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Avaliação Psicológica

versão impressa ISSN 1677-0471versão On-line ISSN 2175-3431

Aval. psicol. vol.21 no.2 Campinas abr./jun. 2022

https://doi.org/10.15689/ap.2022.2102.20784.03 

ARTIGOS

 

Construção e Validação de Bateria Multidisciplinar de Triagem do Desenvolvimento Infantil (TDI)

 

Construction and Validation of the Multidisciplinary Battery for Child Development Screening (TDI)

 

Construcción y Validación de Instrumento Multidisciplinar para la Selección del Desarrollo Infantil (TDI)

 

 

Flavia Amaral MachadoI; Sérgio Kakuta KatoII, III; Jéssica Laís Silva AntunesIV; Léia Gonçalves GurgelV; Adriana Jung SerafiniVI; Caroline Tozzi ReppoldVII

IUniversidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Rio Grande do Sul https://orcid.org/0000-0001-73988759
IIPontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul https://orcid.org/0000-0002-7180-3121
IIIUniversidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Rio Grande do Sul
IVUniversidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. https://orcid.org/0000-0002-7346-8558
VUniversidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Rio Grande do Sul https://orcid.org/0000-0003-2679-1798
VIUniversidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Rio Grande do Sul https://orcid.org/0000-0002-9273-5594
VIIUniversidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Rio Grande do Sul https://orcid.org/0000-0002-0236-2553

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O estudo objetivou apresentar a construção da Bateria Multidisciplinar de Triagem do Desenvolvimento Infantil (TDI) e suas evidências de validade de conteúdo. A elaboração do TDI seguiu as recomendações internacionais com cinco etapas: definição da fundamentação teórica, construção da versão preliminar do instrumento, análise dos itens por juízes especialistas, análise semântica pela população-alvo e estudo piloto. Para o embasamento da construção dos itens, realizou-se revisão de literatura sobre o desenvolvimento infantil na fase de escolarização inicial, considerando os construtos envolvidos na prontidão escolar, incluindo artigos, instrumentos existentes, livros e manuais. As áreas selecionadas foram linguagem, funções executivas e habilidades motoras. Na versão preliminar, 110 itens foram elaborados. Após a realização das três últimas etapas, a versão final totalizou 81 itens, destinados à avaliação de crianças entre 6 e 8 anos de idade. A TDI apresentou evidências de validade de conteúdo, sendo de relevância nas áreas da saúde e educação brasileira.

Palavras-chaves: psicometria; estudos de validação; linguagem infantil; função executiva; habilidades motoras


ABSTRACT

This study aimed to present the development of the Multidisciplinary Battery for Child Development Screening (TDI) and its content validity evidence. The TDI construction followed international recommendations, consisting of five stages: description of the theoretical foundation; development of the preliminary version of the instrument; analysis of the items by experts; semantic analysis of the items by the target population; and a pilot study. To support the construction of the items, a literature review was conducted regarding child development in the initial education stage, considering the constructs involved in school readiness. Articles, existing instruments, books and manuals were included. The selected areas were language, executive functions and motor skills. In the preliminary version, 110 items were developed. After completing the last three stages, the final version totaled 81 items, directed toward the assessment of children between 6 and 8 years of age. The TDI presented content validity evidence, being relevant in the Brazilian health and education areas.

Keywords: psychometry; validation studies; children's language; executive functions; motor skills.


RESUMEN

El estudio tuvo como objetivo presentar la construcción de la Batería Multidisciplinar para la Selección del Desarrollo Infantil (TDI) y sus evidencias de validez de contenido. La elaboración siguió las recomendaciones internacionales con cinco etapas: fundamentación teórica; desarrollo de la versión preliminar; análisis de los ítems por expertos; análisis semántico por la población-objetivo; y estudio piloto. Para apoyar la construcción se realizó una revisión de la literatura sobre el desarrollo infantil en la fase inicial de escolarización, considerando los constructos implicados en la preparación escolar, incluyendo artículos, instrumentos existentes, libros y manuales. Las áreas seleccionadas fueron lenguaje, funciones ejecutivas y habilidades motoras. La versión preliminar tuve 110 items preparados. Después de las últimas tres etapas, la versión final totalizó 81 ítems, destinados a la evaluación de niños entre 6 y 8 años, La TDI presentó evidencia de validez de contenido, siendo relevante en las áreas de salud y educación brasileñas.

Palabras-clave: psicometría; estudios de validación; lenguaje infantil; función ejecutiva; habilidades motoras.


 

 

Ao longo da infância, estruturam-se competências fundamentais para o desenvolvimento de habilidades motoras, cognitivas ou adaptativas, de linguagem, sociais e pessoais, caracterizando esse período como de oportunidades e vulnerabilidades (Guedes-Granzotti et al., 2018; Marini, Lourenço, & Della Barba, 2017; Nieto, Ros, Medina, Ricarte, & Latorre, 2016). Nesse sentido, destaca-se a importância de um olhar atento de profissionais tanto da área da saúde quanto da educação a fim de detectar precocemente possíveis alterações ou atrasos no processo do desenvolvimento infantil (Marini et al., 2017; Santos et al., 2019).

