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Psic: revista da Vetor Editora
versão impressa ISSN 1676-7314
Psic v.8 n.2 São Paulo dez. 2007
RESENHA
Raiva: emoção presente nos portadores de gastrite e esofagite
Marina Gasparoto do Amaral Gurgel *
Universidade São Francisco
Moreno, M. T. N. (2007). Raiva uma das emoções ligadas à gastrite e à esofagite. (138 p.). São Paulo: Vetor.
Há muito tempo pesquisa-se a relação entre os sintomas físicos e os aspectos emocionais. Maria Teresa Nappi Moreno, psicóloga, mestre e doutora em Psicologia Clínica pela PUC-SP, pretende analisar o destino dos sintomas apresentados pelos pacientes. Para tanto, optou por pesquisar a relação entre a raiva e às doenças como gastrite e esofagite, através de uma abordagem analítica.
Na Introdução de sua obra, justifica a pesquisa, incitada no trabalho com adolescentes de uma escola do ensino médio da grande São Paulo, que não sabiam lidar adequadamente com sua agressividade. Suscita assim, o interesse em analisar a maneira com que os pacientes portadores de doenças como gastrite e esofagite vivenciam, experienciam e expressam sua raiva. A autora relata sobre diversos autores, entre eles, Yung, que constatou em seus experimentos, relações entre reações fisiológicas e emoções. Apresenta também neste capítulo introdutório, algumas definições sobre o conceito da raiva.
Seu primeiro capítulo, intitulado Considerações Teóricas, é dividido em seis subtítulos: Sistema gastrointestinal, Patologias, Emoções, Raiva, A Psicossomática e Aspectos simbólicos da gastrite e esofagite. No primeiro subtítulo, Sistema gastrointestinal, a autora aborda a neurofisiologia e motilidade do esôfago e do estômago, além da neurofisiologia do sistema gastrointestinal. A importância da autora se apropriar desses temas diz respeito à atividade dos sistemas nervosos simpático e parassimpático, intimamente ligados à fisiologia das emoções. Já, no subtítulo Patologias, a autora discorre sobre dispepsias agudas, esofagite e gastrite, doenças de seu estudo.
Logo após, no subtítulo Emoções são relatados os aspectos neurofisiológicos das emoções por meio de diversos autores, como James-Lange, Walter Cannon e MacLean. Cada autor apresenta sua visão particular sobre a maneira que surge a emoção. Nesse mesmo subtítulo, são apresentadas algumas definições e expressões das emoções. De acordo com Maria Teresa Nappi Moreno, as definições são de origem diversas, e esta apareceu pela primeira vez na língua portuguesa no século XVIII. As expressões das emoções, surgiram primeiramente com Darwin que analisou as expressões nos homens e animais e descobriu que elas se alteram de acordo com o estado emocional que o indivíduo se encontra. A autora ainda cita Yung, que concorda com a teoria de James-Lange, em que as emoções surgem posteriormente às mudanças físicas, sendo estas marcadas por sentimentos físicos. Ainda cita Marino, que demonstra que as emoções são sensações subjetivas que decorrem de fatores muitas vezes, externos.
No quarto subtítulo, Raiva, encontram-se algumas definições e expressões da raiva. De acordo com a autora, a origem dessa palavra vem do latim rabia e significa ódio, ira, rancor, grande aversão, horror. Esse termo apareceu na língua portuguesa pela primeira vez no século XIII, como ravia. Maria Teresa Nappi Moreno, ainda cita Yung e outros autores que definem este termo. Dentro desse subtítulo, ainda são apresentados estudos e pesquisas atuais sobre a raiva e também em relação ao STAXI, instrumento utilizado nessa pesquisa. A maior parte dos estudos relatados pela autora relaciona os sintomas físicos aos estados emocionais, bem como diversos instrumentos utilizados para captar esses estados; entretanto, ressalta que não existem estudos a respeito da relação entre o estado de raiva e à origem de doenças gástricas. São descritos ainda nesse subtítulo, os aspectos simbólicos da raiva, os quais estão relacionados com os deuses da mitologia grega e romana.
No quinto subtítulo, A psicossomática, a autora, descreve a relação entre corpo e psique e cita algumas contribuições da teoria psicanalítica, uma das primeiras abordagens a investigar essa relação. Ainda nesse subtítulo, a autora discorre sobre o enfoque analítico desse tema, no qual Yung foi um dos autores que contribuiu para o entendimento da relação corpo-mente e possui a visão de que o ser humano tem como fator predominante na expressão de suas emoções, a mente ou o corpo e isso depende das diferenças de caráter e temperamento de cada um.
