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Cadernos de Psicologia Social do Trabalho

versão impressa ISSN 1516-3717

Cad. psicol. soc. trab. vol.19 no.1 São Paulo  2016

 

ARTIGOS ORIGINAIS

 

Relações de trabalho em uma universidade pública: atividade de servidores técnicos administrativos

 

Working relationships in a public university: technico-administrative office employees activity

 

 

Beatriz Cysne Coimbra; Maria Elizabeth Barros de Barros

Universidade Federal do Espírito Santo (Vitória, ES, Brasil)

 

 

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O artigo trata de uma pesquisa-intervenção realizada com funcionários técnicos administrativos de uma Instituição Federal de Ensino Superior (IFES) que ocupam o cargo de assistente em administração. O objetivo principal da investigação foi analisar o trabalho sob o ponto de vista da atividade. A metodologia utilizada se baseou no referencial teórico-metodológico da Clínica da Atividade, proposta por Yves Clot e seus colaboradores. A oficina de fotos foi utilizada como procedimento metodológico. O grupo foi composto por 10 funcionários de diferentes setores da universidade, entre os quais, três se dispuseram a fotografar cenas do cotidiano do trabalho. Tais fotos foram estratégia utilizada para disparar diálogos sobre o trabalho que realizam. A pesquisa indica que os trabalhadores procuram se reinventar e elaborar maneiras outras para enfrentar situações de trabalho que os desafiam, buscando modos diversos de atuar, o que se faz a partir da ampliação do poder de agir.

Palavras-chave: Análise do trabalho, Clínica da Atividade, Poder de agir.


ABSTRACT

This is a research intervention carried out with the technical and administrative staff of a Federal Institution of Higher Education (FIHE), with the administrative assistant workers, aiming at analyzing their work from the point of view of the activity. The methodology was based on the theoretical and methodological framework of the Clinic of Activity of Yves Clot and his collaborators. A workshop of photos was employed as a methodological procedure. The group was composed of 10 servants from different sectors of FIHE, where three among four of these workers were willing to shoot scenes of their daily work. These photos were instruments to promote dialogues on their work. The research indicates that workers seek to reinvent and develop other ways to deal with their working situations, trying different ways of acting.

Keywords: Work analysis, Clinic of Activity, Power to act.


 

 

Introdução

Em um outono com um intenso céu azul, ventos fortes, aquecidos pela despedida do verão, promoviam uma dança frenética entre as árvores e seu assobio, que se misturava ao canto dos pássaros do campus de uma Instituição Federal de Ensino Superior (IFES) no sudeste brasileiro. Em meio a esse cenário bucólico uma pesquisa foi sendo delineada.

Buscamos criar condições para que diálogos entre os trabalhadores técnicos administrativos da IFES fossem possíveis, de forma a promover encontros sobre o trabalho, utilizando fotos do ambiente laboral, por eles mesmos registradas, como dispositivo analítico. Foi possível perceber que uma tarefa de arquivamento de um documento poderia gerar uma longa conversa, que indicava que cada trabalhador tem um jeito singular de exercer uma atividade, que não é gesto mecânico, mas, principalmente, criação de modos diversos de trabalhar, uma vez que os sujeitos imprimem marcas ao exercerem-na. Seguindo diretrizes da Clínica da Atividade (Clot, 2008), entendemos que um coletivo de trabalhadores é criado a partir do debate, de tensionamentos, de confrontações sobre os modos como o trabalho é realizado. Para o autor, "[•] a controvérsia é a fonte do coletivo, não o contrário. Não o coletivo sendo a fonte, mas a controvérsia sendo a fonte do coletivo" (Clot, 2008, p. 66).

A pesquisa perspectivou, então, viabilizar debates a partir do trabalho de servidores públicos técnicos administrativos de uma Instituição Federal de Ensino Superior (IFES), ocupantes do cargo de assistente em administração, visando fomentar espaços coletivos de discussão, entendendo que o dialogismo tem potência de transformação do que enfraquece os coletivos em situação de trabalho. Vislumbramos uma avaliação das alianças tecidas por esses trabalhadores para lidar com imprevistos inerentes ao cotidiano laboral, as relações compartilhadas no percurso do trabalhar com vistas à ampliação do poder de agir1 e a transformação no instituído nos ambientes de trabalho na universidade em tela. A utilização do aporte teórico-metodológico da Clínica da Atividade, proposto por Yves Clot e seus colaboradores, visou dar visibilidade ao liame inventivo do trabalhador, fortalecendo coletivos e criando pistas para a transformação do trabalho a partir da afirmação de protagonismo, autonomia e indagação de uma gestão autoritária e verticalizada que, muitas vezes, marca a organização de trabalho nessa universidade. Empregamos o dispositivo imagético, recorrendo à oficina de fotos apresentada por Cláudia Osório (2011) e seu grupo de pesquisa para disparar a análise coletiva de trabalho.

