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Psicologia para América Latina

 ISSN 1870-350X

     

 

PROCESOS PSICOLÓGICOS EN ADULTOS MAYORES

 

Aspectos sociais e de saúde de idosos residentes na comunidade de uma cidade brasileira

 

 

Eliane Ferreira Carvalho Banhato; Kelly Cristina Atalaia da Silva; Neide Cordeiro de Magalhães; Márcia Elia da Mota

Universidade Federal de Juiz de Fora, Instituto de Ciências Humanas, Departamento de Psicologia, Juiz de Fora (MG) Brasil

Endereço para correspondência

 

 


ABSTRACT

The increase in the elderly population has propitiated ample debate on the thematic of aging. Such fact is particularly important in the developing countries where, in contrast of the developed countries, the population growth occurs rapidly and in a context of social differences, fragile economy, precarious access to the services of health and reduced financial resources. This study describes the profile of the health of elderly residents in a Brazilian community. For this, a representative sample of the elderly population was selected from the city of Juiz de Fora (MG), pertaining to the Southeastern Region of Brazil, the pattern of demographic characteristics of this population is described. Although the study was carried out with specific population, this study can contribute in a significant form when supplying important information on the demands of care and the necessities of elderly people, given the scarcity of population studies on this population group.

Keywords: Aging, Health and aging, Elderly care.


RESUMO

O aumento na proporção de idosos tem propiciado amplo debate sobre a temática do envelhecimento. Tal fato é particularmente verdade nos países em desenvolvimento onde, ao contrário dos países desenvolvidos, o crescimento populacional vem ocorrendo de forma acelerada e num contexto de desigualdades sociais, economia frágil, precário acesso aos serviços de saúde e reduzidos recursos financeiros. Este estudo descreve o perfil de saúde de idosos residentes em uma comunidade brasileira. Para isso, utilizou-se uma amostra representativa da população idosa que vive na cidade de Juiz de Fora (MG), município pertencente à Região Sudeste do Brasil, investigando as características sócio-demográficas desta população. Embora realizado com população específica, este estudo pode contribuir de forma significativa ao fornecer dados importantes sobre as demandas de atendimento e as necessidades de idosos haja vista a escassez de estudos populacionais sobre este estrato da população.

Palavras-chave: Envelhecimento, Saúde e envelhecimento, Cuidado do idoso.


 

 

Introdução

O aumento de idosos tem propiciado amplo debate sobre a temática do envelhecimento. Tal fato é particularmente verdade nos países em desenvolvimento onde, ao contrário dos desenvolvidos, o crescimento populacional vem ocorrendo de forma acelerada e num contexto de desigualdades sociais, economia frágil, precário acesso aos serviços de saúde e reduzidos recursos financeiros (Chaimowicz, 1997). Além disso, as modificações estruturais que respondam às demandas do novo grupo etário ainda estão em fase incipiente.

Esse é o caso do Brasil que, nas últimas décadas, vivencia uma transição demográfica decorrente tanto da estabilidade no percentual de população jovem, em razão tanto das baixas taxas de natalidade, quanto do aumento de adultos e idosos devido ao crescente índice de expectativa de vida. Atualmente, o número de idosos é da ordem de 15 milhões de habitantes (8,56%) e as projeções indicam que este segmento poderá perfazer 32 milhões em 2020, o que representa uma expectativa de crescimento de 113% em menos de duas décadas (Ramos, 2003).

A tendência ao envelhecimento acarreta mudanças importantes em todos os setores da sociedade, principalmente em relação às alterações significativas na forma de lidar com as características inerentes ao envelhecimento. O impacto que o crescimento da população idosa pode acarretar sobre os gastos previdenciários, bem como na utilização de serviços de saúde e na manutenção da independência e vida ativa dessa faixa etária deve receber maior atenção do Estado, dos setores produtivos, da comunidade científica e das famílias na tentativa de promover o envelhecimento saudável e com mais qualidade de vida (Paschoal, 2002).

Na área da saúde é grande o impacto demográfico nos diversos níveis assistenciais existentes. Isso porque é o idoso que mais utiliza os serviços de saúde, com internações hospitalares freqüentes e mais longas. Além disso, as doenças dos idosos são em geral crônicas e múltiplas e exigem acompanhamento constante e cuidados médicos permanentes (Lima-Costa e Veras, 2003). Sendo assim, ainda para esses autores, o desafio atual no âmbito da saúde é gerir a escassez de recursos para o crescente contingente populacional e suas demandas.

