÍA JURÍDICA Y CRIMINALIDAD

 

Caracterização do abuso sexual em crianças e adolescentes

 

Characterization of sexual abuse on children and adolescents

 

Caracterización del abuso sexual en niños y adolescentes

 

 

Cláudio Garcia Capitão; Rita Aparecida Romaro

Universidade São Francisco, Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Objetivou-se investigar a ocorrência do abuso sexual na infância e adolescência, tal qual ele é lembrado posteriormente, caracterizando suas principais formas, por quem foi praticado, em que época da vida ocorreu. A amostra foi constituída por 463 estudantes universitários, maiores de 18 anos, sendo (43%) do gênero masculino e (57%) do feminino. Foi utilizado o Questionário Sobre a Incidência de Abuso Sexual. O questionário foi aplicado em grupos, respondido individualmente. Dos participantes que responderam ao questionário, (87%) negaram a ocorrência de abuso sexual na infância e adolescência. Dos 57 participantes que referiram a existência do abuso, (73%) eram do gênero feminino e (27%) do masculino. O abuso foi sofrido entre 5 e 10 anos (48%) e entre 10 e 15 anos (36%), cometido por agressor do gênero masculino (71%). O agressor do gênero masculino predominou nos dois grupos. Os efeitos do abuso sexual podem se manifestar em qualquer época da vida.

Palavras-chave: Abuso sexual, Adolescência, Infância.


ABSTRACT

It was our object of investigation the occurrence of sexual abuse in childhood and adolescence, as it was remembered posteriorly, characterizing its main forms, by whom it was practiced, in what time of life it occurred. Our sample comprised 463 undergraduate students, 18-year old or above, split in (43%) male and (57%) female genders. The Questionnaire about Incidence of Sexual Abuse was the instrument used, which was applied to groups, but answered individually. Concerning the replies to the questionnaire, (87%) denied the occurrence of sexual abuse in childhood and adolescence. Of 57 participants that referred to existence of abuse, (73%) were female and (27%) male gender. The abuse was suffered between 5 and 10 years of age (48%) and between 10 and 15 years of age (36%), inflicted by male gender aggressor (71%), which predominated in both groups. The effects of sexual abuse may develop at any time of life.

Keywords: Sexual abuse, Adolescence, Childhood.


RESUMEN

Se quiere investigar la ocurrencia del abuso sexual en la infancia y adolescencia, tal cual se recuerda posteriormente, caracterizando sus principales formas, por el que la practicó y en que momento de la vida sucedió. La muestra se compone de 463 estudiantes universitarios, mayores de 18 años, de los cuales un (43%) son del género masculino y (57%) del femenino. Se utilizó el Cuestionario Sobre la Incidencia Del Abuso Sexual. Dicho cuestionario ha sido aplicado en grupos y contestado individualmente. Considerando a los participantes que contestaron el cuestionario, un (87%) ocultaron el abuso sexual en la infancia y adolescência, negándolo. De los 57 participantes que afirmaron la existencia del abuso, un (73%) eran del género femenino y un (27%) del masculino. El abuso ocurrió entre 5 y 10 años (48%) y entre 10 y 15 años (36%), cometido por el agresor del género masculino (71%). El agresor del género masculino predominó en los dos grupos. Los efectos del abuso sexual pueden manifestarse en cualquier momento de la vida.

Palabras-clave: Abuso sexual, Adolescencia, Infancia.


 

 

Introdução

Em nossa atualidade, especialmente depois do advento da Internet, ficamos espantados, mesmo estarrecidos e alarmados com a pornografia infantil veiculada livremente, pelos e entre os inúmeros sites e endereços eletrônicos. Crianças são expostas em situações insinuantes, umas fazendo sexo com algum adulto e, muito mais horripilante ainda, outras, crianças de colo, bebês submetidos às mais variadas torturas, cujo instrumento é a tara sexual, muitas vezes, presente em alguém da própria família.

Na Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID -10 (OMS, 1993, p.215), a pedofilia é incluída entre os Transtornos de Personalidade e de Comportamento em Adultos e é definida “como uma preferência sexual por crianças, usualmente de idade pré-puberal ou no início da puberdade. Alguns pedófilos são atraídos apenas por meninas, outros apenas por meninos e outros ainda estão interessados em ambos os sexos” . Assinala que é raramente identificada em mulheres e que incluídos entre os pedófilos estão homens que mantêm uma preferência por parceiros sexuais adultos, mas que, por serem cronicamente frustrados em conseguir contatos apropriados, voltam-se para as crianças como substitutas.

