Revista Psicologia Organizações e Trabalho
ISSN 1984-6657
EDITORIAL
Revista Psicologia: Organizações e Trabalho, Volume 10, Número 2, jul-dez 2010
Narbal Silva
Editor da rPOT na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). narbal.silva@globo.com. lattes http://lattes.cnpq.br/3161681615777689
É com imensa satisfação que apresentamos a edição digital da Revista Psicologia: Organizações e Trabalho (RPOT), volume 10, número 2, ano 2010. Nessa edição, contamos com 11 artigos, sendo que cinco são do tipo empírico e seis de natureza teórica. Por fim, também publicamos a resenha crítica produzida pela professora Lúcia França, referente ao livro Orientação para a Aposentadoria nas Organizações de Trabalho: Construção de Projetos para o Pós-Carreira.
Esta edição marca o início do trabalho da professora Juliana Porto, da Universidade de Brasília (UnB), como editora da revista, substituindo a professora Gardênia Abbad, também da UnB. A esta última, os nossos sinceros agradecimentos pela preciosa contribuição prestada ao aprimoramento da Revista no período em que esteve conosco. Atualmente, o nosso comitê editorial é composto por uma equipe de pesquisadores oriundos dos programas de pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Universidade de Brasília (UnB) e Universidade Federal da Bahia (UFBA). Além de contarmos com a uma equipe de editores permanentes, muito nos honra, nessa edição, em especial, ter o privilégio da colaboração dos professores Jairo Eduardo Borges-Andrade, Luciana Mourão e Maria do Carmo Guedes, os três na condição de editores convidados. Também agradecemos a profícua contribuição da professora Daniela Borges, que, a nosso convite, atuou como assistente-editorial do presente número.
A primeira categoria de trabalhos desta edição foi denominada pelos editores de "Relatos de Pesquisas Empíricas e Ensaio Teórico". No primeiro artigo deste bloco, de natureza empírica, escrito por Joana Vieira dos Santos e Gabriela Gonçalves e intitulado Contribuição para a Adaptação Portuguesa da Escala de Orientação de Marketing Interno de Lings e Greenley (2005), as autoras objetivaram contribuir para a adaptação da escala de marketing interno de Lings e Greenley (2005) para a população de Portugal. A análise dos dados resultou em uma versão portuguesa próxima à original, em termos de análise fatorial e de consistência interna.
No segundo artigo, caracterizado como relato de pesquisa empírica, cujo título é Satisfação no Trabalho e Responsabilidade Social, os autores Milton Mattos de Souza e Jacob Arie Laros, utilizando um modelo de regressão multinível, verificaram os impactos das ações de responsabilidade social empresarial na satisfação do público interno. O estudo mostrou evidências de componentes importantes, do ponto de vista dos colaboradores, que aumentam a percepção de melhoria no ambiente de trabalho por meio das ações de responsabilidade social empresarial.
O terceiro artigo, um ensaio teórico, cujos protagonistas são Fernando Gastal de Castro e José Carlos Zanelli, o título é Burnout e Perspectiva Clínica: Contribuições do Existencialismo e da Sociologia Clínica. O objetivo do trabalho é, segundo os autores, contribuir para o avanço de uma perspectiva clínica sobre o fenômeno de burnout, com base no existencialismo e na sociologia clínica. Com esse propósito, os autores procuram formular determinadas bases conceituais e apreender o sujeito em sua historicidade individual em relação à realidade sócio-organizacional. Os autores se orientam pelos pressupostos teóricos e epistemológicos da sociologia clínica francesa e do existencialismo sartreano. O artigo encerra com a proposição de quatro hipóteses teóricas que sustentam o processo de desenvolvimento de burnout como revelador de fracasso no nível do projeto, resultante das novas formas de gerenciamento e organização do trabalho no atual modo de produção flexível.
