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Revista da SBPH

versão impressa ISSN 1516-0858

Rev. SBPH vol.20 no.2 Rio de Janeiro dez. 2017

 

EDITORIAL

 

É preciso, então, falar de Marisa

 

 

Prezado leitor, prezada leitora,

O ano de 2017 foi, para a nossa Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar, um ano de conquistas importantes.

O 11o Congresso da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar, ocorrido em setembro de 2017, reuniu mais de 1000 pessoas na cidade de Gramado, Rio Grande do Sul, e foi um sucesso. Nele, em Assembleia Geral, a então presidente da SBPH, Paula Costa Mosca Macedo passou o cargo para a nova presidente da SBPH, Glória Heloise Perez, que, eleita por unanimidade, comandará nossa sociedade pelos próximos dois anos.

Cumprimentamos Paula e sua equipe, manifestando nossa gratidão por todo o apoio dado para a nossa Revista. Igualmente cumprimentamos Glória e sua equipe, oferecendo todo o apoio necessário e que conforta àqueles que vão dar início a novos desafios.

Mas, dentre tantas conquistas, sofremos uma perda importante. Marisa Decat de Moura faleceu no dia 14 de novembro de 2017. Marisa lutou como pôde, até onde pôde, com dignidade. Marisa guerreira, exemplo de vida, Marisa lutadora.

Agora, que perdemos Marisa, sentimos dor. Mas, nos diria ela: é hora de passarem da luta ao luto. É preciso, então, falar de Marisa. E, se o fazemos, é porque aprendemos com ela que convém falarmos de nossas dores.

É um esforço abandonar a ideia de que ela ainda está lá, em Belo Horizonte, disposta a nos atender a qualquer momento do dia ou da noite, sobretudo naqueles momentos onde o que buscávamos, ao buscá-la, era coragem. E com sua escuta sensível, ela nos oferecia, às vezes sem dizer nada, sua humildade e sua sabedoria.

Revisitar o percurso de sua obra nos traz o conforto de retomar a grandiosidade do legado que ela nos deixou e da sua indelével presença na história e no desenvolvimento da Psicologia Hospitalar e da Psicanálise no Hospital.

Pioneira no tema da Psicanálise no Hospital no Brasil, em 1978, Marisa criou a Clínica de Psicologia e Psicanálise no Hospital Mater Dei de Belo Horizonte, em Minas Gerais, onde trabalhou enquanto psicanalista até o fim de sua vida, ocupando-se com seriedade e empenho da transmissão da Psicanálise e da delicada implicação do psicanalista no contexto hospitalar, sempre atenta à importância e à excelência de qualidade da interlocução da Psicanálise com a Medicina e com os demais campos de saber.

Em 1996, teve a generosidade de publicar aquele que veio a ser o primeiro livro de uma série: "Psicanálise e Hospital". Em 1999, o segundo livro da série teve como tema "Psicanálise e Hospital: a criança e sua dor". Em 2003, o terceiro livro – Psicanálise e Hospital 3 - tratou de "Tempo e morte: da urgência ao ato analítico". Em 2005, os avanços tecnológicos e seu impacto na vida subjetiva e na Medicina foram abordados no quarto livro - Psicanálise e Hospital 4 – "Novas versões do Pai: Reprodução assistida e UTI". Em 2011, no livro "Psicanálise e Hospital 5 – A responsabilidade da psicanálise diante da ciência médica", Marisa nos trouxe suas reflexões sobre as questões da sociedade em mutação. No sexto livro "Oncologia – Clínica do Limite terapêutico", organizado em 2013, a série foi renomeada como "Psicanálise e Medicina", reafirmando-se o seu propósito de interrogar, a partir da Psicanálise, sobre a Medicina e os efeitos do seu discurso sobre a subjetividade. A coletânea de artigos reunidos nesta obra fala do sujeito diante do limite do saber e dos procedimentos que curam.

Marisa fez seu mestrado na Université Louis Pasteur em Strasbourg, na França, em 2000. Orientada por Françoise Hurstel, realizou o estudo "Du regard à l'écoute". Organizou, a partir deste contato, uma parceria muito promissora com psicanalistas franceses, inserindo o Brasil como um dos seis países participantes da pesquisa multicêntrica: "La construction de l'identité aujourd'hui: construction psychique et psychopathologie de l'enfant dans les nouveaux liens familiaux et sociaux - CoPsyEnfant", tornando-se responsáve pela coordenação brasileira da mesma.Em 2003, tornou-se membro e representante no Brasil da Federação Européia de Psicanálise - F.E.D.E.P.S.Y.

Em 2009, concluiu o seu doutorado em Ciências/Reprodução Assistida pela Universidade Federal do Rio de Janeiro com o estudo "Função Paterna e o Lugar do Pai no Tratamento de Reprodução Assistida", com a orientação da Professora Maria do Carmo Borges de Souza.

A SBPH foi um sonho de Marisa. Foi Marisa quem teve a ideia de fundar a SBPH. Fez do seu sonho, uma realidade, e nos incluiu nela. Desde sua fundação, em 1997, Marisa trabalhou dedicada, incansável e apaixonadamente por esta sociedade. Hoje a SBPH, com 20 anos, tem um papel importante na história, no desenvolvimento e na expansão da Psicologia Hospitalar e de sua importância como especialidade na Psicologia brasileira.

Não é fácil, mas a gente topa a responsabilidade de levar adiante o que Marisa nos deixou. O que torna a coisas menos difíceis é sabermos que suas ideias estão vivas dentro de cada uma de nós e nos orientam.

Sorte daquele que tem uma fonte de inspiração para seguir trabalhando.

E nós temos. Sigamos...

 

Prof.ª Dra. Maria Lívia Tourinho Moretto
Editora-Chefe da Revista da SBPH

Prof.ª Dr.ª Sílvia Maria Cury Ismael
Membro do Conselho Consultivo da SBPH

Prof.ª Dr.ª Glória Heloíse Perez
Presidente da SBPH

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