Entre os pedófilos estão também homens que molestam sexualmente seus próprios filhos pré-púberes, podendo ocasionalmente seduzir outras crianças, mas, seja em quaisquer dessas circunstâncias, trata-se de um comportamento indicativo da pedofilia. Assim, professores, negociantes, homens tidos como de bem, aliciam crianças, expondo-as publicamente em fotos e, até mesmo, parentes próximos, como pais e avós, deleitam-se na prática sexual utilizando-se de técnicas, mais parecidas com as de tortura, do que com as da própria sexualidade.

A violência é o uso desejado da agressividade, com fins destrutivos que pode se manifestar por um desejo voluntário, racional e consciente ou por um desejo involuntário, irracional e inconsciente. Essa agressividade é constitutiva do ser humano e o controle desses impulsos destrutivos ocorre pelo processo de socialização, em que os vínculos significativos que a pessoa estabelece com o outro passam a internalizar seus controles, deixando de lado o controle externo, pois o controle já estaria internalizado (Bock, Furtado & Teixeira, 2002).

Capitão (2001) formula que apesar de todos os avanços da ciência, da tecnologia encontradas na sociedade contemporânea e que poderia alçar o homem a um outro patamar civilizatório, depara-se com a triste realidade de refletir sobre a violência que ocorre em nossa sociedade, como se todos os valores da cultura estivessem enterrados, perdidos. E essa violência só pode ser entendida a partir da constatação de que se vive em um momento histórico em que se rompeu o pacto social e isto faz com que se rompa o pacto edípico: a autoridade, a norma, a lei internalizada, o que retira o controle sobre os impulsos destrutivos.

Para termos uma pequena idéia da dimensão do problema, nos Estados Unidos, pelo menos uma em cada quatro mulheres foi assaltada sexualmente antes de chegar aos 18 anos. Garotos também foram vítimas. Um estudo recente mostrou que 30 a 46% de todas as crianças foram assaltadas sexualmente de alguma forma antes dos 18 anos (Charam, 1992).

Ainda nos EUA, a cada ano que passa, as agências de bem-estar do menor recebem mais de três milhões de denúncias de abuso e negligência contra menores, e levantam evidências para substanciar mais de um milhão de casos. As pesquisas revelam um forte laço entre maus-tratos físicos, sexuais, emocionais e um desenvolvimento de problemas psiquiátricos (Teicher, 2002).

Na Suíça, um estudo epidemiológico importante demonstra que a violência sexual exercida contra crianças dentro de suas famílias representa 25% dos casos, enquanto 66% são exercidas por pessoas conhecidas das crianças, entre as quais as outras crianças, e 10% são por desconhecidos (Gabel, 1997).

Azevedo e Guerra (1988) constaram, por meio de pesquisa realizada no município de São Paulo, que os casos denunciados aos órgãos públicos são raros. Apenas cerca de 6,5% das vítimas são do sexo masculino. Nos casos de incestos, 70% das vezes o autor do abuso foi o pai biológico e que esse tipo de agressão não ocorre apenas nas camadas menos favorecidas, mas que são freqüentes nas camadas sociais economicamente mais privilegiadas.

Vaz (2001), em levantamento estatístico realizado no Brasil, mostra que 80% das vítimas de abuso sexual eram crianças e adolescentes do sexo feminino, sendo que em 75% dos casos relatados, o abusador era o pai ou padrasto.

Apoiando-se no mito, nem sempre verdadeiro, de que a família representa um lugar de proteção para a criança, é ela a principal responsável pela sua segurança física e emocional, cabendo-lhe, inclusive, em termos legais, a maioria dos deveres e direitos, em que os pais são considerados com proprietários de seus filhos. Por esta razão, encontra-se muitos pais que se utilizam da força, da violência na educação e no relacionamento com seus filhos, respaldados na autoridade que exercem sobre eles. (Steiner, 1986).

Para a criança, que sofre a violência sexual, torna-se muito difícil a procura de ajuda, pois, muitas vezes pensa que ninguém irá dar crédito a ela, que será ela a causa da discórdia familiar, guardando sua história particular solitariamente por longos anos, até chegar à puberdade, quando novas condições possibilitam a revelação. Só que então, sua história, já foi marcada por longos períodos de abuso e de violência sexual (Ferenczi, 1992; Flores & Caminha, 1994).

