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Revista Psicologia Organizações e Trabalho
versão On-line ISSN 1984-6657
Rev. Psicol., Organ. Trab. vol.21 no.3 Brasília jul./set. 2021
https://doi.org/10.5935/rpot/2021.3.21517
Relato de experiência: oficina virtual de educação financeira em tempos de pandemia
Experience report: virtual financial education workshop in pandemic times
Informe de experiencia: taller virtual de educación financiera en tiempos de pandemia
Lucas Marin Bessa; Juliana Peterle Ronchi
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo, Brasil
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RESUMO
A pandemia da COVID-19 trouxe desafios para as famílias brasileiras, dentre eles o do gerenciamento das finanças pessoais. Assim, o objetivo deste trabalho é apresentar em um relato de experiência os resultados de uma oficina virtual de Educação Financeira para estudantes, familiares e comunidade no entorno de uma Instituição Federal de Ensino. A oficina teve duração de três horas e contou com 30 participantes. Foram apresentadas estratégias para lidar com finanças pessoais; ferramentas para registrar gastos; planejamento financeiro; e aspectos emocionais que influenciam o uso do dinheiro. A oficina possibilitou reflexões sobre a gestão dos recursos pessoais, de modo a proporcionar maior consciência dos riscos e oportunidades para a construção do bem-estar financeiro, o que pode ser gerador de saúde e qualidade de vida. Por fim, o desenvolvimento de práticas virtuais de educação financeira mostra-se importante para auxiliar no enfrentamento de momentos desafiadores.
Palavras-chave: educação financeira, COVID-19, educação.
ABSTRACT
The COVID-19 pandemic has brought challenges for Brazilian families, including the management of personal finances. Thus, the objective of this study is to present,in an experience report, the results of a virtual financial education workshop for students, family members and the community around a Federal Educational Institution. The workshop lasted 3 hours and had 30 participants. Issues related to strategies to deal with personal finances, tools to record expenses, financial planning, and emotional aspects that influence the use of money were presented. The workshop allowed reflections on the management of personal finance, in order to provide greater awareness of the risks and opportunities for the construction of financial well-being, which can be a generator of health and quality of life. Finally, the development of financial education virtual practices is important to help deal with challenging moments.
Keywords: financial education, COVID-19, education.
RESUMEN
La pandemia de COVID-19 ha traído desafíos para las familias brasileñas, incluyendo el manejo de las finanzas personales. Así, el objetivo de este trabajo es presentar en un informe de experiencia los resultados de un taller virtual de educación financiera para estudiantes, familiares y la comunidad en torno a una Institución Educativa Federal. El taller tuvo una duración de tres horas y contó con 30 participantes. Se presentaron estrategias para hacer frente a las finanzas personales; herramientas para registrar gastos; planificación financiera y; aspectos emocionales que influyen en el uso del dinero. El taller permitió la reflexion sobre la gestión de los recursos personales, con el fin de proporcionar una mayor conciencia de los riesgos y oportunidades para la construcción del bienestar financiero, lo cual puede ser un generador de salud y calidad de vida. Por último, el desarrollo de prácticas virtuales de educación financiera resulta importante para ayudar en el enfrentamiento de momentos difíciles.
Palabras clave: educación financiera, COVID-19, educación.
A pandemia da COVID-19, doença infecciosa causada por um vírus que se espalha através do contato com secreções das pessoas contaminadas e pode trazer prejuízos graves à saúde (Organização Pan-Americana da Saúde [OPAS], 2020), têm impactado as pessoas e as organizações em vários níveis. Na economia, por exemplo, o impacto da COVID-19 é significativo, com ameaças a postos de trabalho e renda, evidenciando cenário de incertezas para trabalhadores e empresários (Cruz et al., 2020).
Nesse contexto, o índice de endividamento da população brasileira em julho de 2020 chegou a 67.4%, de acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) elaborada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC, 2020). Isso significa que mais da metade da população brasileira estava com boletos e contas para pagar nos últimos meses e, como complicador, 76.2% desses boletos são de cartões de crédito, que cobram taxas próximas dos 300% ao ano. A PEIC (CNC, 2020) aponta ainda que 26,3% dos brasileiros estão inadimplentes, ou seja, têm contas em atraso. Assim, a oferta de atividades sobre educação financeira pode contribuir para a organização das pessoas no que tange a utilização dos seus recursos financeiros (Atkinson & Messy, 2011; Messy & Monticone, 2016; Potrich, Vieira, & Kirch, 2015). Também, Kaiser e Menkhoff (2017) apresentam que quanto maior a exposição de uma pessoa a iniciativas de educação financeira, melhor tende a ser a forma como lida com seus recursos financeiros e, consequentemente, menor tende a ser o seu endividamento.