A grande heterogeneidade presente na velhice, mais que em outros grupos etários, acarreta mudanças em múltiplas dimensões da vida dos indivíduos como, por exemplo, no aspecto físico, psicológico, social e cultural. Em conseqüência, são as condições de saúde desses domínios que influenciarão decisivamente na qualidade de vida do idoso. No entanto, ainda que seja comum que o idoso apresente pelo menos uma doença crônica no seu curso de vida, o estudo do envelhecimento não deve focar apenas a patologia. Segundo Ramos (2003), nem todos ficam limitados pela presença de alguma limitação da saúde podendo, apesar delas, levar vida autônoma, independente e com relativo bem-estar.

Um fator que não deve ser olvidado quando se examina as condições de saúde dos idosos é que, em sua maioria, os dados existentes são oriundos de amostras clínicas. Desse modo, há necessidade de mais estudos que determinem o perfil de saúde física e social dos idosos que residem na comunidade com o objetivo de delinear estratégias de intervenção e prevenção de saúde (Garrido & Menezes, 2002). Acresce-se a isso a necessidade de se averiguar se e como as variáveis sócio-demográficas como sexo, escolaridade, idade, condição econômica e presença de incapacidades influenciam o processo do envelhecimento.

Vale e Miranda (2002) argumentam que a apresentação de amostras de diversos estudos permite que se comparem serviços, que se planeje melhor as intervenções terapêuticas, procedimentos de prevenção, programas geriátricos, bem como o desenvolvimento de políticas sociais gerais. Além disso, a obtenção de dados permite também um melhor treinamento dos profissionais de saúde que vão trabalhar com essa população.

Este estudo foi delineado com o objetivo de conhecer o perfil de saúde de idosos residentes na comunidade brasileira. Para isso, utilizou-se uma amostra representativa da população idosa que vive na comunidade em Juiz de Fora (MG), município da região Sudeste do Brasil investigando suas características sócio-demográficas. Embora realizado com população específica, este estudo pode contribuir de forma significativa ao fornecer dados importantes sobre as demandas de atendimento e as necessidades de idosos haja vista a escassez de estudos populacionais sobre este estrato da população.

 

Método

Participantes

Foram envolvidos nesta pesquisa os indivíduos com idade igual ou superior a 60 anos, residentes na comunidade de Juiz de Fora, cidade mineira com aproximadamente 500 mil habitantes, e com 11,6% da população composta por idosos (47.379 sujeitos), percentual superior às médias estadual e nacional.

Com a finalidade de manter a representatividade o tamanho da amostra foi calculado estatisticamente. A seguir, adotando-se uma técnica de amostragem por conglomerados, selecionou-se a amostra a partir dos seguintes procedimentos: foram adotados os critérios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que dividiu a cidade em 16 unidades territoriais, definidas segundo critérios de localização geográfica e nível sócio-econômico. As unidades territoriais são compostas por bairros subdivididos em setores censitários, formados por ruas definidas em quarteirões específicos, havendo o ponto inicial e o final a ser percorrido (IBGE, 2001). Neste estudo, realizado na área urbana da cidade, foram sorteadas unidades territoriais, preservando a proporcionalidade de idosos em cada região, sorteando posteriormente, bairros dessas unidades. Em seguida, foram selecionados aleatoriamente setores de cada bairro. A amostra é representativa da população, apresentando um intervalo de confiança de 95% e margem de erro de 5%.

A amostra total foi constituída por 392 idosos. Não foram incluídos os idosos institucionalizados nem os que apresentaram algum tipo de incapacidade.

Instrumentos

Entrevista semi-estruturada: investigou o perfil sócio-demográfico (sexo, idade, situação conjugal, nível socioeconômico e escolaridade), morbidade referida, queda, etilismo, auto-percepção do estado de saúde, satisfação com a vida, uso de medicamentos, utilização de serviços de saúde e atividade física.

Atividades Instrumentais de Vida Diária (AIVD) (Lawton & Brody, 1969): independência, dependência parcial (necessidade de algum auxílio na execução das tarefas) e dependência completa na capacidade de telefonar, viajar, fazer compras, preparar refeições, fazer trabalhos manuais domésticos, tomar remédios e cuidar das finanças, são investigadas e pontuadas. O escore nesta escala varia entre 8 e 24 pontos.

