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Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento

versão impressa ISSN 1519-0307versão On-line ISSN 1809-4139

Cad. Pós-Grad. Distúrb. Desenvolv. vol.19 no.2 São Paulo jul./dez. 2019

https://doi.org/10.5935/cadernosdisturbios.v19n2p61-83 

Gravidez na adolescência e educação sexual: percepções de alunas do ensino médio de um município da Serra Catarinense1

 

Teenage pregnancy and sexual education: perceptions of students from high school of a city in the Serra Catarinense

 

Enbarazo en la adolescencia y educación sexual: percepciones de estudiantes de enseñanza medio de un municipio de la Sierra Catarinense

 

 

Claudia SpaniolI; Mayra Muller SpaniolII; Sonimary Nunes ArrudaIII

IUniversidade do Planalto Catarinense, Lages, SC, Brasil. E-mail: claudiaspaniol@uniplaclages.edu.br
IIUniversidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: mayraspaniol@hotmail.com
IIIUniversidade do Planalto Catarinense, Lages, SC, Brasil. E-mail: sonimary.n.a@gmail.com

 

 


RESUMO

Grande proporção anual de nascimentos no Brasil vem de gravidez na adolescência, o que tem repercussões sociais, econômicas e psicológicas para o desenvolvimento, tanto da mãe como para o bebê. Afinal, a vivência de uma gravidez não planejada na adolescência é cercada de fortes sentimentos, em um contexto de transformações para a gestante e seu ambiente familiar. O presente artigo caracteriza-se como o resultado do desenvolvimento de uma pesquisa qualitativa que objetivou identificar as percepções de adolescentes estudantes do ensino médio de uma escola pública e uma privada de um município da Serra Catarinense acerca do tema "gravidez na adolescência". O critério de seleção da amostra foi cursar o segundo ano do ensino médio nas escolas selecionadas. Participaram do estudo 17 adolescentes, 14 estudantes da escola privada e 3 da escola pública, com a idade variando entre 16 e 18 anos. Por se tratar de uma pesquisa qualitativa, foi possível identificar os aspectos subjetivos dos eventos estudados mesmo tratando-se de grupos com números de participantes distintos. O instrumento da coleta de dados foi a entrevista semiestruturada e a análise dos dados se deu por meio da análise de conteúdo proveniente das entrevistas. Os resultados apontaram que todas as adolescentes entrevistadas enxergam que a gestação precoce desponta como algo ruim, com inúmeras consequências negativas. Uma parcela significativa das estudantes já teve relações sexuais, mas conhece poucas formas de prevenir a gravidez, sem demonstrar domínio do funcionamento dos métodos existentes. A escola pública, por meio de uma abordagem diferenciada, concedeu às estudantes uma aprendizagem significativa voltada à educação sexual. As alunas da escola particular não se recordam de o tema ter sido abordado de maneira marcante na grade curricular. O presente estudo fornece subsídios para ações de educação em saúde, visando a prevenção de gravidez na adolescência.

Palavras-chave: Gravidez na adolescência. Adolescência. Educação sexual. Compreensão. Sexualidade.


ABSTRACT

A large annual proportion of births in Brazil comes from pregnancy in adolescence, which has social, economic and psychological repercussions for the development of both mother and baby. The present study is characterized as the result of the development of a qualitative research, and aimed to identify the perceptions of adolescents from high school of a public and a private school from Santa Catarina's mountain range, with the theme "pregnancy in adolescence". The sample selection criterion was to attend the second year of high school from the selected schools. Seventeen adolescents, 14 private school students and 3 public school students, aged between 16 and 18 years participated in the study. Because it is a qualitative research, it was possible to identify the subjective aspects of the events studied even in the case of groups with different numbers of participants. The data collection instrument was the semi-structured interview and the data analysis was through content analysis from the interviews. Results showed that all the adolescents interviewed see early pregnancy as something bad, with countless negative consequences. A significant number of students have had sexual encounters, but know few methods to prevent pregnancy, not demonstrating knowledge of how existing methods work. The public school, through a differentiated approach, provided the students with meaningful teachings about sexual education. The students from the private school do not remember to have had sexual education in a remarkable way in the curriculum. The present study provides subsidies for health education actions aimed at the prevention of teenage pregnancy.

Keywords: Teenage pregnancy. Adolescence. Sexual education. Comprehension. Sexuality.