 

Campo problemático da pesquisa

A proposta do estudo emergiu de questões suscitadas pela atividade profissional de uma das autoras desse artigo, como servidora técnica administrativa da IFES, em especial no cargo de administradora e secretária administrativa do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD) da IFES: conhecer as formas de organização e gestão do trabalho ali desenvolvidas; analisar as relações que se efetivam no desempenho das funções de servidores técnicos administrativos e, ainda, possibilitar a ampliação do poder de agir dos trabalhadores com vistas à transformação do seu trabalho, mesmo que de forma ínfima. O que efetivamente importa, no nosso entendimento, é a problematização das formas instituídas de trabalhar em meio a autoritarismos de diferentes ordens, ao isolamento dos trabalhadores, ao esvaziamento dos espaços efetivamente públicos numa universidade que se diz pública e colocar em questão as privatizações em curso nas Instituições Federais de Ensino Superior.

O momento de exploração, de tangenciar o campo de pesquisa, de nos aproximarmos dele, teve início com uma conversa com o Departamento de Atenção à Saúde da Universidade. Algumas questões foram disparadoras nesse processo: Como trabalham os funcionários técnicos administrativos dessa IFES? Quais são os modos de gestão que estão em curso nesse estabelecimento de ensino? Essas questões nos conduziram a alguns caminhos que apresentamos a seguir.

A IFES possui um setor denominado "Departamento de Atenção à Saúde". Esse setor é responsável pelos serviços de assistência à saúde, nas áreas de atenção e vigilância à saúde e serviço médico, abrigando também o centro de recreação.

A partir de uma conversa com trabalhadores do serviço mencionado, demos início à primeira fase do processo investigativo. Tais profissionais, por pertencerem ao quadro da instituição locus da pesquisa, foram informantes-chave para que a situação dos trabalhadores pudesse ser pesquisada no sentido de transformar para compreender o atual trabalho dos técnicos administrativos na universidade.

Os depoimentos dos profissionais foram, naquele momento, basilares, uma vez que levantaram questões-diretrizes importantes, que se sobrepuseram a algumas outras inquietações: Como andam os processos de trabalho na universidade? Que efeitos têm produzido? Como anda a saúde2 dos servidores da IFES? Quais são suas demandas? Que estratégias têm sido criadas para lidar com as adversidades do trabalho nessa Instituição Federal de Ensino Superior?

A conversa com os profissionais destacou: a) adoecimento no trabalho devido a cargos de chefia; b) sensação de falta de sentido no trabalho; c) não compreensão do seu papel em meio à lógica da universidade e à individualização dos problemas. Que trabalho é esse que causa doenças psicossomáticas tão amiúde? Como, pois, reinventar-se diante desse embaraço que se experimenta?

Alguns estudiosos da temática pontuam que estar em atividade de trabalho é estar em um campo de permanente conflito. Pesquisas desenvolvidas por Brito (2004), Clot (2010), Osório (2007) e Schwartz e Durrive (2007) indicam que o combate aos agravos à saúde ocorre por meio de transformações dos processos de trabalho e nas relações sociais que o enredam. Como os trabalhadores pesquisados normatizam3 em situação de trabalho para lidar com o que enfraquece e produz adoecimento? Que alianças são tecidas por esses servidores?

Os técnicos administrativos, ao realizarem as prescrições para eles definidas, tais como redigir atas, arquivar documentos, fazer matrícula de alunos, boletim de frequência, marcação de férias, dentre outras, participam dos saberes de um Gênero Profissional4. Quais instrumentos de luta esses servidores lançam mão para ampliar poder de agir? Como enfrentam as adversidades? Que modos inventam para driblar essas práticas com premência? Essas questões orientariam as conversas sobre o trabalho desses técnicos ao longo do processo investigativo.

 

Um encontro: traçando algumas pistas

O grupo associado foi constituído de forma heterogênea, alguns membros tinham longo tempo de serviço, outros estavam na iminência da aposentadoria e outros tinham acabado de ingressar na universidade. Esses servidores se dispuseram a discutir suas atividades laborais, tomados de muita inquietação.