No Brasil, a escassez de instrumentos padronizados de baixo custo para avaliar habilidades relacionadas ao desenvolvimento infantil acarreta dificuldades na identificação de atrasos e, consequentemente, na intervenção precoce. Na área da saúde, o Manual para Vigilância do Desenvolvimento Infantil, publicado na Caderneta de Saúde da Criança (Oliveira et al., 2012), é um dos poucos instrumentos brasileiros que prevê o acompanhamento e a triagem das crianças na rede pública de saúde nas diferentes áreas do desenvolvimento. No entanto, é direcionado apenas para a primeira infância (de 0 a 3 anos) e os resultados de alguns estudos sugerem que o instrumento não tem validade ou sensibilidade suficiente, necessitando de uma melhor definição dos parâmetros e da escolha dos indicadores para avaliação dos marcos desenvolvimentais (Coelho et al., 2016).

Já na área da educação, destaca-se a importância do uso de ferramentas adequadas, embora existam muitas formas de avaliação disponíveis para contextos psicopedagógicos, ainda são poucos os instrumentos nacionais com boas propriedades psicométricas disponíves (da Santos et al., 2019). Em situação escolar, os professores utilizam comumente avaliações qualitativas de habilidades preliminares de leitura e escrita para identificar crianças em risco, no entanto, outras áreas do desenvolvimento que podem estar interferindo no progresso do aluno tendem a não ser consideradas (Berninger et al., 2017; Bora, Cardoso & Toni, 2019; Michel et al., 2019).

Tendo em vista suprir essa lacuna existente, foi idealizado um instrumento para ser utilizado por profissionais com diferentes formações, com o intuito de auxiliar na detecção de qual área do desenvolvimento encontra-se preservada ou não. Propõe-se a ser uma ferramenta de triagem, utilizada para rastrear possíveis defasagens em aspectos do desenvolvimento para que encaminhamentos específicos sejam realizados quando necessário. A bateria de triagem contempla os construtos linguagem, funções executivas (FEs) e as habilidades motoras (HMs) para avaliação de crianças entre 6 e 8 anos de idade. Foi projetada para ser disponibilizada sem custo e inicialmente prevista para uso nos âmbitos escolar, clínico e experimental. O objetivo deste estudo é apresentar o processo de elaboração do instrumento denominado Bateria Multidisciplinar de Triagem do Desenvolvimento Infantil (TDI) e suas evidências de validade de conteúdo.

 

Método

A elaboração do TDI foi realizada com base nos procedimentos teóricos e empíricos recomendados para a elaboração de instrumentos psicológicos baseados em construtos (Hutz et al., 2015; Irwing et al., 2018; Pasquali, 2013; Reppold et al., 2014). Foram utilizados os métodos qualitativo e quantitativo com coleta transversal de dados.

O processo completo objetivou garantir que o instrumento seguisse às determinações para atingir as evidências de validade baseadas em conteúdo, conforme recomendado pela American Educational Research Association, American Psychological Association, National Council on Measurement in Education (APA, AERA, & NCME, 2014). Para isso, foram realizadas cinco etapas para elaboração da Bateria, descritas a seguir: definição da fundamentação teórica; construção da versão preliminar do instrumento; análise dos itens por juízes especialistas; análise semântica dos itens pela população-alvo do instrumento e estudo piloto.

Definição da Fundamentação Teórica

Para elaboração do instrumento, inicialmente realizou-se uma consulta à literatura sobre o desenvolvimento infantil, direcionada à fase de escolarização inicial, a fim de estabelecer os construtos que influenciam na prontidão escolar e na aquisição das habilidades relacionadas ao desenvolvimento infantil na faixa entre 6 e 8 anos de idade. A revisão incluiu artigos científicos, instrumentos de avaliação do desenvolvimento infantil, livros e manuais sobre o desenvolvimento da criança. Foram utilizadas as bases de dados Web of Science, PubMed, SciELO, Psycoinfo, SCOPUS e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), a partir dos descritores: Child Development AND Scholar AND Learning. Como não há descritores indexados para initial schooling ou school readiness, utilizou-se os dois termos como filtros na busca. Foram selecionados artigos com publicação de 2006 a 2015, nos idiomas inglês, espanhol e português; com amostra composta por crianças com idade de 6 a 8 anos. Foram excluídas publicações que não abordavam a temática de interesse (referindo-se à avaliação nutricional, por exemplo). Considerou-se os construtos avaliados e os instrumentos utilizados para avaliação do desenvolvimento.

A partir dos resultados encontrados, as áreas do desenvolvimento foram selecionadas. Optou-se por definir aquelas que estavam presentes nos estudos na avaliação da criança no processo de escolarização inicial. Linguagem, cognição e habilidades motoras foram avaliadas em cerca de 70% dos estudos encontrados, nos quais pelo menos uma dessas três áreas estava presente. O restante do percentual referiu-se a estudos envolvendo a personalidade, habilidades sociais ou qualidade de vida.

Especificamente em relação à cognição, optou-se pela avaliação em FEs, pois constatou-se um aumento, em relação aos anos anteriores, nos estudos com investigação desse construto em crianças, sendo Diamond (2013) uma das principais autoras da área. Associado a isso, percebeu-se uma demanda pela construção de novos instrumentos que avaliem mais de um domínio simultaneamente e especialmente voltados para crianças e adolescentes (Santana et al., 2019).