RESUMEN

Gran proporción anual de nacimientos en Brasil viene de embarazo en la adolescencia, lo que tiene repercusiones sociales, económicas y psicológicas para el desarrollo, tanto de la madre como del bebé. El presente artículo se caracteriza como el resultado del desarrollo de una investigación cualitativa, y objetivó identificar las percepciones de adolescentes estudiantes de la enseñanza media de una escuela pública y una privada de un municipio de la Sierra Catarinense acerca del tema "embarazo en la adolescencia". El criterio de selección de la muestra fue asistir al segundo año de la escuela secundaria de las escuelas seleccionadas. Diecisiete adolescentes participaron en el estudio, 14 estudiantes de escuelas privadas y 3 públicas, con edades comprendidas entre los 16 y los 18 años. Debido a que es una investigación cualitativa, fue posible identificar los aspectos subjetivos de los eventos estudiados, incluso en el caso de grupos con diferentes números de participantes. El instrumento de recolección de datos fue la entrevista semiestructurada y el análisis de los datos se realizó a través del análisis de contenido de las entrevistas. Los resultados apuntaron que todas las adolescentes entrevistadas ven que la gestación precoz dispone como algo malo, con innumerables consecuencias negativas. Una parte significativa de los estudiantes ya ha tenido relaciones sexuales, pero conocen pocas formas de prevenir el embarazo, sin demostrar dominio del funcionamiento de los métodos existentes. La escuela pública, a través de un enfoque diferenciado, concedió a los estudiantes un aprendizaje significativo hacia la educación sexual. Las alumnas de la escuela privada no recuerdan el tema haber sido abordado de manera marcada en la cuadrícula curricular. El presente estudio proporciona subsidios para acciones de educación en salud, buscando la prevención de embarazo en la adolescencia.

Palabras clave: Embarazo en la adolescencia. La adolescencia. Educación sexual. Comprensión. Sexualidad.


 

 

INTRODUÇÃO

O Brasil, em 2011, foi cenário de nascimento de mais de meio milhão de filhos de mães adolescentes (560.888 bebês), o que corresponde a 19,25% do total de partos registrados no país naquele ano (BRASIL, 2018). Essa elevada proporção de nascimentos de filhos de mães adolescentes vem se mantendo constante a cada ano, segundo dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) do Ministério da Saúde.

É na adolescência, com a puberdade, que frequentemente ocorre o início da atividade sexual (BRASIL, 2015a). A influência do contexto social e familiar, associada às características de imaturidade emocional e impulsividade que de forma geral estão presentes na fase da adolescência, podem resultar em comportamentos considerados de risco, como, por exemplo, a iniciação sexual precoce e a ausência de proteção durante o ato sexual (PRATTA; SANTOS, 2007).

Devido às características fisiológicas e psicológicas da adolescência, uma gravidez nessa fase apresenta potencial de se tornar uma gravidez de risco. Riscos associados à gravidez na adolescência envolvem problemas de saúde que afetam tanto a mãe quanto o recém-nascido, incluindo morte materna, aborto, trabalho de parto prematuro e baixo peso da criança ao nascer (MPHATSWE et al., 2016). Baixo peso no nascimento foi fortemente associado a atrasos no desenvolvimento ou alguma deficiência, encontrados nos primeiros três anos de vida do bebê (THOMPSON et al., 2003). Em um estudo realizado na Índia, a gravidez na adolescência também foi associada a um risco significativamente maior de hipertensão induzida pela gravidez, toxemia pré-eclâmptica, eclâmpsia, parto prematuro e óbitos fetais. Aumento da mortalidade neonatal também foi observado em bebês de mães adolescentes. O grupo de adolescentes mais jovens (<17 anos) foi mais vulnerável a esses efeitos adversos (KUMAR et al., 2007).

Em um estudo conduzido entre 1992-1994 na Flórida (Estados Unidos), os autores avaliaram a relação entre gravidez na adolescência, deficiências e problemas educacionais na população total de crianças que entraram na educação infantil. Filhos de mães adolescentes apresentaram significativamente maiores chances de frequentarem a educação especial e maior ocorrência de problemas de aprendizado. Porém, quando a educação materna, estado civil, nível socioeconômico e etnia são levados em consideração, os efeitos prejudiciais desaparecem e até mesmo alguns efeitos protetores são observados. Assim, o aumento do risco de problemas de aprendizagem e deficiência entre filhos de mães adolescentes é atribuído, em parte, às influências dos fatores sociodemográficos associados (GUEORGUIEVA et al., 2001).

Além disso, a vivência de uma gravidez não planejada na adolescência envolve muitas transformações para a gestante e seu ambiente familiar, podendo levar a um desajuste, fazendo com que a família e a adolescente tenham que reorganizar seus projetos de vida, o que por vezes implica a interrupção dos estudos e abandono do trabalho. Contudo, a maternidade na adolescência tem diferentes perspectivas, pois os significados atribuídos a essa vivência dependem do contexto familiar e social em que a adolescente está inserida (RESTA et al., 2010).

Diante dessa realidade, a educação sexual se configura como uma estratégia de prevenção dos problemas relacionados ao desenvolvimento da sexualidade e gravidez indesejada na adolescência (JARDIM; BRÊTAS, 2006). O Programa Saúde na Escola (PSE) propicia a implantação de programas articulados de educação preventiva nos sistemas de ensino de todo o país, de forma conjunta com o Sistema Único de Saúde, estimulando debate e reflexão sobre as questões relativas à sexualidade, saúde sexual e saúde reprodutiva (BRASIL, 2015b).

Em um artigo de revisão recente, Schimitt et al. (2018) sugerem que métodos anticonceptivos, combinados à educação sexual, ao acesso à informação e ao planejamento familiar podem produzir efeitos positivos, contribuindo para a redução da gravidez na adolescência, assim como a sua reincidência, favorecendo o pensamento crítico para transformar a realidade conservadora quando o assunto é saúde reprodutiva, aconselhamento sobre métodos contraceptivos e planejamento familiar.