Após as apresentações iniciais, o grupo questionou sobre a escolha dos técnicos administrativos como foco de estudo, ao que foi explicado que aquela IFES possui um quadro permanente de 2.222 servidores técnicos administrativos5 e que, para o objetivo da pesquisa, foi eleito o cargo de assistente em administração por esse corresponder ao maior número de servidores, a saber, 488.

A proposta inicial era que dois funcionários pudessem fazer fotografias de situações de trabalho, mas, após muitas sugestões e disponibilidade de alguns voluntários para fotografar, foi deliberado que seriam três fotógrafos e que cada um registraria sete cenas do trabalho cotidiano, livremente. Foi acertado com o grupo que seriam realizados cinco encontros, os quais aconteceriam, por reivindicação dos servidores, às quartas-feiras, sempre pela manhã, intercorridos entre os meses de maio e junho de 2013.

Encerrado o debate, apresentamos ao grupo o artigo intitulado "Saúde, trabalho e subjetividade: absenteísmo-doença de trabalhadores em uma universidade pública", de Marques et al. (2011). O texto indica que uma pesquisa realizada numa IFES, a partir do mapeamento das licenças médicas apresentadas pelos trabalhadores no período de março/2007 a fevereiro/2009, identificou a ocorrência de 1.019 afastamentos por licenças médicas.

De acordo com os autores supracitados, o estudo possibilitou identificar que as duas principais causas de afastamento podem estar relacionadas aos processos de trabalho e esses dados balizam uma relação de processo de adoecimento dos trabalhadores nas relações de trabalho.

Seguindo indicações das pesquisas realizadas por Clot (2010), quando o poder de agir é limitado, os trabalhadores se sentem fragilizados, o que pode ocasionar adoecimento e infelicidade. O gênero profissional, denominado também de memória coletiva, quando fragilizado, leva os trabalhadores a não se reconhecerem naquilo que fazem, acarretando, assim, uma atividade desestabilizada. O autor esclarece ainda que, ao contrário, quando o sujeito percebe que seu trabalho faz sentido na sua vida, quando há autonomia, coletivo forte, compartilhamento, torna-se mais potente, havendo uma ampliação no poder de agir.

 

Oficina de fotos

O segundo encontro teve como objetivo a escolha das fotos registradas pelos trabalhadores. No encontro anterior, havia sido definido que três fotógrafos iriam registrar as cenas do seu trabalho, sem a presença dos pesquisadores e, no próximo encontro, seria efetivada a escolha das fotos que seriam discutidas por todos os componentes do grupo associado.

Cada fotógrafo separou suas fotos6 com a ajuda de alguns colegas e se encarregou de arquivá-las em uma pasta no computador. Em seguida, cada uma das fotos foi exposta ao grupo, por meio de projetor multimídia, para que fossem escolhidas quais seriam utilizadas no debate. As cinco fotos selecionadas serão aqui apresentadas.

Fotos: um dispositivo para análise da atividade

Foi escolhida a oficina de fotos como um dispositivo metodológico, fundamentado nas pesquisas de Cláudia Osório (2011) e seu grupo, baseados na abordagem da Clínica da Atividade, para analisar o trabalho. No caso dessa pesquisa, as fotos auxiliaram a análise da atividade pelo grupo associado por meio da atividade dialógica. O diálogo, segundo Clot (2010), é imprescindível em Clínica da Atividade, pois é por meio dele que a atividade poderá ser analisada entre seus pares e o embate entre eles permitirá uma transformação na situação de trabalho. Para Osório (2011), o diálogo é provocado pela observação durante a análise utilizando instrumentos metodológicos:

[...] com a oficina de fotos, a observação continua presente, mediada pela imagem produzida. No debate demandado pela situação de pesquisa os trabalhadores se observam e são observados pelos pares e pelo pesquisador. Vários saberes se alimentam das concordâncias e divergências que surgem (p. 215).

Nesse sentido, a análise da atividade consiste em um diálogo estabelecido entre o trabalhador e seu trabalho, igualmente entre o trabalhador e o pesquisador. Existe, ainda, um diálogo que acontece entre o trabalhador e ele mesmo, através do qual procura trazer consigo o pesquisador para que ele compreenda sua forma de exercer seus recursos para a ação.