Verificou-se, ainda, que os resultados encontrados na relação das FEs com o desempenho acadêmico trouxeram evidências robustas indicando a influência das FEs sobre o desenvolvimento cognitivo em diferentes etapas do desenvolvimento (Aydmune et al., 2020; Escobar, 2018). Consideradas fundamentais para a regulação de habilidades, logo, qualquer insuficiência ou déficit em algum dos componentes das FEs, pode ocasionar atraso na prontidão escolar e dificuldade no processo de aprendizagem (Aydmune et al., 2020).

A consulta teórica inclui ainda uma revisão dos instrumentos já disponíveis para avaliação do desenvolvimento infantil nas áreas de linguagem, FEs e HMs, visando verificar os domínios abarcados, os construtos avaliados e o número de itens. Destaca-se que nenhum dos instrumentos encontrados avaliava todos os domínios pesquisados no mesmo instrumento.

Nos instrumentos encontrados, constatou-se que o número de itens variava de acordo com quantos construtos estavam sendo avaliados. O teste intitulado Prova de Consciência Fonológica por Produção Oral (PCFO) (Seabra & Capovilla, 2012), por exemplo, avalia consciência fonológica e é formado por 40 itens; já as Provas de Avaliação dos Processos de Leitura (PROLEC) (Capellini et al., 2010), que avaliam consciência fonológica, leitura e compreensão leitora, entre outros, totalizam mais de 200 itens. Da mesma forma, em relação a avaliação das HMs, os instrumentos apresentaram diferença em número de construtos avaliados, sendo a variação do número de itens bem mais ampla. Por exemplo, no Teste de Triagem de Denver (Denver II) (Frankenburg, 1992) são quatro áreas avaliadas com total de 125 itens, enquanto que no Movement Assessment Battery for Chidren (MACB-2) (Henderson et al., 2007) são três áreas com total de oito itens. Com relação às FEs, a variação de itens também foi identificada, mas o que ficou mais evidente foi o número elevado no total de itens para avaliação das FEs. Notou-se haver escassez de instrumentos que avaliem os componentes das FE simultaneamente, portanto são utilizados mais de um instrumento a fim de compor baterias de avaliação das FEs.

Ainda nesse âmbito, a grande maioria dos instrumentos de avaliação encontrados na revisão de literatura tem como objetivo de aplicação o diagnóstico de atrasos, transtorno, disfunção ou déficit em áreas do desenvolvimento. Alguns apresentavam evidências de validade para a população brasileira, no entanto, poucos instrumentos de triagem ou rastreamento do processo do desenvolvimento encontrados contemplavam crianças da faixa etária deste estudo.

Nessa etapa, também foram consultados profissionais da área da saúde e da educação, com experiência clínica no desenvolvimento infantil, em especial na fase de escolarização inicial. Foram realizadas entrevistas com 26 experts (quatro fonoaudiólogos, quatro fisioterapeutas, quatro psicólogos, dois pediatras, dois psiquiatras, dois neurologistas, quatro pedagogos da área clínica e quatro pedagogos professores de educação fundamental), com a finalidade de compreender as principais queixas clínicas, seu motivo de encaminhamento e demandas escolares relacionadas a essa faixa etária, além de obter subsídios para a elaboração dos itens do instrumento (em termos de linguagem) e informações sobre os instrumentos utilizados pelos clínicos para avaliação dos construtos de interesse à bateria.

Ao final da etapa de fundamentação teórica, foram definidos os construtos específicos de cada área. Para tanto, considerou-se a revisão de literatura, os testes existentes e a entrevista com os profissionais acima citados, selecionando aqueles construtos encontrados com maior frequência e com relevância na prontidão escolar. Na linguagem, considerou-se a consciência fonológica, citada comumente na literatura como importante preditor de desempenho em leitura e escrita (León et al., 2019), assim como as habilidades relacionadas a linguagem oral (Dias et al., 2019), tais como a compreensão. Ainda, outras habilidades foram definidas, como leitura de palavras e compreensão de texto, por exemplo, que são essenciais para o desenvolvimento de leitores hábeis e para um bom desenvolvimento do processo de aprendizagem (Machado & Freitag, 2019), bem como a escrita e o domínio gráfico e ortográfico (Rocha & Martins, 2014). A fluência verbal, por fim, é vista como importante recurso de avaliação neuropsicológica, relacionada com habilidades de linguagem, memória e funções executivas, preditoras de neurodesenvolvimento adequado (Moura et al., 2013).

Para escolha dos construtos das Fes, seguiu-se a linha teórica e nomenclatura de Diamond (2013) incluindo as três habilidades principais: flexibilidade cognitiva, memória de trabalho e controle inbitório/atenção seletiva. Envolvem a escolha um determinado esquema mental, a combinação desses esquemas e sua memorização por tempo suficiente para relacioná-los às informação adquiridas, a fim de atribuir significado ao conteúdo (Santana et al., 2019). Dificuldades em qualquer componente das FEs estão relacionadas com as dificuldades na aprendizagem, pois interferem no processo de aquisição de novas habilidades (Nieto et al., 2016), como a competência básica de leitura, expressão escrita, reconhecimento de sons, entre outros (Berninger et al., 2017).