Atividades Básicas de Vida Diária (Katz, Downs & Cash, 1970): verifica o desempenho em atividades básicas (banho, higiene pessoal, vestir-se, transferência, continência, alimentação). Total de pontos igual a 6 significa independência para AVD; 4 pontos, dependência parcial; 2 pontos, dependência importante.

Procedimento

Para a identificação e o recrutamento dos idosos foi adotado o procedimento porta-a-porta do IBGE. Devidamente treinados, 15 (quinze) acadêmicos do curso de Psicologia da UFJF, visitaram os domicílios dos setores selecionados no período de Junho a Dezembro de 2006, apresentando o projeto e convidando os idosos a participarem. Após a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido, a entrevista era feita imediatamente ou agendada, na própria residência do idoso, tendo duração média de 50 minutos.

 

Resultados

A idade média da amostra foi de 70,93 (DP=7,98) e mediana igual a 70 anos. A faixa etária predominante foi a de idosos jovens (60-69 anos) constituída por 48,7% da amostra (n=191), seguida por 38,3% (n= 150) de idosos médios (70-79 anos), Aproximadamente 13,8% dos entrevistados possuíam 80 ou mais anos de idade. No que se refere ao gênero, foi expressivo o número de mulheres na amostra, com índice de 69,4% (n=272) contra 30,6% de homens (n=120).

Aspectos sociais

1. Família e amigos

Quando investigados sobre a situação civil, 48,7% (n=191 idosos) relataram ser casados. Dos que não apresentavam vínculo conjugal 38,5% (n=151) eram viúvos, 30 idosos eram divorciados ou separados (7,7%) e 20 indivíduos nunca se casaram (5,1%). Quanto ao gênero, houve predominância de mulheres em todas as categorias. Em relação à estrutura familiar, observou-se que 12% dos idosos (n=47) residem só e desses, a maioria (n=38) é do gênero feminino. A relação entre morar só e sexo é mostrada na Tabela 1. Da amostra total, 30,9% (n=121) residem com pelo menos 1 de seus filhos, 6,4% (n=25) moram com netos e 3,1% (n=12) dividem o lar com algum irmão.

Os resultados sobre a percepção do apoio familiar recebido, demonstraram que 151 idosos (38,8%) encontram-se diariamente com seus parentes mais próximos enquanto 34,2% (n=134) relataram ter contato pelo menos uma vez por semana com seus familiares. Encontros de poucas vezes ao mês foi assinalada por 67 idosos (17,1%) e por períodos superiores a um ano foi percebido por 23 idosos (5,9%). Por outro lado, 17 indivíduos (4,3%) afirmaram nunca contatarem com qualquer familiar.

Quanto ao relacionamento extra-familiar, 163 entrevistados (41,6%) relataram possuir entre 4 a 10 amigos próximos com quem contar; 60 (15,3%) indicaram ter 1 pessoa de confiança para abordar assuntos pessoais ou pedir ajuda; 41 (10,4%) tiveram dois amigos; 20 (5,1%) afirmaram possuir acima de 10 amigos próximos. Chama a atenção o fato de 27,6% da amostra (n=108) não possuírem amigos. Dentre as atividades sociais realizadas, as mais citadas foram: reunião em casa de amigos, saídas a bares, restaurantes, teatros e cinemas, bingos, cultos religiosos, grupos de estudo e atividade física.

1. Escolaridade

A amostra apresentou média de escolaridade igual a 6,13 (DP= 4,51) e mediana igual a 4 anos. Da amostra total apenas 7,4% (n=29) eram analfabetos sendo que nesse grupo, a média de anos estudados foi de 2,76 (DP=1,17) anos. Dos analfabetos, 72,4 % eram mulheres. O nível educacional predominante foi o primário: 48,5%, sendo que 17% conseguiram terminar o ensino médio. Por outro lado, 11,5% da amostra (n=45) apresentaram grau superior completo. A Tabela 1 resume os resultados dos anos estudados separando a amostra por sexo.

 

 

1. Trabalho e situação econômica

A inserção em alguma ocupação remunerada foi observada em 78,3% dos idosos (n=307). Como mostra a tabela 3, as tarefas domésticas foram as atividades que mais se destacaram seguidas das atividades autônomas. É alta a freqüência de ex-funcionários do serviço público. Aproximadamente 72 indivíduos (18,4%) exercem algum tipo de trabalho remunerado no momento, sendo 23 homens e 49 mulheres. Dentre as atividades exercidas atualmente, as mais citadas fazem parte do mercado informal: costureira (n=11), vendedoras de cosméticos (n=6) e professor (n=4).