Por meio da oficina de fotos, a análise da atividade é efetuada pelo prisma dos trabalhadores que emitem seus olhares ao observar as fotos que foram produzidas e apresentadas. Sendo assim, as fotos auxiliam os trabalhadores na análise da sua atividade, produzindo embates, paradoxos e sutilezas no trabalho que ocorre durante a análise. Quando analisamos as formas de fazer, exploramos os escapes, as lutas, os embates diários travados no cotidiano laborioso. Os trabalhadores aproveitam a presença do analista para enfrentarem os modos de fazer o seu trabalho com seus embates diários.

Os fotógrafos-trabalhadores tiveram 13 dias para produzirem as fotos utilizando câmera fotográfica digital e celular. As imagens apresentadas dispararam um diálogo entre eles, aquecendo polêmicas sobre o trabalho que realizam. As conversas mostram trabalhadores inquietos diante de uma grupalidade nunca antes experimentada, o que proporcionou pensar modos de fazer para além do vivido-habitual; viabilizaram-se trocas e a possibilidade de ouvir o outro, abrindo vias para transformar-conhecer a realidade do cotidiano laboral. Esse olhar colocou em tela outra contenda:

Mas há outras coisas importantes também, a questão do horário, da interação da gente, a própria relação entre professor e funcionário, a velha relação entre professor e funcionário (Roberto).

Uma coisa que está sendo muito interessante nessa pesquisa e que serviu muito para nós aqui do centro, pelo menos para quem está participando dessa pesquisa aqui do centro, é de refletir e a gente refletiu muito sobre a nossa importância, o nosso papel dentro da universidade (Kézia).

Os debates criaram ressonâncias que ecoaram no grupo diante de realidades atualizadas nos processos de trabalho na universidade, como a velha rixa entre professor e funcionário e a aposentadoria que se avizinha para alguns. Como proceder? Que estratégias construir para enfrentar esses desafios? O espaço de conversa foi se constituindo como momento importante de reflexões, de falar sem medo. Experiências compartilhadas e modos de fazer se transformaram em embates construtivos que permitiam colocar a atividade em análise. A pesquisa foi sendo, assim, tecida. A cada encontro novas questões, o grupo se surpreendia a cada movimento imprevisto. O processo de análise da atividade com o auxílio da fotografia ia se fazendo.

Olhares em foco: analisando a atividade

Estavam todos num pequeno círculo aguardando a exibição das fotos por meio do projetor multimídia. A Foto 1, feita por Roberto, registra uma paisagem do campus, um refúgio, uma forma de respirar o ambiente bucólico da universidade.

Ao olharem a imagem em foco, os trabalhadores iniciaram um diálogo:

Fiquei pensando esses dias todos que a gente só ficou falando de sofrimento. Fiquei pensando sobre que sofrimento seria esse? E que o sofrimento é vinculado às relações estabelecidas com o trabalho (Sumara).

O que faz diferença para a gente não adoecer completamente é a forma como a gente vai lidar, saber lidar com o conflito que vai aparecer. Conflito vai ter em todo lugar. Acho que cabe a nós procurarmos alternativa. O que a gente não pode permitir é ficar adoecendo (Sumara).

 

Foto 1: Registro de um espaço arborizado da IFES

 

 

Aos poucos iam sendo produzidos outros modos de pensar a relação com o trabalho: "Não podemos falar apenas de sofrimento". Renormatizações7 podem tomar o lugar das lamúrias. Sumara destacou: "Cabe ao trabalhador lutar contra o conflito entre a chefia e o técnico e criar estratégias de enfrentamento dos imprevistos que se apresentam diante das prescrições para executar a tarefa".

A Foto 2, também feita por Roberto, registra a fila do Restaurante Universitário. O fotógrafo relatou que a fila o incomodou muito quando foi almoçar.

Todos os olhares apontavam para imagem em foco. Suspiros, risos, dúvidas. "O que essa fila do Restaurante Universitário produz em nós trabalhadores?".

Acho legal essa foto que demonstra a vida que a universidade tem com os alunos, técnicos, professores e a comunidade externa. Gosto de ver esse monte de gente transitando, conversando. Nesse caso, a fila está quilométrica e acho que precisa de uma expansão, não é? Não há como fugir. Não se cogita ficar em filas quilométricas todo dia. Às vezes não tenho tempo de comer quando saio daqui, devido à fila (Sumara).