Em relação às HMs, sabe-se que são subdivididas de acordo com seu grau de complexidade em amplas (como o controle postural e o deslocamento) e finas (como a manipulação de objetos e a escrita) (Gallahue et al., 2013). Ainda, como uma derivação da motricidade ampla e relacionado ao controle postural, está o equilíbrio, possibilita que a criança execute os movimentos permitindo explorar o ambiente ao seu redor. Esses movimentos preliminares propiciarão uma boa capacidade de utilizar adequadamente o papel, o lápis e os demais recursos utilizados na escolarização (Guedes-Granzotti et al., 2018).

Importante salientar que a etapa de início da complexificação das HMs coincide com o período de escolarização inicial (Bora et al., 2019). Desse modo, os componentes da aprendizagem motora exercem influência significativa na aquisição das habilidades de aprendizagem cognitiva, como a consciência corporal e espacial, bem como sincronia, ritmo e sequência motora (Bora et al. 2019; Guedes-Granzotti et al., 2018), em especial, a motricidade fina por apresentar uma relação direta com o processo de aprendizagem da escrita (Gallahue et al., 2013; Guedes-Granzotti et al., 2018). A definição operacional de cada um dos domínios e construtos é apresentada na Tabela 1.

Construção da Versão Preliminar do Instrumento

Nessa etapa, foram elaborados itens correspondentes a cada um dos construtos/dimensões mencionados a seguir: Linguagem: Consciência fonológica, Processamento sequencial, Fluência Verbal (FV), Escrita, Leitura e Interpretação de Texto. Funções executivas: Flexibilidade cognitiva e Memória de Trabalho, e Controle Inibitório. Funções motoras: Motricidade ampla e Equilíbrio, Motricidade Fina.

Para contemplar todos os construtos/dimensões definidos na etapa anterior e manter o conceito de teste de triagem, a proposta foi condensar vários alvos de avaliação em um único item (Coluci et al., 2015; Larner, 2013). Por exemplo, na tarefa de leitura, o item elaborado tinha mais de um fonema-alvo na mesma palavra, reduzindo o número total de palavras da atividade.

O processo de elaboração dos itens foi realizado de outubro de 2015 a março de 2016 e contou com três etapas guiadas por referenciais psicométricos estabelecidos (Irwing et al., 2018; Michel et al., 2019; Reppold et al., 2014): revisão da literatura relacionada ao novo teste e os procedimentos complementares à revisão teórica (entrevistas e consulta a juízes sobre a definição operacional), a construção da definição operacional e a construção dos itens. Levou-se em consideração o caráter lúdico e atrativo que a bateria deveria ter para as crianças; para tanto, os itens foram elaborados com diferentes propostas de execução. São itens com perguntas e respostas de forma oral, com ilustrações e alternativas de múltipla escolha, jogo de memória com pares de peças, jogo do tipo "amarelinha" ou atividades de recorte e desenho. Os itens, a forma de resposta e de correção da versão final do instrumento estão descritos na seção "Resultados desse estudo".

A versão preliminar do instrumento foi formada por 110 itens, que incluíram avaliação de: Linguagem - Consciência fonológica (21 itens), Processamento sequencial (1 item), Tarefas de Fluência Verbal (FV) (2 itens), Escrita (18 itens), Leitura (18 itens) e Interpretação de Texto (5 itens); FEs - Flexibilidade cognitiva e Memória de Trabalho (20 itens), Controle Inibitório (3 itens); HMs - Motricidade ampla e Equilíbrio (13 itens), Motricidade Fina (9 itens). Além disso, também foram elaborados o manual de aplicação e protocolo de respostas. Ressalta-se que todas as ilustrações que compõem o material da bateria foram criadas pelo grupo de pesquisadores unicamente para esse fim.

Análise dos Itens por Juízes Especialistas

Conforme procedimentos sugeridos para escolha dos juízes, que preveem no mínimo dois profissionais, considerando um número mais elevado oneroso sem necessariamente melhorar a qualidade do procedimento (AERA et al., 2014; Hutz et al., 2015), optou-se por três juízes. Estes foram escolhidos intencionalmente e convidados a participar da pesquisa, de acordo com os seguintes critérios: Ter formação e experiência profissional por, no mínimo, 10 anos em avaliação do desenvolvimento infantil, nas áreas de Psicologia, Fonoaudiologia ou Fisioterapia e atuar profissionalmente em equipe multidisciplinar. O número de juízes baseou-se nos preceitos Os experts receberam uma carta com as instruções, a bateria com os itens elaborados e uma grade de resposta. Cada item foi avaliado em três quesitos: "A apresentação do item está adequada para a faixa etária?", "O item é relevante nesse contexto?" e "O item é pertinente ao construto ao qual se refere?". As alternativas de respostas que os juízes dispunham foram: 1- "Não Concordo", 2-"Concordo Pouco", 3-"Concordo", 4-"Concordo Totalmente". A análise quantitativa das respostas dos juízes foi realizada por meio do cálculo do Índice de Validade de Conteúdo (IVC) de cada item, considerando os três critérios mencionados. O ICV considerado aceitável foi de, no mínimo, 80% de concordância (Favero et al., 2017).