O panorama de gravidez na adolescência na Serra Catarinense é crítico: trata-se da região do estado de Santa Catarina que apresenta maior proporção de mães adolescentes em relação ao total de nascimentos (BRASIL, 2018).

Nessa perspectiva, o presente artigo caracteriza-se como o resultado de uma pesquisa qualitativa que teve como objetivo identificar as percepções de adolescentes estudantes do ensino médio de um município da Serra Catarinense sobre a gravidez na adolescência.

A pergunta de pesquisa baseia-se nos pressupostos de que uma parcela significativa das adolescentes já iniciou sua vida sexual, que a temática sexualidade vem sendo abordada de maneira ineficiente no ambiente escolar e que costuma ser um tabu no ambiente familiar. As consequências desse contexto podem acarretar a falta de conhecimento e, consequentemente, o uso impróprio de contraceptivos, fato que pode culminar em gestação indesejada na adolescência.

 

MÉTODO

Este estudo utiliza método de coleta e análise de dados qualitativo, tipo exploratório descritivo, tendo como cenário duas escolas da Serra Catarinense. Foram consideradas participantes da pesquisa adolescentes do segundo ano do ensino médio de uma escola pública e de uma escola privada, totalizando 17 adolescentes. A escola particular localiza-se na região central da cidade; a pública, na periferia. A escolha das escolas foi realizada de maneira aleatória. Após o contato com as escolas ser realizado, a direção de ensino de cada uma delas selecionou a sala que tivesse maior número de estudantes do sexo feminino para a realização do estudo. Foi limitada aos estudantes do sexo masculino a participação na pesquisa, pois, apesar de a gravidez ser uma responsabilidade compartilhada pelo casal genitor, neste estudo as pesquisadoras buscaram investigar a percepção da gravidez na adolescência e do ensino sexual nas escolas do ponto de vista do gênero feminino, ou seja, das alunas.

O envolvimento das participantes na pesquisa foi estabelecido mediante contato prévio com os responsáveis pelas escolas e autorização por parte dos pais e responsáveis por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), uma vez que os sujeitos não alcançaram a maioridade legal.

Em relação ao envolvimento da escola pública no trabalho, foram feitos diversos contatos com as alunas da instituição, utilizando diferentes tentativas de abordagem. Porém, não houve uma adesão significativa das estudantes, que alegaram vergonha e proibição da família de participar de uma pesquisa que envolve a temática sexualidade. Assim, tivemos 14 participantes da rede privada de ensino e apenas três da escola pública. A análise comparativa de dois grupos com números distintos de participantes não foi considerada uma dificuldade para as pesquisadoras por se tratar de uma pesquisa qualitativa. Portanto, os eventos subjetivos que permeiam a temática estudada foram satisfatoriamente identificados.

Os aspectos éticos foram assegurados conforme recomenda a Resolução nº 466/2012. A pesquisa tramitou pelo CEP por meio da plataforma Brasil, tendo seu parecer aprovado com o número 2.658.002. Foram garantidos o sigilo e também o anonimato das participantes mediante escolha de codinomes.

O período de realização do estudo foi de março a novembro de 2018. Para coleta de dados foi utilizada a entrevista semiestruturada, aplicada nas escolas em salas de aula cedidas pela coordenação de ensino para esse fim. A entrevista teve em média 10 minutos de duração, e cada participante contribuiu de maneira individual, durante o período de aula. As respostas foram registradas mediante gravação de áudio, e posteriormente transcritas e analisadas.

Conforme Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012, toda pesquisa com seres humanos envolve riscos em tipos e graduações variados. O risco da pesquisa realizada foi mínimo, restringindo-se a possibilidade de haver algum desconforto ou constrangimento dos envolvidos, e caso isso ocorresse, os participantes poderiam interromper e desistir da pesquisa a qualquer momento.

Para a análise de dados foi usado o método de análise de conteúdo, o qual permite que o pesquisador estude o comportamento humano de forma indireta, por meio da análise de suas comunicações, como, por exemplo, a escrita (DOS SANTOS, 2012). Após o processo de transcrição, os dados obtidos foram analisados, categorizados e interpretados dentro do contexto sociocultural no qual se inserem e com base na literatura existente, o que possibilita generalização, inferência e interpretação dos resultados. Para uma melhor visualização do panorama obtido, a organização dos padrões de resposta encontrados foi feita mediante uso de categorias provenientes de padrões das entrevistas.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dentre as participantes do estudo, a faixa etária ficou entre 16 e 18 anos; 15 tinham irmãos; 13 consideraram pertencer à raça branca; oito pertencem a núcleos familiares compostos por quatro pessoas. Em relação à constituição dos núcleos familiares, em dez dos casos a mãe e o pai estão presentes. A figura materna estava presente em 16 famílias, e a paterna em dez. Uma participante alega que em seu núcleo familiar a mãe e o pai são ausentes.

 

 

As categorias de análise foram elaboradas a partir da identificação de padrões de resposta, para melhor visualização do panorama obtido. Assim, surgiram cinco categorias: 1) Vivência escolar na adolescência; 2) Determinantes sociais de saúde e o contexto de vida; 3) Compreensão da sexualidade e repercussões da gravidez; 4) A sexualidade na vida de uma estudante do ensino médio; 5) A educação sexual no ensino médio.