Não é infreqüente que os familiares mais próximos da criança, especialmente a mãe, passem a ter sentimentos de dúvida em relação à criança e ao marido em especial; mas, pelo emaranhado de sensações e sentimentos presentes, nada claros, confusos, as dúvidas perdem-se no tempo, como algo que não deveria ter sido pensado e, assim, afastado da consciência e da observação no tempo presente em que a violência sexual é perpetrada (Cohen & Figaro, 1996; Faiman, 2004).

Para Gabel (1997), a violência sexual praticada contra a criança é uma das formas de maus-tratos que mais freqüentemente é ocultada. Por um lado a criança tem medo de falar e, por outro, quando o faz, o adulto tem medo de escutá-la.

Furniss (1993), quando se refere às famílias em que ocorre abuso sexual, aponta o rompimento das fronteiras intergeracionais na dinâmica familiar. Ocorre, por assim dizer, uma inversão de papéis, em que a criança é colocada no lugar de parceiro pseudo-igual no relacionamento sexual e os papéis familiares passam a ser vivenciados de forma confusa, descaracterizando a família como o lugar de crescimento, confiança e de apoio.

Como assinala Lamour (1997), as crianças, desde muito pequenas, são ensinadas a desconfiarem de estranhos e, por outro lado, a serem obedientes e carinhosas com as pessoas adultas que cuidam delas. Por essa razão, os indivíduos que delas abusam sexualmente, são, na sua maioria, conhecidos, que estabelecem relações de confiança para terem certeza de que sua vítima não se queixará.

Bouhet, Pérard e Zorman (1997) apontam que em quase todas as pesquisas realizadas até o momento, a violência sexual ocorre entre os nove e doze anos de idade, apesar de muitas crianças serem enviadas aos hospitais por conseqüência do abuso, com menos de 6 anos de idade.

Assim, a criança, quando não assistida, fica sozinha, abandonada à sua sorte e às suas possibilidades psíquicas, com a formação de sua personalidade comprometida, especialmente quando as figuras parentais, que poderiam ser os pilares, a sua base sólida de sustentação, são perversamente introjetadas e, de dentro, passam a dominar as suas ações psíquicas.

Freud (1980), enriquecendo o seu arcabouço teórico, engendra uma segunda teoria do aparelho psíquico, estabelecendo as instâncias ego, id e superego. O superego seria o herdeiro do complexo de Édipo, quando os pais deixam de ser objetos de investimento libidinal e passam a ser figuras modelos de identificação, estas introjetadas no ego como um precipitado, como uma instância diferenciada que irá se relacionar, intrapsiquicamente, com esse mesmo ego. Com a introjeção das figuras parentais, acompanham também, agora como uma função psíquica interiorizada, as exigências e interdições parentais.

Dentro desta concepção freudiana de funcionamento psicológico, podemos vislumbrar, como hipótese, a constituição histórica da dinâmica psíquica do pai violentador a partir das imagens do superego de seus pais, que por algum motivo não permitiram que as influências sociais, da cultura, da moralidade pudessem modificá-las, ampliá-las como instância psíquica reguladora.

Sabe-se que á a mãe quem administra os cuidados do bebê. Ela é quem dá banho, acaricia, beija, alimenta, enfim, excita regiões do corpo, denominadas pela psicanálise de erógenas, despertando significações na mente da criança.

Mezan (1993) assinala, neste contexto, que as zonas erógenas não apenas porque nelas emerge uma tensão corporal do bebê, mas sobretudo porque são zonas de passagem físicas e metafóricas, lugares através dos quais se exteriorizam e se interioriza um conjunto se sensações portadoras de significação. Esta sedução precoce mantém os aspectos essenciais da sedução geral, isto é, a introdução de algo num psiquismo ainda despreparado para a elaboração de toda esta experiência. É neste ponto em que a fantasia poderá ganhar peso de realidade, tornando-se quase que impossível, a não ser por evidências físicas, traçar pontos diferenciais de uma sedução “real” da de uma fantasia de ter sido seduzido.

Porém, freqüentemente, como nos aponta Furniss (1993), assumir completamente a autoria do abuso sexual como uma realidade psicológica da própria pessoa pode ser uma tarefa impossibilitada pela própria estruturação fragilizada do ego do violentador, além de que, existe uma diferença entre o abuso sexual e físico. No abuso físico, os componentes egossintônicos aditivos geralmente estão ausentes. O abuso sexual pode apresentar-se como uma síndrome de adição, apresentando um componente dependente, pois a excitação sexual e o seu imediato alívio podem criar a dependência psicológica e a negação dessa dependência.