O diálogo mostra que as filas provocam desgaste nos servidores que precisam retornar aos seus setores apressadamente para dar continuidade ao trabalho. Os embates iniciados em busca de soluções para a situação das filas no Restaurante Universitário se desdobraram numa conversa sobre política de valorização do trabalhador e a situação dos prestadores de serviços terceirizados, os quais não são contemplados com o auxílio-alimentação, assim como os docentes, os servidores técnicos administrativos e os discentes.

 

Foto 2: Registra a fila do Restaurante Universitário

 

 

A discussão a partir daquela foto foi perdendo força e, então, Roberto seguiu adiante com a exibição da Foto 3, que mostra uma das cancelas instaladas no campus de Goiabeiras, explicando que a IFES gastou uma fortuna para a implantação desse equipamento de controle de entrada e saída dos veículos no campus sem pensar a situação dos trabalhadores desses locais, os quais são terceirizados.

 

Foto 3: Registra-se a cancela da universidade

 

 

Perguntamos aos trabalhadores qual frase poderia ser criada diante da imagem, ao que todos responderam: "Valorize o Ser Humano: quem fiscaliza isso?" Diante dessa frase, os embates foram se aquecendo:

Isso é o lugar que o terceirizado ocupa na IFES, a começar pela questão do Restaurante Universitário, porque os terceirizados não são contemplados com o desconto. Pessoas que trabalham todo dia de sol a sol (Sumara).

Isso não é só abandono de terceirizado é abandono do ser humano, é diferente. É só deixar de ser professor que não serve mais para nada (Roberto).

Isso é falta de valorização do ser humano. Isso é uma degradação. A menina fica lá, coitadinha de sol a sol, sem banheiro, sem água, sem nada. É uma questão de valorizar o ser humano (Selma).

O diálogo indica a indignação dos servidores com o tratamento que os trabalhadores desses locais8 recebem, pois trabalham dentro de uma cabine muito quente, sem banheiro e sem lugar onde guardar seus pertences.

Em meio aos olhares fixos para a foto exibida na tela, outros debates se desdobravam.

Tenho uma visão um pouco diferente. Eu tenho 33 anos só de universidade e trabalho com o maior prazer. O meu setor de trabalho é muito bom. Não foi um só chefe que eu tive, tive vários. E com todos tive um relacionamento muito bom. Com a Direção do Centro também. Houve uma época em que eu saí do setor e fui trabalhar em outro no mesmo Centro e foi a mesma coisa. Não tive o menor problema (Selma).

Ouviram suas propostas de trabalho? (Beatriz).

Claro, eu tive total liberdade (Selma).

Outros servidores passaram por desconfortos em alguns momentos como descrito na conversa a seguir:

Eu era de um setor e o ambiente era pesado. Era muito cobrada o tempo inteiro. Tudo era na hora, o professor cobrava. Agora, no atual setor, por não ser tão visado, você tem mais tempo para fazer as coisas. Eu também me sinto muito melhor lá (Francine).

Vocês participam da gestão no trabalho? Foram consultados pela chefia em algum momento? (Beatriz).

Isso é ser tratado como um ser humano. Eu tive um problema em outro campus da IFES localizado em outra cidade, pois que eu queria ser tratado como ser humano (Roberto).

Esse diálogo permitiu-nos destacar que trabalhadores isolados, sem os recursos genéricos disponíveis para a ação, sentem-se fragilizados, o poder de agir enfraquece quando os coletivos não estão fortes e a transformação do vivido é dificultada.

[...] esvaziada de seu sentido, a atividade do sujeito se vê amputada de seu poder de agir quando os objetivos da ação em vias de se fazer estão desvinculados do que é realmente importante para ele e quando outros objetivos válidos, reduzidos ao silêncio são deixados em suspenso (Clot, 2010, p. 16).

Fotografias: produzindo ressonâncias

Os trabalhadores chegavam para o próximo encontro. A Foto 4 retrata um arquivo setorial da IFES.

Estavam todos sentados em círculo e, em silêncio, os trabalhadores contemplavam a imagem exposta. Com o intuito de disparar a conversa, comentamos: "Acho que a maioria que está aqui já teve um arquivo9 desses para trabalhar".

 

Foto 4: Registra-se um arquivo setorial da universidade

 

 

Nesse momento de coanálise do trabalho, algumas sugestões foram suscitadas, tais como: organização do arquivo, contratação de um estagiário da Arquivologia e, até mesmo, abertura de concurso público para o cargo de arquivista e lotação desses profissionais em cada um dos centros da universidade. A partir das propostas, continuamos as provocações: "Mas, se não houver ninguém para ajudar, como fazer quando for necessário procurar um documento nesse arquivo empoeirado?".