Panorama da gravidez na adolescência na Serra Catarinense

O Sinasc divulga em 2016 dados alarmantes, que revelam que a Serra Catarinense, juntamente com o meio-oeste do estado de SC, tem uma elevada proporção de mães adolescentes em relação ao total de nascimentos. A porcentagem supera a média nacional, de 17,5%, e é a mais alta do estado (BRASIL, 2018).

 

 

Em Lages, a alta incidência de adolescentes que acessam a Estratégia de Saúde da Família (ESF) para realizar exame de confirmação de gravidez ou para realizar pré-natal chama a atenção de profissionais da saúde (NASCIMENTO; XAVIER; SÁ, 2011).

Vivência escolar na adolescência

Para conhecer o viés da vivência escolar na adolescência sob a perspectiva da estudante, foram necessários alguns questionamentos, dentre eles, quais seriam os principais atributos, bem como os principais pontos negativos da vida escolar das adolescentes.

A maior parcela das entrevistadas afirmou que gosta de ir à escola, sendo o convívio social o principal motivo. Já o aprendizado e o estudo foram identificados como a principal motivação em uma parcela menor das respostas. Uma parcela ainda mais reduzida expressou que o melhor da escola está relacionado às oportunidades que o ambiente possibilita.

O resultado encontrado corrobora o estudo de Aguiar e Conceição (2009), que investigou as expectativas e preocupações de alunos do último ano do ensino fundamental em relação à entrada no ensino médio e identificou que a categoria "amizades" foi a mais citada quanto às expectativas, e a categoria "aprender e estudar" ficou em segundo lugar.

Sendo assim, o convívio social é a principal característica atribuída ao ensino médio, tanto por quem está inserido nele quanto por alunos do ensino fundamental. A observação de que há maior expectativa para conhecer pessoas do que interesse pelos estudos é confirmada por meio do contato estabelecido com as estudantes entrevistadas. Ainda, as participantes foram questionadas a respeito de qual seria o ponto negativo de sua vida escolar. Suas respostas delimitaram oito aspectos principais; 1) Falta de responsabilidade como estudante, pela falta de organização pessoal e preguiça; 2) Dificuldade em exatas, especialmente matemática; 3) Relacionamentos conflituosos existentes no ambiente escolar; 4) Elevada pressão exercida pela escola, por sobrecarga de tarefas e provas; 5) Notas baixas; 6) Modo de ensino do professor, que dificulta a aprendizagem; 7) Acordar cedo e 8) Lacunas do currículo escolar, pois a sexualidade é esquecida.

Além disso, todas as adolescentes participantes da pesquisa sinalizaram um objetivo em comum: concluir o ensino médio, enxergando nesse marco a perspectiva de um bom futuro, atrelado à entrada no ensino superior.

Determinantes sociais de saúde e o contexto de vida

A definição de Determinantes Sociais de Saúde (DSS) expressa o conceito de que as condições de vida e trabalho dos indivíduos e de grupos da população estão relacionadas com sua situação de saúde. Sendo assim, entende-se que fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos e comportamentais influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população (BUSS; PELLEGRINI FILHO, 2007).

Corroborando essa perspectiva, ao analisar o perfil de quem engravida na adolescência, um estudo identificou associações entre os DSS nos quais os jovens estão inseridos e a incidência gestacional: a ocorrência de gravidez antes dos 20 anos variou inversamente com a escolaridade e a renda (AQUINO et al., 2003). Nessa perspectiva, buscou-se identificar os DSS das participantes do estudo para fins de dar sustento à análise.

As adolescentes estudantes da escola particular são constituintes de núcleos familiares parecidos, na metade dos casos formado por quatro pessoas, com a figura paterna presente. As estudantes da escola pública também constituem núcleos familiares constituídos em média por quatro pessoas, mas, nesse caso, a ausência do pai predomina.

Essa situação familiar, caracterizada pela ausência paterna duradoura, destaca-se como um fator de risco para o início precoce da atividade sexual por parte dos adolescentes (ELLIS et al., 2003).

Em relação à renda familiar, a maioria das estudantes da escola particular não soube informar. Já na escola pública as adolescentes têm consciência do salário familiar.

Quanto à busca pelos serviços de saúde pelas adolescentes, identificou-se que metade das alunas da escola particular já se consultou com médico ginecologista, e elas conseguem perceber a importância desse profissional da saúde. Já dentre estudantes da escola pública, nenhuma teve contato com ginecologista, e a maioria delas relata não saber qual seria uma possível utilidade dessa consulta.

Diante de situações de vulnerabilidade, a Estratégia Saúde da Família (ESF) visa a promoção de assistência integral continuada, de acordo com os princípios do Sistema Único de Saúde, gratuitamente (VIEIRA et al., 2011). Apesar da importância da ESF, o número de adolescentes que frequenta os serviços da Unidade Básica de Saúde (UBS) é baixo, e existe pouca oferta de ações em saúde voltadas para esse público específico (FERRARI; THOMPSON; MELCHIOR, 2006). As necessidades recorrentes de adolescentes que usufruem da UBS relacionam-se principalmente a aspectos da sexualidade e reprodução (AYRES et al., 2012).