No quarto artigo, Silvânia da Cruz Barbosa, Rômulo Lustosa P. de Melo, Maria Udijaira Fernandes de Medeiros e Thaissa Machado Vasconcelos tratam do Perfil de Bem-Estar Psicológico em Profissionais de Limpeza Urbana. A pesquisa teve por objetivo traçar um perfil de bem-estar psicológico em profissionais de limpeza urbana da cidade de Campina Grande (PB), tomando por base cinco dimensões de saúde mental propostas no modelo ecológico de Peter Warr (bem-estar afetivo, competência pessoal, aspiração, autonomia e funcionamento integrado). Os resultados identificaram quatro grupos com os seguintes perfis de bem-estar psicológico: instável, ansioso, satisfatório e equilibrado, sendo que os homens tendem a apresentar mais bem-estar psicológico (perfis equilibrado e satisfatório) do que as mulheres (perfil ansioso). Os resultados demonstraram que o bem-estar psicológico está preservado para a maioria dos pesquisados. Contudo, 31% da amostra se encontram em processo de desgaste, devendo servir como alerta para que medidas sejam tomadas a fim de reaver o equilíbrio emocional.
Por meio do quinto artigo, as autoras Elaine Rabelo Neiva e Ariane Agnes Corradi refletem sobre a Psicologia Organizacional e do Trabalho no Brasil com base em análise de redes sociais de pesquisadores da pós-graduação. O estudo foi baseado em auto-relatos dos pesquisadores da pós-graduação em Psicologia no Brasil. Foram investigados alguns tipos de conteúdos intercambiados entre os pesquisadores e fatores que influenciam os relacionamentos entre os mesmos. Os resultados evidenciaram que a rede de Psicologia Organizacional e do Trabalho no Brasil apresenta conectividade voltada para subgrupos e maior ênfase na construção de relacionamentos com pesquisadores estrangeiros do que com pesquisadores de áreas afins. Foi possível demonstrar a existência de pouca relação entre as atividades de networking e a produtividade individual dos atores da rede, quando se considera a ocupação de papéis centrais por bolsistas de produtividade.
Finalizando a categoria de trabalhos empíricos e ensaio teórico, os autores Valdiney V. Gouveia, Tiago Jessé Souza de Lima, Walberto Silva dos Santos, Leogildo Alves Freires e Viviany Silva Pessoa problematizam sobre a possibilidade de identificar uma estrutura circumplex nos afetos vivenciados por uma amostra de trabalhadores. O estudo teve como objetivo conhecer a estrutura dos afetos vivenciados em ambientes de trabalho, avaliando a adequação de um modelo circumplex. A guisa de conclusão, os autores descobriram um modelo bidimensional dos afetos no trabalho, mas não uma estrutura circumplex. Por conseguinte, foi recomendada, pelos autores, a replicação do estudo, modificando a medida de afetos.
A segunda categoria de trabalhos desta edição da revista foi denominada de "Revisões de Literatura em Psicologia Organizacional e do Trabalho (PO&T)". No primeiro artigo desta categoria, o foco recaiu sobre a transferência individual de competências aprendidas em treinamento para o ambiente de trabalho. As autoras Thaís Zerbini e Gardênia Abbad efetuaram uma análise crítica da literatura a respeito da transferência de treinamento e o impacto do treinamento no trabalho. Com base na literatura nacional e estrangeira de PO&T e de Treinamento, Desenvolvimento & Educação (TD&E) dos últimos 20 anos, o propósito das autoras foi contribuir com a área de avaliação de sistemas instrucionais corporativos e abertos, por meio da discussão de conceitos, definições e medidas, além da apresentação de resultados de pesquisas. Além disso, discutem a qualidade dos instrumentos de medida existentes, bem como o relacionamento entre variáveis de interesse em TD&E. Ao final do artigo, destacam a importância de investigar as características da clientela e dos treinamentos, as reações e a aprendizagem dos treinandos e as condições necessárias à expressão das competências no ambiente de trabalho do egresso, seja ele corporativo ou aberto.
No segundo artigo de revisão da literatura em PO&T, o tema abordado é a aprendizagem relacionada ao trabalho, tendo como autores Valéria Vieira de Moraes e Jairo Eduardo Borges-Andrade. O objetivo dos autores é apresentar um panorama da área, que segundo eles, se encontra caracterizada por pressupostos epistemológicos diversos, prevalecendo estudos que se configuram como descritivos dos processos individuais de aprendizagem no contexto organizacional.