Para o cálculo do IVC, foram considerados apenas as respostas 3 e 4; os itens com resposta 1 e 2 foram excluídos. Para compor os resultados da análise quantitativa, cada item foi analisado sob três aspectos, gerando três índices diferentes: apresentação do item (IVCa), relevância do item (IVCr) e a definição do construto (IVCc). Foram mantidos no instrumento apenas os itens com IVC igual ou maior que 80% nos três aspectos analisados.

Um espaço destinado para sugestões e considerações foi oferecido em todos os itens para preenchimento dos juízes. As respostas obtidas foram analisadas de forma qualitativa, considerando-se as sugestões e os comentários obtidos. Nessa etapa, os juízes sugeriram pequenas adequações nas ilustrações ou substituição de palavras para tornar o item mais acessível ao público-alvo. Todas as sugestões dos itens que tiveram o ICV total igual ou maior de 80% foram analisadas pela equipe de pesquisa e consideradas para ajuste do item.

Para o domínio da linguagem, 23 itens foram excluídos nessa etapa, sete de consciência fonológica, oito de leitura e oito de escrita. Além disso, quatro itens tiveram pequenas adequações no vocabulário das instruções e dois na ilustração correspondente. Os itens relativos às FEs tiveram apenas alterações na tarefa de flexibilidade cognitiva e memória de trabalho, na qual dois pares de desenhos foram trocados pelos pares do item treino. Em relação às HMs, foram excluídos três itens referentes a uma das tarefas de motricidade ampla e outros três da tarefa de motricidade fina. Além disso, houve adequação do vocabulário em dois itens. Os exemplos de itens excluídos são apresentados na Tabela 2.

O instrumento reformulado foi enviado novamente aos especialistas para ser apreciado. A metodologia rigorosa na criação dos itens e a análise de juízes especialistas possibilitou obter uma ferramenta com evidências de validade de conteúdo, confirmando que o instrumento é pertinente ao construto avaliado e ao embasamento teórico utilizado.

Análise Semântica dos Itens pela População-Alvo do Instrumento

Para verificar a compreensão semântica dos itens, dois dos profissionais do grupo de pesquisa, responsáveis pelo processo de elaboração dos itens, selecionaram por conveniência dois grupos formados por três crianças, com idade de 6, 7 e 8 anos, estudantes de escolas públicas da cidade de Porto Alegre. Os encontros para a aplicação da bateria aconteceram no Laboratório de Avaliação Psicológica da UFCSPA, duraram em torno de 1 hora e foram realizados individualmente, com a presença dos dois avaliadores. Foi solicitado a cada participante do primeiro grupo que realizasse as tarefas da bateria conforme instruções dos avaliadores. As crianças foram questionadas quanto ao entendimento das instruções da bateria e do vocabulário dos itens.

Durante a execução das tarefas, os avaliadores observaram se havia alguma dificuldade em relação às instruções e aos termos presentes nos itens, averiguando a compreensão delas sobre esse conteúdo. Após essa etapa, foram realizados pequenos ajustes nas instruções dos itens de consciência fonológica a fim de tornar a linguagem do teste mais acessível para o público-alvo. Substituiu-se o pronome "lhe" como na frase "Vou lhe pedir que faça" por "Vou pedir que você faça". O instrumento alterado foi exibido ao segundo grupo com os mesmos objetivos anteriores. Não houve a necessidade de adequação na segunda etapa. As instruções modificadas pela análise semântica e pela análise dos juízes estão na Tabela 3.

Estudo Piloto e Versão Final do Instrumento

A amostra para o estudo piloto foi constituída de 39 estudantes, divididos por idade (6, 7 e 8 anos) com 13 participantes para cada faixa etária. Os participantes eram alunos regulares de uma escola pública da cidade de Porto Alegre, RS, e frequentavam do primeiro ao terceiro ano do Ensino fundamental I (EFI), considerada como fase de escolarização inicial (De Vellis, 2012). O convite para a participação foi feito para todas as crianças das seis turmas disponíveis. Os critérios de seleção dos participantes foram: estar regularmente matriculado em escola pública de Porto Alegre, ter idade > 6 e < 8 anos e 11 meses, apresentar um termo de consentimento informado assinado por um de seus cuidadores/responsáveis e termo de assentimento informado.

Os critérios de exclusão foram: apresentar algum tipo de comprometimento neurológico (verificado em prontuário fornecido pela escola) ou, por algum motivo, não concluir a bateria de testes. Foram incluídas as primeiras crianças que entregaram o TCLE assinado pelos responsáveis autorizando a participação na pesquisa. As demais participaram posteriormente da coleta do estudo de validação. Os encontros foram individuais, em sala cedida pela escola para esse fim, durante o período regular de aula.

Os pesquisadores envolvidos na coleta realizaram treinamento para a aplicação do instrumento completo, ministrado por duas profissionais (fisioterapeuta e fonoaudióloga) do grupo de pesquisa. Os resultados obtidos indicaram que o tempo médio de execução do instrumento foi de 40,15min (DP 7,30) para aqueles que realizaram a bateria completa. As crianças com 6 anos e aquelas que ainda não estavam totalmente alfabetizadas, segundo o parecer do professor regente, não realizaram a interpretação de texto, sendo o tempo médio 23,08min (DP 5,45). Os participantes demonstraram compreender as instruções de cada tarefa, não havendo necessidade de nova adequação.