Para a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, 2005), a educação financeira é um processo de aprimoramento da compreensão e da consciência em relação aos riscos e às oportunidades para atingir o bem-estar financeiro. Dessa forma, um professor de finanças e uma psicóloga de um campus do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (IFES) desenvolveram uma oficina virtual de educação financeira para estudantes, familiares e comunidade local onde se insere a Instituição, visando oferecer ferramentas para melhorar a gestão dos recursos financeiros pessoais diante do cenário das vivências da pandemia da COVID-19. Nessa oficina foram apresentados assuntos como: estratégias para lidar com finanças pessoais, ferramentas para registrar gastos, planejamento financeiro e aspectos emocionais que influenciam o uso do dinheiro.
É importante considerar que atividades desenvolvidas na área de educação financeira podem colaborar com reflexões sobre bem-estar e qualidade de vida, características que se relacionam a ações de promoção à saúde, na perspectiva da Carta de Ottawa (1986). Nesse sentido, essa ação pode ser considerada também como uma atividade de promoção à saúde, o que tem sido apresentado como uma das possibilidades do trabalho do psicólogo na escola (Prudêncio, Gesser, Oltramari, & Cord, 2015; Ronchi, 2019), uma vez que possibilita aos sujeitos construir instrumentos para lidar com desafios do cotidiano, por exemplo colabora com reflexões sobre os desafios do mundo do trabalho, ao integrar os conhecimentos das finanças com a psicologia, potencializando reflexões sobre tomadas de decisões e as emoções nesse processo, o que pode auxiliar os participantes na percepção de suas escolhas, no percurso profissional, inclusive considerando que a instituição educacional em que este trabalho foi desenvolvido é uma instituição de ensino técnico, profissionalizante.
Assim, dentro de cada realidade, mostra-se importante, como evidenciam Castro, Oliveira, Morais e Gai (2020) que as organizações construam estratégias para lidar com as novas rotinas impostas pela COVID-19. Dessa forma, no ambiente educacional, o distanciamento social e o ensino remoto exigem dos professores e da equipe das instituições de ensino a reorganização dos conteúdos e das formas de ministrá-los. Silveira, Miguel e Del Maestro (2021) apresentam em seus estudos os desafios e as potencialidades alcançadas por iniciativas de extensão ocorridas de forma interdisciplinar, especialmente no momento da pandemia da COVID-19.
Sendo assim, o objetivo deste trabalho é apresentar em um relato de experiência os resultados de uma oficina virtual de Educação Financeira para estudantes, familiares e comunidade no entorno de uma Instituição Federal de Ensino, no cenário do distanciamento social imposto pela pandemia da COVID-19.
Método
Uma ação de extensão em formato de oficina virtual foi organizada por um professor de finanças e pela psicóloga de um campus do IFES, visando adaptar um trabalho que já ocorre na Instituição no formato presencial desde o ano de 2015. Com o nome "Como lidar com suas finanças pessoais em tempos de pandemia", o evento virtual ocorreu em uma noite no mês de junho, com duração de três horas. A ação foi ofertada para estudantes e servidores de uma Instituição Federal de Ensino e também para membros da comunidade externa à Instituição. A oferta do evento teve ampla divulgação nos sites e redes sociais institucional e por meio de um portal de notícias regional, observando a importância do tema diante do pedido das pessoas da comunidade que desejavam conhecer instrumentos para lidar com o momento de incertezas no âmbito da gestão dos recursos pessoais. Assim, por meio da divulgação em formato digital, 30 pessoas interessadas se inscreveram para participar, através de um formulário eletrônico.
Todas as atividades do evento foram desenvolvidas em formato virtual, da divulgação, inscrições, ocorrência do evento até a avaliação final e entrega dos certificados que foi enviado por meio de correio eletrônico. Os participantes acessaram a sala para entrar na atividade através do endereço enviado por e-mail, informado no ato da inscrição e, a partir do acesso, tinham a possibilidade do microfone e webcam, interagindo também por meio do chat.
