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Avaliação Psicológica

versão impressa ISSN 1677-0471versão On-line ISSN 2175-3431

Aval. psicol. vol.11 no.2 Itatiba abr./jun. 2012

 

 

A família e o idoso: desafios da contemporaneidade

 

 

Adriana Munhoz Carneiro

Universidade São Francisco

Falcão, D. V. da S. (Org.). (2010). A família e o idoso: desafios da contemporaneidade. Campinas: Papirus, 255 p.

 

 

O cenário atual indica o crescimento populacional de idosos e, junto a isto, a necessidade de políticas públicas e pesquisas a respeito do tema. No Brasil, os estudos ainda são recentes, e a literatura carece de livros. Deusivânia Vieira da Silva Falcão, ao organizar o livro "A família e o idoso: desafios da contemporaneidade" tenta, em parceria com os outros colaboradores, mudar essa perspectiva. A obra se divide em 12 capítulos, sendo o prefácio escrito por Júlia S. N. F. Bucher-Malushke, a qual comenta sobre o início da produção científica voltada para a área e seu estado nas últimas décadas, apontando que, apesar do crescimento, ainda mostra-se insuficiente. No prefácio há também uma reflexão sobre os impactos que a longevidade traz para a sociedade, as políticas públicas e a economia, tal como para o sujeito que a experiencia.

O primeiro capítulo, "Avaliação Psicológica de Famílias com Idosos", é escrito por Deusivânia V. da S. Falcão e Makilim Nunes Baptista, que discutem a difícil definição de família, apresentando perspectivas de como ela é compreendida ao longo dos tempos e seus reflexos nos processos de enfrentamento a períodos críticos, como doenças decorrentes do envelhecimento, demonstrando, assim, o papel do equilíbrio familiar nestes processos. Durante o capítulo, são apresentadas formas de se analisar a estrutura familiar e realizar uma avaliação familiar com idosos. Para auxiliar os leitores, os autores citam alguns instrumentos que foram validados para a realidade brasileira para esse fim, descrevendo as funções e particularidades de uso de cada um.

Jaqueline Marangoni e Maria Cláudia Santos Lopes de Oliveira são as autoras do segundo capítulo, denominado "Relacionamentos intergeracionais: avós e netos na família contemporânea", e comentam as mudanças da estrutura familiar, inclusive, mudanças de papéis, como no caso em que os principais responsáveis pelo sustento familiar são os avós. O capítulo se dedica a um tema que possui poucas pesquisas, a intergeracionalidade. Discorre sobre sua contribuição para se compreender o contexto familiar e a continuidade da cultura, apresentadas mediante resultados de uma pesquisa com idosos.

Dando continuidade, o terceiro capítulo, "Representações e relações entre jovens/adultos e seus pais e avós: um estudo comparativo entre grupos étnicos", elaborado por Edson de Souza Filho, Angel Beldarrin-Durandegui e Anderson Scardua amplia a questão do dinamismo pelo qual relações são permeadas e construídas, comentando sobre as influências dos papéis familiares e do idoso nestas novas estruturas. Ainda, são apresentados dados de pesquisa que demonstram a importância da individuação, principalmente ao idoso, tal como discussões mais frequentes sobre esta questão.

Levando em consideração as mudanças de papéis familiares, Mayeve Rochane G. L. Araújo discute este assunto no quarto capítulo: "O estresse das avós maternas que cuidam dos netos", discorrendo sobre a relação das crenças de avós que executam papéis como guardiãs ou mães substitutas à luz da Terapia Racional Emotiva Comportamental-TREC e o quanto a atribuição excessiva de responsabilidade pode comprometer a saúde das mesmas. O capítulo aborda a importância do psicólogo no confrontamento de crenças irracionais, trazendo exemplos de como detectá-las, citando algumas técnicas para que as responsabilidades sejam vistas de forma mais funcional, e que as idosas possuam uma melhor qualidade de vida.

O quinto capítulo: "O ciclo vital da família: percepções e vivências de mulheres idosas" é de autoria de Tatiana de Carvalho Socorro e Cristina Maria de S. Britto Dias, e contribui para o cenário de trabalhos sobre o aumento da expectativa de vida, apresentando um estudo realizado com oito idosas que relatam suas vivências. As autoras embasaram sua pesquisa na Teoria do Ciclo Vital Familiar, a qual é explicitada e discutida ao longo do mesmo, mediante relatos obtidos na pesquisa e com dados da literatura, tornando o contato do leitor com a teoria mais convidativa e fácil.

Nelma Caíres Queiroz é autora do sexto capítulo "Aspectos do conhecimento psicogerontológico para a atenção à família, ao cuidador e às instituições de idosos fragilizados". Ela introduz para o leitor o que é o objeto de estudo da psicogerontologia e amplia suas contribuições, comentando sobre os declínios decorrentes do envelhecer. Dentro desse âmbito, discutem-se as diferenças entre o envelhecer normal e o patológico, sendo comentados os fatores de risco a doenças, o papel protetivo da família e os cuidadores e a importância de uma equipe de saúde atuante para detectar a fragilização do idoso e evitar o desenvolvimento de doenças graves.