Naquele momento, houve uma confrontação de pontos de vista. Cada trabalhador indicava um jeito para desenvolver a tarefa. Roberto não aceitava o que Edna havia proposto e mostrava-se indignado: "Eu estou falando que é um sofrimento imenso fazer isso. Eu não tenho essa disposição da Edna". Para ele era muito doloroso, causava-lhe muito sofrimento ficar além do seu horário de trabalho para organizar um arquivo. Entretanto, Edna continuava insistindo: "Quando você abre os armários e vê que está tudo arrumadinho, eu acho que compensa. Se você me pedir um documento antigo, eu consigo encontrar no meu arquivo, porque está organizado". Por outro lado, Selma concordava e dizia que a única coisa que faria diferente seria solicitar um tempo maior para resolver a questão e que talvez não fosse necessário passar do seu horário de trabalho.

Os trabalhadores debatiam acirradamente, o que provocou conflitos, controvérsias, divergências. Na perspectiva de Clot (2008), em Clínica da Atividade o embate é salutar e provoca transformações no cotidiano laboral. Quando um coletivo de trabalhadores está reunido apresenta queixas da situação de trabalho que podem se transformar em poder de agir. Para o autor, é necessário organizar o trabalho coletivo não somente ao redor do desejo de cooperação, mas ao redor daquilo que não é comentado, do que ninguém quer comentar. A decisão coletiva não é construída em torno da anuência espontânea e sim na diversidade, no dissenso. Cessadas as queixas, a transformação do trabalho pode se viabilizar.

Para o autor, a Clínica da Atividade permite, ainda, converter a vida de maneira defensável em meio ao trabalho. O sujeito não permanece passivo diante do conflito, procurando lutar contra as adversidades no intuito de escapar de ter que sujeitar-se a elas. Os modos de fazer foram colocados em análise pelo grupo e, a partir da controvérsia promovida pelos diálogos, seria possível restaurar os recursos da ação. Que passos construir em seguida? Essa questão insistia nos debates.

Em meio aos debates, uma questão polêmica na universidade foi ressaltada: O que fazer diante de seu colega técnico administrativo que não faz nada e nada acontece? "Acho que deveria ter uma execução mínima de todos nós, para fazer a coisa funcionar". Alguns afirmaram que ser servidor público "[...] é primar pelo atendimento de excelência, pela boa educação, atender as pessoas com atenção, educação e respeito. É ter responsabilidade, servir a sociedade, pois é para ela que a gente trabalha. É ter em mente que quando você não trabalha, alguém está trabalhando por você". Logo, o modo como cada um se coloca no trabalho e na relação com os colegas, a divisão de tarefas, a corresponsabilidade não estão consolidados, é preciso construir esse ethos, e é no diálogo que esse processo se viabiliza.

Em relação a essa questão, afirmaram que "Pensar no colega técnico que não faz a sua parte não pode implicar em cruzar os braços e não fazer nada. Porém, siga sua consciência e faça sua parte". Mas seria essa estratégia viabilizadora de um trabalho compartilhado? De um serviço efetivamente público? O que é ser servidor público para além das tarefas prescritas para os diferentes cargos? Muitos servidores exercem um sobretrabalho o que, na maioria das vezes, gera adoecimento, desgaste, e faz surgir enfraquecimento do gênero profissional. Reitera-se aqui, portanto, a questão: como ser servidor efetivamente público?

No entendimento de Benevides e Passos (2005, p. 566), "Público indica dimensão do coletivo. Política pública, políticas dos coletivos". Sendo assim, público pode ser entendido como o que abrange o interesse de todos ou de qualquer um sem distinção de raça, cor ou credo. Pelo viés de Barros e Pimentel (2012), público refere-se à produção de um comum que está aberto ao outro por meio da criação de coletivos, da expansão de comunicação, de compartilhamento. Servir ao público é servir ao bem comum. Comum que não é homogeneidade, mas se faz por diferenciação e afirmação da diferença.