Em relação ao acesso às tecnologias e mídias sociais, todas as participantes entrevistadas têm acesso à internet em casa e conectam-se a redes sociais. A internet representa um mundo virtual com inúmeras utilidades (PONTES; PATRÃO, 2014), dentre elas o acesso à informação, sendo assim um meio disseminador de conteúdos acerca da sexualidade.

Quanto à escolaridade alcançada pelos componentes do núcleo familiar no qual as adolescentes se inserem, no contexto da escola particular, na maioria dos casos ao menos um componente da família possui ensino superior completo. Na realidade da escola pública, nenhum integrante da família atingiu o ensino superior, predominando a formação até o ensino fundamental. Isso está correlacionado a um achado importante, que indica que a incidência de gravidez na adolescência é mais elevada em meios de menor acesso à educação e à informação. Portanto, a gravidez na adolescência é fortemente associada a baixos índices de escolaridade (CHALEM et al., 2007).

Quanto ao trabalho na vida do jovem, uma parcela reduzida das estudantes da escola particular trabalha ou já trabalhou. Nos casos em que isso aconteceu, o trabalho era realizado em uma empresa da própria família. Para as alunas da escola pública, trabalhar ou já ter trabalhado é uma realidade para todas as entrevistadas, frequentemente como menor aprendiz. Além disso, a metade das alunas da escola particular afirma que recebe bolsa de estudo. Uma participante da escola pública recebe o auxílio do Bolsa Família.

Compreensão da sexualidade e repercussões da gravidez

Para a constituição desta categoria de análise, buscou-se identificar, com os sujeitos do estudo, qual era sua compreensão acerca do planejamento familiar e das consequências de uma gravidez na adolescência. Para isso, perguntou-se qual seria o significado de "planejamento familiar" e sua importância, bem como quais mudanças elas imaginam que a gravidez na adolescência exigiria em suas vidas. Por fim, as estudantes foram indagadas a respeito do desejo de ter ou não filhos.

Uma parcela das adolescentes entrevistadas não atribui nenhum significado ao termo "planejamento familiar". Das estudantes da escola particular, três não têm ideia do que isso significa, enquanto na escola pública encontra-se uma expressividade maior acerca da compreensão sobre planejamento familiar. Foram identificados diferentes conceitos de planejamento familiar atribuídos pelas adolescentes, dentre eles: "Eu entendo que a família tem que ter um planejamento pra saber se vai poder arcar com as despesas mais para a frente e pra poder dar um melhor futuro para seus filhos" - Rio de Janeiro. "Eu entendo que é [...] ter um plano pra que você consiga deixar seu filho feliz" - Denver. "Entendo que é você se planejar, como, quantos filhos você quer ter, quando quer ter os filhos, se quer estudar primeiro"- Miami.

Reconhecendo a importância do planejamento familiar na qualidade de vida, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) tem como meta para a agenda de desenvolvimento sustentável de 2030 garantir que todos tenham acesso a serviços de saúde sexual e reprodutiva, incluindo planejamento familiar, informação e educação, promovendo, assim, o bem-estar, a saúde física e mental e aumentando a expectativa de vida da população mundial (UNESCO, 2018).

Diante da definição de planejamento familiar, infere-se a importância de conhecer métodos para evitar a gravidez, bem como ter acesso a eles. Nesse contexto, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) de 2017 define que abordar a sexualidade é fundamental nas escolas. O PSE corrobora essa recomendação, pois visa a inserção da equipe de saúde da Atenção Básica no espaço da escola para contribuir com momentos de educação em saúde, e assim colabora para que adolescentes tenham acesso à informação e conheçam métodos para prevenir a gravidez (BRASIL, 2017; BRASIL, 2015b).

A maioria das adolescentes entrevistadas afirma que já se deparou com dúvidas referentes à sexualidade e a métodos para evitar a gravidez. As alunas da escola particular relatam que já tiveram alguma inquietação em relação a essa questão, sendo a internet a forma mais utilizada para buscar esclarecimento. Citaram, entretanto, que também podem recorrer à família, a médicos e a psicólogos diante dessa situação.

As estudantes da escola pública também já tiveram algumas dúvidas referentes à sexualidade e a métodos para evitar uma gravidez, e a principal referência citada por elas para sanar a dúvida é a internet, seguida da orientação de um professor. Aboim (2016) afirma que a internet se tornou um dos principais canais de acesso à informação sobre sexualidade e sexo.

Foi proposto às entrevistadas que imaginassem como se sentiriam caso engravidassem nessa fase da vida. E as reações mais frequentes foram: desespero, susto, estado de choque e tristeza.

Em relação às adolescentes da escola privada, quando questionadas acerca das mudanças que ocorreriam nessa situação, identificaram-se: 1) necessidade de abandonar os estudos, 2) o futuro se tornaria incerto e com oportunidades reduzidas; 3) impactos negativos em seus núcleos familiares.

Já as estudantes da escola pública citaram como principais mudanças em suas vidas nessa situação: 1) necessidade de parar de trabalhar; 2) desperdício de oportunidades; 3) perda de liberdade.

Por vezes, inseridas em um meio social com escassez de recursos materiais, financeiros e emocionais satisfatórios, as adolescentes podem ver na gravidez a sua única expectativa de futuro (XIMENES NETO et al., 2007).