Considerações Éticas

Todos os princípios éticos preconizados para pesquisas com seres humanos foram respeitados netse estudo científico em acordo com as resoluções 466/2012 e a 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde. O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFCSPA, sob o parecer nº 2.619.678.

 

Resultados

A versão final do instrumento totalizou 81 itens composta da seguinte maneira, de acordo com os construtos/dimensões:

Linguagem (42 itens) - Consciência Fonológica com 14 itens, divididos em três categorias principais: a) rima (2 itens), b) manipulação silábica apresentou três seções: síntese, segmentação e transposição de sílabas, todas com dois itens cada (6 itens) e c) fonêmica, distribuída do mesmo modo que a anterior (6 itens). As instruções foram dadas oralmente pelo avaliador e a criança respondia também oralmente. O avaliador marcava certo ou errado no protocolo de respostas de acordo com a resposta infantil.

  • Processamento Sequencial com Base na Compreensão Oral - Para avaliação dessa dimensão da linguagem, criou-se uma breve história, contada oralmente pelo avaliador, acompanhada de três cartões contendo ilustrações relativas a esses aspectos (1 item) A criança recebeu os cartões e foi solicitada que colocasse as ilustrações na ordem da história. O avaliador marcou no protocolo de respostas se ela acertou o posicionamento das três etapas.

  • Leitura de Palavras - Essa prova avalia a capacidade leitora por meio da diferenciação, por exemplo, entre palavras vizinhas semânticas, como "casa/prédio"; vizinhas fonológicas como "pato/bato" e pseudopalavras; foi formada por 10 itens. A criança recebeu uma folha contendo 10 ilustrações (10 itens) cada uma com cinco alternativas de resposta, sendo apenas uma correta. A criança marcou a alternativa escolhida.

  • Escrita - Foi elaborada com base nos fonemas e grafemas mais frequentes da língua portuguesa. A criança recebeu uma folha contendo 10 ilustrações (10 itens) com um espaço para escrever que figura era aquela. Considerou-se como acerto a escrita correta da palavra.

  • Interpretação de Texto com Base na Leitura - Teve como objetivo investigar se a criança é capaz de extrair o significado e integrá-lo em seus conhecimentos; para isso foi constituída por um texto de 100 vocábulos, seguido por cinco itens com perguntas de caráter literal (3) e inferencial (2). A criança recebeu o texto para leitura e depois recebeu as cinco questões escritas para serem lidas e respondidas por ela, marcando a alternativa de resposta que considerou correta.

  • Fluência Verbal (2 itens) sendo 1 item de categoria Semântica (FVS na qual a categoria pré-deteminada foi "Coisas de comer". Foi solicitado que a criança evocasse o maior número de palavras pertencentes a essa categoria. O outro ítem refere-se a Fluência Verbal Fonêmica, (FVF) na qual foi solicitado que a criança evocasse o maior número e palavras que iniciassem com a letra F. O tempo de execução foi de 1 minuto para ambas as tarefas. O avaliador gravou a resposta da criança para ser transcrita posteriormente. Considerou-se o número de palavras válidas. Foram excluídas as palavras repetidas, as utilizadas como exemplo pelo avaliador, as não pertencentes à categoria semântica proposta (FVS), as que não iniciaram com a letra F ou eram nomes próprios (FVF).

Funções executivas (23 itens): - Controle Inibitório - Envolveu a inibição cognitiva e a atenção seletiva. Consistiu em três matrizes impressas (3 itens) com diferentes tipos de estímulos. Cada matriz foi composta por 96 figuras de frutas em oito colunas e 12 linhas. Foram três diferentes níveis de dificuldade: na primeira matriz, apenas uma figura como estímulo-alvo precisou ser assinalado, na segunda matriz, o estímulo-alvo foi composto por duas figuras e, na terceira matriz, em cada linha havia uma figura em destaque, com alternância do estímulo-alvo. A criança foi orientada a encontrar e marcar o maior número de estímulos-alvo com o tempo limitado em 40 segundos. Considerou-se o número de marcações corretas.

  • Flexibilidade Cognitiva/Memória de Trabalho - Elaborou-se um jogo de memória de opostos para mensurar a capacidade de memória para uma missão específica, enquanto são associados diferentes tipos de desenhos antagônicos, exigindo que a criança fosse capaz de reestruturar o conhecimento para resolver as situações relacionadas a diferentes tipos de atividades cognitivas. O avaliador montou o jogo na mesa conforme um gabarito pré-determinado e a criança foi orientada a olhar a posição das cartas no início da tarefa por 1 minuto. Após esse tempo, os desenhos foram ocultados e o jogador teve 20 tentativas para encontrar os 12 pares de figuras antônimas, ou seja, figuras opostas como Sol-Lua, Alto-Baixo, Dentro-Fora, entre outros (20 itens). Todas as tarefas de FE continham atividades de treino. Considerou-se o número de pares corretos.

