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Boletim - Academia Paulista de Psicologia

versão impressa ISSN 1415-711X

Bol. - Acad. Paul. Psicol. v.29 n.1 São Paulo jun. 2009

 

RESENHAS

 

Maria José dos Santos1

Universidade Federal de Goiás/Campus Catalão

 

 

MALUF, M. R. e GUIMARÃES, S. R. K. (Orgs.) (2008). Desenvolvimento da Linguagem Oral e Escrita. Curitiba: Editora UFPR, 322 p.

O livro tem sua origem nas atividades dos membros de um dos grupos de trabalho da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (ANPEPP). Divide-se em duas partes: Desenvolvimento da Linguagem Oral e Desenvolvimento da Linguagem Escrita.

A primeira consiste em três capítulos, que tratam, de forma clara e precisa, do processo evolutivo da linguagem oral, oferecendo informações teóricas e modelos metodológicos que inspiraram este e outros estudos na área. O primeiro capítulo, de autoria de Luciana Fontes Pessôa e Maria Lucia Seidl de Moura, discute o papel do outro na aquisição da linguagem oral, destacando a influência da fala materna nesse processo. As autoras apontam características específicas da mãe e do bebê que favorecem o processo de comunicação entre eles e permitem a regulação mútua dos comportamentos de ambos. Mostram que, nas trocas entre mãe e bebê, têm início a construção do conhecimento, no caso, por parte da criança. Cabe destacar os eventos que a cercam e o processo de aquisição da linguagem.

O segundo capítulo, de Zena Winona Eisenberg, apresenta o conhecimento da Psicologia e da Linguística acerca do desenvolvimento da linguagem e dos conceitos temporais. Dentre esses conceitos, focaliza aqueles que traduzem a noção de distanciamento do "agora", ou seja, os que permitem à pessoa se transportar para um tempo ausente (passado ou futuro), designado como tempo deslocado.

Lídia Suzana Rocha de Macedo e Tania Mara Sperb escrevem o terceiro capítulo, no qual apresentam resultados de um estudo sobre o desenvolvimento da habilidade da criança para narrar sua própria experiência. A análise da interação verbal desta com suas mães mostrou que contar histórias para as crianças e, sobretudo, a prática de falar com elas sobre o passado ou sobre o que aconteceu durante os períodos temporais, facilita a tarefa de aprender a narrar a própria experiência.

Os doze textos que compõem a segunda parte do livro, como já foi referido, discutem o desenvolvimento da linguagem escrita. O quarto capítulo, de Sandra Ataíde Ferreira e Maria da Graça B. B. Dias, apresenta resultados de uma pesquisa que verificou as condições, modelos e concepções de leitura, dentro e fora da escola, de 120 alunos de uma instituição pública do nordeste. A análise dos resultados revelou que o professor não é tomado como modelo de leitor pelos alunos. As autoras apontam a importância do livro didático como suporte para favorecer a entrada deles no mundo letrado, uma vez que o material impresso é mais acessível aos estudantes investigados. Os resultados também sugerem a existência de uma distância entre o ensino da leitura e a diversidade de seus propósitos sociais, havendo, na própria escola, a preponderância da concepção da leitura como decodificação e não como prática social ou interlocução.

Antonio Roazzi, Cláudia N. G. Justi e Francis R. R. Justi discutem, no capítulo quinto, como duas classes de modelos do reconhecimento visual de palavras (Dupla Rota em Cascata e Processamento Paralelo Distribuído) explicam fenômenos da leitura, tais como o efeito de frequência, de regularidade, de lexicalidade e de vizinhança ortográfica no português falado no Brasil. Além de apresentar de forma clara e precisa esses importantes modelos de reconhecimento visual das palavras, os autores explicam como tais modelos poderiam acomodar resultados de estudos realizados no citado português.

O sexto capítulo é de autoria de Maria Regina Maluf em colaboração com Jean Emile Gombert, da Universidade de Rennes 2, na França. Os autores expõem o modelo de desenvolvimento metalinguístico desenvolvido por Gombert em 1990 e revisto por ele em 2006, mostrando que a aprendizagem implícita é um processo pelo qual os comportamentos se adaptam progressivamente às características do meio com o qual o indivíduo interage. No modelo do processo evolutivo metalinguístico revisto, Gombert apontou a importância dos conhecimentos implícitos na aquisição da linguagem escrita. Esse modelo representa um novo modo de compreender os processos de aprendizagem da dessa linguagem e oferece subsídios para práticas mais eficientes de alfabetização.

