EDITORIAL

Caro leitor

O tema da revista IDE que você tem em mãos neste momento poderia ter tido outro ponto de partida. Afinal, sonhos e psicanálise se deram as mãos faz muito tempo (1900) e desde então jamais se abandonaram. A proposta deste número poderia ter se iniciado em outros lugares, pois eles são inúmeros. Mas tudo começou nas imagens criadas sobre relatos de sonhos, enviados por meio de cartas a uma revista feminina. Tínhamos os sonhos, as cartas, e mais um elemento que nos colocava de sobreaviso: a interpretação psicanalítica fora dos consultórios.

A observação das fotomontagens dos sonhos nos levou, sem-cerimônia, ao encontro de nossos próprios sonhos e da inequívoca sensação de pertencimento. Além disso, nos conduziu, sem hesitar, à convicção de que a imagem onírica não sobrevive sem as palavras que a organizam, protegem e acomodam. As palavras são, para os sonhos, como uma pele.

Foi partindo desse ponto, em particular, do encontro entre a imagem onírica e suas palavras correspondentes, que nos dedicamos a este volume da revista.

No decorrer das páginas que se seguirão a imaginação será porta de entrada ao terreno comum tanto das imagens quanto das palavras. Através dela pode-se caminhar em trânsito livre entre imagens despertadas pelo som, palavra literária, música, cena cinematográfica, sem deixar de lado a palavra interpretativa do psicanalista quando esta é solicitada entre as quatro paredes do consultório.

Sobre a interpretação psicanalítica sem divã, caro leitor, não haverá unanimidade, mas você encontrará reflexões que poderão, caso esse seja um tema de seu interesse, acrescentar mais elementos ao seu pensamento. Poderá também conhecer um tanto sobre Grete Stern, a fotógrafa que ofereceu imagem aos sonhos relatados e que nos abriu caminho para uma série de pensamentos. O lugar reservado aos artigos não temáticos e as resenhas permanece, como sempre, preenchido com estimulantes considerações.

Além disso, você encontrará a nova seção “Cartas do Leitor” em franca atividade. Chegue até lá e participe do diálogo entre leitores e autores.

Seja bem-vindo. Abra a próxima página e mergulhe nos artigos tal como um sonho que a ide, como uma pele, acomodou.

Cintia Buschinelli