Ainda, no momento de inscrição no evento, todos foram solicitados a preencher um questionário, visando coletar informações sobre o comportamento financeiro e auxiliar na condução das atividades por parte dos organizadores, com questões relacionadas à forma como utilizavam seus ganhos, se possuíam investimentos, se já haviam participado de outras iniciativas de educação financeira e suas expectativas para o momento. Dessa forma, os assuntos abordados na oficina virtual foram:
Tópicos relacionados ao cenário econômico no momento da pandemia da COVID-19 como: taxa de desemprego, taxa de juros e alta do dólar;
O impacto da pandemia quanto ao ato de consumo, pois muitos não utilizavam serviços como compra por meios eletrônicos e com o cenário da COVID-19 passaram a utilizar;
A influência das emoções e dos sentimentos nos atos de consumo, em que foi possível trabalhar a importância do autoconhecimento para a organização e o planejamento financeiro e o risco de realizar compras em momentos de raiva, tristeza, ou por impulso, sem planejamento, por exemplo sem lista de compras, tendendo a um consumo menos consciente;
Estratégias para o registro dos gastos pessoais também foram parte das discussões, sendo acompanhadas de dinâmicas com uso de imagens e reflexões visando a ofertar ferramentas para que os participantes colocassem em prática as atividades e registrassem seus gastos e despesas;
Questões relacionadas a corte de gastos;
Por fim, dicas visando a incentivar a prática de controle orçamentário entre os membros da família, colaborando com a organização financeira.
Além disso, destaca-se que, tanto o professor de finanças quanto a Psicóloga desenvolveram todos os temas. Cada um abordou os eixos temáticos oriundos das suas áreas. Por exemplo, no momento da discussão sobre o planejamento financeiro, o professor apresentou sobre questões técnicas e sobre taxas de juros. Já a psicóloga discorreu sobre a importância do planejamento para o bem-estar e para melhor qualidade de vida, relacionando os conhecimentos técnicos às vivências das emoções e dos sentimentos e trazendo reflexões sobre o uso mais consciente do dinheiro.
Resultado e Discussão
Desafios e Potencialidades de uma Oficina de Educação Financeira Virtual
No intuito de melhor realização da oficina, os organizadores solicitaram que os participantes respondessem a um questionário, como apresentado no Método. Assim, quando perguntados sobre a expectativa para participar do evento, dentre os apontamentos realizados destacaram-se expectativas a respeito de aprender a lidar com o dinheiro e repensar a organização das contas com estratégias para enfrentar a pandemia da COVID-19, evidenciando a importância de ações como a realizada.
Na realização da oficina, no momento inicial, os organizadores apresentaram a estrutura e incentivaram os participantes para que interagissem por meio do chat ou por voz. Quanto ao público, destaca-se a participação de muitos jovens, tendo a maioria faixa etária entre 16 e 25 anos. Faz-se importante destacar que de acordo com pesquisa PEIC (CNC, 2020), os jovens apresentam elevado nível de endividamento, e assim podem necessitar de mais atividades relacionadas à educação financeira (Lins & Poeschl, 2015).
Uma das questões apresentadas no formulário foi a observação do participante sobre algum impacto financeiro desde o início da pandemia. Nessa questão, 34% de quem respondeu informou que ele próprio ou alguém da família havia perdido o vínculo empregatício desde o início da pandemia. Isso vai ao encontro dos resultados encontrados pelo relatório da pesquisa PEIC (CNC, 2020), como o aumento de endividados durante a pandemia e o aumento da taxa de desemprego no país.
A partir desses dados levantados no questionário, foi possível trabalhar sobre o orçamento familiar e a utilização de ferramentas para organização dos recursos financeiros. Destacou-se a importância de o participante observar as compras dos meses anteriores para distinguir o que tem sido consumido em suas residências e que se caracteriza como necessário, supérfluo e desperdício. Ainda, foi apresentado o exemplo de um casal que estava com suas contas em atraso, dinâmica essa que possibilitou que muitos participantes apontassem o que e onde indicariam reduzir e cortar gastos, já se inserindo no campo prático das atividades apresentadas.