Winnicott (1999) afirma que a criança com comportamento anti-social procura na sociedade estabilidade e disciplina, pois a sua casa, a família falhou enquanto ambiente que pudesse proporcionar segurança e favorecer seu desenvolvimento. Para ele, a criança delinqüente esteve exposta à omissão e à privação afetiva, especialmente dependente de uma mãe que não teve recursos egóicos que pudesse suprir as necessidades primordiais da criança.

Teicher (2002) procurando observar o efeito sobre o sistema límbico de pessoas que haviam sofrido abuso na infância, utilizou a técnica da coerência em eletroencefalograma, um sofisticado método de análise quantitativa que fornece evidências sobre a microestrutura do cérebro. Comparou 15 voluntários saudáveis com 15 pacientes psiquiátricos, crianças e adolescentes, que tinham histórico confirmado de intenso abuso físico ou sexual. Medidas de coerência mostraram que os córtex esquerdos dos jovens do grupo controle eram mais desenvolvidos do que os direitos. Por outro lado, os pacientes que haviam sofrido maus-tratos possuíam o córtex direito claramente mais desenvolvido, embora todos fossem destros e, portanto, tinham o córtex esquerdo dominante. A hipótese resultante foi a de que as crianças maltratadas teriam armazenado suas memórias perturbadoras no hemisfério direito e a ativação de tais memórias poderia ativá-lo preferencialmente.

O estresse dá contornos definitivos ao cérebro. Quando apresentado sob a forma de trauma físico, emocional ou sexual, o estresse pode desencadear uma onda de mudanças hormonais que liga o cérebro de uma criança para lidar com um mundo cruel. Assim, por meio de uma cadeia de eventos, a violência e o abuso passam de geração em geração, tanto quanto de uma sociedade para a seguinte (Teicher, 2002).

Kaplan, Sadock e Grebb (1997) assinalam que mais de 12.000 crianças e adolescentes são hospitalizados, nos Estados Unidos, a cada ano, por conseqüência de ameaças de suicídio ou comportamento suicida. A maior freqüência parece ocorrer com indivíduos que precisaram suportar vidas familiares cronicamente estressantes, pois as crianças e adolescentes são vulneráveis a ambientes familiares caóticos, abusivos e negligentes.

Rouyer (1997) descreve um estudo canadense de Ontário, envolvendo 125 crianças com menos de seis anos de idade, hospitalizadas por abuso sexual, a proporção de meninas foi de 3,3 para cada menino; 60% sofreram violências sexuais no seio da família, dois terços das crianças examinadas manifestaram reações psicossomáticas e desordens no comportamento: pesadelos, medos, angústias; 1,8% apresentaram anomalias do comportamento sexual: masturbação excessiva, objetos introduzidos na vagina e no ânus, comportamento de sedução, pedido de estimulação sexual, conhecimento da sexualidade adulta inadaptado para sua idade.

Beraldo (2003), objetivando caracterizar adultos universitários quanto ao relato de abuso e violência sexual sofridos na infância e na adolescência e possíveis indicadores no Desenho da Figura Humana, obteve resultados em que o relato de abuso ou violência sexual antes dos 18 anos foi baixo, evidenciando que os sujeitos pesquisados não conseguiram diferenciar abuso de violência sexual. A maior parte dos sujeitos fizeram o desenho com apenas um traço de indicadores sexuais e não foi estabelecida relação estatisticamente significativa entre abuso e violência sexual e indicadores do Desenho da Figura Humana.

Fonseca (2005), objetivando verificar se os instrumentos Desenho da Figura Humana (DFH) e Teste de Apercepção Infantil - Animal (CAT-A) eram sensíveis à identificação do abuso sexual, se eles conseguiam diferenciar o grupo de crianças que haviam sofrido abuso dos que não sofreram, realizou estudo com 30 crianças de ambos os sexos, com idade de 6 a 10 anos, divididas em dois grupos distintos. Um grupo de 15 crianças que apresentava histórico de abuso sexual e outro de 15 crianças que não. Os resultados mostraram que os dois instrumentos foram sensíveis e conseguiram diferenciar o grupo de pesquisa do grupo de controle e detectar situações de abuso sexual no grupo de pesquisa.

O que se observa na literatura existente é a concordância entre os especialistas em reconhecer que a criança vítima de abuso, da violência sexual, corre o risco de uma psicopatologia grave, que perturba sua evolução psicológica, afetiva e sexual.