Habilidades Motoras (16 itens): - Motricidade Ampla - Composta por duas tarefas com bola (circunferência de 65 a 68 cm). Na primeira, o avaliador observou a postura da criança ao realizar o movimento de quicar três vezes a bola (3 itens). Na segunda, a criança arremessou a bola simulando o arremesso na cesta de basquete (3 itens). Em ambas as tarefas, o avaliador observou os três segmentos durante o movimento: membros superiores, tronco e membros inferiores. Para cada segmento, havia três alternativas de resposta de acordo com o estágio de desenvolvimento apresentado durante o movimento (inicial, elementar ou maduro). Marcou-se no protocolo de resposta a figura correspondente ao estágio apresentado. À criança, eram oferecidas tentativas de execução da tarefa e considerou-se a maior exatidão ao exercício, ou seja, a melhor das três tentativas. As duas tarefas foram previamente demonstradas pelo avaliador.

  • Equilíbrio - O equilíbrio foi avaliado por meio da execução de um conjunto de movimentos, formado por uma sequência de saltos alternando o apoio de membros inferiores e terminando em um giro sem apoio de 180º (4 itens). Para essa finalidade foi confeccionado um tapete com medidas específicas, de layout semelhante ao jogo "amarelinha". À criança, eram oferecidas três tentativas e considerou-se, para pontuação, a exatidão ao exercício proposto.

  • Motricidade Fina - Composta por duas tarefas. Na primeira, era apresentada um traçado gráfico com três níveis de dificuldade (3 itens) na qual o participante deveria executar o traçado na linha pontilhada com a maior exatidão possível. A segunda, envolvia recorte de papel, com três níveis de dificuldade (3 itens), e a criança deveria realizar o recorte seguindo a linha preta determinada. Nessas duas tarefas, foi considerado o número de inconformidades produzidas em relação às instruções fornecidas (o número de afastamento da linha). Não houve limite de tempo de execução estabelecido. Os exemplos dos itens elaborados são apresentados na Tabela 4.

Por fim, a bateria incluiu um manual de aplicação explicativo com protocolo de correção bem específico, gabarito para montagem das provas e indicação para que a ordem de aplicação seja seguida: Linguagem, Habilidades Motoras e Funções Executivas. Foi utilizado como critério, intercalar atividades que exijam maior concentração com outras mais dinâmicas. Considerou-se a importância de treinamento formal prévio para aplicação da bateria, uma vez que se fez necessário conhecimentos acerca de comportamentos motores e cognitivos.

 

Discussão

Neste artigo, o processo de construção do instrumento de triagem TDI foi minuciosamente descrito, de acordo com os princípios de criação de instrumentos de avaliação psicológica. Ainda que essas sejam diretrizes oriundas da área da avaliação psicológica, a partir da reconhecida necessidade da normatização e busca de evidências de validade de novos instrumentos para outras áreas da saúde, esses princípios psicométricos podem ser alternativas norteadoras de elaboração de instrumentos multidisciplinares de saúde (AERA, 2014; Irwing et al., 2018). As etapas apresentadas fazem parte dos procedimentos preconizados para a busca de evidência de validade de conteúdo, bem conhecida e amplamente discutida na literatura psicométrica (Hutz et al., 2015; Reppold et al., 2014).

Para criação dos itens, as premissas seguidas buscaram contemplar os construtos destacados como relevantes para a identificação de risco no processo inicial de escolarização, conforme amplamente elencados ao longo do presente artigo, e elaborar um instrumento de caráter atrativo, lúdico e de fácil aplicação por se tratar de um teste de triagem para crianças. A média de tempo de aplicação no estudo piloto (40'15'') refere-se ao instrumento completo e é reduzida para aquelas crianças que ainda não desenvolveram a leitura e a escrita (23'08''). Comparando-se o tempo médio de aplicação de instrumentos que avaliam apenas um dos domínios contemplados neste estudo, como o PCFO (15 min), PROLEC (60 min) e EDM (50 min), por exemplo, o TDI pode ser considerado rápido, pois os outros instrumentos estudados na revisão teórica não abarcam tantos domínios/construtos relativos ao desenvolvimento infantil (três construtos e 11 dimensões). Ressalte-se que, por se tratar de uma bateria, o instrumento pode ser aplicado de forma parcial, a fim avaliar demandas específicas conforme interesse do avaliador ou queixa clínica/escolar.

A brevidade da aplicação, assim como seus desenhos, histórias e dinâmicas tencionam evitar que a criança fique cansada e responda de forma aleatória ou abandone a avaliação sem concluí-la (Irwing et al., 2018). Isso atende às recomendações da Academia Americana de Pediatria (2006) (American Academy of Pediatrics - AAP, 2006) e permite uma investigação breve, visando o acompanhamento do desenvolvimento e a identificação precoce de possíveis alterações nas áreas avaliadas. Viabiliza ainda planejar estratégias de aprimoramento das habilidades e um adequado encaminhamento para avaliações diagnósticas (Hirai, Kogan, Kandasamy, Reuland, & Bethell, 2018) se necessário.

