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Temas em Psicologia

versão impressa ISSN 1413-389X

Temas psicol. vol.19 no.1 Ribeirão Preto jun. 2011

 

Prefácio

 

 

A psicologia social estava à deriva, agora ela encontrou um rumo. Seus centros de pesquisa e, sobretudo suas próprias pesquisas chegaram ao que podemos chamar de maturidade, ela mudou de dimensão. Nossos colegas que participaram desta edição especial da revista Temas em Psicologia nos dão a única prova que pode existir: a diversidade de escolhas científicas e de pesquisas realizadas.

Os diversos artigos aqui apresentados, do Laboratório de Psicologia Social da Comunicação e da Cognição ou dos pesquisadores que com ele dialogam ao longo do tempo, fornecem um duplo testemunho: 1) sobre a vitalidade do campo de estudos sobre as representações sociais no Brasil, e 2) sobre o interesse conferido à relação do fenômeno das representações sociais com os problemas que afetam uma sociedade em momentos cruciais de sua história. E isso me fez lembrar as preocupações que eu tinha em minhas pesquisas iniciais.

Quando comecei minhas pesquisas no campo da psicologia social eu tinha uma preocupação constante de não encontrar aplicação nem para esta ciência, e nem para os estudos dos fenômenos da representação social que tanto me interessa. Essa preocupação parecia estar relacionada a uma questão proveniente da própria sociedade: como poderíamos esperar algo da pesquisa quando acreditávamos que as respostas deveriam necessariamente ser apenas políticas? No entanto, tínhamos a impressão de que precisávamos de um grande número de pessoas e idéias bastante diversas para decifrar o significado das catástrofes que nos tinha deixado a guerra.

De fato, cada pesquisa foi uma espécie de revelação, pois nós ignorávamos a penetração gradual da questão social na vida coletiva. E o que chamava nossa atenção foi o fato de que queríamos ignorar o social, enquanto ele era a razão visível do que tínhamos criado na Europa após a guerra, e foi isso conferiu todo interesse aos estudos de campo que eu realizei em paralelo com a pesquisa sobre a psicanálise. Na verdade, eram estudos sobre o mundo do trabalho que expressaram esta tentativa de compreender o nosso mundo, não o mundo econômico ou político, mas o mundo do trabalho.

Certamente o estudo da psicanálise foi decisivo. Mas com a leitura deste excelente número de nossos colegas brasileiros, inspirado pela teoria concebida há cinquenta anos atrás, tive a impressão de que as questões que propus sobre o mundo do trabalho voltaram a ser atuais, embora abordadas em diferentes campos. E os artigos, que são de grande qualidade, nos dão vontade de discutir mais sobre áreas de aplicação, como foi a área do trabalho, como de retornar sobre o que fiz na época em que trabalhei na teoria das representações sociais.

Para mim foram anos de descoberta do mundo do trabalho na França, das minas de carvão, das oficinas onde as luzes estavam sempre acesas, das regiões onde se exercia a mesma profissão durante meio século; as "comunidades" para citar uma expressão de nossos amigos ingleses, amplamente adotada com orientações claramente sociais pela pesquisa brasileira, que figuravam na história do que foi chamado de artesãos e trabalhadores e que ainda figuram nos livros de história. Mais tarde, eu percebi que, em relação a estes campos de interesse, que foram as primeiras representações sociais que eu estava estudando sem o saber.

Tudo isso me veio à mente ao ler este belo número, porque ele me diz que o mundo, a universidade e a ciência estão mudando. Quase todas as referências vão mudar. E nossos amigos brasileiros avançam todos os tipos de ideias para o futuro. E é por isso, por todas estas razões, que estamos no mesmo comprimento de onda e na mesma corrente de amizade.

 

Serge Moscovici
Paris, abril de 2011