No terceiro artigo, os autores Ana Carolina de Aguiar Rodrigues e Antonio Virgilio Bittencourt Bastos procuraram focar os problemas conceituais e empíricos na pesquisa sobre comprometimento organizacional com base na organização e mapeamento das principais questões conceituais e empíricas do modelo tridimensional de Meyer e Allen (1991). Com isso, construíram um panorama para maior compreensão do atual estado da arte e das alternativas para a agenda de pesquisa sobre comprometimento organizacional. Os autores também relacionaram investigações e discussões teóricas nacionais e internacionais sobre comprometimento publicadas até 2009. Por fim, os autores sugerem que o modelo tridimensional de Meyer e Allen (1991) seja revisado e propõem a retirada da base de continuação do conceito de comprometimento.
No quarto artigo, denominado Jovens e Desemprego: Estado da Arte, de Romilda Guilland e Janine Kieling Monteiro, o propósito foi realizar revisão das literaturas nacional e internacional e saber como o desemprego juvenil foi compreendido entre os anos de 2004 e 2008. Para isso, foi realizada pesquisa bibliográfica nas bases digitais Medline, Adolec, Lilacs e Scielo, na quais os autores encontraram 21 artigos, sendo 33% nacionais. Do total dos artigos encontrados, somente em 11 estudos está contemplado o tema "jovem e desemprego". Os estudos em geral, concluem os autores, demonstram que o desemprego juvenil é influenciado por múltiplos fatores, existindo diferenças na condição do desemprego de acordo com o contexto social em que o jovem está inserido.
Por fim, encerrando a categoria de revisões de literatura, no artigo denominado de Práticas de Gestão de Recursos Humanos e Resultados Organizacionais: Estudos, Controvérsias Teóricas e Metodológicas, produzido por Teresa Pereira Esteves e António Caetano, é analisada a relação entre práticas de gestão de recursos humanos (PGRH) e resultados organizacionais, tema que tem suscitado interesse nas comunidades acadêmica e empresarial ao longo de várias décadas. Com base em análise de estudos publicados em diversas revistas internacionais nas duas últimas décadas (entre outras, na Academy of Management Journal), os autores destacam os dilemas teóricos e metodológicos que revestem a questão. Por conseguinte, sugerem a adoção de enquadramentos teóricos multidisciplinares para investigar a relação entre PGRH e resultados organizacionais, assim como a adoção de recursos e metodologias qualitativas que permitam recolher informação sobre as PGRHs de forma aprofundada. Salientam ainda que é oportuno pesquisar a possível existência de PGRHs diferenciadas no interior das organizações, quando se considera grupos funcionais distintos. Por fim, propõem um conjunto de indicadores que podem ser utilizados no estudo sistemático das práticas de gestão de recursos humanos de elevado desempenho. Os resultados obtidos no estudo evidenciam que o sucesso organizacional está relacionado com a forma como as empresas gerem as pessoas que nas mesmas trabalham.
Para finalizar a presente edição, disponibilizamos aos nossos leitores a brilhante resenha feita por Lúcia França, a respeito do livro "Orientação para Aposentadoria nas Organizações de Trabalho: Construção de Projetos para o Pós-Carreira". Segundo o que preconizou a autora da resenha, ainda são raros os livros brasileiros abordando as questões psicossociais da aposentadoria (Zanelli & Silva, 1996; França, 2002; França, 2008). Esse é um dos motivos pelo qual recomendou a obra, considerando-a um excelente guia para aqueles que desejam iniciar na área, principalmente os profissionais de recursos humanos. A autora conclui afirmando que o livro é uma leitura obrigatória a todos que se debruçam nessa área do conhecimento e acrescenta que a experiência bem-sucedida de seus autores irá, por certo, inspirar outros profissionais na condução da orientação para a aposentadoria nas organizações.
Para concluir este editorial, informamos ao nosso público leitor e demais interessados que esta edição digital da RPOT encontra-se disponível no Portal de Periódicos PePsic (http://pepsic.bvspsi.org.br/scielo.php/script_sci_serial/pid_19846657/lng_pt/nrm_iso) e no Portal de Periódicos da Universidade Federal de Santa Catarina (www.periodicos.ufsc.br). Contudo, ressaltamos que a submissão de novos trabalhos à Revista só poderá ser feita por meio do endereço eletrônico http://submission-pepsic.scielo.br/index.php/rpot/index.
Agradecemos a todos os(as) nossos(as) leitores(as), autores(as) e colaboradores(as), remunerados e não remunerados que, desde a fundação da Revista, contribuíram para a sua longevidade e aprimoramento.