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Estilos da Clinica

versão impressa ISSN 1415-7128versão On-line ISSN 1981-1624

Estilos clin. v.9 n.16 São Paulo jun. 2004

 

EDITORIAL

 

Foi com grande prazer que recebi a incumbência de apresentar aos leitores este número da Estilos. Na condição de editor estreante, sinto-me à vontade para falar de um tema que guarda relação com a idéia de estréia: mães e crianças.

Com efeito, a chegada de uma criança tem alguma relação com uma estréia, pelo menos no que diz respeito à expectativa de como vai ser, muito embora não se tenha chegado ali sem ensaios anteriores (afinal, quem não brincou um dia de ser papai ou mamãe?), nem sem um script (toda a rede significante que tece a pré-história do sujeito) que marque as posições e as falas dos personagens.

Há uma impressão mais ou menos geral, do senso comum, e bastante difundida, de que as crianças de hoje em dia desenvolvem-se mais rapidamente; já nascem sabendo, dizem. Talvez esta impressão deva-se ao fato de que hoje em dia, por intermédio do discurso científico, sabemos mais sobre elas e, portanto, as vemos mais detalhadamente, o que, de qualquer modo, “felizmente”, não retira delas o caráter “enigmático”.

Desde muito cedo na história da psicanálise ocorreu a Freud dar relevância às “primeiras experiências” da vida de seus pacientes, e neste movimento não tardou a se interessar pela questão da mãe e seu filho.

Nesse momento da teorização, o que se podia vislumbrar dessa questão não vinha senão da construção mítica que o sujeito/paciente, agora já adulto, podia dizer sob transferência ao analista.

De lá para cá o modo de investigar essa questão alargou-se, em função do fato de que os analistas começaram a se ocupar dos pequenos, que ou estavam em via de realizar essa construção ou se encontravam impedidos de fazê-lo.

O campo da elaboração teórica do que se passa na relação mãe/criança conseqüentemente ganhou uma nova perspectiva.

Passou-se a admitir um diálogo mais fecundo com outros saberes, que, a seu modo, lançam luz sobre a complexidade de fatores que estão em jogo, principalmente nesses primórdios da constituição do sujeito.

A temática escolhida para este dossiê reflete um esforço atualmente realizado através de uma pesquisa de grande monta envolvendo profissionais de todo o Brasil que trabalham com bebês e crianças pequenas, e que talvez fosse impensável até há bem pouco tempo. Juntos, em torno de um projeto temático financiado pela Fapesp, esses profissionais dedicam-se a pensar em novas intervenções precoces de caráter preventivo de distúrbios do desenvolvimento.

Assumir esse diálogo talvez seja, além de uma responsabilidade teórica e profissional, uma forma de reconhecer que as teorias, quando se isolam em seus pressupostos, não fazem senão defender-se da angústia que toda criança, enquanto enigma, provoca, acreditando ter para este enigma a resposta definitiva.

A perspectiva editorial desta revista sempre incluiu um compromisso com o diálogo transdisciplinar, fundamentalmente por perceber, desde o começo, que para o enigma que é a criança, e para o que ela nos apresenta, não podemos responder com uma resposta-padrão, mas somente com um “estilo”.

John Wilmot dizia:

“Antes de casar eu tinha três teorias sobre educar crianças. Agora eu tenho três crianças e nenhuma teoria”.

É com esse espírito de estupefação diante do enigma/ criança que convidamos os leitores a se arriscarem junto com os autores a teorizar sobre as mães e seus bebês. Boa travessia!

Rinaldo Voltolini

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