A revisão da literatura aponta a gravidez como uma das principais razões da evasão escolar, uma vez que a maternidade na adolescência dificulta a continuidade dos estudos devido à necessidade de cuidar do filho (TRINDADE, 2005). Entretanto, nem todos os estudos sobre o tema trazem a gravidez na adolescência como algo negativo. Seamark e Lings (2004), por exemplo, por meio de entrevistas semiestruturadas com mães adolescentes, encontraram que a maternidade e a educação dos filhos foram posteriormente valorizadas pelas mães. As mães entrevistadas mostraram uma visão positiva sobre a gravidez e o futuro, muitas vezes fazendo planos para desenvolver suas carreiras e mudando a direção de suas vidas, algo que não tinham anteriormente e desenvolveram tornando-se mães, tendo que ser responsáveis por outra pessoa além de si (SEAMARK; LINGS, 2004).

Porém, a visão positiva da gravidez na adolescência não apareceu nos relatos das estudantes deste estudo. A percepção sobre engravidar na adolescência se mostrou ser a mesma para estudantes da escola privada e para estudantes da escola pública. Mesmo pertencendo a categorias socioeconômicas distintas, todas as adolescentes reconhecem a gravidez na adolescência como algo negativo.

Grande parte das entrevistadas, tanto da rede privada como da pública, manifesta o desejo de ter filhos. Porém, ambos os grupos estudados esperam que isso ocorra apenas quando estiverem inseridas em outra realidade, que condiz, de acordo com elas, com o término do ensino médio, a conclusão de um curso superior, casa própria e renda fixa. Assim, mesmo que a maior parte delas não conheça a definição de "planejamento familiar", infere-se que na prática conseguem compreender sua importância.

A sexualidade na vida de uma estudante do ensino médio

A presente categoria emerge dos questionamentos acerca dos temas: 1) vida sexual da adolescente; 2) diálogo sobre sexualidade na família. O estudo demonstrou que uma parcela significativa das estudantes do ensino médio tem vida sexual iniciada. Das adolescentes da escola particular, cinco já tiveram sua primeira relação sexual, enquanto uma das alunas da escola pública passou por essa experiência.

Dentre os métodos contraceptivos utilizados estão a camisinha e a pílula do dia seguinte. Porém, a prevenção nem sempre é lembrada: uma adolescente da escola particular relata que já teve relações sexuais sem proteção. Nesse contexto, um estudo desenvolvido recentemente identificou as razões que levaram determinado grupo de adolescentes a engravidar, evidenciando que os principais motivos são a não prevenção ou a falta de cuidado (XIMENES NETO et al., 2007).

Em relação ao enfoque familiar, metade das adolescentes da escola privada afirma que não costuma conversar sobre sexualidade e possíveis métodos para prevenir a gravidez no ambiente familiar. No caso das adolescentes da escola pública também se identificaram limitações no diálogo familiar. Vale salientar que um dos fatores determinantes de gestações precoces - em todas as classes sociais - é a falta de diálogo entre pais e filhos (SANTOS, 2010). Além da comunicação familiar escassa, a literatura ainda destaca que conflitos familiares, baixa autoestima, rejeição familiar pela atividade sexual e violência física, psicológica e sexual estão entre os fatores predisponentes associados à gravidez na adolescência (YAZLLE, 2006).

Como consequência da comunicação familiar escassa, muitas pessoas jovens se aproximam da idade adulta enfrentando mensagens confusas sobre a sexualidade, que por vezes é exacerbada pela vergonha e pelo silêncio de adultos, incluindo pais e professores. Assim, normas sociais podem perpetuar condições prejudiciais oriundas, por exemplo, de um planejamento familiar enfraquecido (UNESCO, 2018). Sendo a sexualidade frequentemente um tabu na família de muitas adolescentes, elas relatam: "Acho que é meio estranho falar com os pais sobre isso" - João Pessoa. "Não é um tema frequente que a gente converse" - Lages.

Em relação às condições familiares em que o diálogo sobre sexualidade se estabelece, identifica-se que a mãe é a principal figura familiar que oferece suporte e diálogo acerca da temática, seguida de irmãos, tendo a figura do pai uma expressividade reduzida nesse contexto. Nesta perspectiva, identifica-se que instruções a respeito da temática sexualidade no núcleo familiar de adolescentes do sexo feminino se originam majoritariamente de mulheres.

As adolescentes de ambas as escolas demonstraram ter um conhecimento raso acerca de métodos para evitar a gravidez. Um grupo não sabe fazer uso de nenhum método para prevenir a gravidez, ou não sabe citar o nome de nenhum deles.

A educação sexual no ensino médio

A presente categoria emerge dos questionamentos acerca dos temas: 1) percepção das estudantes sobre a abordagem e a importância da educação sexual inserida no currículo escolar; e 2) caminhos para uma educação sexual efetiva.

A Unesco reconhece que a educação em sexualidade está presente em todos os espaços de socialização - família, escola, mídia -, mas ocorre de forma fragmentada e desassociada de um plano de sociedade inclusiva baseada nos direitos humanos. Por isso, reconhece que cabe à escola reunir, organizar e sistematizar a temática. Dessa forma, os alunos terão uma formação humana adequada (UNESCO, 2014).