Quanto ao planejamento, foi discutida a necessidade de se pensar o futuro e a aposentadoria. Foram apresentados gráficos demonstrativos da conclusão de que, quanto antes o indivíduo inicia sua poupança para aposentadoria, menos necessitará poupar mensalmente. Os organizadores trouxeram, nesse momento, discussões sobre o futuro e reflexões sobre como o consumo presente impacta o longo prazo. Nesses aspectos, também foram desenvolvidas reflexões sobre carreira e o mundo do trabalho, assim como sobre destacar a necessidade de pensar o futuro a partir do presente, também envolvendo o campo dos investimentos (Bessa & Ronchi, 2017).
Ressalta-se que a pandemia da COVID-19 poderá despertar um aumento de interesse em realizar investimentos e organizar reservas de emergência. Cerca de 66% dos participantes da ação disseram que separam parte dos ganhos para investimentos, e 88,57% apontaram a educação financeira como importante para sua saúde. Bessa e Ronchi (2017), ao apresentar uma prática desenvolvida com alunos do ensino profissionalizante, reforçam a importância de práticas de educação financeira para jovens, uma vez que a área financeira pode ser relacionada com fatores que promovem saúde.
Cerca de 77% dos participantes disseram conversar com seus familiares sobre dinheiro. Um dos principais tópicos apresentados pelos organizadores do evento foi a importância de conversar com os membros da família quanto ao uso dos recursos financeiros, visto que uma estratégia tem maior potencial quando todos os membros da família a seguem. As discussões sobre a importância do envolvimento de todos os membros da família na educação financeira vão ao encontro dos estudos de Lauer-Leite, Magalhães, Lordelo e Lelis (2010).
Durante toda a oficina e, principalmente, nos momentos finais, foram apresentados o impacto dos aspectos emocionais nas decisões financeiras. Acentuou-se a tendência de maior consumo em momentos de raiva e ansiedade e a necessidade de organização de listas de compras como estratégia de organização para o consumo consciente. Além disso, exercícios de respiração foram indicados como estratégias para lidar com a ansiedade, o que caracterizou ainda mais a interdisciplinaridade dos assuntos discutidos na oficina.
Após a realização do evento, todos os participantes receberam um link para acesso a um formulário eletrônico para avaliar as atividades do curso. Todos os respondentes afirmaram que indicariam o evento para outros participantes, o que demonstra a aceitação da atividade. Salienta-se que, dentre os itens avaliados, a maioria apresentou o evento como positivo. Como sugestões, muitos apresentaram a necessidade de maior tempo para as próximas atividades.
Pontua-se que essa foi a primeira oficina realizada sobre o assunto pelos organizadores de forma virtual. Isso trouxe desafios como, p. ex., a diferença na análise sobre a recepção do conteúdo pelo público. Na modalidade presencial, o participante interage por meio de gestos e expressões faciais, algo que é menos perceptível no ambiente virtual. Ademais, sublinha-se a necessidade de o participante ter acesso à internet e recursos tecnológicos para participar. Isso, por si só, já limita a participação de muitas pessoas, em função da desigualdade social evidenciada pela pandemia da COVID-19 no país, onde há populações sem acesso a computador e internet, por exemplo. Esse panorama deve ser considerado na construção de políticas públicas.
No entanto, também foi observado que um evento virtual tem como potencialidades o alcance das pessoas que antes não podiam despender tempo e/ou não teriam transporte para chegarem até o local do evento. Nesse caso, o Campus do IFES em que a ação foi organizada fica localizado em uma cidade do interior do estado do Espírito Santo, com pouco mais de vinte mil habitantes. O fato de a participação na oficina acontecer de dentro da casa do participante já o insere em uma discussão familiar sobre o tema, o que facilita a participação de outros membros da família. Essa estratégia foi explorada pelos organizadores do evento no decorrer dele. Tal situação evidencia potencial para futuros eventos nesse formato, abrindo a possibilidade de diálogo sobre o tema. A utilização dos recursos dos quais os usuários já dispõem (p. ex.:computador de mesa, notebook, smartphone ou tablet) também facilitou o acesso. A sala virtual utilizada para o desenvolvimento da oficina não necessitou de instalação de nenhuma nova ferramenta, pois funcionava no navegador de internet do usuário.
