Editorial

O volume 8 nº 2/2016 é uma obra que revela a potencia do trabalho em equipe, pois envolve atuação conjunta das editorias geral, executiva e adjuntos para oferecer insumos resultantes da troca de experiência. O presente número demonstra postura vanguardista de manter o periódico atualizado como fonte de informações no campo de publicação. Reúne artigos de vários pesquisadores nacionais e estrangeiros que dialogam sobre Fenomenologia e Antropologia Filosófica. Alguns desses artigos foram apresentados e debatidos no III Encontro de Psicologia, Fenomenologia e Realidade Brasileira & I Simpósio Internacional de Fenomenologia e Ciências Cognitivas, realizado em Agosto de 2014 na Universidade Federal de Uberlândia e cuja temática foi "Cognição, Ontologia e Antropologia Filosófica". Outros artigos nasceram de outras interlocuções e parcerias que se desenvolveram a partir desse encontro.

O "Encontro de Psicologia, Fenomenologia e Realidade Brasileira"foi concebido pelos professores Tommy Akira Goto da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e Gustavo Alvarenga Oliveira Santos da Universidade Federal do Triangulo Mineiro (UFTM) com objetivo de discutir e refletir as contribuições da fenomenologia filosófica à psicologia na região do Triângulo Mineiro que carece dessa perspectiva filosófica e psicológica. Nesse sentido, o evento que está fundamentado pelas linhas de pesquisa dos idealizadores, tem buscado construir uma ciência psicológica segura, autêntica, a partir de uma ciência que considere radicalmente a intersubjetividade e realidade social, tal como Edmund Husserl (1859-1938) preconizou, ou seja, a ciência "Psicologia Fenomenológica". Ainda, motivados a acompanhar a realidade social e cultural brasileira, bem como a inserção do psicólogo nas políticas públicas e novas demandas, o evento também mantém o foco de contribuir com reflexões, diálogos e possíveis intervenções pautadas na Psicologia Fenomenológica, Antropologia Filosófica e áreas afins.

Os artigos aqui publicados trazem conhecimentos da Fenomenologia com relação à Psicologia, à Antropologia Filosófica, à Ontologia e demais ciências, promovendo dessa maneira aproximações férteis em diálogos interdisciplinares, mesmo havendo críticas de ambos os lados. Apontam ainda para possibilidades de pesquisa e trazem resultados proporcionados pela fenomenologia mostrando a relevância das discussões realizadas, como também consideram os resultados obtidos pela Psicologia, Antropologia e Ontologia pelo valor que têm no horizonte da fenomenologia.

Contamos com três contribuições de pesquisadores estrangeiros, representantes de renomados centros de pesquisa de Fenomenologia. Dois desses autores, a Dra. Marcela Venebra Muñoz e o Dr. Ignacio Quepons Ramírez, além de serem docentes de importantes universidades no México, também são pesquisadores do "Seminario de Estudios y Proyectos de Fenomenología Husserliana"- UNAM/UMSNH e do "Seminario de Estudios Básicos de Fenomenología Trascendental"(SEBFT) do Instituto de Investigaciones Filosóficas, UNAM, México. Esses dois autores nos trazem considerações importantes sobre Fenomenologia, Antropologia e Afetividade. Já outro autor, o Dr. Wojciech Starzyński, tem atualmente participado como docente convidado de algumas universidades brasileiras e é pesquisador da "Academia Polaca de Ciências"(PAN), do Instituto de Filosofia e Sociologia e do Departamento de História da Filosofia Moderna e Contemporânea. Trata-se de um importante pesquisador e tradutor reconhecido pelo filósofo francês Jean Luc-Marion.

Somam-se a estes as diversas as contribuições de autores brasileiros, docentes e participantes de grupos de pesquisa de Fenomenologia e Psicologia. Dois desses artigos promovem o diálogo da Fenomenologia com outras áreas, tais como a psicologia e a literatura. No artigo da Dra. Maria Clara Jost, pesquisadora do "método da abordagem direta ao inconsciente"(ADI), temos a explicitação de como a antropologia fenomenológica de Edith Stein pode contribuir para uma psicologia que venha intervir junto aos jovens infratores. Outra contribuição vem do Dr. Paulo Castelo Branco que expõe a possibilidade da relação da fenomenologia social com a literatura, mais especificamente no romance O quinze, de Rachel de Queiroz.

Dois outros artigos mais propriamente filosóficos trazem uma belíssima e consistente introdução a assuntos fenomenológicos de E. Husserl, E. Levinas e M. Heidegger. No artigo do Dr. Silvestre Grzibowski temos uma importante interpretação e explicação da "intuição"e da "percepção"elaboradas por Husserl, a partir da leitura de Levinas. No outro, o Dr. Renato Kirchner, nos apresenta uma síntese da analítica existencial presente na obra "Ser e Tempo"(1927), destacando a originalidade dessa analítica existencial diante da antropologia filosófica.

No último artigo, de caráter mais quantitativo, temos as contribuições dos pesquisadores Dra. Marciana Gonçalves Farinha, Dr. Sinésio Gomide Junior e Ítalo Weiner Martins de Oliveira sobre o consumo alcoólico por estudantes de ciências agrárias de uma universidade pública do Centro-Oeste brasileiro.

Por fim, o leitor perceberá que nesse número publicamos artigos que dão exemplos que evidenciam a riqueza do cenário científico e filosófico brasileiro, em que existe abertura e espaço repleto de possibilidades para apreciar com mais amplitude e consistência as confluências entre a fenomenologia e as demais ciências no que se refere principalmente à experiência psicológica, antropológica e existencial do humano. Além de apontar para um território fecundo de pesquisas, estudos e, principalmente, para a formação do psicólogo em um diálogo interdisciplinar.

Tommy Akira Goto
Lucivaldo Araújo
Marciana Farinha
Adelma Pimentel