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Estudos Interdisciplinares em Psicologia

 ISSN 2236-6407

     

 

Resenha

 

Ana Carolina Zuanazzi Fernandesi

Universidade Estadual de Londrina

Endereço para correspondência

 

 

Couto, G., & Pires, S. D. (Eds.) (2010). Os contornos da psicologia contemporânea. São Paulo: Casa do Psicólogo.

 

Um dos possíveis motivos apontados para explicar a dificuldade encontrada em construir um conhecimento integrado é a grande dispersão de abordagens encontradas na psicologia e consequente falta de comunicação entre elas, sendo que muitas vezes os conhecimentos obtidos, nessas diversas abordagens, podem ser somados. O livro "Os Contornos da Psicologia Contemporânea" propõe a identificação de alguns temas que são percebidos como delineamentos atuais da psicologia no Brasil, integrando desse modo diferentes perspectivas em um único livro.

O primeiro capítulo do livro, escrito por Cláudio Garcia Capitão, intitulado "Psicanálise e ciência: Uma questão não resolvida", traz considerações a respeito dos vários caminhos possíveis para a interpretação dos fenômenos da vida. A uniformidade das teorias científicas ao invés de colaborar para torná-la mais rica, acaba por enfraquecer o espírito crítico e coloca sob ameaça o livre desenvolvimento das pessoas. A realidade, única e total, está fragmentada em várias ciências, sendo que todos os fenômenos se relacionam entre si. A partir desse ponto, o autor traz uma discussão a respeito dos saberes ditos científicos e os ditos não científicos.

O capitulo seguinte, nomeado "Considerações acerca do ciúme romântico e seus manifestações" e escrito por Lucas de Francisco Carvalho, Fernanda Kebleris e José Maurício Haas Bueno, trata o ciúme romântico como uma das possibilidades de manifestação do ciúme e apresenta as principais abordagens sobre o ciúme romântico saudável e patológico. Além disso, aponta alguns fatores que dificultam o estudo desse construto e aspectos relacionados ao impacto social do ciúme romântico, sendo ele apontado como uma problemática no contexto clínico. É apresentado no capítulo duas vertentes teóricas que se propõem a explicar o desenvolvimento desse fenômeno: a psicologia evolutiva e a psicologia sociocognitivista.

O terceiro capítulo, denominado "O que sabemos sobre inteligência emocional" e desenvolvido por Fabiano Koich Miguel, começa com um breve histórico das definições de inteligência e emoção até alcançar o surgimento do conceito de inteligência emocional. Três principais modelos teóricos sobre o assunto são expostos e algumas críticas são levantadas sobre a definição do construto por alguns autores. Por fim, são expostos e analisados criticamente alguns instrumentos de mensuração de inteligência emocional baseados naqueles três principais modelos teóricos.

No quarto capítulo, "Obesidade e análise do comportamento alimentar: Revisão e novos paradigmas de pesquisa", Renato Camargos Viana e Roberto Alves Banaco enfatizam a preocupação voltada para questões como a obesidade e apontam alguns métodos quantitativos e qualitativos utilizados para mensuração da massa corpórea, como por exemplo, o IMC (índice de massa corporal) e os métodos de imagem. É apresentado um breve histórico de como a obesidade era considerada, passando de um distúrbio latente da personalidade a uma consideração de que a obesidade deve ser tratada por meio de uma abordagem multifacetada. Vários trabalhos sobre o assunto são apresentados nesse capítulo que mostram algumas técnicas e procedimentos comportamentais e cognitivos envolvidos na problemática da obesidade.

Os autores Cristina Lemes Barbosa Ferro e Luc Vandenberghe, no quinto capítulo, "A prática de mindfulness na psicoterapia analítico-funcional em grupo para dor crônica" discorrem sobre a dor não com uma experiência apenas sensorial, mas como um conjunto de aspectos emocionais, cognitivos e interpessoais. O processo fisiológico da dor é explicado como uma estratégia para restabelecer a integridade do organismo e a dor crônica como sendo a própria lesão. Existem alguns fatores que contribuem para a piora das sensações de dor, como a tensão prolongada, sendo levantadas justificativas para se trabalhar com variáveis psicológicas. O capítulo descreve uma experiência realizada com exercícios de mindfulness introduzidos no contexto de uma terapia de grupo baseada no modelo teórico da terceira geração, FAP e ACT.

O sexto capítulo, chamado "Psicologia jurídica e a perícia psicológica em hospital de custódia: Um compromisso ético entre a justiça e a sociedade" dos autores Rodrigo Soares, Patrícia Farina e Tiago Bagne começa com um breve histórico da questão jurídica desde antes de Cristo com a lei romana das Doze Tábuas e vai até o contexto histórico atual no Brasil, mostrando a relação da doença mental com a lei. O capítulo traz questões em torno das leis aplicadas aos menores infratores desde a internação até o cumprimento de sentença. Na atualidade existe uma demanda de psicólogos sendo inqueridos para atuarem na área da perícia, sendo este trabalho complementar ao trabalho do perito psiquiatra. Os autores apontam algumas teorias para psicologia jurídica, entre elas a Teoria Finalista de Ação e o Direito Positivista. Alguns exemplos de psicopatologias e transtornos são expostos, além da função e finalidade do psicólogo jurídico na atualidade tratando também da questão deficitária que se encontram os hospitais de custódia.

"Os desafios do bem-viver psíquico no trabalho", escrito por Ricardo Augusto Alves de Carvalho e Sanyo Drummond Pires, é o último capítulo do livro e traz considerações acerca da qualidade psíquica dos trabalhadores. Começa explicitando algumas categorias como, por exemplo, o trabalhador, o trabalho e a saúde psíquica. São delineadas indicações breves dos espectro teórico e suas implicações metodológicas como, por exemplo, a psicossociologia de linhas francesas e a ergologia. São dadas algumas pistas e indícios para uma atuação do profissional da saúde psíquica no trabalho, além de algumas bases conceituais do campo teórico da ergologia de origem francesa. Os autores terminam o capítulo ressaltando a importância em se reafirmar o processo coletivo como principio, meio e fim da democracia e a necessidade em se tecer estratégias de reconhecimento no trabalho como mensura da gestão.

Os capítulos do livro trazem vários temas a respeito da psicologia na contemporaneidade. Por isso, esse livro é recomendado a estudantes, pesquisadores e profissionais que estejam interessados em atualizar e ampliar seus conhecimentos, permitindo que assim a Psicologia continue a evoluir em direção ao saber diversificado.

 

Endereço para correspondência
e-mail: anacarolina.zf@hotmail.com

 

 

iBolsista de Iniciação Científica do Curso de Psicologia da Universidade Estadual de Londrina.