O sentido de público na produção de coletivo, de servir ao bem comum, não tem sido o modo de funcionamento de muitos servidores, segundo o grupo. Ao não se corresponsabilizarem com o que produzem, não constroem um comum, como diferença e diferenciação, heterogeneidade e heterogênese. Como lidar com as diferentes modalidades de trabalhar? Como confrontar esses diferentes modos de pensar o serviço público? Os trabalhadores demandam uma grupalidade que não tem sido o modo hegemônico de funcionamento em alguns setores da IFES, como sinalizam: "[...] isso é uma praga... eu não vou fazer porque o colega não faz". Esse processo tem como efeito despotencialização e descrença e, consequentemente, enfraquecimento do gênero. As reclamações são constantes em diversos setores do estabelecimento em pauta, tanto por parte dos técnicos, quanto por parte dos docentes. Qual o sentido do trabalho para esse trabalhador? Trabalhar para o público é trabalhar para o bem comum; entretanto, alguns servidores técnicos administrativos acreditam que trabalhar para o público não é servir ao bem comum e, sim, ao Estado-patrão.

O poder de agir dos trabalhadores: "O problema da universidade é o técnico administrativo?"

Um novo encontro se efetivou e a Foto 5 foi projetada e retratava as constantes goteiras na universidade produzidas pelas chuvas, indicando as condições precárias de trabalho nesses locais que impedem, inclusive, o expediente normal em dias chuvosos.

Shirlei havia sugerido que, nesse último encontro, fosse discutida a questão dos alagamentos, os quais inviabilizam o funcionamento da universidade. Estavam todos em círculo, muito próximos uns dos outros, observando a fotografia. Com o intuito de aquecer a conversa, indagamos: "O que essa foto sugere para cada um e como essa situação interfere no desenvolvimento do trabalho?". Imediatamente, Sumara respondeu que, além de implicar a impossibilidade de trabalho, implicava desperdício de dinheiro público. Sendo assim, deveria haver uma manutenção mais adequada dos prédios da IFES. Eurico comentou sobre ausência de conservação da sala retratada e que nunca fora trocado o telhado, desde sua construção. Sumara apontou os problemas encontrados quanto ao encaminhamento de solicitações de serviço à prefeitura da universidade. A conversa ia se aquecendo.

 

Foto 5: Registram-se as goteiras constantes na universidade em decorrência das fortes chuvas

 

 

Um dos componentes do grupo sugeriu trocar todo o telhado da universidade, bem como a contratação de um artífice (um faz-tudo) para cada Centro, com a responsabilidade, também, de um zelador. O grupo imediatamente concordou com a sugestão e se animou com essa possibilidade uma vez que a maioria dos Centros fica à mercê dos serviços da Prefeitura Universitária que não consegue atender a todas as demandas em tempo hábil. Além disso, em outros setores, na maioria das vezes, não há profissionais com disponibilidade de tempo e qualificação para exercerem essa função.

Assim, em meio às discussões, a vida do servidor público técnico administrativo foi sendo debatida, compondo-se e recompondo-se, inquirida a todo o momento.

Mais um encontro chegava ao fim com gosto de despedida, uma vez que era o último momento da pesquisa. Os trabalhadores afirmavam acreditar na possibilidade de novas conversas e, ao mesmo tempo, consideravam a importância de conhecer melhor os modos de fazer de cada trabalhador e as angústias e alegrias de ser um servidor público, um servidor técnico administrativo da IFES. Os trabalhadores diziam se sentirem mais fortalecidos a partir dos diálogos travados e das reflexões viabilizadas nas conversas que, certamente, iriam reverberar, ficando assim a possibilidade de efetivarem propostas para modificação de um certo estado de coisas que estava colocado.

Acho que a primeira coisa antes disso aí é união entre nós. A partir do momento em que houver união, dará para a gente fazer mais reuniões. A gente vai saber, por exemplo, qual o problema de Sumara, qual o problema de Selma, de Francine, de Shirlei, sendo assim, daremos sugestões... (Kézia).

Algumas pessoas falam: Vamos resolver o problema dessa IFES e chegamos à conclusão que essa IFES parece não existir como uma IFES. Cada centro funciona de um jeito (Roberto).

 

Considerações finais

Como servir-se das palavras para concluir uma pesquisa? Muitas palavras foram proteladas, as análises demandando desdobramentos, algumas questões não foram debatidas à exaustão, mas certamente algumas pistas foram construídas.