No sétimo capítulo, "Os conflitos nas relações familiares de idosos com doença de Alzheimer: contextos clínico e jurídico", Deusivânia V. da S. Falcão e Júlia S. N. F. Bucher-Maluschke focam os conflitos relacionados a idosos que possuem a doença de Alzheimer, seus sintomas e o peso que este diagnóstico gera ao equilíbrio familiar. A discussão desses temas se dá mediante exemplos de filmes, leis e trabalhos que citam as variáveis atreladas à doença, citando os processos jurídicos envolvidos na interdição e os fatores implicados, como a importância da equipe para afirmar as garantias previstas por lei aos idosos, a mediação, a questão do afeto, do dinheiro, dos interesses e da reestruturação familiar.

Marilia Viana Berzins e Helena Akemi Wada Watanabe dedicam o oitavo capítulo para "A violência doméstica contra a pessoa idosa", no qual apresentam informações históricas sobre o desenvolvimento de trabalhos na área, as questões relacionadas à violência a idosos e o papel da sociedade e dos direitos humanos, sem deixar de lado temas como negligência, discriminação e exclusão, os tipos de violência contra idosos e a participação familiar. As autoras induzem à reflexão de que, muitas vezes, a violência não é velada, mas sim explícita, atentando que seria um fenômeno fácil de detectar, mas que diversos mecanismos sociais impedem que ocorra esta detecção, sendo alguns deles elencados no capítulo.

O nono capítulo, "Serviço de atenção psicológica à terceira idade", de Luciene Freitas Duarte e Heniette Tognetti Penha Moato tem como objetivo mostrar ao leitor a importância de se realizar trabalhos de atendimento em grupo para idosos, discutindo questões como o papel da clínica e da ética. Como exemplo, apresentam um relato de pesquisa com base nos encontros realizados em plantão psicológico, trazendo as vantagens dos mesmos aos idosos e aos profissionais que os atendem, atentando para a estreita ligação que a clínica e a pesquisa devem ter.

No décimo capítulo, "Doença crônica: o processo de morrer e a morte do idoso na família", de Flávia Renata Fratezi, Beatriz Aparecida Ozello Gutierrez e Deusivânia Vieira da Silva Falcão, se discute a respeito de como a diminuição das relações sociais, conflitos familiares e a falta de informações corretas da doença dificultam o cuidado e aumentam riscos de vida. Nele, examina-se como avaliar e manejar o cuidado dos idosos e os desafios vivenciados pelos familiares durante as fases do adoecer até a morte do idoso. As autoras apresentam estratégias possíveis de serem adotadas para minimizar o sofrimento do luto, argumentando como a rede social pode amparar a família e a importância de entender o funcionamento familiar para poder prestar assistência aos membros.

O penúltimo capítulo, "O significado da viuvez e as relações familiares de viúvas idosas" é realizado por Milena Yuri Suzili e Deusivânia V. da S. Falcão, que comentam sobre a "feminização da velhice", ou seja, o aumento de longevidade associado ao gênero feminino nas atuais estatísticas. Dentro desse âmbito, discute-se sobre a viuvez e seu impacto social e cultural na mulher e o papel do suporte familiar na reestruturação da idosa, com auxílio dos resultados fornecidos por uma pesquisa que retrata informações relevantes sobre os sentimentos das entrevistadas e a importância de se estudar o contexto que elas estão inseridas para compreender suas estratégias de enfrentamento.

No último capítulo, Deusivânia V. da S. Falcão e Andrea Lopes escrevem sobre "A formação e a atuação profissional no Brasil: atenção à velhice e ao envelhecimento no Século XXI", descrevendo de forma minuciosa a função do gerontólogo, suas características e competências esperadas. Contempla, também, dados históricos do surgimento da profissão e as variáveis sociais, econômicas e políticas associadas ao impulsionamento da profissão. O capítulo estimula a reflexão sobre a formação e atuação dos gerontólogos, o trabalho multi e interdisciplinar e possíveis locais nos quais o gerontólogo poderá atuar, tal como os cursos que possuem esta especialização.

A compilação dos trabalhos relacionados ao idoso contribui com o cenário da psicologia do envelhecimento, principalmente por sua escassa literatura disponível. A distribuição dos capítulos torna a leitura agradável, havendo uma complementariedade entre os mesmos. É uma importante ferramenta de apoio aos que estudam ou que possuem maior interesse em estudar o processo de envelhecimento e seu nas relações sociais, principalmente, a família.

 

Recebido em maio de 2012
Aceito em junho de 2012

 

Sobre a autora:

Adriana Munhoz Carneiro: Graduanda em psicologia pela Universidade São Francisco e Bolsista de Iniciação Científica pelo CNPq.