 

Objetivo

Nosso objetivo foi o de caracterizar o fenômeno do abuso sexual na infância e na adolescência, tal qual ele é lembrando posteriormente, caracterizando suas principais formas, por quem foi praticado, em que época da vida ocorreu.

 

Método

Participantes:

Nossa amostra foi constituída por 463 estudantes universitários, sendo 197 (43%) do gênero masculino e 265 (57%) do feminino, com idade variando entre 18 e 60 anos, prevalecendo a faixa etária entre 18 e 20 anos (79%).

Instrumentos:

Questionário sobre a incidência de abuso sexual na infância e adolescência; Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

O questionário referente aos abusos sexuais foi elaborado de forma a ser auto-administrado, contendo a faixa etária, o sexo e as questões sobre a ocorrência de abuso sexual, caracterizando quando da ocorrência, a natureza, a duração e o abusador. O questionários não se constitui em um teste psicológico, tratando-se somente de um instrumento exploratório, não apresentando estudos referentes à sua validade e precisão.

- Você pertence ao sexo:
( ) masc. ( ) fem.

- Sua idade está na faixa dos:
( ) 18 - 30 anos, ( ) 30 - 40 anos, ( ) 40 - 50 anos, ( ) 50 - 60 anos, ( ) 60 - 70 anos

- Você sofreu alguma espécie de abuso sexual antes dos 18 anos:
( ) sim ( ) não Se sim, responda o restante das perguntas:

- Qual era a sua idade quando sofreu o abuso:
( ) antes dos 5 anos ; ( ) 5 - 10 anos; ( ) 10 - 15 anos; ( ) 15 - 18 anos

- A pessoa que abusou de você era:
( ) do sexo masculino ( ) irmão mais velho
( ) do sexo feminino ( ) irmã mais velha
( ) estranho mais velho ( ) pai
( ) conhecido mais velho ( ) mãe
( ) tio(a) mais velho(a)

- Isso Ocorreu:
( ) uma vez, ( ) várias vezes, ( ) durante meses, ( ) durante anos

- Você contou para alguém ?
( ) não ( ) sim Para quem?
( ) pai ( ) mãe ( ) algum familiar ( ) algum amigo(a)

- Quanto à natureza do abuso sofrido, assinale:
( ) ouviu palavras obscenas
( ) foi forçado(a) a olhar fotos ou imagens pornográficas
( ) foi forçado(a) a olhar a exibição de órgãos sexuais de adultos
( ) foi obrigado(a) a contatos sexuais ou masturbatórios
( ) foi obrigado(a) a ter relações sexuais: ( ) vaginais ( ) anais
( ) orais

 

Procedimento:

Inicialmente foi realizado contato com instituições universitárias, oportunidade esta em que a pesquisa foi explicada para obtenção do Termo de Consentimento da sua direção para a implementação da pesquisa junto aos seus alunos.

Antes da aplicação do questionário foi explicado o objetivo da pesquisa, o asseguramento da preservação do anonimato de quem o responderia e de que a participação seria livre e voluntária. O questionário foi aplicado em grupos, respondido individualmente, sendo que, cada pessoa após responder o questionário, o colocou em um envelope pardo, sem qualquer possibilidade de identificação posterior. Foi explicado também na oportunidade que, após a leitura do conteúdo do questionário, a pessoa poderia entregá-lo em branco. Cada envelope recebeu posteriormente um número e foram abertos apenas para tabulação dos resultados.

Os questionários foram aplicados em sala de aula, em horário estipulado pela direção e sem a presença de qualquer outra pessoa além do aplicador.

O participante teve 30 minutos para ler o TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO e responder o questionário ou entregá-lo em branco, sendo todos entregues juntos, ou seja, ao mesmo tempo, em seus devidos envelopes pardos, que foi lacrado pelo participante.

Cabe ressaltar que os Termos de Consentimento foram entregues fora do envelope, para resguardar a identidade do participante e todos os questionários foram respondidos com caneta esferográfica de cor azul.

 

Resultados e Discussão

Dos 463 participantes que responderam ao questionário, (87%) negaram a ocorrência de abuso sexual na infância e adolescência. Dos 57 participantes que referiram a existência de abuso, (73%) pertencem ao gênero feminino e (27%) ao masculino.

Predominou o abuso sofrido entre 5 a 10 anos, com (73%) para o gênero feminino e (48%) para o masculino. Na faixa etária compreendida entre 10 - 15 anos, a freqüência foi de (23%) para o gênero feminino e (36%) para o masculino. Entre 15 - 18 anos, a freqüência foi de (5%) para ambos os gêneros, sendo que no gênero masculino houve referência de abuso antes dos cinco anos de idade (7%).Os resultados podem ser visualizados nas figuras 1 e 2.