No último subtítulo, Aspectos simbólicos da gastrite e esofagite, Maria Teresa Nappi Moreno apropria-se de diversos autores que explicam a relação entre o surgimento dessas patologias com a infância, momento este em que a figura materna é extremamente importante para o desenvolvimento da personalidade do bebê. A maneira como essa relação se estabelece pode acarretar em diversas dificuldades para o indivíduo simbolizar adequadamente suas emoções, gerando assim, posteriormente as distintas patologias.
Em seu segundo capítulo, denominado Metodologia, a autora, expõe seus objetivos para a realização dessa pesquisa, que foram de maneira geral, verificar a forma de experiência e expressão de raiva em pacientes com gastrite e esofagite, e de maneira específica, averiguar se existem diferenças significativas na forma de experiência e expressão de raiva nas diferentes faixas etárias em pacientes com gastrite e esofagite, bem como comparar os resultados da raiva crônica entre os gêneros e as diversas faixas etárias destes pacientes. Foram sujeitos dessa pesquisa, 109 indivíduos, sendo 41 do sexo masculino e 68 do feminino; todos freqüentavam um hospital situado na grande São Paulo. Os instrumentos utilizados foram as fichas médicas dos pacientes, que continham informações sobre dados de identificação, descrição dos sintomas etc.; o Inventário de Expressão de Raiva Como Estado e Traço (STAXI), que fornece medidas da experiência e expressão da raiva; e uma entrevista semidirigida que foi aplicada a fim de averiguar dados como escolaridade, tempo de casamento, sintomas em relação à gastrite e esofagite, etc. Nesse mesmo capítulo são apresentados os resultados em trinta tabelas.
O terceiro capítulo, Análise e discussão dos resultados, apresenta primeiramente discussões a respeito da forma de experiência e expressão de Raiva, de acordo com o STAXI, na população estudada e posteriormente há uma análise da Raiva Crônica, outro objeto de estudo da autora. Constatou-se uma maior presença de mulheres nos atendimentos médicos no hospital em que foi realizada a pesquisa. Concluiu-se que esses sujeitos vivenciam sentimentos de raiva freqüentes, e que os homens apresentaram resultados mais altos do que as mulheres, assim como os traços são maiores na faixa etária entre 20 a 49 anos. A população estudada apresentou sentimentos de raiva em direção a si própria. As reações de raiva parecem ocorrer mais nos homens, e as pessoas entre 40 e 49 anos apresentam essas reações mais acentuadamente, ocorrendo uma diminuição dos 50 a 60 anos. O estado de raiva apresentado foi menor na população feminina que na masculina. Com relação à expressão da raiva, parece haver uma repressão da mesma, sendo denominada Raiva para Dentro. A autora cita, então, diversas pesquisas que relacionam outras emoções a outros distúrbios. Discorre também a despeito da maneira como o homem demonstra mais a raiva do que a mulher, atribuindo ao fato do domínio do patriarcado e avalia a hipótese de que a raiva é considerada uma emoção negativa e muitas vezes difícil de ser expressa.
No quarto e último capítulo, intitulado Considerações finais, Maria Teresa Nappi Moreno discorre sobre a relação entre as experiências de raiva e os sintomas de gastrite e esofagite. A autora sugere que se estude mais sobre pacientes com gastrite e esofagite e sobre a maneira que lidam com a raiva. Recomenda também a verificação em diversas culturas, camadas sociais e a investigação das relações desses distúrbios orgânicos com todas as emoções presentes na gastrite e esofagite. Fica o questionamento de que se as pessoas souberem melhor lidar com as emoções, em especial com a raiva, encontrarão a simbolização necessária para que não mais ocorram as doenças psicossomáticas que são expressas em conseqüência da falta dos símbolos necessários para a expressão do sujeito.
Os quatro capítulos que compõem o livro proporcionam algumas reflexões a respeito da importância de se investigar as causas das doenças físicas, que podem estar na psique do indivíduo. O livro serve de auxílio também a portadores de doenças como gastrite e esofagite, que poderão lidar melhor com esses distúrbios se perceberem que as emoções podem estar por detrás de sua incidência. Contribui também, para que lidem de maneira mais adequada com a raiva e possam melhor simbolizá-la, gerando em conseqüência maior equilíbrio e qualidade de vida. Recomenda-se este livro a todos os profissionais da área da saúde, que trabalham tanto no contexto clínico como hospitalar, bem como aos próprios portadores dessas patologias.
Recebido em: novembro/2007
Revisado em: novembro/2007
Aprovado em: dezembro/2007
Sobre a autora:
* Marina Gasparoto do Amaral Gurgel é formada em Psicologia pela Universidade São Francisco.