Assim, a escola é um espaço privilegiado de intervenção sobre a conduta sexual dos estudantes. Mesmo admitindo-se que a gravidez na adolescência varia inversamente com a escolaridade, e que a orientação sexual tem papel fundamental na formação identitária e aquisição de responsabilidade (BRASIL, 2017), a implantação da educação sexual demonstra ser restrita a algumas experiências isoladas.

Diante de abordagens escassas e inexpressivas no meio educacional, as adolescentes da escola particular afirmam que o ambiente escolar nunca ofereceu a elas educação sexual. Outra parcela diz que em raras ocasiões a temática foi abordada, e para outro grupo o currículo escolar inclui aulas de educação sexual. Incluídas no mesmo contexto escolar, as percepções divergem radicalmente: quando questionadas se a temática já foi abordada, respondem: "Não, nenhuma vez" - Blumenau. "Aqui não" - Miami. E outra parcela: "Às vezes, mais na parte de biologia, ou quando tem palestra" - Cinza. "Às vezes. Falam sobre prevenção, pra não contrair doenças e não engravidar. Nas palestras vem o pessoal do posto de saúde" - Roxo. E ainda: "Tem, em sociologia conversamos bastante" - Rio de Janeiro. "Sim. Todos os professores conversam com a gente sobre isso. Tivemos uma palestra ano passado" - Preto.

Percebe-se que as estudantes da escola privada apresentam percepções divergentes a respeito da mesma vivência. Esse fator demonstra que a abordagem da temática "sexualidade" não vem sendo significativa no ambiente escolar e restrita a abordagens esporádicas.

Quando questionadas se a escola fornece educação sexual a seus estudantes, a maioria das alunas da escola pública disse sim, mas de maneira ocasional. Todas as estudantes da escola pública ressaltaram que são contempladas com um ciclo anual de palestras sobre sexualidade. Esse evento se mostrou significativo no processo de educação sexual.

Isso demonstra que a recomendação da BNCC e do PSE tem real aplicabilidade prática na escola pública, ao passo que orientam as escolas a fornecer educação sexual por meio de práticas diferenciadas, como núcleos de estudos organizados em forma de palestras e seminários (BRASIL, 2017; BRASIL, 2015b).

A maioria das estudantes relata que já ocorreram casos de gravidez na adolescência com pessoas próximas a elas, como com irmãs, primas e ex-alunas da escola. Elas acreditam que esses casos aconteceram por falta de informação sobre a prevenção. Em relação à importância da educação sexual no ensino médio, a literatura aponta que ela também se justifica pelo fato de que os alunos podem se tornar multiplicadores de conceitos e valores sobre a educação sexual (SILVA; MEGID NETO, 2006).

A Unesco defende que mesmo que nas últimas décadas tenham havido mudanças sociais e comportamentais no campo da sexualidade, a maioria das iniciativas escolares de educação em sexualidade continua concentrando-se na biologia e ciência corporal, e questões como o prazer e a diversidade sexual são marginalizadas. E, por vezes, a discussão sobre a sexualidade ocorre de maneira aleatória e pontual, e em resposta a situações que possam ocorrer na escola, como a gravidez na adolescência (UNESCO, 2014).

A qualidade da educação sexual é aprimorada pela participação sistemática dos jovens. É importante destacar que os alunos não são receptores passivos da educação sexual, e podem desempenhar um papel ativo na implementação e até mesmo na melhoria do conteúdo de educação sexual. Isso faz com que a educação sexual seja orientada para as reais necessidades e fundamentada na realidade com que os jovens conduzem suas sexualidades. Dessa forma, o resultado é muito mais significativo do que o encontrado ao simplesmente seguir um cronograma de tópicos previamente elaborado pelos educadores (WHO, 2010).

Considerando a importância da participação estudantil na educação sexual, as adolescentes apontam caminhos de como a temática poderia ser abordada no ambiente escolar de maneira mais efetiva: "Fazendo uma abordagem separada, só para meninas e outra só para meninos e depois juntar os grupos, para evitar constrangimentos. Só com as meninas seria mais fácil tirar dúvidas" - Nova York. "Também é interessante vir pessoas de fora" - Roxo.

Todas as adolescentes concordam que a escola é um local propício para o desenvolvimento da educação sexual. As seguintes falas justificam essa inferência: "É aqui que a gente aprende muitas coisas da vida. Passamos muito tempo aqui, também podia ser abordado esse tema" - Salvador. "Tem que ser na escola porque tem pais que têm vergonha de falar sobre isso com os filhos" - Buenos Aires.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo permitiu identificar as percepções sobre a gravidez na adolescência de estudantes de escolas pública e privada. Constatou-se que para os dois grupos o fenômeno desponta como indesejável e passível de ser evitado. Observou-se, nos grupos estudados, a ausência de vontade de ser mãe nessa fase da vida. Ao abordar o tema "sexualidade" na escola pública, as pesquisadoras encontraram bastante resistência, o que acabou por limitar o estudo: as alunas dizem ter vergonha e ser proibidas pelos pais de falar sobre o tema. Com isso, surgiu um novo questionamento a ser explorado: por que falar sobre sexualidade é constrangedor para as alunas de escola pública e suas famílias? Quais as consequências disso e como reverter esse quadro?