A proposta de elaboração desta pesquisa foi promover encontros sobre o trabalho, sob o ponto de vista da atividade, dos servidores técnicos -administrativos de uma IFES a partir do diálogo entre os trabalhadores. O referencial teórico-metodológico da Clínica da Atividade, utilizando o dispositivo imagético fotográfico, viabilizou um caminho que objetivou promover diálogos sobre alianças tecidas pelos técnicos ao enfrentarem os imprevistos diante do prescrito; conhecer as formas de organização e gestão do trabalho e analisar as relações que se efetivam no desenvolvimento das atividades de trabalho, que possibilitam a ampliação do poder de agir dos trabalhadores com vistas à transformação do trabalho que desenvolvem.

Sendo assim, podemos afirmar que, de acordo com os trabalhadores, foi a primeira vez que puderam se reunir para discutir e analisar o trabalho. Experiência única, vivenciada com muita intensidade, por meio da qual puderam discutir seu trabalho coletivamente, sem receio de que suas palavras fossem cerceadas.

Foi possível perceber a importância do coletivo no trabalho e do trabalho coletivo. A pesquisa indicou-nos a relevância de se instituir espaços de conversa quando os trabalhadores podem falar sobre seu trabalho, pensar sobre ele e, possivelmente, transformá-lo, o que não existe hoje nessa IFES.

O processo investigativo fortaleceu nossa tese de que o dialogismo é um caminho potente para que os trabalhadores sejam protagonistas de seu trabalho. Um protagonismo que implica participação distribuída, modos de trabalhar sintonizados com a potência própria dos viventes humanos.

 

Referências

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Endereço para correspondência
beatriz.cysne@hotmail.com, betebarros@uol.com.br

Recebido em: 02/12/2016
Revisado em: 11/12/2016
Aprovado em: 11/12/2016

 

 

1 "[...] o conceito de Poder de Agir diz respeito à atividade. A tarefa, por si só, não é suficiente. Até mesmo sob coação externa, o poder de agir se desenvolve ou se atrofia na ‘caixa preta’ da atividade de trabalho. Ele avalia o raio de ação efetivo do sujeito ou dos sujeitos em sua esfera profissional habitual, o que se pode também designar por irradiação da atividade, seu poder de recriação" (Clot, 2010, p. 15).
2 "[...] a saúde é um poder de ação sobre si e sobre o mundo, adquirido junto dos outros. Ela está ligada à atividade vital de um sujeito, àquilo que ele consegue, ou não, mobilizar de sua atividade pessoal no universo das atividades do outro; e, inversamente, àquilo que ele chega, ou não, a utilizar das atividades do outro em seu próprio mundo. Portanto, se a saúde encontra sua origem na preservação do que o sujeito se tornou, ela descobre seus recursos naquilo que ele poderia ter sido" (Clot, 2010, p. 111).
3 "Achamos [...] que a vida não é indiferente às condições nas quais ela é possível, que a vida é polaridade [...] que a vida é, de fato, uma atividade normativa [...]. No pleno sentido da palavra normativo é o que institui normas" (Canguilhem, 2011, p. 80).
4 Na concepção de Clot (2010, p. 169), "[...] o gênero profissional é o interlocutor que atravessando a atividade de cada um, coloca, justamente, cada um na interseção do passado e do presente".
5 Dados retirados do Sistema Integrado de Administração de Recursos Humanos (Siape). Disponível em: <www.serpro.gov.br/conteudo-solucoes/produtos/administracao-federal/siape-sistema-integrado-de-administracao-de-recursos-humanos>. Acesso em: 24 jan. 2014.
6 Todas as fotos apresentadas neste artigo foram produzidas pelos técnicos administrativos participantes da pesquisa.
7 Renormatizar: "[...] A perspectiva ergológica enfatiza as renormatizações construídas na atividade, de forma espontânea, às quais as ações de prevenção deveriam ficar atentas e, assim, evitar intervenções que sejam deslocadas e que interfiram negativamente no contexto da situação de trabalho" (Brito, 2004, p. 108).
8 Essa foto refere-se ao antigo acesso ao campus antes das atuais catracas automáticas.
9 A universidade possui um setor denominado de Sistema de Arquivos (Siarq) que foi instituído através da Resolução nº 33/2008 pelo Conselho Universitário em 14 de novembro de 2008. O Departamento dos Órgãos Colegiados da Universidade. SIARQ da IFES compõe-se de: I- Arquivo Central (intermediário e permanente); II- Protocolo geral; III- Arquivos Setoriais Correntes; IV- Arquivos Especializados, conforme anexo da Resolução no 33/2008-CUN-Art. IX, Capítulo IV da Estrutura. Os servidores participantes desta pesquisa possuem conhecimento do Siarq.

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