No capítulo sete, Cláudia Cardoso-Martins, Marcela Fulanete Corrêa e Patrícia Maria Torres Marchetti relatam resultados dos estudos que investigaram a importância do conhecimento do nome das letras na descoberta da relação entre a escrita e a fala, por aprendizes do português escrito. Esses estudos apresentam evidências de que crianças e adultos falantes do português no Brasil beneficiam-se do conhecimento do nome das letras para conectar a escrita à fala. As autoras questionam a adequação do modelo de estágio proposto por Emília Ferreiro para descrever o desenvolvimento inicial da escrita, apontando o modelo de Ehri como explicação mais parcimoniosa para as escritas silábicas.

Ana Luiza G. P. Navas discute a influência da evolução do processamento fonológico no desempenho de decodificação de palavras e compreensão de leitura. Tal processamento envolve habilidades de discriminação auditiva de contrastes, memória e consciência fonológicas, nomeação automática e rápida de estímulos visuais, sofrendo a influência da instrução alfabética e das competências cognitivas.

A seguir, Sylvia D. Barrera e Daiana A. Placiteli relatam uma investigação sobre a influência do treinamento em consciência fonológica na aquisição da escrita, em crianças de seis a quatorze anos com dificuldades na aprendizagem. Os resultados mostraram que os alunos que realizaram atividades para desenvolver a consciência das propriedades fonológicas das palavras apresentaram melhoria no desempenho em tarefa de escrita.

Os capítulos dez e onze mostram evidências empíricas do papel das habilidades de consciência morfológica e de morfossintática no processo de alfabetização. Márcia M. P. E. Mota discute aspectos teóricos e metodológicos acerca do desenvolvimento da consciência morfológica, entendida como habilidade de refletir sobre os morfemas e seu aporte para aquisição da linguagem escrita. Considera que a natureza da relação entre consciência morfológica e aquisição daquela linguagem precisa ser melhor explorada, particularmente no caso do português falado no Brasil, uma vez que a literatura nacional apresenta poucos estudos nessa área. Sandra R. K. Guimarães trata da relação entre oralidade e escrita, destacando a influência da variação linguística e da consciência morfossintática na aquisição e aperfeiçoamento da linguagem escrita. Relata os resultados de uma pesquisa, mostrando que diferenças do desempenho em leitura e escrita podem estar relacionadas com o desenvolvimento da consciência morfossintática e com índices de variação linguística.

A escrita ortográfica é discutida nos capítulos doze e treze. Bianca Queiroga, Lúcia Lins e Antonio Roazzi relataram um estudo que avaliou o desempenho ortográfico e o conhecimento de aspectos morfossintáticos da ortografia do português. Os resultados sugeriram a inexistência de uma sequência de apropriação linear na utilização das regularidades de contexto morfossintático e uma estreita conexão entre a habilidade de refletir sobre os aspectos morfossintáticos e a apropriação de princípios ortográficos desta natureza. Os autores finalizam o texto fazendo uma rápida, mas interessante reflexão sobre implicações pedagógicas dos conhecimentos resultantes das pesquisas apresentadas. No capítulo treze, Maria José dos Santos, Maura S. Zanella e Maria Regina Maluf fazem uma revisão das pesquisas sobre a aprendizagem da ortografia do português falado no Brasil. As pesquisas analisadas mostram que o aprendiz utiliza estratégias diversas na busca de regularidades do sistema ortográfico. Explicitar os conhecimentos ortográficos que o aprendiz possui são condições necessárias e fundamentais no processo de ensino dessa norma.

A partir da abordagem do processamento de informação e da psicolinguística, Jerusa F. Salles, aborda os processos de leitura e escrita de palavras e textos e seu desenvolvimento em crianças. Apresenta e analisa onze formas/instrumentos de avaliação que têm sido utilizadas em pesquisas nacionais que investigam habilidades da leitura e escrita em crianças das séries iniciais de escolarização. Considera a necessidade dos instrumentos utilizados nas avaliações estarem apoiados em modelos teóricos explicativos que possam oferecer também indicação de intervenção. No capítulo seguinte, Verônica Branco e Sandra R. K. Guimarães discutem o que consideram como mitos e verdades na relação da Psicologia com a alfabetização. As autoras propõem um estudo da integração dos conhecimentos já produzidos a respeito da alfabetização, para que se possa sanar ou minimizar os problemas de aprendizagem da linguagem escrita com os quais nos deparamos.

O livro oferece relevante contribuição para o avanço do conhecimento sobre desenvolvimento da linguagem oral e escrita e se constitui em importante veículo de difusão dos progressos na área. A independência dos capítulos favorece sua utilização em seminários e trabalhos acadêmicos.

 

 

Recebido em: 25/02/2009
Aceito em: 06/03/2009

 

 

1 Prof. Adjunto de Psicologia da Educação. Contato: Av. Brigadeiro Luiz Antonio, 1.564, ap.42R, Bela Vista - CEP 01318-002 - São Paulo, SP. Tels. (11) 3284-8927 / (64) 3442-4504. E-mail: majossantos@hotmail.com

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