Os principais resultados encontrados baseiam-se no fato de que uma parcela significativa das adolescentes já iniciou sua vida sexual, que a temática sexualidade vem sendo abordada de maneira incipiente no ambiente escolar e que costuma ser um tabu no ambiente familiar. As consequências desse contexto estão implícitas na vida das adolescentes, que afirmaram não fazer uso de nenhum método para prevenir a gravidez, ou demonstraram não conhecer métodos contraceptivos. Ficam explícitos a importância e o impacto que a educação sexual pode ter na vida dessas adolescentes, com o intuito de evitar uma gravidez não planejada e suas consequências adversas.

Além disso, o estudo possibilitou identificar que a educação sexual nas escolas públicas e privadas não vem sendo trabalhada de modo significativo. Constatou-se que em ambas as escolas foram realizadas tentativas isoladas e inexpressivas de se abordar o tema "sexualidade" com as alunas. A inexistência de abordagens significativas acerca do tema no ambiente escolar deixa as adolescentes, especialmente as que não possuem diálogo no ambiente familiar, desassistidas quanto a conhecer formas de prevenir a gravidez.

Considerando-se que a qualidade da educação sexual é aprimorada pela participação sistemática dos jovens, é importante que os estudantes tenham oportunidade de participar da implementação e desenvolvimento do conteúdo a ser trabalhado. As alunas também demonstraram desejar que ações em educação sexual sejam planejadas de acordo com suas necessidades. Dessa forma, recomendações futuras pautam-se no estabelecimento de um cronograma escolar que inclua a educação sexual de maneira sistemática no currículo da escola, e que as adolescentes possam participar do processo de construção desse conhecimento, não se restringindo a receptoras passivas.

As estudantes demonstram desejo de serem escutadas. Portanto, é imprescindível que as ações de educação em saúde sejam elaboradas com base nas necessidades e no contexto de vida dos alunos, o que implica a adição de uma etapa: conversar com os estudantes. Uma questão importante: como abordá-los? As participantes da pesquisa sugerem fazer isso inicialmente dividindo a turma, para evitar constrangimentos.

Quanto ao acesso aos serviços de saúde para consulta relacionada à saúde sexual e reprodutiva, as adolescentes da escola pública demonstraram não reconhecer a importância do serviço de atendimento ginecológico e afirmaram não fazer uso desse atendimento. Um estudo transversal realizado em São Paulo identificou que adolescentes que não realizaram consulta ginecológica anterior à gestação associaram isso principalmente à falta de informação (CARVACHO et al., 2008). Em contrapartida, identificou-se que as estudantes da escola privada possuem acesso a profissionais de saúde e se consultam com médicos ginecologistas com regularidade.

Diante do exposto, entende-se que a ampliação de ações que aproximem as adolescentes - em especial as estudantes de escola pública - do atendimento à saúde deva ser priorizada. Novamente, surge um questionamento: como aproximar de maneira eficiente estudantes de escola pública do atendimento à saúde? Uma possibilidade para o alcance desse objetivo poderia se dar pela aproximação maior entre o ambiente da escola e a equipe multiprofissional das Unidades Básicas de Saúde. A redução de gravidez na adolescência que ocorreu no Brasil entre 2000 e 2016 está associada à ampliação de programas que aproximam profissionais de saúde das escolas e dos adolescentes. Apesar disso, a taxa de gravidez na adolescência nacional (58,7/1.000) está acima da média das Américas (48,6/1.000), e ações nesse sentido devem ter continuidade (BRASIL, 2019).

No que tange à implementação de uma aprendizagem significativa no contexto da sexualidade no ambiente escolar, entende-se que há a necessidade de maior amplitude na operacionalização das recomendações da BNCC e também do PSE, que recomendam que a escola e as equipes de saúde trabalhem em conjunto, em prol do acesso à informação e à saúde de estudantes do ensino médio. No universo estudado identificou-se que mesmo de forma incipiente a escola pública vem desenvolvendo algumas ações em consonância com as recomendações das referidas políticas. Considerando a realidade da escola particular, que apresentou uma frágil abordagem da temática sexualidade, e reconhecendo o potencial transformador existente nas ações de educação em saúde, entende-se que também para esse ambiente, o estreitamento de relações entre escola e equipe de saúde local é um caminho possível e factível para possibilitar a aprendizagem significativa acerca desta temática.

Atualmente, o fenômeno da gravidez na adolescência é uma temática que gera questionamentos sobre sua etiologia, seus riscos e consequências. Por vezes, esse evento é visto como um problema por ser precoce, mas é importante que se procure identificar o que as jovens pensam, sonham e planejam. Futuras pesquisas na área também poderiam buscar a perspectiva masculina sobre a gravidez na adolescência, afinal, a responsabilidade provém de ambos os genitores.

 

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Recebido em: 30.5.2019
Aprovado em: 29.8.2019

 

 

1 A pesquisa teve seu desenvolvimento financiado pelo recurso de bolsa do artigo nº 170, conforme disposto no Edital/Uniplac nº 126/2018.

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