A principal fonte de sustento para 241 indivíduos (61,5%) é a aposentadoria. Cerca de 60 indivíduos (15,3%) recebem ajuda de parentes e amigos, enquanto 49 (12,5%) têm o trabalho atual como renda mais importante. Trinta e quatro idosos (8,7%) relataram que os aluguéis e investimentos correspondem à principal fonte de recursos financeiros e 8 idosos (2,3%) têm outras fontes de renda como aposentadoria do marido e herança.

Segundo critério de classificação econômica brasileira (ABEP), 165 indivíduos (42,1%) preencheram os critérios para a classe C e 29,6% (n= 116) foram incluídos na classe B. Quando avaliados segundo a escolaridade, verificou-se que no grupo de idosos analfabetos e/ou com curso primário incompleto, 44% (n= 101) pertenciam à classe D, enquanto entre os indivíduos com nível superior completo (n=35), 65,8% eram da classe B. Os resultados estão apresentados na Tabela 2.

Quando solicitados a compararem o estilo de vida atual com o de quando tinham 50 anos de idade, 43,4% (n=170) relataram possuir atualmente um melhor estilo de vida, enquanto 36,5% (n=143) não notaram diferença. Por outro lado, 19,6% (n=77) tiveram a percepção de que estão pior atualmente enquanto 2 idosos afirmaram não saber avaliar o item.

 

Tabela 2. Distribuição dos idosos por classificação econômica

Classe

A

B

C

D

E

TOTAL

Escolaridade

Analfabetos/ primário incompleto

1

11

43

45

-

100

Primário completo/ginásio incompleto

2

33

89

38

1

163

Ginásio completo/colegial incompleto

2

13

14

3

-

32

Colegial completo/ superior incompleto

6

37

17

2

-

62

Superior completo

9

23

3

-

-

35

TOTAL

20

116

165

87

1

392

 

Morbidade referida

a) Problemas de saúde

Quanto à presença ou ausência de problemas afetando a saúde verificou-se que a grande maioria dos idosos (78,8%) referiu ter problemas, enquanto 21,2% (n=83) não apresentaram doenças. Dentre as queixas atuais, destacam-se: dificuldade visual (86%), hipertensão arterial (57%), artrose (39%), reumatismo (24,7%) e diabetes (15,1%) sendo mais alta a incidência entre as mulheres conforme ressalta a Tabela 3.

b) Uso de bebida alcoólica

No que se refere ao uso de bebida alcoólica, 74,8% dos entrevistados relataram nunca terem bebido. Por outro lado, 6,4% da amostra têm o hábito de ingerir alcoólicos duas ou mais vezes por semana, sendo que 8,4% já receberam sugestão médica para que parassem de beber.

 

 

c) Quedas

Indagados sobre terem sofrido alguma queda nos últimos doze meses, 29,8% dos entrevistados (n= 117) responderam afirmativamente. Dos que caíram, 60 (51,3%) caíram uma única vez, enquanto 26 pessoas (22,2%) caíram pelo menos duas vezes. Uma freqüência de quedas igual ou superior a 3 vezes nos últimos 12 meses, foi verificada em 26,5% dos idosos (n=31) desse estudo. O grupo feminino foi o que apresentou maior incidência de quedas (32,4%).

Utilização de serviços de saúde

1. Consultas e internações

Os resultados obtidos revelam que 84,7% dos idosos entrevistados não estiveram internados no último ano, enquanto 15,3% internaram-se pelo menos uma vez. Quando indagados se tinham deixado de realizar alguma atividade nas últimas duas semanas por motivo de saúde, 14% responderam afirmativamente, sendo que os principais motivos citados foram problemas de pressão, dor nas pernas, problemas respiratórios e gripe simples.

Quando perguntados sobre a consulta ao médico nos últimos doze meses, 84,7% responderam negativamente. Por outro lado, 17,6% (n=69) receberam a visita de um profissional da saúde ou agente comunitário em suas casas.

1. Uso de medicamentos

Os resultados relativos ao uso de medicamentos apontaram que 19,1% (n=75) fazem uso de pelo menos um tipo de medicamento de forma habitual. Da amostra total, 47% (n= 184) utilizam de 2 a 4 medicamentos diferentes e simultaneamente. O uso de 5 ou mais medicamentos foram relatados por 16,4% (n=64) da amostra total. Sessenta e um idosos (15,6%) afirmaram não utilizar qualquer medicamento enquanto 8 pessoas (1,9%) não responderam a essa questão.

