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Clínica & Cultura
versão On-line ISSN 2317-2509
Clín. & Cult. vol.8 no.2 São Cristovão jul./dez. 2019
Marcel Santiago Soares
Psicólogo e Psicanalista. Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Teoria Psicanalítica da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Mestre em Psicologia Social pela Universidade Federal de Sergipe
É com satisfação que apresentamos agora o segundo caderno do dossiê especial Rede Internacional de Pesquisa em Psicanálise e Política (RedIPPol). Sua primeira parte pode ser encontrada em nosso número anterior e, junto a esta que se segue, deve ser lida como a colocação em forma das reflexões e pesquisas que interrogam o corpo de psicanalistas contemporâneos. Uma interrogação que não conseguiria ser posta se não fosse pelo atravessamento de outros discursos ao psicanalítico, ampliando assim a gramática com a qual nomeamos os fenômenos - e indicando, sobretudo, os limites de uma linguagem que se crê ter capturado a trama do mundo.
Talvez essa seja a linha de força que pode ser mais facilmente notada diante do amplo escopo de trabalhos que se seguem. Ora na convocação de outros saberes, como o discurso feminista ou estético, ora a partir da análise dos efeitos da violência institucional e da razão neoliberal na história dos sujeitos, ou mesmo em uma inversão de perspectiva ao investigar os fundamentos conservadores da própria epistemologia psicanalítica, o leitor encontrará nas próximas páginas o convite ao trabalho - que também é o convite a atrasar a chegada da barbárie.
Por fim, uma lembrança. Ao passar os olhos por essa página o leitor deverá já ter se entorpecido com a contagem de mortos diária que assola o mundo e, de modo especial, o Brasil. Em nosso território sabemos que não tardará a chegada do número incompreensível de quinhentas mil mortes. Um número que pode ser processado cognitivamente, mas que parece ter perdido o poder de nos abismar. Nos cabe então a coragem de formular a questão: como sendo um periódico acadêmico, com ISSN, normas, conselho editorial, pareceristas, revisores, autores e editores, podemos influir no tempo presente?
Que essa possa ser a pergunta que norteei a leitura dos trabalhos presentes.