Destaca-se que as discussões da educação financeira unindo a psicologia e as finanças possibilitaram aos participantes uma visão mais ampla quanto a questões relacionadas ao homem e sua convivência com o dinheiro e a vida em sociedade. Em diversos estudos são expostos resultados que relacionam as potencialidades dessas áreas de forma interdisciplinar (Bessa & Ronchi, 2017; Potrich et al., 2015; Thaler , 2019; Thaler & Sustein, 2019).
Após a realização da presente atividade e das reflexões realizadas, é importante que iniciativas como essa possam ser desenvolvidas visando a disseminar a educação financeira. Pois, pelo seu caráter transformador, os participantes podem refletir sobre a gestão dos seus recursos pessoais e se conscientizarem dos riscos e das oportunidades para a construção do seu bem-estar financeiro, o que pode ser gerador de saúde e qualidade de vida.
Por fim, a interdisciplinaridade demonstra ser um potencial a ser explorado em atividades sobre educação financeira. Essa área do conhecimento abrange diversas outras áreas, o que possibilita diversos ganhos para os participantes. Faz-se importante, também, que políticas públicas sejam implantadas nas instituições de ensino, com objetivo de fomento a práticas de educação financeira. Desse modo, auxilia-se os participantes dessas oficinas tanto para a instrumentalização visando ao melhor uso dos recursos pessoais quanto na formação para a vida. As informações apresentadas nesse relato apontam que essas práticas também devem considerar o potencial disponível das ferramentas virtuais, aspectos que podem ser fundamentais para alcançar um maior público.
Considerações Finais
Os desafios impostos pela pandemia da COVID-19 acentuam-se em várias áreas do conhecimento. Na economia e na educação, os obstáculos evidenciam a necessidade de novas estratégias para que as pessoas possam estabelecer perspectivas de enfrentamento de crise e de construção de conhecimento. Organizar uma oficina virtual sobre educação financeira em tempos de pandemia mostrou-se positivo pelo potencial das ferramentas virtuais que chegam em maior extensão às pessoas. Essas ferramentas rompem barreiras da distância física, e facilitam o acesso a novos conhecimentos. Além disso, a oficina possibilitou aproximação da instituição educacional com as vivências da comunidade escolar, com temas e reflexões transversais ao currículo, demonstrando a importância de que a escola eduque para a vida, na perspectiva de uma formação autônoma e libertadora. Além do mais, a educação financeira pode ser entendida como importante instrumento para planejamento de carreira e de gestão para uma aposentaria adequada, posto que saber como e onde alocar os recursos são um dos assuntos trabalhados nas atividades de educação financeira.
Faz-se importante destacar que a ação ocorreu de forma interdisciplinar entre um professor e uma psicóloga de um campus do IFES, o que: a) evidencia a interlocução de conhecimentos para reflexões e intervenções sobre as questões da vida, b) colabora com os participantes na construção de estratégias de cuidado e saúde, e c) valoriza a consolidação de ações em promoção à saúde no contexto educacional. Promoção à saúde, na perspectiva da Carta de Ottawa (1986), é um conceito positivo em que se valorizam os recursos sociais, pessoais e físicos na direção da construção de bem-estar e da qualidade de vida. Dessa forma, ações em educação financeira, ao possibilitar às pessoas estratégias de organização da vida com otimização dos seus recursos pessoais, pode ser importante fator de promoção à saúde e por consequência de produção de cuidado.
Assim, com esse relato, espera-se contribuir com o registro de resultados das iniciativas sobre educação financeira nas diversas partes do país e de suas potencialidades, incentivando novos trabalhos nesta área, que pode impactar diretamente a vida das pessoas. Almeja-se a difusão da educação financeira e de seus potenciais ganhos para a transformação social. Essa iniciativa pode servir de auxílio para que outras pessoas possam vencer momentos desafiadores, como os impostos pela pandemia da COVID-19.
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Informações sobre os autores:
Lucas Marin Bessa
E-mail: lucasbes@gmail.com
Juliana Peterle Ronchi
E-mail: peterleronchi@yahoo.com
Submissão: 03/09/2020
Primeira decisão editorial: 14/04/2021
Versão final: 24/06/2021
Aceite: 28/06/2021