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Psicologia Clínica
versão impressa ISSN 0103-5665versão On-line ISSN 1980-5438
Resumo
VORSATZ, Ingrid. O sujeito da psicanálise e o sujeito da ciência: Descartes, Freud e Lacan. Psicol. clin. [online]. 2015, vol.27, n.2, pp.249-273. ISSN 0103-5665.
Partindo da problematização proposta por Lacan acerca do sujeito da psicanálise enquanto o correlato antinômico do sujeito da ciência moderna, procura-se destacar os elementos que constituem o cerne de sua argumentação. O sujeito da ciência emerge da démarche cartesiana conhecida como o cogito no momento em que o procedimento metodológico da dúvida encontra seu ponto de basta numa asserção insofismável: "sou". O sujeito da psicanálise, suposto ao inconsciente (das Unbewusste), inferido por Freud a propósito do elemento duvidoso do sonho, é tributário do procedimento cartesiano. A certeza é o ponto para o qual convergem os encaminhamentos de Descartes e Freud. Mas, enquanto o primeiro recua e institui Deus como garante da verdade, o fundador da psicanálise avança exortando o sujeito a se responsabilizar por aquilo que advém como injunção inconsciente. Do lado do discurso da ciência o sujeito é um elemento alheio ao plano dos enunciados que visam recobrir a totalidade do real - que, de resto, resiste a uma apreensão exaustiva. Recolhido pela psicanálise, esse elemento subtraído da ordem de razões, resto fecundo, tem como dever garantir o campo em relação ao qual se encontra subsumido, numa torção causal que faz ressaltar o estatuto ético do conceito maior (Grundbegriff) estabelecido por Freud.
Palavras-chave : psicanálise; ciência moderna; desejo; sujeito; ética.