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Analytica: Revista de Psicanálise

 ISSN 2316-5197

     

 

EDITORIAL

 

Editorial

 

 

Adentramos mais um ano em que a Analytica - revista de psicanálise reafirma seu compromisso e sua linha editorial de publicar pesquisas de alta qualidade no campo da psicanálise, conservando o pluralismo das abordagens, o rigor dos conceitos, a soberania da clínica em seus variados dispositivos e as contribuições ao campo da cultura, da arte, da política, etc., que sempre marcaram escopo das produção psicanalítica e a singularidade de seu papel na cultura.

De fato, qual lugar da psicanálise e do psicanalista na contemporaneidade? Certamente as vias de respostas para esta questão são múltiplas, mas pensamos que existe uma orientação fundamental capaz de nos situar. Trata-se da hipótese fundadora de Freud, aquela do inconsciente.

Há que se tomar todo cuidado, neste sentido, para não substancializarmos, ou naturalizarmos, este conceito primeiro. Nada mais estranho, ainda no século XXI, e talvez mais ainda agora, do que orientarmos uma prática, uma clínica, uma inserção nas equipes multiprofissionais de saúde mental, uma leitura da política, enfim, uma ética, a partir da ideia de inconsciente. Se é verdade que se falava muito, já, ao menos desde o romantismo, de inconsciente na Europa do século XIX, ou de temas correlatos, é a partir desde solo que Freud articula algo inédito, uma hipótese que até hoje causa as mesmas discordâncias, estranhezas, etc., que à época em que foi primeiramente formulada.  Vale, então, para nós ainda, a advertência lançada por Lacan, nos anos 50, para não domesticarmos o "acheronta movebo" que inaugura a psicanálise, a estranha vontade de botar a mão na lama, no charco da subjetividade, descobrindo ali sua divisão mesma:.Tal hipótese, nos parece, se é estranha  aos detratores da psicanálise, não deveria causar estranheza, também  (embora em outro sentido, claro),  aos próprios psicanalistas?

A premissa de base que constitui a psicanálise, a do inconsciente, é a aposta de que o sujeito é dividido, isto é, de que nem os ideais morais civilizados, nem as demandas narcísicas do ego são capazes de curar o mal-estar estrutural que se expressa na irredutibilidade do conflito psíquico. Neste sentido, narcisismo e ideais morais são , como Freud observa em 1914, correlatos, algo que o contemporâneo parece cada vez mais confirmar: ambos pesam sobre os sujeitos com suas demandas, incitações, interditos. Neste sentido, a psicanálise, já em seu momento fundador, debruçara-se sobre os doentes do ideal, da moral, sobre os sujeitos que manifestam, em seus sintomas, fantasias, angustias, as impossibilidades, o furo inerente aos ideais civilizados, ainda que estes sejam, como atualmente, ideais prioritariamente narcísicos.

Desta forma, acolhemos os artigos aqui presentes, na nova edição da revista, por sua contribuição à pesquisa psicanalítica, assim como também acolhemos e damos boas vindas à professora Dra. .do departamento de psicologia da UFSJ e do Núcleo de pesquisa e extensão em psicanálise( NUPEP), Magali Milene Silva, como nova  editora científica da Revista.

Boa leitura!

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