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Psicologia: ciência e profissão

versão impressa ISSN 1414-9893

Psicol. cienc. prof. v.8 n.1 Brasília  1988

 

Qual é o projeto da Casa?

 

 

Os técnicos Aidê S. Orsetti, Juarez Alves e Terezinha B. Malta explicam como se iniciou o projeto e quais são os seus desdobramentos ao ser colocado em prática no período inicial de trabalho:

"O Projeto de Atendimento ao Menino de Rua, desenvolvido na Área Central de Belo Horizonte, teve como ponto de partida o Programa Meninos de Rua, cujo objetivo foi conhecer a vida desses meninos. A partir daí, o trabalho foi planejado em três níveis:

1)  na rua — abordagem, apresentação da proposta, manutenção do vínculo estabelecido e triagem para posterior atendimento;

2) na comunidade educativa (a Casa da Rua Ubá) — participação em atividades diversas, visando preparar o menino para se inserir nos serviços prestados pela sociedade e, tendo estas condições, realizar encaminhamentos diversos, dentro do possível: empregos, cursos, família etc;

3) após encaminhamento — acompanhamento dos meninos, ao se inserirem em novo espaço de vida, através de instituições que prestam serviços junto à comunidade, ou feito diretamente pelos educadores da agência.

 

O projeto posto em prática

Durante o desenvolvimento do projeto, efetuaram-se modificações nas várias etapas.

A abordagem do menino aconteceu, inicialmente, na rua, durante o primeiro mês. A partir de então, os educadores passaram a atuar apenas na comunidade educativa (a Casa da Rua Ubá). Inovou-se, na prática, a abordagem de novos meninos na Casa, permitindo-se sua presença como visitantes. Assim, um menino desejoso de conhecer a Casa era convidado a visitá-la por um de seus freqüentadores. De acordo com a lei de horário, chegava até às 9 horas, sendo recepcionado e cadastrado por um educador, que lhe expunha a programação do dia. O menino participava

de todas as atividades. Caso gostasse, retornava para a assembléia geral de 2ª feira, na qual seria decidida sua admissão, em conjunto com os outros meninos.

O retorno dos educadores à rua só acontece quando um menino se ausenta, sem justificativa, durante mais de três dias, ou quando se percebe alguma alteração do trânsito dos meninos da Casa.

Quanto à preparação dos meninos na Comunidade Educativa, inovou-se o planejamento de toda a programação da Casa, através da criação do espaço para as Assembléias (geral, na 2ª feira, e extraordinária, quando algum fato a exija).

Para não haver interferência na rotina da Casa, estabeleceu-se a lei para visita de colegas da rua: três tardes por semana.

 

A geração de rendas e os encaminhamentos

Atualmente, encontrà-se estruturado um programa de geração de renda. Ele consta de uma pequena oficina de marcenaria, artesanato em couro, fabricação e comercialização de 'chupe-chupe', montagem de uma fábrica de velas e participação em cursos negociados com a UTRAMIG como os de mecânica de autos, eletricista instalador, manicure e pedicure, e salgadeira e doceira. Alguns já se encontram em funcionamento: mecânica de autos, manicure e pedicure.

Grande parte do programa ainda não pôde ser colocado em execução por falta de equipamento e verbas para manutenção.

A respeito do programa de lazer da Casa, temos vivenciado um grande espaço para jogos diversos: pingue-pongue, peteca etc. Há ainda a opção da TV e a participação em atividades esportivas na comunidade: futebol, natação, corrida e outras.

Quanto a encaminhamentos, muito poucos foram possíveis. Vários meninos manifestaram o desejo de retornar à família, o que se explica provavelmente pelo fato de haverem encontrado uma relação de afeto com os educadores da Casa. Tentada a experiência, frustraram-se e retornaram ao convívio da Comunidade Educativa. A prática tem revelado a impossibilidade de uma retomada da convivência familiar, talvez em função do rompimento prolongado do elo afetivo e da situação econômico-financeira da família.

As dificuldades existentes não permitiram ainda o acompanhamento de alguns meninos que se desligaram da Agência. Continua sendo prioridade para a avaliação do trabalho realizado considerar sua validade através dos resultados apresentados pelo egresso da Casa".