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Revista Psicologia Organizações e Trabalho

 ISSN 1984-6657

     

 

Editorial

 

 

O conjunto de fenômenos que ocorrem no cenário do trabalho e das organizações é diverso e imbricado uma vez que diferentes eventos ocorrem de maneira simultânea. Alguns deles trazem consequências para os atores do âmbito organizacional, os trabalhadores, outros impactam as práticas e políticas das organizações e, todavia, há aqueles que afetam o meio externo. O estudo desta dinâmica nos permite compreender de maneira mais aprofundada os significados possíveis do trabalho em seus múltiplos contextos, assim como os seus atributos essenciais. Um dos desafios enfrentados por psicólogos interessados na área de POT é conhecer de melhor maneira a diversidade de políticas e práticas organizacionais que se fazem presentes no cotidiano atual do trabalho, e associar, na prática profissional, efetividade e desenvolvimento integral dos trabalhadores.

Um dos caminhos escolhidos para alcançar essa compreensão é debruçar-se sobre as práticas organizacionais hoje adotadas e analisar criticamente os pressupostos em que se sustentam, assim como os seus efeitos. Essa tarefa é realizada neste número da rPOT, uma vez que alguns dos manuscritos que o compõem tomaram como foco de interesse a análise de práticas de gestão, dos desafios que elas envolvem e suas consequências. Essa tônica está presente nos trabalhos realizados por Marcelo Bedani; Sónia Pedroso Gonçalves e José Neves; e, Katia Puente-Palacios, Érica Pacheco e Aline Severino.

No Trabalho de Marcelo Bedani o leitor irá se deparar com uma instigante descrição das visões que gestores organizacionais de uma grande corporação brasileira têm a respeito da ética na forma de fazer a gestão das empresas. Nesse trabalho são também descritos os desafios relativos à ética corporativa, razão pela qual torna-se leitura relevante para os estudiosos desse campo do conhecimento. O trabalho realizado por Sónia Pedroso Gonçalves e José Neves, foca, de maneira específica, nas práticas daquilo que os autores denominam recursos humanos, enfatizando a visão diferenciada que delas têm trabalhadores das diferentes organizações estudadas, assim como colocando em evidencia as discrepâncias identificadas pelos participantes do estudo, entre o que as organizações se propõem a fazer, em termos de práticas de gestão, e o que efetivamente é percebido pelos trabalhadores.

O trabalho de Puente-Palacios, Pacheco e Severino focaliza na análise de um aspecto da gestão organizacional e investigam o efeito do clima organizacional sobre o estresse relatado em equipes de trabalho. Essas autoras mostram no seu trabalho que a adoção de práticas de gestão voltadas para a outorga de recompensa, benefícios e promoções está associada a menor estresse.

Um aspecto relacionado à gestão organizacional, mas não restrito a ela, é discutido no trabalho realizado por Fernando Gastal de Castro. O manuscrito busca discutir, a partir da perspectiva da complexidade histórica social, do trabalho e do desenho das organizações, o burnout como aquilo que o autor descreve como fracasso do projeto de ser, e a partir do qual conclui sobre a importância de refletirmos sobre as consequências do atual desenho socioeconômico e organizacional.

Mudando o foco de análise para a ocorrência de fenômenos como preconceito e discriminação nas organizações, Leonardo Blanco dos Santos, discute a relação entre trabalhadores brasileiros e portugueses, em território português. Os resultados alcançados revelam a ocorrência de fenômenos como favoritismo, entre trabalhadores do próprio grupo e desvalorização do grupo dos outros. Das observações trazidas por esse autor conclui-se sobre a importância das organizações adotarem estratégias de gestão que favoreçam o estabelecimento de vínculos entre trabalhadores de diferentes origens, de sorte a contornar a ocorrência dos fenômenos de discriminação observados neste trabalho.

Investigando também a natureza das relações de trabalho ocorridas na Península Ibérica, e em especial na Espanha, o trabalho de Clara Selva Olid, Susana Pallarès Parejo e Miguel Angel Sahagún Padilla apresenta um panorama sobre a situação da mulher no mercado de trabalho. Para tanto descreve a diversidade de obstáculos que ela encontra dentro e fora da organização para construir e consolidar uma carreira de êxito em um cenário historicamente conhecido como território masculino: o da gestão empresarial. Os dados apresentados pelas autoras mostram o árduo caminho que as mulheres devem percorrer nessa jornada, evidenciando como as estratégias organizacionais tendem a favorecer o concorrente do sexo masculino, tendo em vista as demandas impostas.

Dando continuidade, fazemos referência ao trabalho de revisão de literatura realizado por Alexsandro Luiz de Andrade e Vívian Louzada Frossard que focaliza os estudos publicados no Brasil, sobre a temática de aspectos humanos no trabalho, veiculados em revistas das áreas de Psicologia e de Administração. O estudo realizado por esses autores revela que a maior parte dessas publicações é de autoria de pesquisadores vinculados a instituições públicas de ensino, do que concluímos sobre o importante papel da universidade brasileira para o avanço do conhecimento. Os achados desse estudo também mostram que temáticas como: saúde mental, comportamento organizacional e identidade profissional, são os de maior prevalência, o que novamente nos permite afirmar que o estudo das estratégias de gestão constitui tema central, tendo em vista os efeitos que podem desencadear, com maior ou menor intensidade, nos fenômenos que mostram espertar o interesse dos pesquisadores interessados em estudar os aspectos humanos no trabalho.

Para fechar este editorial, mencionamos o trabalho realizado por Antonio Tupinambá, que resenha a obra intitulada Innovation and international corporate growth.Essa obra aborda a busca pela eficiência e resolução de problemas, em um cenário caracterizado pelo choque pos quebra financeira, referida como inovação que, segundo o autor, está relacionada a eficiência das estratégias empresariais no âmbito internacionais e à sua relação com mercados de capital.

Para a equipe de editores da rPOT, torna-se evidente a necessidade de outorgar a devida atenção e centralidade às práticas de gestão, de diversas índoles, adotadas pelas empresas, tendo em vista os efeitos que delas podem resultar. Conforme visto pelos manuscritos que compõem este numero, o interesse por essa temática, entendida da maneira mais ampla, se estende além das fronteiras do Brasil, e mostra consequências, tanto no nível dos indivíduos, como dos grupos e das organizações. A realização dessa discussão somente foi possível graças às diversas contribuições dos pesquisadores entusiastas que consideram relevante trazer luz a um campo do conhecimento cheio de desafios e incertezas, e por essa razão expressamos a eles o nosso agradecimento.

 

Equipe Editorial da rPOT