O número de itens propostos foi previsto para auxiliar na identificação de possíveis atrasos do desenvolvimento, mantendo as características de um instrumento breve, sem a pretensão de realizar diagnósticos voltados à linguagem, ao desempenho motor e a funções executivas. O intuito principal é que seja uma ferramenta de triagem do desenvolvimento infantil ou de caráter epidemiológico, com foco também em questões relacionadas com a prontidão escolar. Objetiva-se assim idenficar de forma precoce aqueles indivíduos que seriam beneficiados com uma avaliação completa e intervenção. O intuito principal é que seja uma ferramenta para avaliação de triagem ou de caráter epidemiológico, a fim de verificar como a criança está se desenvolvendo e como estão as questões de prontidão escolar. Especialmente no Brasil, o ingresso no Ensino Fundamental é, na maioria das vezes, a primeira experiência da criança com aspectos formais da educação e envolve tanto o desenvolvimento cognitivo, quanto o físico, social e emocional. O acompanhamento cuidadoso nos primeiros anos escolares permite que as alterações possam ser identificadas precocemente (Nieto et al., 2016), evitando complicações ao longo do processo de aquisição das habilidades (Santos et al., 2019).

A análise dos itens pelos especialistas seguiu a recomendação na qual o critério de decisão de permanência de cada item é a concordância de, no mínimo, 80% entre os juízes (Pasquali, 2013). Isso posto, 36 itens foram excluídos e quatro tiveram suas ilustrações aperfeiçoadas. Cada um dos especialistas avaliou todos os itens da bateria, independentemente de sua especificidade, pois um dos critérios de inclusão dos juízes foi atuar profissionalmente em equipe multidisciplinar. Segundo De Vellis (2012), a análise por profissionais de diferentes especialidades parece ser ainda mais relevante, quando se trata de instrumentos multidimensionais (De Velis, 2012).

A recomendação da APA et al. (AERA, 2014) é que novos testes sejam elaborados quando não há outras ferramentas próprias para avaliar um construto específico ou um conjunto de construtos para uma determinada população (Coluci et al., 2015; Pasquali, 2013). Sendo assim, a TDI mostrou-se um instrumento que apresenta evidências de validade de conteúdo, destacada por meio do presente estudo, considerando os procedimentos preconizados internacionalmente. Alguns estudos estão em andamento utilizando a versão final da bateria com o objetivo de buscar outras evidências de validade, como, baseada em estrutura interna, em processo de resposta e/ou na relação com variáveis externas, de forma a ampliar as evidências, tornando-a um instrumento de triagem apto para uso na população a qual se destina.

Salienta-se que a maior relevância está em disponibilizar um instrumento livre de custo que ofereça estimativas independentes de fase específica do desenvolvimento infantil. No contexto atual da saúde e educação públicas brasileira, o TDI pode se tornar um importante recurso para auxiliar na detecção, de forma prática e padronizada, de riscos ou atrasos no desenvolvimento.

 

Agradecimentos

Não há menções.

Financiamento

Todas as fontes de financiamento para elaboração e produção do estudo (coleta, análise e interpretação dos dados, bem como, escrita dos resultados presente no manuscrito) foram fornecidas pelo projeto de pesquisa (código do financiamento número 402067/2016-9 ), agência de fomento Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico- CNPq.

Declaração de participação da elaboração do manuscrito

Declaramos que todos os autores participaram da elaboração do manuscrito. Especificamente, os autores Flavia Amaral Machado, Jéssica Laís Silva Antunes, Léia Gonçalves Gurgel, Adriana Jung Serafini e Caroline Tozzi Reppold participaram da redação inicial do estudo - conceitualização, investigação, visualização, os autores Flavia Amaral Machado, Sérgio Kakuta Kato e Caroline Tozzi Reppold participaram da análise dos dados, e os autores Flavia Amaral Machado, Adriana Jung Serafini e Caroline Tozzi Reppold participaram da redação final do trabalho - revisão e edição.

Disponibilidade dos dados e materiais

Todos os dados e sintaxes gerados e analisados durante esta pesquisa serão tratados com total sigilo devido às exigências do Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos. Porém, o conjunto de dados e sintaxes que apoiam as conclusões deste artigo estão disponíveis mediante razoável solicitação ao autor principal do estudo.

Conflito de interesses

Os autores declaram que não há conflitos de interesses.

 

Referências

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Endereço para correspondência:
Flavia Amaral Machado
Av. Francisco Petuco 340/704
Porto Alegre/RS CEP 90520620
Email: flamaral2@hotmail.com

Recebido em maio de 2020
Aprovado em julho de 2021

 

 

Nota sobre os autores
Flavia Amaral Machado. Fisioterapeuta, mestre em Ciências da Reabilitação, e doutora em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e gestora na Fundação de Atendimento de Deficiência Múltipla FADEM, em Porto Alegre/RS.
Sérgio Kakuta Kato. Estatístico e mestre em Epidemiologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e doutor em Ciências da Reabilitação pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. Professor de estatística da PUCRS e da UFCSPA, consultor do Instituto de Pesquisas em Saúde na UCS.
Jéssica Laís Silva Antunes. Graduanda em Psicologia na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e bolsista de Iniciação Científica.
Léia Gonçalves Gurgel. Fonoaudióloga clínica e pesquisadora convidada da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre UFCSPA, doutora em Ciências da Saúde pela UFCSPA.
Adriana Jung Serafini. Psicóloga, mestre em Psicologia do Desenvolvimento pela UFRGS e doutora em Psicologia do Desenvolvimento pela UFRGS. Professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.
Caroline Tozzi Reppold. Psicóloga, mestre e doutora, com pós-doutorado em Psicologia pela UFRGS e em Avaliação Psicológica pela Universidade São Francisco e em Ciências da Educação pela Universidade do Minho/Portugal. Professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.

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