1. Plano de saúde

Dos entrevistados, 61,7% (n=242) relataram apresentar algum plano de saúde médico. Desses, 173 eram do sexo feminino. Quanto à satisfação, 86% (n=208) afirmaram considerar o plano de saúde bom, 10,7% (n=26) dos idosos consideraram-no regular enquanto 3 pessoas (1,2%) afirmaram que o seu plano era ruim ou muito ruim. Não souberam responder esse item 5 pessoas (2,1%). Da amostra, 50,3% relataram utilizar o Sistema Único de Saúde (SUS) e desses, 126 idosos o consideraram bom ou muito bom enquanto 48 avaliaram o serviço público de saúde como regular. Vinte e três pessoas afirmaram ser esse programa ruim ou muito ruim.

Capacidade Funcional

Os resultados obtidos neste estudo revelaram que a maioria dos entrevistados - 58% (n=229) apresentaram independência total nas atividades instrumentais de vida diária, quando se utilizou o questionário Pfeffer. Dependência em até 5 atividades foi relatada em 32% da amostra (n= 124) enquanto 10% (n=39) tiveram dependência em 6 ou mais atividades instrumentais.

A escala de Katz para avaliação das atividades básicas de vida diária (ABVD’s) apontou que 84,9% da amostra encontravam-se totalmente independente. Dos 14,8% dos idosos (n=59) que apresentaram incapacidade em pelo menos uma atividade, 10,7% recebem ajuda no banho, 6,4% precisam de auxílio para se vestir, 3,1% apresentam dependência na higiene pessoal, 12 precisam de atenção de terceiros para se transferir de um local para outro, 25 apresentam incontinência urinária e 11 precisam de auxílio na hora das refeições. Da amostra total, apenas três indivíduos (0,3%) apresentaram dependência total nas ABVD’s.

Da amostra total, 53 idosos (13,5%) dispõem do serviço de cuidadores. Desses, 39 pertenciam ao gênero feminino. A maioria dos cuidadores, 77% (n=41) pertencem à família do idoso, tendo sido encontrados apenas 2 cuidadores formais. Além disso, 83% (n=44) dos cuidadores são do sexo feminino.

Atividade física

No que se refere à realização de alguma atividade física, os resultados mostraram que 172 idosos (43,9%) realizavam algum tipo de exercício corporal. Os mais citados foram caminhada (33,7%), ginástica (5,6%), hidroginástica (4,6%) e alongamento (3,3%). Outras atividades referidas foram a natação, Tai-Chi e pilates. Quanto à freqüência, 44,5% (n=77) se exercitam de 2 a 4 vezes por semana, 18,6% (n=32) fazem exercício mais de 4 vezes e 29% (n=50) exercitam-se todos os dias. Da amostra total, 7,9% (n= 13) realizam atividades 2 ou vezes por semana.

Auto-percepção da saúde

A auto-percepção da saúde foi averiguada perguntando-se sobre o quão bem o indivíduo se sentia com a sua saúde de modo geral. Da amostra total, 78% (n=304) disseram estar satisfeitos com a vida atual, enquanto 14,5% (n=57) declararam estar mais satisfeitos que insatisfeitos. Por outro lado, 31 idosos (7,5%) declararam que estar insatisfeitos com sua vida atual.

Solicitados a fornecerem uma nota de 1 a 10 para sua vida, 205 indivíduos (52,3%) atribuíram nota 10, enquanto 133 idosos (34%) avaliaram a vida com valor entre 8 e 9. Para 10% da amostra (n=41) a nota para a vida ficou entre 5 e 7. Por outro lado, 7 pessoas (1,8%) avaliaram sua vida com nota menor ou igual a 4.

 

Discussão

A predominância de mulheres na amostra corrobora a literatura especializada comprovando o fenômeno de feminização da população idosa brasileira. É interessante observar a marcante presença de mulheres viúvas (87,4%) em contraste com o pequeno percentual de homens na mesma situação (12,6%). Tal fato pode ser decorrente da menor mortalidade feminina (Perls & Fretts, 2007).

De forma similar, encontrou-se que as mulheres preferem morar só. Uma possível explicação para esse fato pode se que ela reflete uma escolha pessoal. Na medida em que a situação financeira, a autonomia e independência funcional o permitam os idosos podem preferir morar só, considerando que grande parte da amostra relatou apresentar bom suporte social, tanto familiar quanto de amigos essa é uma hipótese plausível.