 

 

 

Quanto ao gênero do abusador, predominou o abusador masculino (71%), do gênero feminino (7%) e de ambos os gêneros (2%).

No que se refere à natureza do abuso cometido, dividimos em dois grupos: a) atos que agrediram a criança e o adolescente sensorialmente (conversas, imagens, exibição de órgãos genitais); b) atos que utilizaram o corpo (contatos sexuais ou masturbação), relações sexuais forçadas. As freqüências podem ser averiguadas nos gráficos abaixo, figuras 3 e 4.

 

 

 

Pôde-se constatar que entre o gênero feminino (29%) relataram o abuso sofrido, especialmente para a mãe, já entre o gênero masculino, apenas (7%) relataram o abuso sofrido.

Pelos gráficos abaixo (figuras 5 e 6), podemos observar que o vínculo com o agressor, para ambos os gêneros, predominou ser um conhecido mais velho (32%) para o feminino e (73%) para o masculino; basta ressaltar que o gênero feminino conseguiu especificar com mais detalhes os vínculos com o abusador.

 

 

 

O abuso ocorreu várias vezes em ambos os gêneros, 68% no feminino e 73% no masculino, quase que proporcionalmente ao fato do mesmo não ter sido relatado.

Nossos resultados não divergiram, no geral, dos encontrados na literatura sobre o assunto, Azevedo e Guerra (1988), Bouhet, Pérard e Zorman (1997), Furniss (1993), Gabel (1997), Lamour (1997). O agressor do gênero masculino predominou nos dois grupos, sendo em geral um conhecido mais velho e irmão mais velho. Os abusos, por seu lado, repetiram-se durante meses ou anos nos dois grupos, principalmente quando não revelado para algum familiar ou conhecido próximo da vítima, especialmente a mãe. A natureza do abuso envolveu o corpo e os sentidos, com a idade predominante de ocorrência não sofrendo variação de acordo com o gênero, embora o gênero masculino tenha feito referência ao abuso antes dos cinco anos.

Desde o início da infância é prática corrente em nossas famílias ensinar as crianças a desconfiarem de estranhos e a serem obedientes e carinhosas com as pessoas adultas que cuidam delas. No entanto, como podemos observar, são as pessoas próximas da criança, muitas vezes pais e irmãos que delas abusam (Cohen & Figaro, 1996; Faiman, 2004; Steiner, 1986).

Azevedo e Guerra (1988), Ferenczi (1992), Flores e Caminha (1994), Kaplan, Sadock e Grebb (1997), Rouyer (1997), Teicher (2002) assinalam que pelo silêncio, pela falta de instrumentos para diagnosticar um abuso, pelo tempo do fato ocorrido e pela dificuldade de um auto-relato verdadeiro, os efeitos do abuso sofrido na infância podem se manifestar de diferentes formas na vida adulta, como ansiedade, pensamentos suicidas, estresse pós-traumático, depressão, agressividade, impulsividade, delinqüência, hiperatividade e abuso de substâncias.

 

Considerações Finais

As conseqüências psíquicas para as crianças que sofrem abuso são profundas, pois envolvem violência, sedução e quebra universal de valores que possibilitam a constituição de um aparelho psíquico que possa lidar com as moções pulsionais e com a realidade de forma adequada e eficaz. Em termos psicanalíticos, podemos pensar em relações traumáticas, em objetos perversamente introjetados, resultando em identificações patológicas, que propicia o estabelecendo da cultura de um ciclo compulsivo, cuja elaboração psíquica não se completou.

A maioria dos pesquisadores concorda que o abuso sexual infantil é facilitador para o aparecimento de psicopatologias graves, prejudicando a evolução psicológica, afetiva e social da vítima. Os efeitos do abuso na infância podem se manifestar de várias maneiras, em qualquer idade da vida. Os adultos que sofreram abuso na infância estão por toda parte, sofrendo ou fazendo sofrer outras pessoas.

A tragédia da família humana, muito bem representada por Sófoles, se faz de alguma forma presente em nossa atualidade, merecendo a atenção de todos aqueles que lidam com a saúde, com o desenvolvimento de políticas públicas que possam prevenir o abuso sexual em todas as suas formas.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Endereço para correspondência
Cláudio Garcia Capitão
E-mail: cgcapitao@uol.com.br
Rita Aparecida Romaro
E-mail: romarorita@uol.com.br

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