No entanto, é preciso enfatizar o expressivo percentual de idosos que relataram não possuir amigos (27,6%), bem como a limitação na diversidade de atividades de lazer, já que predominaram as visitas domiciliares e os encontros religiosos. Sendo assim, a presença de sentimentos de solidão pode estar presente nos indivíduos dessa faixa etária, o que demanda estudo mais aprofundado dessa variável na amostra.

O baixo índice de analfabetos da amostra, quando comparadas com outros estudos populacionais (Ramos, 2003; Herrera, Caramelli & Nitrini,1998;Veras, 1994) demonstra o bom nível de escolaridade da amostra total. Tal fato pode ser conseqüência da boa qualidade de vida dos habitantes desta cidade, que é considerada com alto índice de desenvolvimento humano. Considerar o aspecto educacional desta população é importante em políticas de ação educativa, porque é preciso que as medidas previstas sejam adequadas à linguagem e os conteúdos ao perfil da população. Além disso, a literatura mostra que há uma relação entre analfabetismo e risco para doenças crônicas como a demência (Ramos, 2003).

Apesar de ser alta a freqüência de idosos que exerceram atividade remunerada ao longo da vida e, consequentemente, alcançaram a aposentadoria, a situação socioeconômica dos mesmos mostrou um padrão inferior, com a maioria (65%) pertencendo à classe C ou mais baixas. Somente 5,1% da população em estudo pertenciam à classe A. É interessante ressaltar a existência de idosos (18,4%) exercendo atualmente alguma função remunerada, o que pode indicar a necessidade de complementação do salário oriundo da aposentadoria.

De modo similar aos dados encontrados na literatura, este estudo verificou expressivo número de idosos com problemas crônicos de saúde e que utilizam pelo menos um medicamento diariamente (82,5%). Também o número de quedas foi bastante expressivo na amostra, com cerca de 30% tendo passado pelo evento pelo menos uma vez. É importante investigar a etiologia das mesmas de modo a tratar as alterações detectadas. Isso porque com a queda é elevado o risco de fraturas, que podem levar à imobilidade, com conseqüente perda da autonomia e independência.

No entanto, este fato parece não limitar a vida dos indivíduos, uma vez que uma parcela considerável da amostra realiza alguma atividade física de forma habitual (43,9%). Também merece atenção o fato de a maioria dos entrevistados (78%) estar satisfeito com a sua saúde de modo geral, o que foi confirmado pela atribuição de notas altas para a forma como vivem atualmente. É bom lembrar que 52,3% atribuíram nota máxima para a vida que desfrutam nos dias atuais. Esses achados corroboram a hipótese de Ramos (2002) sobre a maior relevância dos idosos em manter independência funcional e autonomia nas atividades de vida diária do que apresentarem algum comprometimento da saúde ou uso de polifarmácia.

Por outro lado, chama a atenção o fato de a maioria dos entrevistados ter afirmado possuir plano de saúde particular (61,7%), e o considerarem bom, apesar de ainda utilizarem os serviços oferecidos pelo Sistema Público de Saúde e também o considerando como de boa qualidade. Embora a percepção dos idosos seja a de que o serviço de atendimento público é bom, 61,7 % recorre ao atendimento particular. Estes achados parecem demonstrar que, de modo geral, os serviços de saúde oferecidos aos idosos da comunidade ainda estão longe do ideal, na medida que nem o atendimento particular nem o público sozinhos suprem todas as demandas de atendimento dos idosos.

O perfil da população idosa aqui apresentado demonstra a prevalência de um padrão moderadamente positivo de envelhecimento nessa cidade, se comparado com outras amostras brasileiras (Ramos, 2003; Lima e Costa, Uchoa, Firmo, Vidigal e Barreto, 2000; Veras, 1994). No entanto, ainda há muito a ser construído de forma a propiciar o envelhecimento com mais qualidade de vida, principalmente no que se refere às políticas municipais, estaduais e federais de saúde, lazer e planejamento dos programas de aposentadoria.

 

Referências Bibliográficas

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Endereço para correspondência
Eliane Ferreira Carvalho Banhato
E-mail: ebanhato@powerline.com.br

 

 

Este estudo foi realizado a partir do Projeto “Prevalência de Demência em Idosos da comunidade de Juiz de Fora”, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), o qual foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com seres humanos do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF &– MG) sob os números 463.149.2004 e 464.149.2004

Agradecemos aos alunos de Iniciação Científica que participaram deste estudo.

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